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Resenha

BOAS DOSES DE AZNAVOUR

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Fiquei sabendo da morte de Charles Aznavour quando estava no carro com o parceiro Oberdan em uma estrada de Curitiba. Para a garotada saber, Oberdan foi um excelente zagueiro de Coritiba, Santos e Grêmio. Por coincidência ouvíamos Frank Sinatra, Tony Bennett e falávamos sobre as boas coisas da vida. E a canção de Aznavour é uma delas.

Éramos amigos. O conheci em uma das muitas festas que ia quando jogava na terceira divisão francesa, no Aix en Provence. Ele adorava futebol e era amigo de Daniel Stern, fundador do Paris Saint-Germain.

Sempre considerei o futebol uma arte, assim como o cinema, a música, o teatro e a pintura. Por isso abomino os botinudos que viraram estrelas em nosso futebol atual. Estou triste, muito triste. Mas, graças aos céus, a arte é eternizada e poderei continuar ouvindo “La Bohème”.

A diva Angela Maria também viverá para sempre em nossos corações. Assim como o futebol, o rádio também teve sua época de ouro, com torcidas rivais e tudo. Angela Maria, Marlene e Emilinha Borba eram como times, tinham fã-clube e brigavam ano a ano pelo título de Rainha do Rádio.

As novas gerações, fascinadas pelas redes sociais, talvez não consigam dimensionar o poder de alcance do rádio, o inseparável companheiro do torcedor, o porta-voz das principais notícias e a garantia de boa música, como a de Tito Madi, que também nos deixou recentemente.

Nessa época, os jogadores circulavam pela cidade e trocavam ideias com a torcida, no Beco das Garrafas, por exemplo. O Beco era uma travessa sem saída, na Rua Duvivier, em Copacabana, que reunia vários bares. Ali, a boa música fervilhava, como nos campos o bom futebol atraía multidões, nos teatros, cinemas, palcos em geral, tudo era uma festa. Sempre me pergunto onde foi parar toda essa inspiração e poesia.


Uma vez, no Noites Cariocas, na Urca, um torcedor se aproximou de mim e perguntou porque em determinados momentos da partida eu colocava as mãos na cintura e parava de correr no jogo ocorrido no Maraca horas antes. “Porque o Dario não conseguia dominar uma bola”, respondi. Rimos juntos.

Nesse dia, a Geral me xingou de preguiçoso, mascarado e outros nomes impublicáveis. Tínhamos uma relação de amor e ódio. Mas a Geral era justa e no primeiro lençol que dava me transformava em rei novamente. Também costumavam me abordar na praia e nos restaurantes.

Hoje dificilmente você encontra um jogador dando bobeira por aí. Ligo a tevê e vejo o Mano tentando explicar a eliminação do Cruzeiro da Libertadores. Como se explicam….os botinudos não conseguem enxergar aquela entrada do Dedé no goleiro como jogo perigoso. A expulsão também foi justa. Para os adeptos do futebol força vale tudo!!!!

O pior é que a escola gaúcha ainda tem chance de ganhar uma Libertadores e isso me tira do sério. Olha que eles acabam se perpetuando no poder e isso não é nada bom. Na seleção, ainda insistem nessa tecla, nesse modelo feio, pragmático, de jogar bola. O meu Botafogo foi eliminado nos pênaltis pelo Bahia. O problema é que os retranqueiros que dominam o futebol atual não sabem jogar ofensivamente, só sabem destruir.


Hoje os centroavantes não marcam gols, marcam adversários. Hoje o futebol funciona como um corredor polonês: para conseguir seu objetivo vai ter que ultrapassar um batalhão de soldados. Futebol é xadrez, não boxe. E ainda me pedem paciência. Esgotou-se faz tempo.

O nosso futebol está tão esquizofrênico que a maior atração do Brasileiro é o Lisca Doido, um gaúcho dançarino, KKKKK. Realmente estou precisando de boas doses de Aznavour para me acalmar. Então, desligo a tevê, ligo o som e viajo aos áureos tempos no embalo de “La Bohème”.

PITBULL, POMBOS E ROTWAILLER

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Estou em Florianópolis ainda estarrecido como incêndio no Museu Histórico Nacional. Apenas mais um crime cometido contra o nosso patrimônio. Fiquei arrasado, não surpreso. Nada mais me surpreende nesse país governado por múmias. O Rio está sem comando, caos generalizado, hidrantes sem água e nossa memória no ralo. São crimes atrás de crimes e, como diz a garotada, “segue o baile!”.

Estive no Rio recentemente e nunca vi tantos moradores de rua, abandono completo. O pior é que, agora, as mesmas múmias de sempre saíram de seus sarcófagos com as velhas promessas de sempre. Foram essas múmias que despejaram milhões no Maracanã e o deformaram. O Rio já não é mais cartão postal de nada e torra sua imagem diariamente.

