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Resenha

CABRA MENTIROSO

por Victor Kingma


Charge: Eklisleno Ximenes.

Chico Cabra foi um folclórico goleiro do interior nordestino. Depois que pendurou as chuteiras vivia de bar em bar contando as façanhas do seu tempo de jogador. 

Certa vez, entre uma cerveja e outra paga pelos amigos, que sempre colocavam pilha para vê-lo exagerar nas lembranças de suas proezas, Chico Cabra recordava a maior atuação de sua carreira.

Segundo ele, foi numa decisão do campeonato local, contra o grande rival da época. Seu time jogava pelo empate para ser campeão.

–  O time deles era um timaço e atacava o tempo todo, mas eu, numa tarde de gala, fechava o gol. Já havia defendido três pênaltis na partida. Vangloriava- se o ex- goleiro, incentivado pelas cervas geladas. E prosseguia:

–  O jogo estava 0 x 0 até o último minuto, e a torcida do meu time já comemorava o título, quando o juiz marcou a quarta penalidade contra nós. Por azar, agora o cobrador era Quarenta, o maior chutador de todos os tempos no Agreste. E descreve o lance:

–  Quarenta tomou longa distância e disparou um torpedo no ângulo.

–  E aí você pegou o quarto pênalti? – provoca um dos presentes, em meio às gargalhadas da turma, já prevendo outra bravata do bravo Chico.

–  Quase! Voei como um gato e cheguei a tocar na bola, mas o cara chutava demais. Não teve jeito, foi gol. Se eu dissesse que peguei o pênalti os amigos até podiam pensar que sou de contar vantagem.

–  Que pena! Então apesar da sua grande atuação seu time acabou perdendo o título? – indaga, decepcionado, um dos amigos.

–  Por pouco! Só não perdemos porque na saída de bola teve um escanteio a nosso favor.  Fui à área, subi mais que todos os grandalhões da defesa deles e, de cabeça, consegui fazer o gol do título.

Vixe! Goleiro pegar três pênaltis numa decisão e ainda fazer o gol do título…

Êta Cabra mentiroso!

Leia mais histórias em www.causosdabola.com.br

 

 

ASCENSÃO E QUEDA DE UM CANHOTINHO

por Zé Roberto Padilha


Ser canhoto deveria ser uma anomalia. Melhor, uma heresia. Motivo de preocupações no desenvolvimento do Robertinho que certamente encontraria, no Colégio Entre-Rios, poucas carteiras disponíveis para escrever ao contrário da maioria. Só isto explicaria uma pessoa tão doce e católica como minha avó, América Fernandes Padilha, ter amarrado a mão esquerda do seu netinho durante as refeições. Um ato de extrema correção. Acho que deveria até ter vaga disponível e prioridade nos bancos e correios para quem nascesse escrevendo desse jeito.

Sorte a minha que ela não me viu jogar. Porque quem chegava na peneira batendo na bola ao contrário, tinha uma concorrência menor. De cada dez pontas que se apresentavam, sete eram destros. E fui aproveitando minha cota canhota e fui ficando na ponta esquerda, sendo aprovado e subindo de divisões, até estar concentrado, aos 19 anos, no Paraguai para enfrentar a Argentina.

A base da seleção brasileira para o Sul Americano sub-20, de 1971, era do Fluminense. E às vésperas do maior clássico sul-americano eu e o Marinho, nosso quarto-zagueiro, éramos dúvidas para a partida e dividíamos o quarto e as dores nos tornozelos. Muito inchados, passaríamos a noite fazendo tratamento e a palavra final sairia na revisão pela manhã do médico do Botafogo.


O massagista preparou os baldes de contrastes, um com água quente e outro com água congelada. Era o chamado tratamento de choque térmico. Iniciávamos pelo gelo e quando não suportávamos mais, aliviamos com a água quente e assim, sucessivamente, um balde amenizava a temperatura do outro até que ambos perdessem sua intensidade. Ao final, que terminava no quente já morno, passávamos Bálsamo Bengué, enrolávamos uma atadura de crepe e íamos dormir com a esperança de vê-los despertar desinchados.

Pela manhã, o médico chegou para a revisão e acabou vetando o Marinho e me liberando para a partida. O milagre só acontecera para o meu lado. Quase em êxtase por não perder aquela partida, levantei para comemorar e senti fortes dores no tornozelo. Ao me reexaminar, o doutor descobriu a razão: passara noite inteira tratando o tornozelo errado. A contusão era no direito, mas quando da contagem regressiva e aflitiva para enfiar o pé no balde congelado, a mente congelou junto e taquei o pé esquerdo como de hábito fazia com a bola e com tudo que não suportava. Além de não melhorar o tornozelo machucado, acabei queimando a pele do sadio.

