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roberto dinamite

ESTÁTUA

por Rubens Lemos


Estão fazendo campanha para construir uma estátua de Roberto Dinamite no Estádio São Januário. É uma homenagem justa. Embora Roberto Dinamite seja para o Vasco o monumento humano e magnânimo. Roberto Dinamite é a razão de ser do Vasco, o ídolo de sorriso triste, aquele cara legal que você falta ao trabalho, desfaz a agenda de passeio com a família, apenas para vê-lo e ouvi-lo.

Roberto Dinamite, o principal emblema do Vasco, maior artilheiro da história dos campeonatos brasileiros (1971/2021), autor de gols decisivos, quase perfeito na cobrança de faltas e de pênaltis, quixotesco nos primeiros anos da Era Zico, quando lutava, sozinho, nos clássicos contra o Flamengo que levavam 100, 150 mil ao Maracanã para assistir ao rubro-negro sinfônico fazer sofrer e penar nas jogadas imprevisíveis do cabeludo de semblante algo melancólico.

O amor de Roberto Dinamite pelo Vasco foi eternizado em janeiro de 1980. O Barcelona havia comprado seu passe no ano anterior. Roberto havia brigado com o treinador, que não gostava do seu estilo de arrancadas fulminantes e chutes de sniper, e então o desespero tomou conta de todos nós vascaínos: o Flamengo anunciou a compra de Roberto e a Rádio Globo fez uma montagem de um gol em tabelinha dele com Zico, tremenda covardia.

Zico e Roberto Dinamite teriam formado num clube a eficiente dupla que jamais perdeu atuando pela seleção brasileira em 26 jogos, de 1976 a 1982. Juntos, marcaram 34 gols, sendo 18 de Zico e 16 de Roberto. Chegariam aos 100, se Telê Santana, o endeusado, o infalível, o técnico sensacional e siderúrgico teimoso, não nutrisse uma gratuita antipatia a Roberto, que pode ser posta na conta do que nos custou o Mundial de 1982 na Espanha. Zico e Roberto Dinamite, municiados por Sócrates, Falcão, Éder, Leandro e Júnior, teriam detonado a Azzurra, conforme aconteceu quatro anos antes, só com Roberto, sem Zico, na disputa pelo terceiro lugar na Copa/1978.

Então, o Flamengo sacudiu o Brasil anunciando uma linha atacante com Tita, Zico, Roberto Dinamite e Júlio César, o bailarino ponta-esquerda de dribles entortadores. A reação vascaína foi imediata e em pânico. Os torcedores não aceitavam ver seu mito de vermelho e preto.

Ótimo negociante, o presidente Antônio Soares Calçada lembrou que o Barcelona devia ao Vasco 700 mil dólares. Mandou o ainda desconhecido Eurico Miranda dizer que a dívida estava perdoada desde que Roberto voltasse à sua casa. Os espanhóis nem pensaram: aceitaram antes da segunda frase de Eurico.

Roberto voltou contra o Corinthians e marcou os cinco gols da vitória por 5×2 do Vasco no Maracanã tomado por 107.474 corações ensandecidos a cada bola balançando as redes do goleiro Jairo. Roberto estava no Vasco, o que significava o reencontro e a derrota sobre o Flamengo, que foi buscar o esforçado Nunes e acabou campeão brasileiro.

Nos 5×2, vibrei de ficar rouco. Meu saudoso tio-avô Derval Marinho, que detestava futebol, morreu me chateando: “Como vai Roberto Traque de Chumbo?”. Eu repetia: “É Dinamite, é Dinamite, é Dinamite’.

Seleção brasileira em Natal, meu pai comentava para a Rádio Cabugi AM(hoje Jovem Pan News) e um estúdio foi montado no luxuoso Hotel Ducal, hoje estorvo inútil no centro de Natal. Meu pai tomou-me pelo braço e me levou à cobertura onde Roberto Dinamite e o capitão Oscar conversaram.

