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Pelé

PELÉ ETERNO X MESSI

por Serginho 5Bocas


(Foto: Reprodução)

Pelé é o maior jogador de futebol de todos os tempos e maior atleta do século XX e continua com sua fama inabalável mundo afora. Mas olha que no seu próprio terreiro, tem muita gente boa que vive duvidando dele, se era mesmo essa “Coca-Cola” toda, se sobrava na turma… vê se pode?

Não pude vê-lo em ação em sua plenitude, mas ouvi muito a seu respeito de muita gente boa e que sempre pude confiar,. Depois o filme “Pelé eterno” veio para confirmar minhas expectativas, o cara era sobrenatural mesmo, um espanto.

Mas vamos ao que interessa, ao duelo da vez, pois de tempos em tempos a imprensa catapulta algum candidato a superar o rei Pelé, e pobre de nós que temos que ficar ouvindo esta ladainha, esta história surrada amiúde.

O cara da hora é o Messi, então vamos pra porrada!


(Foto: Reprodução)

Pra inicio de conversa, vou fazer uma breve observação: um craque só pode ser “medido” ao final da carreira, que é quando podemos analisar seu legado. Comparar um jogador que já deixou sua herança com outro que ainda está na sua plenitude pode ser injusto, mas vamos lá, o desafio está na mesa:

Clubes:


(Foto: Reprodução)

Pelé jogou no Santos e fez dele o maior clube do mundo de sua época, o Santos não era muita coisa antes de Pelé, nem foi depois, o negão era transformador…

Messi joga no milionário Barcelona, clube que sempre foi rico e continuará sendo. É inegável que o Barça com Messi é muito melhor do que sem ele, e as suas atuações são imperdíveis a cada rodada, mas Messi não fez o Barcelona, é só recordar quem esteve por lá nos últimos anos: Cruyff, Maradona, Romário, Rivaldo, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, entre outros… Queria ver o Messi jogar num clube de menor expressão e torna-lo forte como Pelé fez com o Santos, com muita propriedade.

Nessa não tenho dúvida em cravar o Rei:

PELÉ 1X0 MESSI

Seleção:

Pelé foi campeão do mundo com 17 anos, fez seis gols em quatro jogos e marcou na final, decidindo a Copa de 1958 nos jogos de maior dificuldade. Jogou quatro Copas e venceu três delas, fazendo 12 gols em 15 jogos e balançando a rede em duas finais de Copa do Mundo. Não é pouco, né?.


(Foto: Reprodução)

Messi já foi a três Copas e não conseguiu fazer a diferença pela seleção argentina. Atualmente, Messi tem tido atuações espetaculares e sua média de gols pela Argentina vem crescendo, mas vamos esperar a Copa de 2018 para dar um veredito mais consistente.

Por hora, ponto fácil para a fera:

PELÉ 2X0 MESSI

Títulos:

Pelé pelo Santos venceu: dez paulistas, quatro torneios Rio-São Paulo, seis brasileiros, duas Libertadores e dois mundiais, sem contar os títulos de menor expressão. Venceu muito por aqui, quando atuar no Brasil, era jogar num campeonato de alto nível. Pela seleção, como já foi dito, venceu três Copas do Mundo em quatro disputadas e conquistou outros títulos de menor expressão. Entre os inúmeros prêmios individuais que não cabe na crônica, destaco o de atleta do século dado por várias entidades.


(Foto: Reprodução)

Messi já venceu pelo Barcelona oito campeonatos espanhóis, quatro Liga dos Campeões e três mundiais de clubes, sem contar também com torneios de menor valor. Pela Argentina, venceu um mundial sub-20 e uma Olimpíadas. Individualmente, já tem uma lista extensa de premiação, com destaque para a Bola de Ouro da FIFA, que já venceu 5 vezes, mas ainda não conquistou a Copa do Mundo, aí…

Essa foi a disputa mais dura e Messi tem tudo para ultrapassar o Rei neste quesito num futuro próximo, mas ainda não dá pra ele, fico com o Rei de novo, e olha que não havia Bola de Ouro da FIFA naquele tempo, valeu? Se tivesse quem derrubaria o Rei?

