por Zé Roberto Padilha
Há três décadas, Zico era a principal atração do Maracanã. E Phil Collins, a grande atração do Rock in Rio. No último fim de semana, o Fla-Flu foi jogado no Pantanal para 15 mil pessoas, sem o Zico, e Phill Collins ocupou o Maracanã, cantou ao vivo para 40 mil pessoas. Melhor para a música, pior para o futebol.
Quem foi ao maior estádio do mundo pode ouvir, outra vez, a melhor música do mundo. Um dos gigantes do pop mundial relembrou suas canções do Genesis, acompanhados do naipe de sopros à lá Earth, Wind & Fire, enfileirou hits e levantou o público com sua inesquecível “Easy Lover”. Prova que o tempo, se passou, poupou aquelas cordas vocais para que jamais nos deixassem esquecer do talento de Phil Collins.
Já quem foi ao Pantanal sentiu a falta de quem compôs, com a camisa rubro negra, as melhores jogadas do mundo. Clássico das tabelas com Adílio, ultrapassagens com Leandro, sinfonias que acabavam nas redes em parceria com o Nunes. E com o Cláudio Adão. Fora os solos precisos cobrando, como, ninguém uma falta. O som da bola se alinhando nas redes do Santa Cruz, ao contrapé do seu goleiro, ainda ecoam nos ouvidos dos amantes do futebol-arte.
Mas o tempo, a violência do futebol e o Márcio, do Bangu, machucaram suas pernas mortais, provocaram artroses em suas articulações, e de lá, do Pantanal de Cuiabá, torcedores, goleados e humilhados, só sentiram saudades. O que mais sentiriam, senão pena, do que entoam vestindo suas vestes Rômulo, Ronaldo e Marlos Moreno?
Daí você me lembra, e o Jogo das Estrelas? Já fui a um, é um programa parecido com praia em dias de mormaço. Você sai de casa contando com um resquício do sol, e quando ele aparece em uma caneta, um lançamento, ah! você volta imaginando o bronzeado que teria caso seus ídolos tivessem forças para afastar aquelas nuvens dali.
Os músicos pelo mundo tentam, sem sucesso, a inspiração de Phil Collins. E os limitados reservas do Flamengo tentam, sem inspirações, alcançar a genialidade do Zico. Claro, podemos pegar um DVD destes dois gênios e rever suas obras de arte a qualquer tempo. Mas ao vivo, há uma troca de energia, uma cumplicidade, que nem jogadores, músicos, fãs e torcedores sabem explicar. E por tal, a boa musica continuou a reinar neste final de semana, a soar por sobre a histórica grama, coberta e complacente do maior estádio do mundo. E a bola, coitada, ficou a tropeçar por pântanos distantes, conduzidas por notas dissonantes, por atores confusos, que o futebol brasileiro, e a nação rubro-negra, não merecem mais ouvir e assistir.