por Marcelo Soares
Após inúmeras tentativas por vários clubes de futebol, eu tinha mais uma oportunidade. Faria testes no Guarani Futebol Clube durante uma semana. O primeiro dia, foi justamente no dia 30 de maio de 2016, dia em que completava 18 anos. Uma semana depois estava na equipe sub-20 do clube.
Meu pai quando soube por quem eu seria treinado, já veio me falar:
– O técnico é o Renato “pé murcho”, conhece?
Eu não conhecia, mas logo tratei de saber mais sobre o técnico que fez meu pai vir me contar todo surpreso.
Desde o primeiro dia aprendi uma lição, “pé murcho” não! Ninguém o chamava assim e ele com razão não gostava nem um pouco do apelido recebido durante os treinos de finalização na época de Seleção.
As lições eram diárias quando se tratava de um ex-jogador que disputou Copa do Mundo em um dos melhores times de todos os tempos, era campeão brasileiro e também estadual por diversos clubes que passou.
Nos treinos sempre citava o que Telê Santana fazia com os jogadores, dava exemplos, mostrava na prática o que falava. Com um passe, uma lição sobre posicionamento, nos fazia ter confiança no que ele passava. Era diferente de todos os outros técnicos que eu já tinha trabalhado.
Me lembro muito bem do dia em que cheguei com uma chuteira toda preta para treinar. Logo de cara reparou. Em meio à tantas coloridas, ele notou justo uma preta. Fosse saudade talvez dos tempos em que jogava.
Em outro treino, durante o coletivo, ao me virar para o lado em que ele estava durante uma jogada, vejo ele conversando com outro cara. Era o Careca! Porra, o Careca assistindo um treino nosso. Sei que ele foi lá para ver o Renato, para conversarem e se reverem, mas era o Careca na beira do campo de braço cruzado vendo o time sub-20 do Guarani treinar. Nunca vou tirar essa cena da cabeça.
Durante os treinos físicos, Renato sempre corria pelo campo, fazia questão de manter a forma para as peladas.
Estávamos disputando o Campeonato Paulista sub-20 e dois jogos me marcaram muito. Guarani x Corinthians na Arena Barueri e São Paulo x Guarani em Cotia. Três clubes que tinham uma importância para ele e para mim. No primeiro deles, contra o Corinthians, era o meu time do coração contra o time que eu defendia. Era o time que ele amava e tinha feito história, contra o time em que ele declarou antes do jogo no vestiário:
– Não tinha nada mais gostoso do que ganhar do Corinthians!
Via ali ele lembrando mais uma vez dos tempos em que jogava.
No segundo jogo contra o SPFC, era o time em que ele tinha feito história sendo campeão e o time que eu cresci vendo bater o meu clube de coração nos clássicos. Jogo duro, ótima partida e mais um dia que marcou.
Após os treinos, poder dividir a mesa para almoçar com Renato, escutar suas histórias e opiniões me dava certeza de que tinha sido um atleta muito profissional. Sua conduta honesta e simples era incrível. As cobranças, os elogios, as convocações para os jogos, tudo ficará guardado.
A primeira entrevista para o Museu da Pelada foi com ele, após rodar por outros clubes depois do Guarani, deixei o futebol, mas apenas como profissão e busquei entrar no Jornalismo. O Museu e o Renato foram os que me abriram as portas para a realização do primeiro trabalho. Agradeço ao Renato e ao Guarani por esses momentos como atleta e ao Museu por mais essa oportunidade de poder vivenciar algo incrível.
Renato foi campeão brasileiro pelo Guarani em 1978, jogando todos os jogos. Disputou a Copa do Mundo de 1982. Foi técnico das categorias de base do clube e da equipe profissional