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Pelé

QUEM ERA MÍOPE, AFINAL?

por André Felipe de Lima


Para muitos, João “Sem medo” Saldanha estava louco ou, no mínimo, no ápice de seu furor costumeiro, que oscilava entre um estilo docemente ranzinza e ações capazes de desferir um tiro. O ex-técnico Yustrich e o ex-goleiro Manga conheceram bem esse traço da personalidade de Saldanha. Mas a “loucura” que causou uma comoção nacional aconteceu durante as eliminatórias para a Copa do Mundo de 1970. Saldanha, então treinador do escrete canarinho, chamou de míope ninguém menos que Pelé, e publicamente e sem subterfúgios, como era sua característica. Papas na língua não eram do seu feitio. Sob o pragmatismo que lhe era comum, falava que Pelé tinha dificuldades para cabecear a bola e que enxergava mal à bola em jogos noturnos.

A notícia desencadeou uma comoção nacional. A imprensa se incumbiu disso. Saldanha tivera acesso aos exames oftalmológicos de Pelé, que acusaram graus de 2 no olho direito e de 2,5 no esquerdo. Os médicos se lixaram, afinal a miopia, especialmente no grau detectado no Rei, não lhe traria transtornos em campo. A prova disso é que Pelé foi em campo o que jamais outro será. João Havelange, que presidia a Confederação Brasileira de Desportos, a antiga CBD, não gostou do, digamos, excesso de sinceridade de Saldanha. Ambos iniciaram ali uma animosidade nos bastidores da seleção, que culminaria na saída do treinador, sobretudo após a interferência do então presidente da República, o ditador Emílio Garrastazu Médici, que impusera a convocação do centroavante Dario, despertando a ira do João “Sem medo”.

Zagallo, que ocupou o lugar de Saldanha em 70, sempre afirmou que a rusga entre Pelé e o então técnico começara numa preleção. O Rei questionara o esquema tático adotado no jogo contra os argentinos. Saldanha respeitou a opinião, mas conhecendo seu histórico é previsível o desfecho do “debate” com Pelé. Quando Zagallo assumiu (palavras do próprio Velho Lobo), Pelé pediu ao novo comandante para que não fosse mais sacaneado como vinha ocorrendo.


por André Felipe de Lima

“A miopia ficará pior. Há um ano, mais ou menos, percebi que Pelé já não enxergava direito. Isso explica suas más atuações no Santos e na própria seleção. Precisamos de muito mais do que meio jogador. E Pelé, como está, é meio jogador, pelo menos em partidas duras como as que teremos no México”, resmungara João nos jornais logo após sair da seleção. “Isso é golpe dele. Saldanha sabia que ia ser demitido e, por isso, me barrou, usando-me como uma espécie de ‘bode expiatório’. Ele sabe, há muito tempo, que tenho uma ligeira deficiência visual no olho direito. Desde 1958, quando participei de uma seleção pela primeira vez, essa minha miopia, que penso ser hereditária, é conhecida por todos que estão ligados ao futebol”, rebatia Pelé.

Muitas décadas depois do episódio Pelé voltaria a falar da miopia que tem desde a infância. Até aquele exame em 1969, ignorava o problema ocular. Não o incomodava. Afinal, o cara já batera a marca dos mil gols quando bateu boca com Saldanha. No Santos mesmo já haviam identificado a miopia. Ninguém deu bola para isso na Vila Belmiro. Somente Saldanha, pelo visto, encasquetou. Resultado: barrou Pelé e deflagrou a sua fritura no cargo.


A imagem do Rei no banco era inimaginável, mas Saldanha ousou desafiar as forças da natureza futebolística ao retirar Pelé do combate. Para muitos, uma infâmia. Resignado, o Rei sabiamente aceitou o banco (com reservas, claro), que, sabemos, seria repentina e indolor. Retomou a camisa dez que lhe é ternamente de direito, jogou uma barbaridade na Copa e trouxemos, em definitivo, para casa a “finada” Taça Jules Rimet, roubada na noite de 19 de dezembro de 1983 e, certamente, derretida. Mas essa é outra história. E, para encerrar o papo, Pelé terminou a carreira usando lentes de contato.