Sinto a geleira no corpo e no espírito. Eu, um moleque, diante daquele que me justificava o amor ao futebol. Roberto Dinamite me deu um autógrafo. No caderno da escola levado por mim àquele universo mágico. Educadíssimo, conversou meia dúzia de abobrinhas enquanto eu travava no “é, é,é”.

Estupidez de Eurico Miranda, Roberto Dinamite chegou a ser expulso da Tribuna de Honra com o filho em 2002. Reagiu boquiaberto como os apunhalados pela covardia. Foi feio, deselegante, imperdoável.

Seguiu em frente. Antes, ganhou Campeonatos Cariocas (1977/1982/87/88) em cima da máquina de Zico e jogou até os 39 anos. Ele e Zico (vestido de Vasco, no troco do destino ao episódio de 1980). Roberto Dinamite está imortalizado, seja no concreto carrancudo de uma estátua, seja no amor que o fez símbolo icônico do Vasco que não existe mais.

O PENTATEUCO DE BOB DINAMITE

por Luis Filipe Chateaubriand


Roberto Dinamite, ídolo para mais de metro, marcou gols lindíssimos ao longo da carreira.

Sem mais delongas, vamos aos cinco maiores gols do Bob:

5 – Contra o Flamengo, pelo Campeonato Carioca de 1986, domina a bola alta estando de costas na entrada da grande área, dá o toque adiantando a bola alta enquanto gira o corpo para a frente, ajeita o corpo e desfere a “bomba” no ângulo direito do goleiro Zé Carlos. O Vasco da Gama perdeu por 3 x 2.

4 – Contra o Flamengo, pelo Campeonato Carioca de 1977, recebe na intermediária, passa por dois marcadores com extrema categoria e, na entrada da área, desfere a “bomba” no ângulo direito do goleiro Cantareli. O Vasco da Gama venceu por 3 x 0.

3 – Contra o Santos de Pelé, no Campeonato Brasileiro de 1973, acertou um sem pulo da entrada da área, indefensável. O jogo terminou empatado em 1 x 1.

2 – Contra a Portuguesa de Desportos, no Campeonato Brasileiro de 1984, chega na pequena área pelo lado esquerdo, é bloqueado por um zagueiro, vai como a bola para trás, encontra mais espaço, passa pelo zagueiro, saia na frente do goleiro, que tampa o ângulo todo, mas consegue colocar por cima do goleiro, gol antológico. O Vasco da Gama venceu por 4 x 3.

1 – Precisa falar?? Vamos lá… Zanata cruza a bola para a área de pé trocado, o Bob domina no peito, dá um lençol desmoralizante no zagueiro Osmar Guarnelli e emenda para o gol de direita – um gol para todo mundo ir embora e comprar o ingresso novamente.

E sabe do que mais? Todos esses gols foram marcados no Maracanã – o palco apropriado para essas obras de arte.

Ah, Bob, que falta você faz! 

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!

BOB 67

por Rubens Lemos


Foto: Ronaldo Theobald

Ensaiava sair no tapa algumas vezes quando algum chato flamenguista xingava Roberto Dinamite na escola. Brigas tolas, de menino, em intervalo discutindo a rodada de domingo na chatice de uma segunda-feira. Flamenguista não fica satisfeito apenas em torcer pelo seu time. Gosta de tripudiar, humilhar, debochar do derrotado e nos anos 1980, o Vasco apanhava muito mais do que batia.

O Vasco era Roberto Dinamite, meu ídolo, o cara que ilustrava meu caderno socando o ar em vitórias sofridas. Quando o conheci, no antigo Hotel Ducal, onde ficou hospedada a seleção brasileira na única vez em que jogou em Natal, 26 de janeiro de 1982 (3×1 na Alemanha Oriental), tremi da cabeça ao dedão do pé ao receber seu autógrafo e um sorriso comovente pelo cinzento de uma tristeza cativante.