Vetados, assistimos nossa derrota por 2×0 das arquibancadas do Estádio Centenário. E naquele instante só lembrava da minha vó querida e “terrorista”. E se ele tivesse amarrado os meus pés também? Daí seria uma outra história, daquelas que teriam um final feliz desde que ….tivessem começo. Pois jogando na ponta direita quem diria que fosse tão longe para fazer uma burrada dessas?

OS SUPERCAMPEÕES DO BRASIL

por Fabio Lacerda


No gramado em que a luta o aguarda, no solo que tem suas cores, o Palmeiras mais uma vez chegou ao título de campeão brasileiro. Para os alviverdes, “tomar” a faixa do arquival, que havia “tomado” em 2017 do Palmeiras, é outro saboroso ingrediente na história do sexto título Brasileiro desde 1971. Pela primeira vez, o Palmeiras não conquistou o campeonato mais importante do país de forma consecutiva.

Dentro de campo, a redenção de Luiz Felipe Scolari, que por ironia do destino ou maldade, é lembrado pela goleada sofrida para a Alemanha, no Mineirão, na Copa do Mundo de 2014. Mas nossa memória é curta e não lembra do título de 2002 sobre a própria Alemanha. A chegada de Luiz Felipe Scolari reduz a zero qualquer distúrbio ou conflitos dentro de um grupo. Ele não permite. E diante de seus comandados, transforma a lealdade em padrão. A irretocável campanha verde deflagra uma gestão nos bastidores e dentro das quatro linhas sustentável.

Nesta campanha invicta desde a 17ª rodada, o Palmeiras rateou. Muito em razão do calendário, já que disputou muitas competições ao longo do ano como é de praxe para os grandes clubes bem geridos. As derrotas para Corinthians, Sport e Cruzeiro, nas 5ª, 7ª e 8ª rodadas, respectivamente, assim como os três empates consecutivos contra Ceará, Flamengo e Santos, e em seguida, a derrota para o Fluminense, na 15ª jornada, acenderam o sinal de alerta. Chega Luiz Felipe Scolari e arruma a casa. Uma característica marcante de um profissional vencedor. Um senhor do futebol brasileiro. Já colocado na mesma prateleira de imortais palmeirenses junto de Osvaldo Brandão. E por quê não, Vanderlei Luxemburgo? Aí é papo para mais de dois dias.


“Defesa que ninguém passa”. O primeiro verso da terceira estrofe do hino diz um pouco do sistema defensivo do clube, ainda mais após a chegada do Felipão que assumiu a equipe após a derrota para o Fluminense, e tem o privilégio de fechar o certame invicto. O Palmeiras tem a melhor defesa do Brasileiro, sofrendo 24 gols. Desde que Luiz Felipe Scolari assumiu na 16ª rodada, a defesa palmeirense, que fez rodízio de zagueiros e laterais em função da Libertadores da América. sofreu apenas nove gols. Outro informação interessante desconstrói a taxação de técnico defensivo pelo fato de ser da escola gaúcha. Dos 64 gols marcados pelo Palmeiras, 42 foram marcados sob o comando do técnico. Até ele assumir, a equipe tinha marcado 22 vezes.

Dentro de campo, o conjunto fez a diferença, e o plantel, idem. E ter no grupo jogadores acostumados a sagrarem-se campeões é um diferencial competitivo que faz a diferença na hora da decisão, na hora de separar os meninos dos homens, de separar os craques dos bons jogadores. Sem dúvida, Dudu fecha o campeonato como o melhor jogador da competição. O atacante Deyverson (oito gols sendo reserva), quando acionado, deu conta do recado além das expectativas. Felipe Melo e Bruno Henrique (oito gols), volantes que formam barreiras quase intransponíveis à frente da zaga, mas também são capazes de fazerem lançamentos de 50, 60 metros. Os gols do Borja, que apareceu muito bem na temporada, também foram determinantes.


Mas destaco três jogadores que estão comemorando o quarto título Brasileiro. E por coincidência, esses jogadores têm seus títulos em três clubes diferentes. Jean, o polivalente jogador que atua no meio de campo e lateral-direita, foi pelo São Paulo, Fluminense, e duas vezes no Palmeiras. Edu Dracena, aos 37 anos, também conquista o Brasileiro pela segunda vez pelo Palmeiras. Anteriormente, Cruzeiro, em 2003, na equipe que conquistou a Tríplice Coroa, e em 2015, pelo Corinthians. Nos últimos quatro Brasileiros, Edu Dracena conquistou três. Ano que vem, se por ventura for campeão Brasileiro novamente, pode ser o encerramento de uma carreira vitoriosa no seu 20º ano de carreira. E Willian Bigode, um dos jogadores mais versáteis do futebol brasileiro desde que ganhou seu primeiro Brasileiro pelo Corinthians (2011). Dois anos depois, chegou ao Cruzeiro para ser bicampeão Brasileiro nas temporadas 2013 e 2014, sendo determinante para o sucesso celeste das Alterosas. Agora, é campeão pelo Palmeiras. Este jogador ainda não teve a chance de vestir a camisa amarela da seleção brasileira. E uma oportunidade é merecida desde 2011.