Ponto para o ET

PELÉ 3X0 MESSI

Gols:

Não acredito que Messi possa fazer tantos gols quanto o Rei até o final de sua carreira, mas é um dos poucos que poderiam chegar perto ou incomodar.


(Foto: Reprodução)

O problema é que Messi arrancou tarde, ele está bem próximo do seu apogeu, que em média vai dos 25 aos 30 anos, após isto a tendência é reduzir a marcha. Messi faz 30 este ano e a favor do argentino pesa o fato de que ele se contunde muito pouco, talvez pela sua juventude e genética. Além disso, seu time toca muito a bola, evitando mais contato, mas a musculatura hoje é mais exigida pela velocidade atual do jogo, em contrapartida, a medicina evoluiu muito, recuperando os jogadores cada vez mais rápido.

Tai uma grande interrogação. Só o tempo dirá se Messi manterá essa média de gols incríveis, mas só para apimentar a discussão, com 21 anos Pelé já tinha 500 gols e com 29 fez 1000.  Acho bom o Messi se apressar, senão não chega nem perto do Negão.

Nessa ele deu capote!


(Foto: Reprodução)

PELÉ 4X0 MESSI

Acho que já está bom parar por aqui, ou alguém vai tirar algum coelho da cartola?

Quer saber de uma coisa pessoal, Rei só tem um e é brasileiro. Que orgulho do rei ser nosso!

Vamos parar de palhaçada!!!!

ERASMO, O PROFETA

Olá, amigos! 

Hoje é 1º de abril, dia da mentira, por isso, nada mais justo do que reproduzirmos a música “Pega na Mentina”, lançada pelo vascaíno Erasmo Carlos no disco Mulher, em 1981. 

Na letra, Erasmo descreve várias situações absurdas que obviamente são mentirosas. Com exceção de duas, que curiosamente formam o primeiro verso da música. “Zico tá no Vasco, com Pelé”.

Àquela altura o Rei do Futebol já havia vestido a camisa do Vasco em jogos amistosos, Zico o faria alguns anos depois, em 1993, quando participou da partida em homenagem a Roberto Dinamite, como profetizou o Tremendão.

PELÉ GOSTA DE SAMBA; BOM DA CABEÇA AOS PÉS

por André Felipe de Lima


Desde que me conheço como gente, ou seja, lá pelos idos de 1974, embora ainda criança, comecei a gostar (e muito!) de samba. Foi exatamente naquele ano que pela primeira vez ouvi o casamento desta minha paixão lúdica e mirim por outra tão forte quanto: o futebol. Achei o maior barato. E o amoroso preâmbulo musical da minha vida — além, obviamente, do timoneiro Paulinho da Viola — foi registrado pelo samba “Camisa 10”, assinado por Hélio Matheus e pelo gremista Luís Vagner, na voz do santista Luiz Américo, aquele intérprete que ficou famoso na década de 1970 tanto pelo inconfundível bonezinho que usava como pelo molejo dos sambas que cantava.

A letra de “Camisa 10” é crítica e com endereço certo: o ex-técnico da Seleção Brasileira Mario Jorge Lobo Zagallo. Na letra do samba, Luís Vagner deixou público que Zagallo estava pisando na bola e que a Seleção, em preparação para a Copa do Mundo, na Alemanha, permanecia uma grande e incômoda incógnita. Ora, não havia mais Pelé, que três anos antes deu adeus à Seleção e se preparava para deixar o Santos também. A “dez” do escrete tornou-se um verdadeiro ponto de interrogação. Muitos noivos queriam desposá-la, mas apenas dois estavam na crista da onda e jogando muito: Rivellino e Ademir da Guia.

