por André Mendonça
Uma camisa com pedidos esgotados logo no primeiro mês, exportada para 14 países, com recorde de vendas! Barcelona, Real Madrid, Chelsea? Madureira, o Tricolor Suburbano! Graças à ideia genial do designer Rogério Nunes, o clube carioca ganhou repercussão mundial em 2013 por conta de uma camisa que estampava o rosto de Che Guevara, em homenagem aos 50 anos de uma excursão da equipe para Cuba. Se para a grande maioria o sucesso foi surpreendente, quem desenhou a camisa já sabia que estava fazendo algo histórico.
– Se eu falar que não imaginava esse sucesso é mentira! Eu estava juntando o futebol, com uma figura pop, que é o Che Guevara. Tudo isso em um clube que não sofre rejeição nenhuma! Se fosse camisa do Flamengo, os vascaínos não comprariam, por exemplo! – explica Rogério.
Jornalista e sócio do site do FutRio, que dá visibilidade principalmente aos clubes de menor porte do Rio de Janeiro, Rogério apresentou o projeto da camisa a Carlos Gandola, gestor do Fut 7 Madureira, para ser utilizada nos jogos da equipe. De acordo com ele, o site é o que contribui para o bom relacionamento com os diretores.
Apaixonado por camisas de futebol desde criança, Rogério só começou a desenhar profissionalmente em 2012. Justamente por conta do site, tinha a liberdade de bater na porta dos clubes e oferecer o projeto. Dessa forma, desenhou belas camisas para o Gonçalense, Angra, Bonsucesso, Portuguesa da Ilha, entre outros. Todas elas, no entanto, tinham uma particularidade: história.
– Na minha cabeça, a palavra design não significa simplesmente desenho. Desenho, em inglês, é draw. Não são apenas traços ou uma coisa estética, tem que ter uma história por trás, por isso é sempre um projeto.
E a história dessa camisa do Madureira é linda! Após a revolução de 1959, Cuba passava por um momento conturbado e o Tricolor foi o primeiro clube de futebol a desembarcar no país, em maio de 1963. A excursão para a ilha comunista não poderia ter sido melhor. Em cinco jogos disputados, foram cinco vitórias, derrotando até o Industriales, campeão nacional. O último amistoso da equipe contou com a presença de ninguém menos que o guerrilheiro Che Guevara.
– A camisa não tem nenhum cunho político. Mesmo não sendo tão fã de futebol, o Che presenciou um jogo do Madureira. O objetivo foi lembrar aquele momento histórico. Dava pra ver a felicidade estampada no rosto do Che! Aquela foto é uma das poucas em que ele aparece sorrindo.
Antes mesmo da estreia do uniforme dentro das quatro linhas, o sucesso já se desenhava. Através do Twitter do FutRio, Rogério postou a foto da camisa, gerando um grande alvoroço e muitos compartilhamentos. Se o design inovador da camisa já não fosse o bastante, o craque Falcão, do futsal, disputou um campeonato pelo time de Fut 7 do Tricolor Suburbano na época, o que contribuiu ainda mais para o êxito. Por conta da grande repercussão, Elias Duba, o presidente do clube, decidiu utilizar o uniforme também nos jogos da equipe profissional de futebol.
Em homenagem à viagem foram dois uniformes com o rosto de Che estampado. Um grená e o outro da bandeira de Cuba, com as cores azul, branca e vermelha. De acordo com Rogério, as duas tiveram um sucesso parecido.
– As pessoas mais velhas, que vivenciaram aquela época, gostavam mais da grená, que é uma cor revolucionária. Mas a molecada se amarrava na colorida. Ficou bem dividido! Até hoje vejo as pessoas usando.
Para dar uma noção de números, o Madureira vendia, em média, quatro camisas por mês. Depois do lançamento desse uniforme, em setembro de 2013, passou a vender 30 por semana. Somente no primeiro mês, foram 15 mil pedidos e, obviamente, o clube não deu conta. Segundo Rogério, o sucesso poderia ser ainda maior se a empresa de material esportivo fosse uma Nike ou uma Adidas.
No ano seguinte, em outubro de 2014, Rogério desenhou outra camisa para o Madureira. Dessa vez, em alusão à excursão da equipe para a China comunista, em 1964, que completava 50 anos. Depois da recepção de Che em Cuba, os jogadores do Tricolor foram recebidos por Mao Tse Tung na China. A excursão ficou conhecida como “a viagem proibida”, já que os jogadores ficarem presos no país e só puderam voltar em troca dos 12 chineses que estavam apreendidos no Rio.
– Não teve o mesmo sucesso da camisa do Che, mas foi bom! Rolou uma dificuldade para lançar a camisa, não ficou pronta no tempo previsto e talvez isso tenha prejudicado um pouco. Se fosse lançada no dia do Golpe Militar ela teria um sucesso maior!
O trabalho de Rogério, tanto na confecção de camisas, quanto no site FutRio, é fundamental para os clubes de menor porte ganharem a visibilidade que tanto precisam.
– No site, cobrimos jogos do Serrano, Volta Redonda, Madureira, entre outros. Muitas vezes, somos o único veículo do Rio que marcamos presença nos jogos fora de casa!