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Rodinei

TEM QUE CONVERSAR COM O TÉCNICO

por Elso Venâncio

Em alta no Flamengo, Rodinei não atuou no empate contra o Ceará, no Maracanã

Ricardo Teixeira avisava de cara ao treinador da seleção:

– Sou o primeiro a ver a relação dos convocados e tenho poder de veto.

Eurico Miranda era informado de tudo, em tempo real. Na véspera dos jogos, sabia de antemão a escalação.

O presidente do Flamengo campeão do mundo em 1981 chamava o treinador e lhe perguntava qual a estratégia para o jogo. Antônio Augusto Dunshee de Abranches não pretendia escalar o time. Mas, sim, evitar erros primários. Nada mais saudável do que a troca de ideias entre um chefe e seu subordinado.

Dorival Júnior precisava vencer o Ceará e, de forma surpreendente, escalou o meio campo com Pulgar, Diego Ribas e Vitor Hugo? Todos reservas. Na época de ouro do clube, o time vinha no meio com Andrade, Adílio e Zico; e na frente, Tita, Nunes e Lico. Será que algum destes gostaria de ser poupado? Pergunta ao Zico…

A entrada de Matheuzinho no lugar de Varela, no intervalo, me lembrou as observações feitas em coletivos. O problema é que o jogo era à vera! Nelson Rodrigues diria sobre Rodinei:

– Tem saúde de vaca premiada.

João Saldanha já falava:

– Futebol é momento.

Hoje Rodinei é o melhor lateral do país. Ainda assim, mesmo no auge e com toda sua disposição, saiu para que testes fossem feitos no setor.

Muricy Ramalho disse certa vez, durante uma preleção:

– Galera, quando estiver ruim, toca pro negão.

Rodinei, sabendo que o técnico se referia a ele, perguntou, com um ar provocativo e sorrindo:

– Que negão é esse, professor?

– Não fode… cala a boca e ouve!

Será que alguém conversava com Paulo Souza, que tinha incrível vocação para o erro?

Um inédito tetracampeonato carioca lhe escorreu pelas mãos e a sucessão de equívocos absurdos no Campeonato Brasileiro reflete até hoje, visto a distância do clube para o Palmeiras.

Na Libertadores de 2008, o supervisor Isaías Tinoco avisou no hotel ao vice de futebol Kleber Leite, já bem tarde da noite, que Joel Santana escalaria os reservas no dia seguinte, contra o América, no México.

– Chama o Joel aqui agora! – foi firme o dirigente.

– Ele está dormindo…

– Acorde-o, então!!!

‘Papai Joel’ apareceu explicando que no domingo teria decisão do Carioca, contra o Botafogo.

– A posição é institucional. Titulares amanhã e domingo. Vamos com os melhores! – sentenciou Kleber.

No jogo, América 2 x 4 Flamengo. Na sequência, o Mais Querido conquistou o título metendo 3 a 1 no Botafogo.

Na semifinal da Libertadores, no Maracanã, porém, veio a improvável e fatídica derrota por 3 a 0 para o mesmo América de Cabañas, em pleno Maracanã.

Mas isso, bem, só os deuses do futebol são capazes de explicar…

O Vélez Sarsfield é o primeiro time argentino da história que perdeu de quatro em casa e não partiu para a violência, para a briga, nem em Buenos Aires nem no Rio. Verdade que a galinha já estava morta no jogo da volta, ontem. Só Dorival Júnior que não admitiu o erro cometido contra Ceará.

Com todo respeito, time misto era para ter sido ontem.

FALSOS BRILHANTES

por Zé Roberto Padilha


Rodinei era lateral direito da Ponte Preta, de Campinas,  e foi destaque no ano passado no Paulistão. Certo dia passou por um comércio popular e se apaixonou por um relógio Rolex de 80 pratas. Coisas de jogador de futebol. Era grande e dourado, mas todos os jogadores lá no clube da Macaca saberiam que não era de verdade. Iriam zoar com a cara dele.


Rodinei em ação pela Ponte Preta

Precisava, então, se transferir para um time grande. Aí sim, com altos salários, quem duvidaria da procedência daquele adorno barato? E assim o fez. Comprou o relógio e veio jogar no Flamengo.

Com um futebol de verdade, e um relógio de mentira, chegou impressionando a todos. Muricy Ramalho, então treinador, gritava nos treinamentos: “Dá no neguinho que ele resolve!”. E ele partia para cima da zaga do Resende, do Volta Redonda e da Cabofriense. Rodinei voava em campo e o relógio brilhava fora dele. Acabou se destacando também no estadual carioca.

Na primeira entrevista coletiva, porém, assustado diante de tantos repórteres, declarou: “Caramba, lá na Ponte não havia tantos jornalistas assim!”. Já no Campeonato Brasileiro, apavorado com tanta gente presente ao embarque para enfrentar o Palmeiras, bateu na mesma tecla: “Até hoje não havia visto nada parecido com aquilo!” Quando soube, então, que o voo era fretado, declarou-se emocionado e deitou sobre uma fileira de poltronas como jamais imaginou um dia viajar.


Rodinei perdeu a posição para Pará no Flamengo

Com o tempo, Rodinei descobriu que as praias da Cidade Maravilhosa, as noites da Lapa e o samba do Salgueiro não tinham também nada a ver com Campinas. E aí os papéis se inverteram perante tantos contrastes que surgiam e não soube lidar: era o torcedor do Flamengo, diante sua insegurança, que desconfiava. Não do seu relógio. Mas da autenticidade do seu futebol. Começou a chegar atrasado nas divididas, adiantado na marcação mesmo sem ter que parar os ponteiros já extintos do futebol. Quem o parou foi o Pará.

Moral da História: não são os relógios, as camisas Lacoste, os tênis Nike, nem o perfume Azarro que precisam provar que são de verdade para funcionar. E sim quem usa,  veste, perfuma e leva junto para o Rio de Janeiro, Campinas, qualquer lugar, a confiança num taco, ou uma bola, que tenha a grife da sua personalidade.