Alguns meses antes da Copa, Vagner finalizou a letra com Matheus e partiu imediatamente para o Rio de Janeiro. Queria mostrá-la ao Luiz Américo, que curtia muito futebol e estava numa fase ótima na carreira, integrando a leva de sambistas bastante populares na ocasião, dentre os quais Luiz Ayrão, Roberto Ribeiro, Os originais do samba, Paulinho da Viola e Martinho da Vila.

Os dois se esbarraram no programa do Chacrinha e ali começou, para valer, “Camisa 10”, um samba cuja letra, por pouco, ficou engavetada. Américo estava com o disco finalizado e pronto para ir ao mercado. Não poderiam ficar em cima do muro, como Zagallo na Seleção, e meteram a música no LP graças, ora veja, aos censores da ditadura militar, que acharam apologia à prostituição a letra de uma faixa do disco que falava em “multiplicação do amor”. Podia até cair o “amor livre”, mas jamais a “Dez”. Durante a Copa na Alemanha (e após ela também devido ao fiasco da Seleção), o disco vendeu mais que água e os caras encheram a burra de dinheiro. Até hoje me pego cantarolando, do nada, o refrão: “É camisa 10 na seleção, laiá, laiá, laiá…(bis)/ Dez é a camisa dele/Quem é que vai no lugar dele (bis)”.

Mas “Camisa 10” não foi a primeira, digamos, incursão da marca “Pelé” no samba. “Camisa 10” foi apenas uma citação ao craque. Pelé sequer sabia da existência da letra antes do estrondoso sucesso que fez nas rádios e em programas de auditório entre 1973 e 74.

No final da década de 1950 e começo da seguinte, Pelé estava estupendo. Era natural, portanto, que seu nome estivesse em pelo menos uma de quatro marchinhas carnavalescas ou ranchos que estourassem no mercado fonográfico. Em 1959, a orquestra e coro da gravadora RGE lançaram a marcha “Pelé, Pelé”, de Alceu Menezes. Sucesso garantido no carnaval de 1960. No ano seguinte, o cantor Luiz Vanderley gravou pela RCA Victor o chá-chá-chá “Rei Pelé”, do próprio Vanderley com os sambistas Wilson Batista e Jorge de Castro. Essa composição foi regravada dois anos depois pelo coro do “Clube do Guri”, programa exibido pela antiga TV Tupi entre 1955 e 1976. Além de “Rei Pelé”, Wilson Batista também compôs, novamente com Jorge de Castro, a marcha carnavalesca “Rei do Futebol”. 

Parece interminável o número de marchinhas rendendo loas ao “Rei do futebol: “Pelé e o Brotinho”, de João Chamo e Souza Cruz, lançada pelo selo “Carnaval” por volta de 1958;  “Pelé”, de Oiram Santos… enfim, a lista vai longe. “Ataca Pelé”, da gravadora Copacabana, foi lançada em 1961 por Tico-Tico, um carioca do Santo Cristo, cujo nome era Jorge Pereira Simas. Há também “Marcha do Pelé”, de Paulo Borges e Magdalena Correia; “Pelé”, de Amasílio Pasquim e Caçulinha; “Coitadinho do Pelé”, de Mariano Nogueira; “Pé de Pelé”, de Cambuí e Nhô Zé, e, por fim, a “Marchinha do Pelé”, de Alvarenga e Ranchinho, cujo áudio pode ser conferido aqui.

Jackson do Pandeiro, em parceria com Edgar Ferreira, é o autor da célebre “Um a um”, música do gênero “embolada” lançada em 1954. “O meu clube tem time de primeira”, reclamava Jackson nunca admitindo empate. É deste gigante da história da MPB a letra de “O Rei Pelé”, um “coco” de 1974, como destaca Paulo Luna, em seu livro “No compasso da bola” (2011): “Quem é aquele moço com a bola no pé?/ (É o Rei Pelé!)/ Eu perguntei quem é o moço com a bola no pé?/ (É o Rei Pelé!)/ A bola lhe deu dinheiro/ Lhe deu nome, lhe deu fama/ A bola lhe colocou/ Entre os maiores dos homens”. A letra composta por Jackson de Pandeiro para “O Rei Pelé” é gostosa de ouvir. Muito divertida mesmo. 