Fiquei abalado quando o (maior) técnico Telê Santana excluiu Roberto Dinamite da lista dos 22 convocados para a Copa do Mundo de 1982. Uma tremenda perseguição. Roberto Dinamite fez gol e jogou muito bem, afinado com Zico ao ser convocado pela primeira vez por Telê para um amistoso contra os búlgaros em Porto Alegre: 3×0. Zico e Roberto Dinamite, juntos, nunca perderam um jogo pela seleção.

Barrado pelo pavoroso grandalhão Serginho Chulapa, à época no São Paulo, perdeu a vaga de reserva para o jovem Careca, do Guarani, habilidoso, ágil e adequado ao estilo de toque de bola da constelação que brincava com a bola.

Careca se machucou já nos primeiros treinos em Cascais, Portugal, onde o Brasil se preparava, e Telê foi obrigado a convocar Roberto Dinamite sem sequer colocá-lo no banco de reservas em nenhuma das cinco partidas.

Enquanto Zico, Sócrates, Falcão, Leandro, Júnior e Éder encantavam o planeta bailando em variação de ritmos, do samba ao jazz, Chulapa, destoando da sinfônica, ganhava uma reputação infame: o melhor zagueiro-central da Copa perdida para a Itália. Telê Santana conseguia ser maravilhoso e teimoso.

Roberto Dinamite segurou o Vasco sozinho no tempo de cartolas avarentos. De timecos. Aos 20 anos, comandou o improvável título brasileiro de 1974 superando o Santos de Pelé, o Cruzeiro de Dirceu Lopes e o Internacional de Figueroa e Falcão.

Três anos depois, massacrou Flamengo, Botafogo e Fluminense na épica jornada do primeiro título que assisti pela TV. O Carioca de 1977 com Mazarópi; Orlando, Abel, Geraldo e Marco Antônio; Zé Mário, Zanata e Dirceu; Wilsinho, Roberto Dinamite e Ramon. Ele batendo o pênalti final jogando o goleiro Cantarelli para um lado e a bola entrando rasteira no canto direito.

Bem mais do que admiração, Roberto Dinamite transpirava ternura, uma singeleza quixotesca. Formou duplas sensacionais com Ramon, Guina, Jorge Mendonça, César, Cláudio Adão, Elói, Arthurzinho e Romário, seu sucessor e melhor atacante de todos os tempos.

Na transição do adolescente para adulto, quando se assume o mundo sem que se combine com quem quer que seja, passei a ver o Vasco na classe superior do maestro Geovani, companheiro de Roberto Dinamite nos títulos de 1982, 1987, 1988 e 1992.

Geovani representava a beleza estonteante que sobrava no Flamengo arrasador de Andrade, Adílio, Zico e Júlio César Uri Geller, ponta-esquerda entortador de laterais. Roberto Dinamite permanecia em mim como entidade.

Meus times de futebol de botão sempre tiveram Roberto Dinamite com seu sorriso entre o triste e o tímido, destronando defesas do Flamengo com Rondinelli e Marinho, do Fluminense com Miguel e Edinho, do Botafogo com Osmar Guarnelli e Renê Pancada.

Roberto Dinamite não é o herói que já foi. Roberto Dinamite é a chama acesa e turva de um Vasco de orgulho, honras, vitórias e glórias.

Aos 67 anos, completados hoje, humaniza nossos corações arrasados pelo clube morto. Basta rever o mais belo gol do Ex-Maracanã, aquele lençol sobre Osmar do Botafogo seguido do sem-pulo no finalzinho da partida. Aquele nem Zico fez igual. É nosso. É Dinamite. Bob 67.

MELHOR DUPLA

por Rubens Lemos 


Quem era Flamengo trazia no bolso do coração a idolatria por Zico. Quem fosse Vasco, amava Roberto Dinamite. Os irredutíveis treinadores não quiseram que os dois jogassem juntos uma Copa do Mundo inteira sequer.