SENNA E PELÉ

Tentativa de entender a ingratidão de um povo…

por Israel Cayo Campos


Como diria Rauzito, eu também vou reclamar. Gosto muito do Senna como piloto, mas não dá pra comparar. Até aposto que numa votação de quem foi o melhor, Senna ganhe de lavada! O fato do povo brasileiro ser racista de carteirinha e não aceitar um negro como o maior atleta de todos os tempos, a proximidade das gerações, o fato da Globo ter criado uma aura quase santa em Ayrton e, principalmente, o fato de ele ter morrido aos olhos de todo povo brasileiro contribuem pela predileção do povo pelo piloto! Quando Pelé morrer farto em dias, acho difícil que essa geração se importe!

Para justificar tamanho desrespeito com alguém que nos deu tanto, aquela desculpinha bem safada de que Pelé não é ídolo por suas atitudes na vida pessoal! Como se o telhado de todos que lhe apontam o dedo fosse de aço! A velha história de ele não ter reconhecido a filha continua como pretexto, o que por sinal não é verdade! Pois após exame de DNA (até porque ele não tinha como saber depois de 30 anos se era pai da Sandra Regina), ele não só a reconheceu legalmente, como até hoje paga pensão para seus netos, filhos da já falecida ex vereadora de Santos, mesmo esses já tendo ultrapassado os 18 anos de idade! 

O que ele nunca quis foi ter contato com uma pessoa que depois de 30 anos aparece dizendo que é sua filha! O que é direito de cada um e não cabe a ninguém julgar! Agora dizer que ele não assumiu a filha é o cúmulo da desculpa falsa para atacar o Pelé! Por sinal, antes de Sandra Regina aparecer na mídia, as desculpas eram outras, como a dele não se orgulhar da própria cor, o que beira ao escrutínio perseguitório de uma sociedade conservadora como a nossa! 


Quanto a vida pessoal de Ayrton, compreendo que é até chato falar dos mortos… Mas se vale uma análise crítica igual a que fazem com a de Pelé, foi sempre uma existência blindada pela Globo. Era o famoso príncipe do Brasil (sua cor e boa aparência ajudavam nisso). Suas mensagens de cunho religioso hipócrita, pois nas pistas ele não agia conforme suas frases, hoje repetidas na televisão e em foto-mensagens de Instagram e Facebook, sua visão conservadora e malufista, e principalmente o fato de sempre ter se colocado naquilo que eu chamo de monopolista da verdadeira virtude! Pois tudo que ele dizia, ou fazia, não importa se fosse a maior abobrinha do mundo, era e ainda é tido como a verdade absoluta inquestionável! E ai daqueles que discordarem, pois os fãs de Senna são tão fanáticos como hooligans ingleses! Mostram que Senna nunca foi o santo infalível que até hoje o pintam!

Com isso não quero denegrir a imagem de Senna, quem sou eu para isso, mas viso mostrar que ao contrário do que a maioria dos brasileiros pensam, a vida não é uma novela. Onde há sempre um vilão e um mocinho. Se Pelé cometeu erros na vida, Senna também os fez, e perdi as contas! 

Se Senna foi o maior atleta brasileiro em esportes individuais de todos os tempos, ele não foi metade do que Pelé é para o Brasil como atleta em um contexto geral! Embora tenha certeza que quando o Edson for embora, não terá metade do respeito que Ayrton teve ao morrer (o que também não questiono, foi muito merecido!).

Senna também era espetacular. Campeão em todas as categorias de base do automobilismo e tricampeão do mundo na Maclaren com 31 anos! Até o aumento no número de Gp’s por temporada, era o vencedor absoluto da principal categoria de automóveis do planeta com 41 vitórias (fora as que venceu, mas foi garfado por Jean Marrie Ballestre) e 65 pole positions. Até hoje o Rei do principado de Mônaco, no autódromo de Monte Carlo! Mas em comparação a outros pilotos da fórmula 1, Senna não entra nem entre os cinco maiores da história (Schumacher, Fangio, Prost, Vettel e Hamilton estão a frente do tricampeão mundial brasileiro). 