TABELINHA COM COUTINHO? QUE NADA… PELÉ COM ELIS FUNCIONOU MUITO BEM

Já ouviram alguma vez o sensual diálogo a seguir?:

— Pelé, canta um negocinho pra gente, canta.

— Não posso, não tenho voz pra cantar.

— Mas canta, Pelé. Me disseram que você toca violão tão bem…

— Em todo o lugar que chego querem que eu toque violão.

— Mas canta pra mim…

Pois é, Pelé não resistiu ao dengoso pedido da pimentinha Elis Regina e decidiu cantar para ela e com ela. Foi a primeira vez que cantou e gravou um sambinha. Um não, dois sambinhas! Isso aconteceu em 1969, ano em que o maior jogador de todos os tempos arriscou-se no samba ao gravar com Elis o disco compacto “Tabelinha: Elis x Pelé”, pela antiga gravadora Philips, com apenas duas faixas (“Vexamão” e “Perdão não tem vez”) todas de autoria do Pelé. 

Pelé voltou a aventurar-se em um (quase) samba em 1977, quando, em parceria com Sérgio Mendes e a banda Brasil 66, lançou o LP “Pelé”, pela gravadora WEA. O disco, que priorizou o instrumental, contém a trilha sonora do filme que narrou a sua despedida dos gramados. O jogador estava no Cosmos, de Nova Iorque, dando um banho de marketing e atraindo uma legião impressionante de novos adeptos do soccer nos Estados Unidos. No disco, fazendo dueto com Gracinha Leporace, Pelé canta “Meu mundo é uma bola” e “Cidade grande”, que também foi interpretada por Jair Rodrigues, de quem Pelé foi grande amigo. 

Em 1979, Pelé lançou, pela Som Livre, um compacto simples com as músicas “Criança” e “Moleque danado”, de sua autoria. Para ouvir “Moleque danado” e várias outras músicas do Pelé basta acessar o site www.tidido.com e cadastrar-se gratuitamente. No link a seguir você vai direto para as músicas do Pelé: http://tidido.com/pt/a35184372128979/al5601335ae7c622686a871920/t5601335be7c622686a871a0f

JAIR RODRIGUES, AMIGO MAIS DE VIOLA QUE DE SAMBA

O saudoso Jair Rodrigues foi um grande amigo de Pelé. Um visitava o outro com relativa frequência. Jair foi, é verdade, quem mais procurava o Pelé. Ia muito a Santos só para botar o papo em dia com o ídolo e falarem mais de música que propriamente de futebol. “Quando chegava, o Pelé já estava com o violão dele lá me esperando”, disse Jair, em uma entrevista à TV Bandeirantes, contando, também, como o gosto musical de Pelé é versátil: “Esse violão ele acabou me vendendo. Tenho ele até hoje. Chegava na concentração ou na casa dele, o Pelé já vinha me mostrando. E não era só samba, porque ele gostava de todos os ritmos, assim como eu. Além de jogar uma bola finíssima encontrava tempo de compor boas músicas.”

A amizade entre ambos rendeu duetos que fizeram muito sucesso. O samba passou, porém, longe da amizade de Jair com Pelé. O intérprete, que notabilizou-se por muitos sambas de sucesso, gravou três canções assinadas por Pelé. Todas elas longe, contudo, do quesito samba. Enquadram-se no estilo moda de viola. Ei-las, portanto: “Recado à criança”, gravada em 1974; “Cidade grande”, em 1981, e “Violeiro, violeiro”, em 1982. 