Em 1978, o técnico Cláudio Coutinho começou com Reinaldo e Zico e terminou com Jorge Mendonça e Roberto. Em 1982, Telê Santana tripudiou de Roberto Dinamite, humilhou-o de forma vil  e bancou Serginho Chulapa, eleito melhor zagueiro da Copa da Espanha, pela incompetência ao atacar.

Pelé e Garrincha nunca perderam uma partida pela seleção brasileira estando em dobradinha. Zico e Roberto Dinamite também não, cara pálida. Atuaram 21 vezes com 16 vitórias e cinco empates. Os técnicos teimosos desprezavam a união da classe de Zico e do oportunismo de Roberto Dinamite. Emblemas nos 70 anos do Maracanã.

Pior: havia uma nefasta rivalidade entre a imprensa carioca com a paulista e os técnicos, Telê não foge à regra, procurava não desagradar a “crônica” de um ou de outro estádio. Zico fez dupla com Serginho Chulapa, Careca, Roberto Talismã do Sport Recife, Enéas, Neca e vamos parando por aí porque os demais representavam o subnitrato da mediocridade dos campos.

A rivalidade entre Vasco x Flamengo, Roberto Dinamite x Vasco, levava ao Ex-Maracanã públicos nunca inferiores a 100 mil pessoas. O maior entre todos, 174 mil em 1976, Flamengo 3×1. Os boys de hoje nunca verão nada semelhante, nem sombra nem sinal.

A mobilização de um Vasco x Flamengo começava uma semana antes, com nós, moleques, fazendo contorcionismos para sintonizar a Rádio Globo 1220. Zico levava uma vantagem considerável sobre Dinamite até meados dos anos 1980. Só jogava ao lado de craque. Era Andrade, Carpegiani, Adílio, Tita e os laterais-atacantes Leandro e Júnior.

O pobre Bob se acompanhava, coitado, de nulidades: Zandonaide, Amauri, Ticão, Brasinha, Toninho Vanuza, salvo exceções como Arthurzinho, Elói e Cláudio Adão. A partir da chegada de um menino baixinho e gordinho do Espírito Santo, o equilíbrio fez-se prática.

Geovani ocupava a meiúca na técnica, nos dribles, nas canetas e nos lançamentos longos à Gerson. Gerson do Tricampeonato em 1970, não esse, que é bonzinho, mas o Flamengo já quer transformar em Deus sem milagres.

Geovani conhecia o dialeto de Andrade, Adílio e do próprio Zico, impondo o dialeto do toque de bola, fazendo Roberto receber livre e fulminar goleiros. 

Vamos nós, de novo, aos números: enquanto estiveram em campo, não existiu vantagem nem para Zico nem para Roberto Dinamite na disputa dos clássicos. São doze vitórias para cada um e 17 empates. Como se duas fitas métricas se igualassem na medição de um sentimento.

O Maracanã era dividido pelos dois em tempos de paz. Antes das camisas, o caráter dos artilheiros. Zico atravessava o campo e festejava perto de sua torcida. Roberto Dinamite, a mesma coisa, dedo em riste, rumo à bandeirinha de escanteio do lado direito do gramado. 

São grandes amigos. Nunca brigaram. É notório o carinho recíproco. Zico vestiu a camisa do Vasco na despedida de Roberto Dinamite em 1993. E, do Vasco, recebeu quando parou a única placa homenageando-o pelo que representou acima de camisas.

Na seleção, se descobriam sem se ver. O posicionamento de Roberto Dinamite  mudava de acordo com os movimentos de Zico, homem encarregado de municia-lo com toques cheios de efeito, deixando zagueiros e goleiros em desespero de pandeia. Roberto Dinamite recuava para abrir espaços ao Galinho do Flamengo  entrar na área adversária costurando beques e estufando redes.

Zico e Roberto Dinamite, Roberto Dinamite e Zico, pode não ter sido para os catedráticos da mídia, a melhor dupla depois que Pelé e Tostão pararam. Problema deles. Roberto Dinamite e Zico, simetria inconsciente, vestiram a camisa amarela com leveza e raça, tão simples como uma pelada na praça.