Já no caso de Pelé, em um esporte onde surgem muito mais desportistas de alto nível do que em algo tão caro e elitista como a Fórmula 1, o eterno camisa 10 reina absoluto! Mesmo que alguns digam que Maradona ou Messi sejam melhores, a quantidade de pessoas que concordam com tal opinião é ínfima. O que me leva novamente a não entender o motivo de tamanha aversão pelo Rei do futebol, curiosamente no “país do futebol”…

Gosto de Fórmula 1, e assim como fã de Ayrton, também sou de Fangio, Stewart, Clark, Lauda, Hunt, Fittipaldi, Peterson, Prost, Hamilton e principalmente de Gilles Villeneuve (que nunca ganhou um campeonato do mundo!), assim como além de Pelé no futebol, admiro Garrincha, Di Stéfano, Zico, Romário, Zidane, Cruyff, Cristiano Ronaldo, Messi, Maradona, Ronaldo e tantos outros… Não pelo que eles fazem ou fizeram em suas vidas pessoais, mas sim pelo que eles representam e representaram para ambos os esportes!

São dois exemplos de cidadãos brasileiros que venceram no mundo todo, e merecem todo o respeito por isso (inclusive da irmã e da viúva não assumida de Senna, que não param de se promover as custas de um finado). Mas construí esse texto para tentar entender o motivo de no nosso país um ser tão exaltado e outro tão execrado! A conclusão que chego é que Pelé, cidadão do mundo, além de bem maior esportivamente falando que Ayrton (e isso é uma grande honra para ambos), não merece o país onde nasceu! Infelizmente!

FUTEBOL ARTÍSTICO E FUTEBOL DE TERROR

por Rubens Lemos


Enquanto traço o queijo de coalho bem nordestino, o amigo 12 anos mais novo, faz observações sobre minha ortodoxia pelo futebol antigo. Ele, Pacheco de Copa do Mundo. E vocifera, no entusiasmo dos juvenis em HD:

– Você gosta de um futebol do passado, gosta de um futebol bonito, mas os tempos mudaram, hoje é marcação e velocidade.

O tempo e a impaciência são primos próximos, irmãos da razão. Deixo o queijo (uma delícia), descer devagar, tomo um gole de Coca-Cola e aciono o gatilho de minha metralhadora indignada:

– Gosto de tudo o que é bonito. De mulher bonita, de livro bom, de filme bonito, de música bonita, de um queijo delicioso e de uma carne de sol suculenta. Prefiro tudo isso à uma canelada de Fred ou uma arrancada inútil de Taison, seus ídolos.


Ele ponderou que tudo tem sua época e eu respondi que meu tempo é o tesouro precioso guardado no baú de minha alma. No futebol, prefiro rever o futebol brasileiro esquecido às palhaçadas de uma geração rica, mimada e mais preocupada com o contracheque do que o
gol.

Passei da metralhadora ao fuzil M-16 verbal. O amigo é vascaíno igual a mim, porém necessita de medicamentos, pois considera razoável o horroroso time atual.

Solto o questionário, admito, mais interrogatório do que entrevista:

– Você é fã de Juninho Pernambucano é? Pois saiba que ele não jogava um milímetro de Geovani…

– Juninho batia falta bem e lançava muito… – retrucou

– Geovani driblava, lançava, batia pênalti, falta, escanteio, dava lençol e caneta em adversário craque, era um maestro. Se quisesse, faria chover numa chapada na bola.

Meu amigo estranhou. Afinal, conhece a Chapada Diamantina e a dos Guimarães.

– É, mas eram outros tempos..

Prossegui enquanto uma picanha descia ao prato:


– Se você acha que Willian sabe jogar, veja um vídeo de Paulo Cézar Caju, um gênio malabarista, se você acha que Renato Augusto merece a camisa 8 do Brasil, vá ao YouTube e digite Didi 1958 ou Gerson 1970. Se Roberto Firmino te encanta, crave Romário e procure uns golzinhos dos tantos que ele fez. Entre Paulinho e Zico, respeito sua opinião, mas Zico jogou mais o equivalente à distância entre a Terra e o infinito, o interminável.

Mudamos de assunto. Passou uma loira de ganhar Hexas e Heptas, bronzeadíssima e plenamente consciente e mascarada dos seus predicados volumosos. Uma gostosa institucional.

Saí do restaurante mais puto da vida com quem idolatra uma seleção sem exceções que não Neymar e Phillipe Coutinho. Saí certo de que minha geração não engole esse tipo de futebol agradável feito dor de dente em fim de semana: feio, fechado, esquemático e cheio de jogador com nome de praça e desempenho de lixo.

