por Claudio Lovato
O cidadão Pedro Virgílio costuma sair de casa toda quarta-feira à noite – e morrer.
Morre de paixão, e depois volta para casa.
Rosângela, a esposa paciente, vai levando a vida conjugal da melhor forma possível. Prefere não criar caso.
Numa certa quarta-feira de manhã, entretanto, no café da manhã, ela resolve que é chegado o momento de conhecê-la de perto.
– Hoje eu vou com você! E não adianta tentar me fazer desistir! – anuncia.
Contrariado, mas ao mesmo tempo sentindo um estranho tipo de alívio, ele concorda.
E lá se vão juntos, em completo silêncio, no velho Gol da família.
Na chegada, a primeira coisa que Rosângela percebe é a animação geral.
Encontra alguns amigos do casal. Na verdade, não chega a ficar surpresa por vê-los ali. Já desconfiava.
Ela o assiste ir para o local em que ele trocará de roupa. Um puxadinho sem porta.
Alguns minutos se passam e então ela o vê reaparecer, de calção e camiseta, visivelmente sem jeito, olhando de lado, cabreiro por causa de sua presença.
Sentada numa cadeira de plástico, ela acomoda a bolsa no colo.
De repente, ouve o arrastar de uma cadeira e – agora, sim, surpresa – dá de cara com a amiga Mara Rúbia, mulher de Antônio Geraldo.
– Você também veio…, Rosângela diz.
– Venho sempre! Só pra conferir – Mara Rubia reponde.
– Sei.
As duas ficam em silêncio, olhando para onde os maridos estão agora, como se fossem meninos, cumprimentando-se com brincadeiras típicas de alunos do ensino fundamental.
Dali a alguns minutos, a disputa começa com espantosa disposição.
Rosângela balança a cabeça de um lado para o outro. Mara Rúbia suspira.
– Vê se pode… – diz Rosângela.
– Vê se pode – repete Mara Rúbia.
– A tal da pelada.
– Pois é.
As duas passam um tempo em silêncio, assistindo aquela correria desordenada dos homens e ouvindo seus gritos.
– Vou buscar uma cerveja. Quer? – Mara Rúbia pergunta.
– Claro que quero!
Quando a amiga sai em direção ao quiosque, Rosângela olha para o campo mal iluminado.
Ela acena para ele. Ele acena de volta.
O sorriso que surge entre os dois é um claro indício de compreensão.
E de um irrevogável salvo-conduto (até segunda ordem).