COM WILSON SIMONAL OU ‘TODO CANTOR QUER SER JOGADOR’

Em antiga reportagem do SporTV, Benedito Ruy Barbosa afirmou ter sido testemunha da vocação musical de Pelé. Garantiu ter presenciado Tite, um ex-ponta canhoto que jogou pelo Fluminense e pelo Santos, ensinar ao Pelé os primeiros acordes do violão. Pelé conta que nos primeiros momentos de Santos, alguns jogadores pintavam na concentração com uma viola e que ele os acompanhava, timidamente. “Quando eu era garoto, já pegava um violão e ficava dedilhando”, recordou Pelé, que foi intensificando o gosto pela música conforme o Santos ia conquistando tudo e todos. “Muitos compositores e cantores famosos visitavam a gente nas concentrações”, contou Pelé, na mesma reportagem do SporTV. Com o assédio dessa gente famosa, a musicalidade definitivamente o envolveu. Além de Elis Regina e Jair Rodrigues, Wilson Simonal foi uma destas celebridades musicais da época que se aproximaram de Pelé. Em 1967, gravou, inclusive, uma composição do craque santista, a letra de “Gosto tanto de você”, que integra o  LP “Alegria Alegria vol. 2”, lançado pela Odeon. 

Wilson Simonal esteve bem perto de Pelé no momento mais importante da carreira do craque: o “tri” na Copa do Mundo de 1970, no México. Simonal foi convidado pelos cartolas da antiga CBD (Confederação Brasileira de Desportos) para acompanhar a delegação no Mundial. A missão do cantor era entreter a rapaziada com muito samba para que ficassem calmos e tinindo em campo. Missão, pelo visto, devidamente cumprida. O Brasil ganhou todas as pelejas e Pelé se consolidou como o maior atleta do século XX.


No documentário “Ninguém sabe o duro que dei”, de Calvito Leal, do “casseta” Cláudio Manoel e de Micael Langer, Pelé reconheceu em Simonal uma figura ímpar da MPB. Era uma ocasião na qual o cantor rivalizava em popularidade (vejam só…) com Roberto Carlos. “Simonal foi uma espécie de cantor oficial da delegação [do Brasil, na Copa de 70]. Ele fazia um imenso sucesso no México tanto quanto Pelé”, confirmou Nelson Motta, em depoimento para o filme biográfico do cantor.

Wilson Simonal e Pelé eram carne e unha. Juntos promoveram ensaios musicais divertidíssimos para os jogadores. A amizade entre ambos afirmou-se no México. “Pô, eu chegava no aeroporto e todo mundo pedia autógrafo pra ele [Simonal]. Quer dizer, parecia que ele era um jogador de futebol. Aquela coisa que você sabe, né, de boleiro com cantor. Ele dizendo que era bom de bola, que gostava de bater bola. Eu tinha um [campo de futebol] society lá na minha casa, aí nós brincamos lá. Aí começou nossa amizade. Pô, é impressionante. Todo cantor quer ser jogador e todo jogador quer ser cantor”, declarou Pelé também para o filme “Ninguém sabe o duro que dei”.

Simonal acabou se tornando mais que apenas o cantor oficial da delegação. Foi uma mascote, um querido amigo de todo mundo. O clima descontraído permitiu aos jogadores promoverem uma brincadeira com o cantor. Durante um treino, ele deveria jogar para um leve e descompromissado “teste”. Os craques deixavam o cantor se sentir “jogador”. Simonal passava a bola, conduzia a pelota… só dava o “craque” Simona na pelada dos craques. No documentário, Chico Anísio recupera uma história surreal. Zagallo tinha dúvidas se levava para o México o ponta-direita Rogério do Botafogo ou o terceiro goleiro, no caso o Leão, do Palmeiras. Carlos Alberto Torres, o “Capita” de 70, emendou a sugestão, naturalmente na maior galhofa: “Zagallo, pra que levar o Rogério se o Simonal está aqui? O ‘Simona’ entende, joga uma bola redonda”. Zagallo embarcou na piada do Capita e perguntou ao Simonal: “Você joga, Simonal?”. O treinador do escrete ouviu na lata: “Bato uma bola…”. Um todo prosa Simonal mordeu a isca e Zagallo o convidou para uma “preparação física pra valer” na manhã do dia seguinte. Tudo à vera, sem “brinca”. “Se você estiver bem, eu te inscrevo”. Um confiante Simonal acreditou.

