por André Luiz Pereira Nunes
O Clube Deportivo Alcoyano, da cidade de Alcoy, localizada na comunidade valenciana, fundado em 13 de setembro de 1928, é responsável por um dos maiores feitos dos últimos tempos na Espanha. Eliminou o poderoso Real Madrid pela Copa do Rei.
Recém-promovida à terceira divisão, a modesta agremiação só chegaria a disputar quatro temporadas na elite do Campeonato Espanhol, a última em 1951. Na maior parte de sua existência, se manteve entre a terceira e a quarta divisão. Em 2011/12, ainda teve uma breve passagem pela segundona, porém sem brilho. A sina parecia mesmo a de se contentar com o meio de tabela do terceiro escalão.
Contudo, os deuses do futebol têm os seus caprichos e certamente apreciam a máxima de que nem sempre o melhor vence ou de que no futebol são onze contra onze. O pequeno representante de uma cidade, de apenas 58 mil habitantes, bateu impiedosamente os merengues, após uma busca incansável pelo empate, ao fim do tempo regulamentar, chegando à vitória por 2 a 1, na prorrogação, mesmo com um jogador a menos.
Para se ter uma ideia, em 2019, o Alcoyano havia retornado à quarta divisão após 15 anos de ausência. Embalado, conquistou na última temporada o acesso à terceira. Atualmente luta pela promoção à segunda, mas está atrás, em seu grupo, do Ibiza e do tradicional Hércules, de Alicante. É bom que se diga que já havia aprontado outro feito. Pela Copa do Rei eliminara o Huesca, outro representante da atual elite do Campeonato Espanhol.
Treinado por Vicente Parras, antigo técnico das categorias de base do Elche, o Alcoyano conta com um elenco cujo gasto chega a módicos 700 mil euros anuais e que conta com alguns veteranos, entre os quais, Jony Ñíguez, meio-campo de 35 anos, e Jona, atacante de 32 anos, com sete partidas pela seleção de Honduras. No entanto, o grande destaque é o goleiro, de 41 anos, José Juan. Em trajetórias pontuadas em competições de acesso, o arqueiro, com passagens por Celta e Granada, fechou a meta e garantiu o maior triunfo da história de seu time.
Já o Real Madrid, certo da vitória, preferiu escalar um time misto. Ainda assim, era um escrete de respeito composto por Marcelo, Casemiro, Isco, Vinícius Júnior, Éder Militão, Federico Valverde e Lucas Vázquez. Portanto, tudo parecia dentro do planejado.
O Real Madrid começaria o prélio logo no ataque. A defesa adversária, entretanto, estava bem compactada e o goleiro José Juan praticava defesas seguras. O ataque madridista não se achava em campo. Vinícius Júnior e seus companheiros eram figuras apagadas.
O gol inaugural surgiria um pouco antes do intervalo. Após uma cobrança de escanteio, Marcelo dominou pela esquerda e cruzou para a área. Militão cabeceou no canto, sem chances para o veterano José Juan.
Na segunda etapa, o Real Madrid se apresentou inicialmente bem mais pragmático, se limitando a chutes de longa distância. Bem que Lucas Vázquez ainda tentaria alguns arremates, mas José Juan estava seguro e atento. Foi aí que o prestigioso técnico Zidane resolveu então acionar Karim Benzema, mas foi o Alcoyano quem resolveu partir para o tudo ou nada. Enquanto José Juan cuidava da meta, seus companheiros tentavam chegar à igualdade. O goleiro chegou a fazer um desarme vital em Vinícius Júnior, anulando uma perigosa jogada do brasileiro fora da área.
Finalmente a igualdade aconteceria, aos 34. E nasceu a partir de uma cobrança de escanteio, à qual Ramón López desviou e José Solbes, sozinho, completou diante do vacilo de Vinícius Júnior, na marcação. Na prorrogação, o Alcoyano conseguiria um verdadeiro milagre através de uma jogada de contra-ataque. Alberto Rubio, pela esquerda, acionou Ali Diakité, o qual cruzou para a pequena área. Juanan Casanova se antecipou a Lunin, deixando no fundo da rede. Estava decretada a grande e inédita vitória. Uma verdadeira festa tomou conta do gramado.
O pequeno Alcoyano demonstrou que improvável não significa impossível. O feito será, sem dúvida, muito lembrado na pequena Alcoy por muitos e muitos anos