por Pedro Redig, de Londres
A guerra dos técnicos é um show à parte na Premier League. Os seis melhores estrategistas de seis países diferentes comandam os seis times que estão no G6 – no alto da tabela.
São eles: o catalão Pep Guardiola campeão com o Manchester City, o português José Mourinho do Manchester United, o alemão do Liverpool, Jurgen Klopp, o argentino Mauricio Pochettino do Tottenham, o italiano Antônio Conte do Chelsea e finalmente o francês Arsène Wenger do Arsenal. Os seis brigaram a maior parte do campeonato pelas seis melhores posições que garantem presença nas prestigiadas Champions League e Liga Europa.
Vamos agora a um perfil de cada um:
Guardiola, 47 anos, não pode nem deve ser chamado de espanhol. O catalão foi multado pela Premier League por usar uma tarja amarela em solidariedade a líderes catalães que buscam autonomia de Madrid. Pagou a multa e continuou usando.
Em Manchester, o obstinado técnico armou o melhor time do campeonato que bateu recordes de pontos e gols marcados e faturou o título com cinco rodadas de antecedência.
Guardiola aplicou no City a mesma receita de excelência dos times que dirigiu antes como Barcelona e Real Madrid: pressão no alto do campo, posse e circulação da bola tipo ‘bobinho’ e jogo sempre saindo da defesa.
A contratação do goleiro Ederson foi peça-chave no quebra-cabeça do City. Guardiola queria um goleiro para sair com a bola no mesmo estilo do alemão Neuer, que ele comandou no Bayern de Munique.
Ele apostou em outros jogadores, como Kyle Walker, o ala que trouxe do Tottenham. Muitos jogadores melhoraram o desempenho individual e o melhor exemplo é Leroy Sané, o ponta esquerda alemão do City que merece ser considerado entre os melhores do mundo.
Gabriel Jesus teve as suas chances e marcou gols importantes mas ainda tem muito que aprender. Guardiola é o melhor professor e o City o clube ideal para o brasileiro no momento.
Diante de tantos elogios, é bom não esquecer que o City perdeu a quarta-de-final para o Liverpool, acabando com o sonho de Guardiola de vencer a Champions League.
José Mourinho, 55 anos, é um queridinho da mídia na Inglaterra. Tudo que ele fala vira manchete. Mas o português de Setúbal volta e meia aparece rabugento e confrontando repórteres nas entrevistas. De bom humor, ele é até engraçado.
Mourinho tem fama de ser um técnico cauteloso e a torcida acha que falta audácia e uma atitude mais positiva no jeito do time jogar. Os ‘diabos vermelhos’ querem a volta dos bons tempos de Alex Ferguson quando dominavam tudo.
O rival City tem mais dinheiro por causa dos ricos donos em Abu Dhabi, mas o United também investiu contratando Paul Pogba por R$400 milhões. Mourinho tem tido uma relação complicada com o meio campo francês que poderá deixar o clube na próxima temporada.
Mourinho vai certamente promover mudanças e ‘arrumar a casa’ do jeito que ele gosta. A próxima missão é também a mais difícil – recuperar a supremacia do futebol inglês do campeão City.
Jurgen Klopp, 50 anos, é daqueles simpáticos alemães sempre com um largo sorriso e uma gargalhada forte. Ele fez o nome no Borussia Dortmund, o time da animada torcida da ‘muralha amarela’.
Klopp trouxe este espírito guerreiro para Anfield, um dos templos sagrados do futebol mundial, levando os jogadores de braços dados para saudar a torcida no final dos jogos.
Ele também é famoso por gesticular muito na área técnica numa animação contagiante. Às vezes, Klopp não se contém e se joga nos braços da torcida!
O alemão perdeu Philippe Coutinho no meio da temporada mas conseguiu dar a volta por cima. O atual ataque com Mo Salah, Roberto Firmino e Sadio Mané tem sido mais eficiente do que nos tempos do brasileiro que foi para o Barça.
Salah já chegou à marca de 40 gols na temporada incluindo todas as competições e tem tudo para ser eleito craque do atual campeonato inglês.