“Ele [Simonal] achava que estava bem, que era atleta e ele falou assim: ‘Pô, vou fazer uns dois toques’, porque a gente fazia brincadeira de dois toques, né? Aí, recreação… ele falou: ‘Vou fazer dois toques com vocês aí’. Aí eu falei: ‘Tá legal’, aí arrumamos pra ele fazer o dois toques. Botou o uniforme, botou a chuteira, tudo. Eu me lembro como se fosse hoje. Aí, ele foi fazer o dois toques. Quinze minutos de aquecimento, pô, ele se sentiu mal. Lá no México é alto, pô, deu um piripaque nele. Aí, ficou lá, teve que vir o doutor dar um oxigênio e tudo pra ele”, recordou Pelé, às gargalhadas, para o documentário sobre Simonal.

Simonal desmaiou para valer. Somente quando acordou é que percebeu que tudo não passava de uma gozação. Até ali, o cantor acreditava piamente ser ele o ponta-direita da seleção na Copa de 70.


Claudia Cardinale

A Copa do Mundo de 1970 rendeu muitos sambas, como o “breque” “Moreira da Silva contra 007”, do rubro-negro Moreira da Silva, o grande “Kid Morengueira”, o último malandro de raiz de que se teve notícia. Ele, com o parceiro de composições, o jornalista Miguel Gustavo (autor também da famosa “Pra frente Brasil!”, criaram uma letra tão surreal que nem mesmo o artista surrealista Salvador Dali ousaria pintá-la. A música narrava um hipotético quiproquó de Pelé com James Bond por causa da atriz Claudia Cardinale. O narrador inicia a comédia trágica assim: “Moreira da Silva contra 007. Sexo e violência no mais espetacular filme de espionagem do famoso diretor americano Abelardo ‘Chacrinha’ Barbosa. Com James Bond, Claudia Cardinale e Edson Arantes do Nascimento.”

No final das contas, Claudia Cardinale teve um caso com Pelé, em Santos. “A bonitinha não percebe a tabelinha que ele faz/ Pelé controla a Cardinale, dá-lhe um beijo e avança mais”. Mas Bond flagrou os dois na maior pegação na piscina do hotel/ concentração e partiu para cima do craque empunhando um soco-inglês. E quem surge para salvar nosso ídolo das garras do famoso espião britânico? Ora, ora, ora, meus caros… ele, somente ele, poderia salvar o nosso Pelé: o trepidante agente “Kid Morengueira”, que levou James Bond para o (argh!) Dops e descobriu a “trama sórdida”: queriam sequestrar Pelé para que não jogasse contra a Inglaterra. Malandramente, Moreira da Silva desvenda o “crime” e leva como “brinde” a estonteante Cardinale para jogar um emocionante pif-paf e comer uma pizza no Brás.  

A Copa do Mundo de 70 passou, mas Pelé permaneceu. Jorge Ben Jor, que tantas músicas fez sobre futebol (maciça maioria dirigida ao Flamengo e a Zico), talvez tenha sentido uma certa culpa por jamais ter reverenciado o maior de todos os gênios do futebol. Foi redimido pela “O nome do Rei é Pelé”, do álbum “Reactivus Amor Est (Turba Philosophorum)”, de 2004: “Dondinho e Celeste idealizaram e fizeram o rei chamado Pelé/ O nome do rei é Pelé, o nome do rei é Pelé/ Pelé de todos os tempos/ Incomparável Pelé, Pelé/ Pelé da arte e da magia”. A música, contudo, não foi das mais empolgantes do cracaço da MPB.