Estraga-prazeres, os técnicos preferiam Renato Pé-Murcho e Careca, Serginho Chulapa e algum infeliz contrariado, Careca e Muller em 1986. Seria a canção derradeira de Zico e Roberto Dinamite. Zico machucado? Com Roberto, haveria a solidariedade malandra, do jogo pelos atalhos, de armadilha, da Tróia infalível contra os franceses que nos eliminaram. 

VOZES DA BOLA: ENTREVISTA ROBERTO DINAMITE


Muitas vezes, fazer sucesso no futebol é uma questão de sorte. São milhares de atletas em busca de reconhecimento de seu talento. Em muitos casos, eles não têm a oportunidade de provar suas qualidades nas ‘peneiras’, os famosos testes promovidos por escolinhas de clubes, e acabam se tornando os ‘craques que nunca foram’. 

Esse não é o caso de Carlos Roberto de Oliveira, o Roberto Dinamite, que saiu da Baixada Fluminense, aos 15 anos, para navegar por ‘mares navegados’. 

Moleque, ainda frequentando as aulas de catecismo, Roberto trocou um ‘santo’, o São Bento, time amador de Duque de Caxias, onde costumava fazer os adversários pagarem seus pecados em forma de muitos gol sofridos, por outro, São Januário, símbolo e padroeiro do Vasco da Gama, que completou 122 anos recentemente.  

‘Marinheiro de primeira viagem’, Roberto não sabia que ali começava uma jornada de 21 anos por mares nunca navegados, onde assumiu como capitão o leme da ‘nau vascaína’, e lá, viveu muitos momentos de glória, mas também teve que sobreviver a naufrágios. 

Recordista em ‘número de viagens envergando a farda vascaína’ (1.110 partidas disputadas pelo mesmo clube); maior artilheiro da ‘Colina’, com 708 tentos marcados (752 no total, contando os 44 marcados por outros ‘navios piratas’); principal artilheiro de São Januário (184 gols); maior marcador de gols na história do Campeonato Brasileiro (190 gols), o ‘timoneiro’ Roberto Dinamite ‘ancorou’ na redação do ‘Museu da Pelada’ para dar seu testemunho para a série ‘Vozes da Bola’. 

Terra à Vista, Almirante!         

Por Marcos Vinicius Cabral 

Como começou sua relação com o Vasco? Você veio da Baixada, onde jogava no São Bento, de Duque de Caxias, não é?

É. Mas, antes, é bom contar que tive uma infância muito difícil. Com 7 anos fiz uma cirurgia e com 12 tive que fazer outra por um problema na perna esquerda, já atuando na escolinha do São Bento. Mas, graças a Deus consegui superar tudo isso, me tornar um atleta e, sem sombra de dúvidas, um bom jogador de futebol.

É verdade que seu pai e seu irmão jogaram mais bola que você?

É verdade. As pessoas lá de Caxias, até hoje dizem que meu pai e meu irmão, jogaram mais do que eu. No entanto, eu fui profissional e eles não, mas foram pessoas importantes que me incentivaram e sempre estiveram do meu lado. Mas é isso, é a vida e que eles jogaram muito, eu sei, meu pai era goleiro e meu irmão era ponta e depois passou a ser goleiro também. Então, como eu era goleador, não teria como não dar certo.

De onde vem o apelido Dinamite?


Vem do meu primeiro jogo no Maracanã, com 17 anos, com a camisa do Vasco, no time principal, no Brasileiro de 1971. Entrei no segundo tempo da partida, contra o Internacional, no Campeonato Brasileiro e fiz um gol num chute forte de fora da área. Desse gol surgiu o apelido Dinamite. No dia seguinte o Jornal dos Sports colocou na primeira página: ‘O garoto Dinamite explode no Maracanã’. Isso foi criado pelo jornalista Eliomário Valente e foi importante naquele momento, no início da minha carreira.