No estacionamento, ainda provoquei:


– Você que gosta de marcação e correria, escreve para a Fifa e pede logo para retirar as traves do gramado. Joga tudo pro 0x0, que é o escore da mediocridade, dos notebooks e dos scouts, que Garrincha desmoralizaria num drible de gafieira.

Respeito aos mais velhos, meninada.

Somos pelo futebol artístico, vocês pelo de terror.

LEMBRANÇAS DE UM TEMPO ESQUECIDO

por Émerson Gáspari


Minhas lembranças remontam ao ano de 1895, quando nasci em São Paulo. Tenho, portanto, 123 anos. Nessa data tão especial para mim, pouca gente se recorda e ninguém me cumprimenta ou mesmo me agradece pelo fato de eu ainda estar vivo.

Essa legião de egoístas parece ocupada demais, com o nariz enterrado num celular durante o dia e a barriga encostada numa mesa de bar, tomando cerveja entre amigos, à noite. E são milhões deles. Mas não parece haver uma viva alma neste país tão bonito, que se interesse pela minha história, meu passado, minhas lembranças.

Desse modo, não me resta alternativa – a não ser eu mesmo – de recordar tantos momentos inesquecíveis que proporcionei a todos esses egoístas e a milhões de outros, que já se foram sem terem tido a consideração de me agradecerem por tantas emoções desfrutadas.


Poucos prestigiaram meu nascimento, sob a batuta de Charles Miller, no confronto Gas Works Team x SP Railway Team. Mas aos poucos, fui me tornando popular e os momentos incríveis, se sucedendo, aos montes. Como em 1919, no campo da Rua Paissandu , onde o goleiro Marcos de Mendonça defendeu um penal e três rebotes em seguida, dando o  tricampeonato ao Flu, diante do Mengo. Naquele mesmo ano e defendida pelo mesmo Marcos, a Seleção Brasileira derrotou – jána segunda prorrogação da final (de 150 minutos!) de um jogo extra – aos uruguaios, com um gol de Friedenreich, dentro do estádio das Laranjeiras abarrotado.

Saibam que sequer rádio havia para informar aos torcedores que não estavam presentes e o boca-a-boca era o meio utilizado para espalhar a notícia. Ou os jornais. Mas a paixão que eu despertava em vocês já era única, incomparável, nesta época tão longínqua.

Momentos sublimes como o primeiro gol de bicicleta de Leônidas pelo São Paulo, em cima do Palestra Itália, em 1942. Ou polêmicos, como o gol de cabeça de Valido, diante do Vasco, que resultou no primeiro tricampeonato do Flamengo. Também polêmicos foram muitos personagens, nesses anos todos: Heleno, Almir, Edmundo… todos craques! Aliás, craque é o que mais produzi no país: que nação teve um driblador como Garrincha? Na final do Cariocão de 62, ele destruiu o Mengo de Gérson, que preferiu jogar ao lado dele, no Botafogo. Mesma providência tomada antes, pelo “Enciclopédia” Nilton Santos. E olhem que Nilton era um monstro capaz marcar um atacante de costas, pela sombra projetada no gramado ou tirar uma bola da poça d’agua na maior categoria, pisando nela e aproveitando o “empuxo”. Igualzinho Didi, que tirava o “ponto de gravidade” da pelota, ao cobrar uma falta com sua “folha-seca”.


Está difícil para os mais novos? Não entendem direito o que lhes conto? Perguntem aos velhos torcedores: eles decerto se lembrarão desses monstros sagrados e de outros como Zizinho, o “Mestre Ziza”. Meu Deus! Só numa terra abençoada para eu criar craques desse naipe. Pena que seu povo despreze tanto a memória, a história e desconheça fatos e pessoas.

O que dizer do Santos de Pelé & Cia, então? Jesus! Beirava o inacreditável: até hoje muitos não creem que o clube parou guerras, dominou o mundo e revelou o maior jogador de todos os tempos; Pelé. Não! Muitos brasileiros, ao contrário, preferem eleger um craque “modinha” do exterior, desfilando toda sua ignorância futebolística.

Tem jovenzinho que não acredita que aquele Santos, em 58, venceu o Palmeiras no Rio-SP, por 7×6. Ou que Pelé certa feita, em Bauru, marcou três vezes um gol de cabeça, em escanteios cobrados em sequência por Pepe, até que o juiz desistisse de anulá-los. Simples assim!