Klopp também cuidou da defesa, trocando o goleiro e contratando o zagueiro holandes Virgil Van Dijk por R$330 milhões. O Liverpool de hoje está mais forte do que nunca e pode sonhar alto depois de eliminar o Manchester City da Champions League.
Mauricio Pochettino, 46 anos, comanda o Tottenham há quatro anos. Argentino com dupla nacionalidade espanhola, foi zagueiro central em clubes como Espanyol e Paris St-Germain.
Pochettino veio do Southampton onde supervisionou uma eficiente divisão de base. Trouxe esta confiança em novos jogadores para o Tottenham e revelou talentos como Harry Kane e Dele Alli.
Agora, depois de garantir o clube na elite européia, dizem que gigantes de outros países como Real Madrid estariam de olho nos três. O Tottenham simplesmente não pode perder os craques e o treinador que vem fazendo o sucesso do clube.
Ainda por cima, o clube tem um estádio novo de R$3,5 bilhões e meio para encher. Não é vendendo o seu melhor talento que o Tottenham vai conseguir sucesso. É bom lembrar que Luka Modric e Gareth Bale saíram do Tottenham para o Real Madrid.
Antônio Conte, 48 anos, divide o jeito passional de Klopp mas é um latino típicamente italiano. Gosta muito do ‘teatro’ na beira do campo e também divide as comemorações com os fãs.
Ele armou o time num 3-4-3 mas o nível dos artilheiros deixa a desejar. A melhor prova disso é que nem Alvaro Morata, nem Oliver Giroud conseguem emplacar como titulares. O brasileiro Willian teve uma ótima temporada mas Eden Hazard ficou abaixo do nível que ele costuma atingir.
David Luiz não teve a mesma sorte e foi encostado por desavenças com o técnico. Um terceiro brasileiro, Kenedy (ex-Fluminense) se deu bem porque foi emprestado pelo Chelsea e está brilhando no Newcastle, cotado como alvo de grandes clubes.
Conte foi leal como jogador, ficando treze anos na Juventus – e mais três como técnico. Mas agora todo mundo acha que, seguindo os rompantes dele e do dono do clube Ramon Abramovich, o italiano vai embora do Chelsea depois de duas temporadas.
Arsene Wenger, 68 anos, é um francês que revolucionou o futebol inglês com novas técnicas de treinamento, dieta e o fim do culto à bebida no futebol.
Ele está no Arsenal desde 1996 – há 22 anos! Conquistou três titulos da Premier League. O último foi o mais especial porque o time onde atuavam Gilberto Silva e Edu ganhou a temporada 2003-2004 invicto.
Conhecido como ‘professor’, Wenger fala várias línguas e descobre jogadores graças a grande rede de olheiros espalhada pelo mundo.
O Arsenal sempre lutou entre os quatro primeiros mas a desclassificação para a Liga dos Campeões pela segunda temporada seguida é um sinal de que o time precisa revigorar.
Depois de tanto tempo, existem dúvidas de que Wenger seria o nome ideal para estas mudanças. O goleiro Petr Cech já não é o mesmo dos tempos do Chelsea e a defesa também precisa melhorar.
Jogadores como Theo Walcott e Alex Oxdale-Chamberlain deixaram o clube e o grande reforço foi a chegada do artilheiro Pierre-Emerick Aubameyang.
A impaciência do clube e da torcida chegou ao limite e o decano dos técnicos ingleses revelou que não vai mais comandar o time na temporada que vem. Wenger finalmente deixa o Arsenal depois de mais de duas décadas.
Este panorama não poderia terminar sem incluir Sam Dyche considerado por muitos o melhor técnico da temporada inglesa, na frente do ‘príncipe’ Guardiola.
Aos 46 anos, o inglês levou o Burnley a brigar com o Arsenal pelo sexto lugar e uma vaga na Liga Europa. Foi o único time capaz de ficar perto do seis grandes.
O sucesso do Burnley mostra que no meio de tantos gigantes, os fracos também são fortes.