Em 1982, com o país em polvorosa por conta da seleção do Mestre Telê Santana, Moraes Moreira, outro craque da MPB, decidiu homenagear aquele inesquecível escrete na música “Sangue, Swing e Cintura”, mas, evidentemente, sem esquecer o maior jogador da história: “O rei aqui é Pelé/ Na terra do futebol/ Olé! É bola no pé/ Redonda assim como o sol/ Seja no Maracanã/ Ou num gramado espanhol”.

Foi a partir daquele ano da frustrante participação do Brasil na Copa do Mundo da Espanha que Pelé foi, aos poucos, sumindo das composições da MPB. Ele, por sua vez, também foi se esquivando do samba e permanecendo mais no gênero sertanejo. Algo mais próximo de samba, com nítida pitada de rap, o ídolo só voltaria a fazer em 2016.

O hit “Esperança” foi uma vã tentativa de manter a imagem de Pelé vinculada a da Olimpíada de 2016. A música não emplacou e Pelé sequer deu pinta na abertura dos Jogos, no Maracanã. Alegou que estava com a saúde frágil. O que é a mais triste verdade. Nosso ídolo maior do futebol vem enfrentando uma barra pesada com as fortes dores no quadril após uma cirurgia malsucedida realizada por médicos americanos.

O tempo passa e nenhum outro jamais superará o “Rei do futebol”, seja nos gramados ou nas letras da MPB. Pelé — perdoem-me o chavão — é único e insuperável. O que mais, afinal, poderia ser dito sobre um dos maiores gênios da humanidade no século XX? Pelé é definitivo. Caetano Veloso estava certo: “Pelé disse love”… e fez isso para o mundo. Pelé, meus caros, é um samba de uma nota só. Inigualável nas partituras do futebol e da vida.

AS CARAS DE QUEM SOMOS

por Zé Roberto Padilha


Somos o que lemos, já disse um dia o poeta. Ou foi o profeta? Pouco importa, eles estavam certos. Porque nos anos 70 o país do futebol prendia e torturava seus filhos e não teve um só ídolo de chuteiras a levantar a voz e tirar seu torcedor socialista do pau-de-arara. Saíram às ruas os estudantes, entraram em greve os metalúrgicos, os ferroviários, todos os operários, mas nenhum Pelé ocupou o show do intervalo para denunciar a tortura. O sumiço do Herzog. Em meio a esta pavorosa omissão, Democracia Corintiana, Afonsinho e Movimento Passe Livre foram focos isolados de resistência prontamente abafados pelos cartolas.


Nas concentrações dos clubes de futebol os jogadores não liam Movimento, Pasquim ou Opinião. Eles liam Contigo, Jornal dos Sports, Tio Patinhas e Manchete. Não a de variedades, política e sociedade do Arnaldo Bloch. Mas a esportiva que só continha futebol. Tão violento foi o descaso da minha classe que o ditador da vez, Emilio Garrastazu Médici, teve a petulância de trocar o comando da seleção porque João Saldanha era comunista. Em seu lugar imporia a CBF um treinador que levasse Dadá Maravilha ao México. Era um bom atacante, cabeceava bem, tinha passadas largas e um certo domínio de bola, masna época era o melhor ópio do povo que o futebol concebia nas tardes de domingo. O que distraia as massas enquanto as bombas explodiam no Riocentro.