Desdenham dos mil gols do Rei! Duvidam que Mané  jogasse o que jogou, tendo uma bacia deslocada seis centímetros, um joelho virado para dentro e outro para fora. Que Djalma Santos cobrasse laterais, jogando bolas que cruzavam toda a grande área. Que Domingos da Guia, o “Divino Mestre”, tenha sido o único jogador campeão consecutivamente no Brasil, Uruguai e Argentina. E era um zagueiro… “o” zagueiro.

Que Jair Rosa Pinto disparasse bombas que faziam curvas em “S” (como as que o Arsenal levou na sacola em 49, quando voltou pra Inglaterra, após desembarcar invicto no Rio). Que para Dino Sani, não houvesse “bola quadrada”: do jeito que viesse o passe, a bola seria dominada e posta no chão, tranquilamente; daí saindo viradas de jogo ou lançamentos diagonais perfeitos. Pobres incultos! Quando é que os torcedores de hoje irão se interessar em saber quem foi Carlito Rocha no Botafogo? Belfort Duarte no América? Lara no Grêmio? Julinho Botelho na Portuguesa? Rivellino no Corinthians? Dirceu Lopes no Cruzeiro? Ou que Castilho amputou parte de um dedo para participar de uma decisão pelo Flu? Ou ainda o que foi aquele Bahia de 59? E o Atlético de Reinaldo? Será que lhes passa pela cabeça que o Bangu já foi vice Brasileiro, que o Amériquinha já foi grande; que Ponte, Guarani, Portuguesa, América-MG viveram épocas áureas? Que clubes “pequenos” como Ferroviária, Bragantino, Paulista, Santo André, São Caetano, Americano e muitos outros já tiveram lindas conquistas no passado? Imaginam o que possa ter sido o Paulistano, bem como sua excursão por gramados franceses?

Como podem acreditar que o Botafogo, com mais três jogadores “enxertados” por Zagallo, vestiu a camisa da Seleção e deu uma surra na Argentina em 68, com o quarto gol de Jairzinho sendo marcado após 52 passes consecutivos, tendo a participação de todos os brasileiros no lance, sem que os gringos sequer conseguissem tocar na bola?

Ao invés de lerem e aprenderem que conquistamos o penta em 32 partidas invictas, preferem dedicar seu tão precioso tempo colecionando figurinhas da Copa, repleta de…estrangeiros?!


Hoje temos em vídeo, gols maravilhosos registrados nos últimos 40 anos. Como o de Dinamite, no último minuto, pra cima do Fogão em 76, naquele chapéu cinematográfico.  Ou os de Romário, despachando o Uruguai e classificando a Seleção para a Copa de 94. E os de Zico pelo Flamengo, à frente de um esquadrão que conquistou o Mundial sem dar chances ao Liverpool.

Às vezes, o “imponderável” (como escreveriam Nelson Rodrigues ou João Saldanha) se dava numa simples aposta, como quando Nelinho chutou uma bola por sobre o Mineirão. Ou mesmo num treino do Verdão, quando Leão defendeu de bicicleta (e com a canhota!), um toque de Toninho, que o estava encobrindo (pena que sem registro).

Mas dá pra assistir como foi maravilhoso aquele esquadrão do Guarani de 78, o Inter de Falcão, o Timão do Dr. Sócrates, a Seleção de Telê de 82. A inigualável conquista do tri, em 70.

Mas não! Os torcedores de hoje preferem relembrar que o Brasil tomou de 7×1 da Alemanha em casa e que isso foi um vexame “maior” que o da Copa de 50, no “Maracanazzo”. Pergunte a eles se ao invés disso, procuraram assistir em taipe, aos três minutos iniciais da estreia de Pelé e Garrincha diante da URSS, em 58. Ou se sabem que essa dupla jamais foi derrotada, em 40 jogos pelo escrete canarinho. A preferência deles é outra: usar camisas de clubes europeus!


Sabem tudo de Messi e CR7, mas não imaginam que Nilton Santos, Garrincha e Pelé tem escalação garantida em qualquer seleção mundial de todos os tempos que se forme no exterior. Um gol de bicicleta de Cristiano Ronaldo é celebrado com “perfeição humana”, mas desconhecem que Leônidas da Silva e Pelé cansaram de fazer gols assim.