Em 1973, você enfrentou o Santos de Pelé no Maracanã e fez um belo gol de voleio, sendo inclusive elogiado pelo ‘Rei’ ainda em campo. Você imaginava que aquele garoto de Duque de Caxias chegaria tão longe?

Ter recebido o elogio de Pelé foi motivo de orgulho. Mas depois tiveram outros jogos importantes, outras conquistas, como o Brasileiro de 74, onde o Vasco se tornou o primeiro carioca a ganhar o título da competição. Sem falar que fui o artilheiro. Mais à frente conquistamos os títulos cariocas de 82, 87 e 88, além da marca de artilheiro das competições. É realmente uma coisa fabulosa.

Quem foi sua referência no futebol?

Quando era criança, com 12, 13 anos, vi Garrincha e Pelé jogarem. Acho que foram referências para todos, cada um dentro do seu universo, Garrincha mais descontraído, com seu jeitão de povão e tal; e Pelé, além do grande talento, tinha uma outra linha, muito profissional, de se dedicar em tudo. No Vasco conheci os grandes Ademir, Barbosa, e acho que é por aí. A gente tem a referência, a gente vai olhando e para buscar lá na frente tem que sempre olhar para trás.

Num jogo contra o Botafogo, em 76, estavam na tribuna do Maracanã, Henry Kissinger, secretário de Estado dos Estados Unidos à época, e Mário Henrique Simonsen, ministro da Fazenda. Você entregou a camisa do jogo para ele?

Nesse jogo eu fiz dois gols. Estávamos perdendo por 1 a 0, e fiz o primeiro aos 39 minutos e o segundo aos 44, num  gol de lençol sobre o Osmar, que foi muito bonito. Nesse jogo o Mário Henrique Simonsen estava na tribuna de honra com o Henry Kissinger, e nós, capitães do Vasco e do Botafogo, entregamos as camisas usadas nos primeiros 45 minutos para eles. Isso abrilhantou a vitória, e o gol é considerado um dos mais bonitos do Maracanã.

Você jogou a Copa de 1978, e na de 1982 foi reserva. Acha que poderia ter tido mais oportunidades na Seleção?

Em 78 fiquei no banco nos dois primeiros jogos, no terceiro entrei como titular, fiz o gol contra a Áustria que classificou o Brasil e dali, fiquei até o final da competição, inclusive sendo artilheiro da Seleção Brasileira. Pena que o Peru entregou o jogo para a Argentina, e nós, que tínhamos saldo de cinco gols acabamos fora porque eles conseguiram. Já em 82 eu fui convocado para o lugar do Careca. Perdendo um pouco a humildade, a minha presença poderia contribuir mais.

O seu ‘divórcio’ temporário com o Vasco e a ida para o Barcelona em 1979 até hoje são motivos de discussão entre os torcedores cruzmaltinos. Mas, regressar ao Maracanã sob desconfiança, depois de um ‘flerte’ com o Flamengo e  marcar logo cinco gols na vitória de 5 a 1 do Vasco contra o Corinthians em 1980, foi o ápice?

Foi muito bom. Voltar ao Brasil depois de uma passagem curta no Barcelona e marcar cinco gols contra a equipe do Corinthians, para mim foi motivo de muito orgulho e satisfação. O Timão tinha uma grande equipe e foi uma tarde maravilhosa. Essa é a lembrança que eu tenho. E para coroar a jornada, a torcida do Flamengo torcendo pelo Corinthians, pois eles haviam feito a preliminar contra o Bangu. Então, teve sabor em dose dupla.

Em como foi essa história de você voltar do Barcelona para jogar no Flamengo?

Realmente o Flamengo foi até Barcelona para tentar me contratar. Acabei voltando para o Vasco, numa decisão minha de querer voltar para o Brasil e voltar a vestir a camisa do meu clube de coração. E foi importante, muito importante, mas houve sim esse interesse rubro negro, mas acabei voltando para o Vasco.