Na próxima temporada, os três jogadores têm grande chance de escrever mais capítulos honrosos em suas carreiras. Podem juntar-se a Andrade e Zinho como os maiores vencedores de Campeonatos Brasileiros. Porém, Willian Bigode e Jean ainda têm lenha a queimar e, mediante uma estratégia planejada junto a seus staffs, podem tornar-se os maiores vencedores do futebol brasileiro em todos os tempos. É acompanhar para saber.


Então, Luiz Felipe Scolari, Edu Dracena, Jean e Wilian Bigode, têm motivos de sobra para sorrirem nessa reta final de ano. E Dudu, que pela segunda vez consagra-se pelo Palmeiras. Se em 2016 ele foi eleito o melhor jogador do Brasileiro que culminou com o título palmeirense, não resta dúvida quem será apontado como o craque do campeonato. Fez apenas sete gols. Mesmo assim será eleito. E é outro jogador que merece uma chance na seleção.

Wéverton, Luan, Diogo Barbosa, Cláudio Gomez e Borja, cinco dos 11 últimos titulares na partida que sagrou o Palmeiras campeão Brasileiro em São Januário, conquistam o Brasileiro pela primeira vez. Sendo que Weverton e Luan haviam sido medalhas de ouro nas Olimpíadas, e Diogo Barbosa conquistara um título nacional (Copa do Brasil) com o Cruzeiro. Ou seja, um time com cancha para grandes decisões.

FUTEBOL FEIO

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Para os que me acham ranzinza vou logo avisando que hoje estou bem pior. Assistir ao Palmeiras, dos Felipões Melo e Scolari, ser campeão brasileiro, no Rio de Janeiro, com gol do Deyverson é dose para leão! Quem verdadeiramente entende de futebol sabe que o Palmeiras é um time feio. Mas nas mesas redondas só ouvem-se elogios ao treinador do 10×1 e alguns ainda acham que ele deve voltar à seleção. A única vantagem disso seria a saída do Tite, Kkkkk!!!!

Peraí, não existe na CBF algum programa de demissão voluntária ou de aposentadoria premiada? Já deu!!! O Dudu é o único que se salva, a única mente criativa. Mas, assim como o Paquetá, deve controlar os chiliques. Dudu e Nico Lopez são as boas surpresas do Brasileirão.

O Palmeiras, repito, é feio! Basta comparar as escalações do campeão de 2018 com os vencedores de 1972, Leão, Eurico, Luís Pereira, Alfredo, Zeca, Dudu, Ademir da Guia, Edu, Leivinha e Madurga, e de 1993, Sérgio, Gil Baiano, Antônio Carlos, Cléber, Roberto Carlos, César Sampaio, Mazinho, Zinho, Edílson, Edmundo e Evair. É a maior prova de nossa decadência!

Vejo Flu e Vasco indo para a última rodada brigando contra o rebaixamento. Quando joguei na Máquina era Renato, Carlos Alberto, Miguel, Edinho, Rodrigues Neto, Pintinho, eu, Rivellino, Gil, Doval e Dirceu. E no Vasco? Mazzaropi, Orlando, Ivan, Léo e Marco Antônio, Pintinho, eu e Guina, Wilsinho, Roberto e Silvinho ou Marquinhos. Vou falar alto: ISSO NÃO É SAUDOSISMO!!!!!!!!!!!!!!! Isso é a prova concreta de que algo de muito errado vem acontecendo e todos se calam. Não posso ficar feliz de ver os jogadores fazendo gol, tirando a camisa e exibindo esses sutiãs!!! Me disseram que é GPS para mapear se o jogador está correndo certo e quantos quilômetros. Meu Deus, alguém está ganhando com isso!


A imprensa nunca se preocupou em checar quem é o dono, se a CBF tem participação, essas coisas? Até o Deyverson, que estava na reserva, usou!!! Sério que alguém precisa monitorar o Deyverson??? Quanto gastam por mês com isso? Todos tiram a camisa durante a comemoração e esses sutiãs por baixo, o que isso nos acrescenta?

Meu abdômen tinha o apelido de barra de chocolate e nunca o exibi após os gols, Kkkkl!!! Mas na praia fazia sucesso! E ainda tem esse spray milagroso e esse outro que usam para sinalizar onde a barreira deve ficar. Investiguem quem está ganhando com isso!!! Essa máfia deve ser freada!