Nosso país, hoje, encharcado de corrupção e desmandos, também reflete o que seus filhos lêem: enquanto a Bíblia Sagrada vende apenas 500 mil exemplares por mês, segundo a Sociedade Bíblica do Brasil, a tiragem da revista Caras bateu 860 mil em janeiro. E a Quem Acontece chegou a casa dos 650 mil. De um lado o livro mais vendido no mundo, a cartilha da fraternidade que desde o primeiro exemplar tem orientado a humanidade a dividir o pão e o vinho. De outro, uma exposição da vida das celebridades, riqueza e ostentação dos que vivem a esconder o pão e colecionar vinhos. Para ficar bonito na capa, aplicam botox e trocam a fiel escudeira por uma Joelma mais nova que vai aparecer deslumbrante em suas páginas ostentando um vestido  Dior.

Eike Batista não leu a Bíblia. Ele é a cara, e o mau exemplo, de quem acontece em nosso país. Deu uma Ferrari para o filho e não lhe deu educação para dirigir, preferiu investir em uma banca de advogados e subornar o radar da reta oposta da Washington Luis. Seus companheiros de cela, que não tiveram oportunidade de estudar,   não entendem como aquele homem foi parar ali.  Ter uma mansão com dez suítes e defecar de cócoras sob o olhar do deboche. Ter no cardápio lagostas e medalhões do Copacabana Palace e comer  bóias requentadas que o estomago não reconhece.

A vida é mesmo assim. Somos o que somos. E o que lemos. Mas quando o homem, e a mulher, se dedicam apenas a serem lidos, vistos e admirados, e para tal precisam negociar valores éticos e morais, corromper e serem corrompidos, chegou a Lavo Jato a hora de pegar o manual da humildade. Ao trocar a Ilha de Caras pelas celas de Bangu, Eike, Cabral, Eduardo Cunha e Cia vão ter tempo de sobra para rever conceitos e ler a Bíblia emprestada do detento ao lado. Que Deus os perdoe e nos proteja.

ANIVERSÁRIO DO REI

por Sergio Pugliese


Hoje o mundo celebra os 76 anos do Rei Pelé e para homenagear o Atleta do Século a equipe do Museu da Pelada procurou fugir do óbvio. Ao invés de gols, exibiremos uma passagem de sua carreira musical. 

Edson Arantes do Nascimento sempre foi amante da boa música e graças a seu prestígio pôde conviver e gravar com seus ídolos. Simonal, por exemplo, foi um grande amigo e Jair Rodrigues outro ídolo e fã do Rei. O segundo compôs e gravou com Pelé a música “Abre a Porteira”, considerada sua maior obra. 

Santista declarado, Jair sempre foi um peladeiro inveterado, apaixonado por futebol. Portanto, certamente ele lembra-se com orgulho de quando serviu Pelé numa tabela musical, onde era o Rei Pelé quem devolvia quadrado para Jair ajeitar.

Abre a Porteira

Pelé e Jair Rodrigues

Abre a porteira que eu quero entrar
Cidade grande me faz chorar…

Trovador no fim da tarde dedillhando a viola
Passarinho gorgeando anunciando o luar
E o fogão a lenha pra mãezinha cozinhar…

Abre a porteira que eu quero entrar
Cidade grande me faz chorar…
Aqui não tem o que eu tenho lá
Trovador no fim da tarde dedillhando a viola
Passarinho gorgeando anunciando o luar
E o fogão a lenha pra mãezinha cozinhar…

De manhãnzinha quando o galo canta
A gente se levanta e começa a trabalhar
Tira leite da vaquinha vendo o sol raiar
E vai cuidar da roça pra poder vingar…

Abre a porteira que eu quero entrar
Cidade grande me faz chorar
Aqui não tem o que eu tenho lá
Trovador no fim da tarde dedillhando a viola
Passarinho gorgeando anunciando o luar
E o fogão a lenha pra mãezinha cozinhar…

Olha a boiada na beira da estrada
Olha a vaqueijada e a poeira a levantar
Tudo isso dá saudade se começo a recordar
E a tristeza no meu peito só me faz chorar…

Abre a porteira que eu quero entrar
Cidade grande me faz chorar
Aqui não tem o que eu tenho lá
Cidade grande me faz chorar
Abre a porteira que eu quero voltar…