Como é ser ídolo de um clube como o Vasco da Gama e ser respeitado por adversários e torcedores de outros times?

Os gols, claro, que para mim, foram importantes na minha carreira. Mas a relação de respeito com as pessoas, desde as categorias de base até o profissional, dos meus adversários, que hoje são meus amigos, sempre foi importante. Então, o que eu pude ver dentro do futebol é que você pode ser um grande adversário, mas pode criar amizades também. Foi o que fiz ao longo da minha carreira e essas foram as grandes conquistas de amizade, respeito e carinho de todos. Isso é muito bom!

Até hoje, não teve Pelé, Zico, Romário, Edmundo, Renato Gaúcho, Túlio, ninguém. O maior artilheiro da história do Campeonato Brasileiro segue sendo Roberto Dinamite, com 190 gols. Acha que um dia esse recorde vai ser batido?

Ser o maior artilheiro do Campeonato Brasileiro é decorrência de ter jogado um número bom de campeonatos, mas também pela qualidade de saber fazer gols. Minha técnica como centroavante ajudou, e só tenho a agradecer. Já tem algum tempo, eu parei de jogar em 92 para 93, e até hoje o recorde não foi batido. Espero e torço para que isso possa motivar essa nova geração. Aliás, o único jogador em evidência é o Fred, que é o mais próximo e está a 40, 50 gols de mim. Para mim, essa marca é muito significativa. Ser o maior artilheiro da história do Campeonato Brasileiro é um orgulho.


Ao lado de Pelé e Rogério Ceni, você jogou mais de mil partidas pelo Vasco (são 1.110 na verdade). Que retrospectiva você faz da sua carreira no clube?

É verdade. Sou um privilegiado, pois lá atrás não tinha ideia de que me tornaria um jogador de futebol, em razão das contusões que tive. Hoje é oficial. Eu, Pelé e Rogério Ceni somos os únicos jogadores no mundo que mais vezes vestiram as camisas de um mesmo clube. Joguei 1.110 partidas com a camisa do Vasco da Gama e para mim é motivo de muito orgulho. Jogar no Vasco, ser seu maior artilheiro e ser um dos ídolos de sua história é um orgulho muito grande.

Qual foi o melhor treinador com quem você trabalhou?

Eu tive grandes treinadores, e meu primeiro grande treinador foi seu Célio de Souza, ainda no juvenil. Mas citar um apenas é difícil. Travaglini do jeito dele; Orlando Fantoni, Joel, Lopes… Foram vários e cada um com sua característica. E sou grato a todos eles.

Como tem enfrentado esses dias de isolamento social devido ao Coronavírus?

Com muita preocupação. Não se sabe como se pega, você tem que usar máscara. É uma série de coisas e todo mundo está sujeito a isso. Já tive isso, mas graças a Deus, foi bem brando. Então, temos que ficar atentos a tudo que está em volta, porque infelizmente é uma coisa nova que pouca gente sabe. E isso é algo que está aí e vai durar por muito tempo. O que eu posso dizer para vocês é isso: “Se cuidem, se preservem, usem máscara, álcool gel, mas acima de tudo, tentem na medida do possível, ter o menor contato com outras pessoas e principalmente as que você não conhece!”.

Defina Roberto Dinamite em uma única palavra?

Artilheiro.

Roberto e Vasco foi coisa do destino?

Acho que sim. Eu acredito muito no destino e que a gente está aí para cumprir uma etapa aqui na Terra. Meu pai e meu irmão, foram muito mais jogadores do que eu, mas não chegaram, não foram profissionais como eu, mas fizeram história no futebol amador. Então, eu acredito muito nisso, que a gente vem aqui para uma missão neste mundo e a gente tem que trabalhar isso, melhorar, evoluir, crescer, para que realmente a gente possa cumprir essa etapa. Fica aí a mensagem, de que quando se tem uma oportunidade, tem que saber aproveitá-la.