Capaz de não acreditarem também, que no Corinthians do IV Centenário, havia um artilheiro chamado Baltazar, que fez mais gols de cabeça do que qualquer um desses “deuses”, que a mídia repercute e amplifica. Certamente desacreditarão que no Pacaembu, aliás, havia uma charmosa concha acústica, que o ingresso era barato, e a torcida, mais presente e pacífica.

Hoje é “arena multiuso”, “chuteira dourada”, “bola científica”, graminha sintética, torcedores com camisetas caríssimas, games de última geração. Ah!… Quanta saudade dos tempos românticos, no qual torcedores pintavam bandeiras e camisetas, para irem ao estádio!

Bolas costuradas à mão, nada de “frescuras” nos uniformes. Todo garoto que se prezava, jogava bem uma pelada em chão de terra batida. Ou pelo menos, deixava a imaginação fluir com seus jogos de botão, cujas escalações pouco mudavam, de uma temporada para outra.

É por essas e outras que ando convalescendo por aí: esvaziado de craques, mal administrado, sem a mesma credibilidade de antes, desde os tais 7×1. É por isso que eu, pobre futebol brasileiro, vou vivendo praticamente das lembranças que um dia meu glorioso passado produziu, na cabeça de uma meia dúzia de saudosistas abnegados.

COPA DO MUNDO DA MÚSICA

por Mateus Ribeiro

A Copa do Mundo está chegando, e já estamos todos no clima. Seja trocando figurinhas do álbum, seja fazendo simulações com a tabela, todo mundo já está se imaginando na Rússia.

Como sou ser humano, amo futebol (principalmente a Copa do Mundo), decidi que entraria no clima do Mundial, mas de maneira diferente: resolvi que era a hora de listar atletas que disputaram o maior campeonato de futebol do planeta, e que se aventuraram no mundo da música.

Nessa pequena lista, você encontrará de tudo: desde campeões geniais até jogadores não tão talentosos, seja cantando samba ou judiando de uma bateria. Sem mais conversa, vamos ao que interessa!

Alexi Lalas, o zagueiro rockeiro

É muito provável que você se lembre de Alexi Lalas, um dos maiores fenômenos da inesquecível Copa de 1994. Em razão de sua cabeleira e sua barba um tanto quanto chamativas, Lalas foi um dos jogadores mais falados durante o Mundial. Se fosse nos dias atuais, certamente viraria um meme.

Lalas não era apenas jogador de futebol. Desde sua adolescência, fazia parte de uma banda chamada Gypsies. Porém, seu “sucesso” veio com a carreira solo, com o zagueiro/guitarrista chegando a lançar dois discos enquanto jogador: “Far From Close”, em 1996, e “Ginger”, em 1998. Lalas ainda está na ativa, passeando por várias vertentes do rock and roll. Seu último disco, lançado em 2016, chama se “Shots”, e conta com a ótima “Big Break”, que pode ser conferida no vídeo.

Sócrates, um fã de sertanejo:

Que Sócrates é um dos maiores e mais emblemáticos jogadores da história do futebol brasileiro, todos nós estamos cansados de saber. O que muita gente talvez não saiba é que o saudoso Doutor tem um disco de música sertaneja lançado.

Dois anos antes de disputar sua primeira Copa do Mundo, Sócrates gravou um disco de música sertaneja, intitulado “Casa de Caboclo”. O craque do Corinthians e da Seleção Brasileira gravou músicas como “Cabocla Tereza”, “Luar do Sertão” e Couro de Boi”. Para quem gosta de uma boa moda de viola, vale a pena ouvir este grande achado.

Júnior Capacete, um craque do samba: 

Um dos principais jogadores da história do Flamengo, Júnior, carinhosamente (ou não) chamado de Capacete, esbanjou talento e longevidade pelos gramados do Brasil e do planeta.

No ano de 1983, Júnior gravou um LP, com destaque para a música “Povo Feliz” (também conhecida como ‘Voa, Canarinho, Voa), tema da Seleção na triste Copa de 1982. Seu LP é algo difícil de se encontrar, mas enquanto não encontro, você pode ficar com essa regravação de 2014 para a citada música.

Petr Cech:

Em 2006, Petr Cech pintava como um dos melhores goleiros do mundo. A seleção da República Tcheca, que disputava seu primeiro Mundial, despertava curiosidade, e alguns até imaginavam que Nedved e sua turma poderiam fazer uma boa campanha. Isso não aconteceu, e o sonho acabou na primeira fase.