Vejam a Conmebol, que escândalo!!! Tanto fizeram e conseguiram levar dois times argentinos para a final. Para quê??? Para mostrarem ao mundo como são incompetentes? Estão brincando conosco! Ah, também tem essa onda de todos falarem tapando a boca com a mão, como se tivessem algo muito espetacular a ser dito. Que segredos são esses?

Vai uma sugestão do Caju: ao invés de taparem a boca joguem com um biombo na frente para nos pouparem de ver esse futebolzinho de quinta categoria que nos enfiam goela abaixo. 

HISTÓRIAS DE FUTEBOL (E DE VIDA)

por Claudio Lovato 


Foi isto o que o destino me reservou: ser o cara que apaga a luz e tranca a porta.

O último a sair.

O coveiro.

Meu pai foi presidente deste clube duas vezes. Com ele, este clube deixou a obscuridade e permitiu que seus torcedores sonhassem.

Mas os que vieram depois do meu velho não souberam manter a chama alta. Não conseguiram sequer mantê-la acesa.

Então, me chamaram, e eu – o idiota presunçoso – não consegui dizer não. Quis honrar a obra do meu pai, dar sequência ao que ele fez. Mas quem sou eu?

Eu sou apenas o cara que vai apagar a luz, trancar a porta e jogar a chave fora.

O último funcionário do campo da morte.

Foi o que o destino me reservou.

Vou entrar para a história como o cara que não conseguiu.

Acabou. 

********

Os dois homens estão sentados lado a lado na arquibancada do velho estádio. Acabaram de ver seu time perder mais uma.

O homem mais jovem aponta para um torcedor que está alguns degraus abaixo, rasgando a bandeira do clube. Um companheiro se aproxima dele e o impede de completar o que estava fazendo.

O homem mais velho diz ao mais jovem:

– Um daqueles dois apenas perdeu; o outro foi derrotado.

O mais jovem pergunta:

– Quando sabemos se perdemos ou se fomos derrotados?

 – Quando temos dúvida entre uma coisa e outra, então fomos derrotados! – o mais velho então diz.

******** 

Eles se casaram quando ele tinha 23 anos e ainda disputava a titularidade no time pelo qual, menos de dois anos depois, se sagraria campeão continental.

Conheciam-se desde a infância, vizinhos no bairro onde nasceram e onde seus pais nasceram e onde os pais de seus pais nasceram.

Ela disse:

– Vou com você aonde tiver que ir. Vou estar sempre ao seu lado.

E ele respondeu:

– Não tem nada mais importante pra mim.


Hoje, exatos 30 anos depois, estão comemorando o aniversário de casamento jantando no restaurante preferido deles.

Ele não conseguiu abandonar o futebol. Em suas palavras, ajuda “uns garotos que estão começando”. Não gosta de ser chamado de empresário. Não se vê como tal. Quer ajudar os garotos do mesmo jeito que um dia foi ajudado, de um jeito que fez toda a diferença.

E ela… Ela continua com o mesmo brilho no olhar, e a mesma sabedoria serena que ao longo do tempo assegurou que a vida deles, apesar dos percalços inevitáveis a qualquer habitante deste planeta – solteiro ou casado -, fosse essencialmente aquilo que eles sempre quiseram que fosse.

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Foto: Ricardo Chaves/Agencia RBS

Manoelzinho sabe sonhar.

Tem 12 anos e quer ser jogador de futebol.

Manoelzinho é filho de Etevaldo e Vera. São três filhos. Manoelzinho é o mais novo, temporão. Carmen Lúcia e Gilson, os mais velhos.

Os irmãos, volta e meia, trazem para casa algum presente para ele. Sempre alguma coisa relacionada ao futebol: um chaveiro, uma revista, um adesivo, uma caneta.

Manoelzinho sempre fica muito feliz quando recebe um presente desses, e então sonha mais alto e mais forte.

Então se vê mandando uma bola, de canhota – sempre de canhota! – lá na rede, no contrapé do goleiro. E se vê correndo para a torcida, que o adora como a nenhum outro antes ou depois.

Manoelzinho é rei em seu quarto, seu quarto que é seu estádio, e ele, sequer por um segundo, deixa que seu problema – “distrofia”, palavra que ele ouviu seus pais repetirem aos sussurros mais de uma vez -, atrapalhe as coisas. Não mesmo.

Porque ele aprendeu que não existe a menor chance de alguém ser feliz nesta vida sem sonhar.

Ele aprendeu que sonhar é o que leva à liberdade, ao tipo de liberdade que mais interessa.