No futebol, despencamos e estamos atrás dos paulistas, gaúchos e mineiros. E já já seremos ultrapassados pelos nordestinos. O Ceará não perdeu para nenhum carioca, por exemplo. São quatro timecos com pouquíssimas diferenças entre um e outro. E no zap, os torcedores, os bobos da corte, debochando uns dos outros. “Vamos morrer abraçados, êêêêêê!!!!” “Você levou quatro e eu três, êêêêêê!!!”.

Os quatro presidentes deveriam sentar-se juntos e pensar em uma medida para reverter essa situação. Imaginam como será o Estadual caso caiam dois times cariocas? Aí, ao invés de tomarem decisões conjuntas, culpam o Estadual. Os culpados são os dirigentes e não o Estadual, uma competição charmosa e de um valor inestimável para o torcedor.


O Francisco Horta tinha uma mentalidade moderna e já teria promovido algum troca-troca para agitar o campeonato! Alguma coisa ele faria, não tenho dúvida!!! Mas o que vemos são os clubes brigando pelo direito de usar o Maracanã, por verbas maiores de tevê e isso e aquilo. Vão afundar todos se não se unirem. Administração moderna é isso! Pagar salários em dia é obrigação! Precisamos de estádios cheios, ingressos baratos, times competitivos. Nem falo de craques porque isso está em extinção. Mas quem está preocupado com craques? O Felipão elogia o Felipe Melo, “seu Pitbull”, suspenso mais uma vez por entrada violenta, e exalta o substituto Thiago Santos, “seu Rotwailler”.

Os cães de guarda viraram ídolos. E craques como o Pedrinho, do Corinthians são vetados para dar lugar aos Ralfs da vida. No Vasco, Wagner de tanto ser barrado, saiu, cansou. Ninguém aguenta olhar para o lado e só ver cabeçudos especializados em fungar no pescoço dos adversários e serem reverenciados pela torcida com latidos.


Hoje o novo torcedor não canta, late, e vibra com a goleada do Brasil…. sobre El Salvador. E o Micale, campeão olímpico de futebol? Foi tentar a sorte no Figueirense. Tem gente que ainda cai nessa. É mais um da escola do professor Tite, que na beira do campo, contra El Salvador, gesticulava teatralmente. No gol, peito estufado, deve ter se orgulhado da fantástica Dança do Pombo. Pombos, Pitbulls e Rotwaillers. Saudade de quando a briga era entre cachorros grandes e não bravos.  

A JAQUEIRA DE FRIAÇA

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Bebi durante grande parte de minha vida, mas só entrei nesse vício após parar de jogar, talvez por saudade da vida maravilhosa dentro de campo, dos títulos, amizades, craques, Maracanã lotado, enfim o futebol é apaixonante. Mas imagino os que beberam por desgosto, por aquela bola decisiva na trave, pelo detalhe, o descuido fatal. A injustiça dói, destroça.

Estou lendo “Dossiê 50”, do saudoso Geneton Moraes Neto, jornalista raro, desses que desapareceram das redações. Ele ouviu o carrasco uruguaio Ghiggia e todos os brasileiros de 50.

Os atletas da seleção atual deveriam ser obrigados a ler esse livro para perceberem a colossal diferença de comportamento entre as gerações. É o que sempre tento, em vão, explicar aqui. Não falo sobre a qualidade do futebol, mas a forma de enxergá-lo.

Em um trecho, Danilo, o Príncipe, diz: “Parecia o presidente da república descendo do carro, vaiado. Mas era eu chegando em casa após a derrota”. Impossível não chorar. E desabafa Juvenal: “Perder aquele jogo para o Uruguai foi como perder uma guerra. Não pedíamos prêmio, nada, nem sabia quanto ganharíamos. Quem vai para a seleção tem que defender a pátria”.


Só nesses dois depoimentos ficam claríssimos dois pontos muito discutidos atualmente, o distanciamento entre o ídolo e a torcida, e a transformação do jogador em mercadoria. Me dói imaginar a dor do lendário Zizinho e comove ler o seu depoimento: “Meu sonho era assim: a gente ainda iria jogar contra o Uruguai. Aquilo que aconteceu era mentira”. E a de Bauer: “Vim para ser campeão. Voltei para São Paulo no chão do trem”.

Meu Deus, imaginam algum convocado de hoje vivendo essa tragédia? E a de Bigode, junto com Barbosa apontado como um dos culpados pelo gol uruguaio: “Tempos depois fui jantar em um restaurante com a minha esposa quando ouvi na mesa ao lado: olha ali o culpado pela derrota. Fui embora”.

A vitória era certíssima e os 200 mil torcedores não tinham a menor dúvida disso. E leio Barbosa dizendo: “Só três pessoas calaram o Maracanã, Gigghia, Frank Sinatra e eu”. Como adoraria me agarrar aos ponteiros do relógio e voltar atrás, recontar aquela história. Queria ser o vento para soprar aquela bola de Gigghia para longe. Ah, Deus, me transforme no feiticeiro do tempo, me dê poderes, seja lá o que for, mas não deixe esses homens sofrerem tanto. Esquece, PC, todos já partiram carregando esse peso!!