Essa foi a única participação de Cech em um Mundial. Sua carreira foi um sucesso, com títulos nacionais e continentais pelo Chelsea. Hoje, já em final de carreira, alterna bons e maus momentos no rival Arsenal.

Pelo menos depois que aposentar, o goleirão já sabe o que fazer: aulas de bateria, uma vez que seu kit sofre um pouco na mão do grandalhão. Mas imagina só se ele tivesse com as baquetas o mesmo talento que tem com as luvas? Desfrute de bons momentos em seu canal no Youtube:

Miguel Herrera cantando Ska: 


Miguel Herrera foi um lateral da Seleção Mexicana, e como a grande maioria dos seus companheiros de selecionado, nunca chamou muito a atenção pelo talento. Talvez você se recorde de seus espetáculos na Copa 2014, quando como treinador, proporcionou algumas cenas bonitas como essa:

Pois bem, mas se você acha que esse comportamento, e o fato de ter sido demitido do cargo de técnico da Seleção Mexicana por ter descido o braço em um jornalista foram suas maiores bizarrices, está redondamente enganado.

Em 2002, quando treinava o Atlante, o treinador gravou uma canção do ritmo SKA para ajudar a promover e divulgar o bom momento do clube. Clique no link abaixo, e assista essa preciosidade do mundo alternativo.

VIDEO| Miguel Herrera al grito de guerra – SanDiegoRed.com
La canción del género “Ska” que alguna vez hizo el ‘Piojo’ para el Atlantewww.sandiegored.com

Ümit Davala, o rapper Turco: 

Davala foi um dos pilares da Seleção Turca na inesquecível campanha na Copa de 2002. Chamou a atenção pelo seu futebol e seu penteado de gosto duvidoso.

Se você achou o penteado dele um tanto quanto alternativo, é porque não ouviu disco de Rap cantado em turco pelo ex jogador. Lançado no ano de 2004 , o disco chamado de “UD 2004” é um tesouro para quem gosta de curiosidades e excentricidades.

Ryan Babel, boleiro e rapper nas horas vagas: 

O atacante holandês está bem longe de ser um craque. Mesmo assim, conseguiu participar de poucos minutos entre os Mundiais de 2006 e 2010. Sua carreira em Mundiais não passa disso.

Talvez sua carreira como rapper seja mais interessante. Com o nome artístico de Rio, Babel tem participações em músicas de outros rappers. Mas seu melhor momento mesmo fica para a música gravada ao lado do compatriota Royston Drenthe (que chegou a jogar no Real Madrid). Vale a pena ouvir:

Raí, o homem que estava nos sonhos de Paula Toller: 

Achou que apenas Sócrates representaria a família Vieira de Oliveira? Achou errado, amante da música e do futebol.

No ano de 1993, antes de disputar sua primeira (e única) Copa, um dos principais jogadores da história do São Paulo participou do clipe da música “Eu tive um sonho”, da banda Kid Abelha. Raí faz um papel de Príncipe Enantado no clipe. Relembre esse grande crossover abaixo:

Tomas Brolin, dos gramados para as pistas de dança: 

No ano de 1999, as boybands estavam em alta. Nomes como BakstreetBoys, Five e N´Sync estavam no auge, e rodavam o mundo, fazendo shows para multidões.

O fenômeno rodou o planeta, e a Suécia não poderia ficar de fora. Um dos principais nomes da Seleção Sueca na Copa de 1994, Tomas Brolin fez parte do grupo Friends In Need, que executava um eurodance de gosto um tanto quanto duvidoso. O clip é tão inusitado quanto a música. A desenvoltura de Brolin como integrante de banda de adolescente mostra que escolher o futebol foi a melhor das opções.

Pelé, um pouco além do ABC: 

A lista tinha que terminar com o Rei. Pelé gravou uma música para promover os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

A canção, intitulada “Esperança”, é mais empolgante do que o jingle que dizia que “…toda criança tem que ler e escrever”. Porém, podemos dizer que como cantor, o rei continua sendo o maior jogador de futebol de todos os tempos.

E você, consegue se lembrar de algum outro craque (ou pereba) que participou de uma Copa do Mundo e foi fazer sucesso nos estúdios e palcos mundo afora? Caso se lembre, mande aí nos comentários!

Até a próxima!