por Claudio Lovato
O menino está no estádio ao lado do pai.
O menino olha para o banco de reservas e não entende por que seu ídolo está lá.
Não entende por que ele está lá e por que só tem entrado no fim dos jogos, quase sem tempo para tocar na bola uma vez sequer.
O pai já tentou lhe explicar: “Ele está voltando de lesão”.
Aquelas palavras nada significaram para o menino. Ele só quer ver de novo seu grande herói em campo, fazendo gols, como se acostumou a ver.
O pai, em outra ocasião, tentou ser didático (“Ele tem um problema chamado fascite plantar”) e chegou a procurar a definição técnica na internet para mostrar ao filho: Inflamação de uma faixa espessa de tecido que liga o osso do calcanhar aos dedos. Os sintomas incluem dor aguda perto do calcanhar.
Para o menino, aquelas palavras também não diziam nada. Coisa nenhuma. Nada, absolutamente nada que se tente explicar hoje fará diminuir o inconformismo e a frustração e a angústia do menino. Ele olha para o banco de reservas e quer de volta a emoção de ver seu atacante preferido, seu ídolo, seu herói, marcar outra vez, apenas isso.
Um dia ele vai entender – um dia; não agora. Um dia ele vai entender que as coisas acontecem na vida simplesmente porque podem acontecer, e que a realidade tem suas imposições.
E que essas imposições da realidade são quase sempre poderosas, volta e meia intransponíveis, mas sempre – sempre, sempre! – passíveis e merecedoras de enfrentamento e persistência, persistência, persistência, persistência, persistência, persistência, e assim por diante.