Fecho o livro, mas guardarei essa história eternamente comigo porque não posso admitir que a dor da derrota seja banalizada. Ou o futebol é paixão ou não é.

Hoje a frieza impera. Não comparo a qualidade dos jogadores de hoje com os de outrora, mas a relação que tinham com a torcida, do amor que sentiam pela camisa da seleção. A mudança de comportamento e de poder aquisitivo, a tecnologia, nada pode ser capaz de espanar esse sentimento bom e profundo.

O futebol é amor, drama, entrega, dor, vitórias e injustiças. A pureza fazia o nosso futebol mais leve e plástico. Já fomos bailarinos, hoje somos robôs. Precisamos de mais doçura, como a refletida na frase de Friaça após a derrota de 50: “O trauma foi enorme. Quando dei por mim, estava embaixo de uma jaqueira”.  

TUDO NA MESMA

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::

Felipão está voltando para o Palmeiras e Tite renovou o contrato com a CBF até 2022. Me perdoem os que consideram boas estas duas notícias, mas acho uma lástima. É o que costumam falar por aí, “você acha que está ruim, calma , pode piorar…”. E piorou, mas piorou muito.

Pelo menos até 2022 não teremos novidades em nosso futebol e a mesmice continuará reinando. As escolinhas passarão a ser chamadas de igrejinhas e serão lideradas por pastores, gestores e professores de Educação Física. CBF, patrocinadores e empresários se manterão no poder e a geração faniquito prosseguirá rolando pelo chão.

Tudo na mesma. Impressionante, mas conseguiram pôr mais tempero estragado em uma receita já fracassada. E depois não entendem porque não havia nenhum brasileiro na lista dos 10 melhores da Copa. Não havia e não haverá por um bom tempo porque os faniquitos chegaram para ficar.


O pai do “craque” seguirá passando a mão na cabeça do filhote e xingando jornalistas. Por falar em “craque”, e o anúncio dele, hein?!?! Kkkkkkkk!!! Só rindo, mas rindo muito!!! Será que a geração atual sabe o que era uma pisada com as chuteiras de antigamente??? Sinceramente, se a imagem estava queimada “os especialistas de marketing” conseguiram esturricar. Mas por 1 milhão vale tudo!

Há tempos cansei desse mundo marqueteiro, de fantasia, que tentam nos vender.

E o futebol carioca, alguma novidade? Os torcedores estão confiantes? O Vasco perdeu de quatro com três gols de Romero, que já já vão chamar de craque. Não duvido que o Tite convença o paraguaio a se naturalizar brasileiro e aí será mais um corintiano a ser convocado, kkkk!!!! O Fluminense perdeu do Ceará e o zagueiro Gum está procurando a bola até agora. E o Botafogo perdeu de um Inter bem ruim. O Flamengo segue sem novidades. Mas, PC, o Fla é líder e ganhou do Sport!!! A mim não convence! De qualquer forma, aqui vai meu conselho para o jovem Paquetá: não se deixe levar por essa geração faniquito. Em alguns jogos, reclama demais e faz muita cena. Concentre-se em jogar bola. Mas é importante que tenha alguma orientação e busque alguma referência, quem sabe a de meu caro amigo Afonsinho, que há muitos anos mora na ilha. Precisamos de craques, precisamos nos afastar desse mar de incompetência que afoga nossa arte.


Alexandre Gontijo

Como se não bastasse, ainda perdemos a doçura e a poesia do jornalista e pesquisador Alexandre Gontijo, que diariamente me enviava textos, artigos, matérias internacionais, fotos, tudo sobre o mundo do futebol. Mas ele selecionava. Sabia o que eu gostava de ler.

Era como se me pedisse “calma, PC!!!”, “Se aquieta, PC!!!”. Sei lá, era como se me puxasse pelo braço e desviasse o meu olhar de tudo ruim que estão fazendo com a nossa maior paixão.

MUSEU DA PELADA

O Museu da Pelada aprendeu nesses dois anos de existência que dar um pasito de cada vez é fundamental para se construir uma história sólida. Cada passo é saboreado, cada avanço, cada conquista. Lapidamos diariamente o nosso museu, ouvimos histórias e conhecemos pessoas maravilhosas.

Montamos um time que joga junto sem nunca ter se conhecido e ele vem conquistando espaços porque jogamos com alma. Aqui quem chegar joga. Temos Fenômenos, Dinamites, Rivellinos e Dadá Maravilha. O Museu é um mescla da arte com o escracho, é um caldeirão de almas apaixonadas, onde todos mergulham de cabeça nas resenhas, e riem, extravasam, choram e odeiam a saideira.

Tratamos o ídolo com o devido respeito para ele se sentir nos braços da galera e não medimos esforços para retribuir, de alguma forma, todas as alegrias que eles nos proporcionaram.

Esse vídeo conta um pouco do que é o Museu da Pelada, essa paixão desenfreada.

Quem se interessar em nos ajudar nessa missão e marcar um gol de placa pelo Museu pode entrar em contato através das nossas redes sociais!