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PC Caju

PRO DIA NASCER FELIZ

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Por mais que tente é muito difícil não comparar os dias atuais com os de minha época. Por exemplo, tenho assistido a algumas partidas da Copinha e tem uma garotada boa de bola, mas com uma soberba fora do comum. Fazem gol e correm para a câmera dizendo “eu sou fo…” e gostam de tirar onda quando pegam um time bem mais fraco. O caráter também se constrói dentro de campo e é uma das funções do treinador.

Estava gostando do Fluminense, mas foi desclassificado justamente por achar que venceria a partida quando bem entendesse. Fui conferir o nome do técnico e não conhecia. Lembrei de Pinheiro, que faria aniversário segunda-feira passada e foi uma grande referência para a meninada tricolor. Para vocês terem uma ideia, Pinheiro foi auxiliar de Didi e subiu para o time profissional nomes como Pintinho, Edinho, Zé Roberto, Erivelto, Cléber, Edevaldo e o saudoso Gílson Gênio, que mais tarde também faria um belo trabalho na base.

Também não sei quem são os treinadores de Vasco, São Paulo e Palmeiras. O do Corinthians é o Coelho, ex-jogador. Insisto que a base deva ser treinada por quem entende de bola e não por especialistas em preparação física e estatísticas, mas não vou mais uma vez bater nessa tecla. Apenas me lembrei de Pinheiro, profissional raro, talentosíssimo e querido por todos, apenas boas lembranças, podem ficar tranquilos.

Escrevo emocionado com algumas mensagens carinhosas recebidas no Face, uma delas de Anizio Machado. Ele contou que, em 1976, foi jogar no Pinheiro, de Curitiba, e ganhou o apelido de Caju justamente por imitar o meu estilo. Servir de inspiração é sempre muito bom e adorei saber mesmo anos depois.

Em seguida, me contam que Hélio Costa, botafoguense fanático que me pediu para autografar uma camisa do Glorioso, havia morrido, mas levara com ele, como parte do corpo e lembrança eterna, o manto sagrado do Fogão. A paixão dos torcedores acaricia nossa alma e acalenta nosso coração. Me deixem chorar, por favor!

Outro gesto bacana foi do cantor Frejat, que me convidou para o seu show. Garanti presença, mas não fui. À noite, em casa, me ligaram para dizer que Frejat havia falado de mim, mais do que isso, havia pedido para que me reverenciassem quando me encontrassem na rua. Agradeci e chorei, mas era felicidade. Frejat, para quem não sabe, é bom de bola, lateral direito de qualidade, e um de seus grandes parceiros musicais é Mauro Santa Cecília, botafoguense roxo. Me arrependi de não ter ido, mas sozinho, no apartamento, cantarolei “Pro dia nascer feliz” em sua homenagem, obra-prima dele e Cazuza, poeta que não se encontra mais nessa empobrecida e devastada MPB.

“Todo dia a insônia me convence que o céu faz tudo ficar infinito e que a solidão é pretensão de quem fica”. Lindo demais! E a canção finaliza com uma espécie de mantra que carrego comigo e faz muita gente me considerar ranzinza e arrogante… ”nadando contra a corrente só para exercitar”. Viva Frejat! Viva a boa música! Viva o futebol-arte! E se isso é nostalgia que viva a nostalgia!

LEMBRANÇAS DO MARACA SETENTÃO

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Na semana passada, lembrei que em 2020 comemora-se os 50 anos da conquista do Tri, uma data especialíssima. Assim que a coluna foi publicada várias pessoas me enviaram zaps alertando sobre o aniversário de 70 anos do Maracanã.

Mas, peraí, como me esqueceria disso se eu e o ex maior estádio do mundo temos algo em comum? Eu e o Maraca nascemos no mesmo dia, 16 de junho!!! Por isso, amo tanto esse lugar e me revoltei com a plástica de quinta categoria que o submeteram. Virou uma arena como outra qualquer, bonitinha mas ordinária.

Os estádios precisam ter alma, devem nos arrepiar da cabeça aos pés e despertar a emoção dos cronistas. A magia deve prevalecer. A arquibancada pode ser de cimento desde que seu coração esteja confortável. Quando eu corria pela ponta-esquerda (beirinha é o…..) e o geraldino me xingava a resposta vinha com um drible desconcertante, um balão, uma caneta. A ira transformava-se em idolatria e eu virava rei. Radinhos de pilha eram arremessados no campo, mas no fim do jogo eu ganhava um motorádio e tirava onda. Ganhei mais de 20!

Na minha estreia, no Maracanã, pelo meu Botafogo, guardei três contra o América e saí campeão! Perdi as contas de quantos gols fiz no Andrada e de quantos pisões levei do Moisés. Quando Francisco Horta me trouxe de volta ao Brasil e troquei o Olympique de Marselha pela Máquina Tricolor, a diretoria do clube preparou uma grande festa no Maraca e vencemos o poderoso Bayern de Munique, 1×0.

Esse estádio meu deu muitas alegrias, mas também sofri. E não foi pouco. Estava naquele desastroso 6×0 do Flamengo contra o Botafogo e na dura derrota do Botafogo contra o Fluminense na final do Carioca de 71. Nesta última, fomos prejudicados pela arbitragem e fiquei dez minutos chorando no campo sem conseguir levantar, após o apito final. Waldir Amaral narrava um tempo e Jorge Curi o outro. Mário Vianna comentava e Armando Marques distribuía cartões. Quanta saudade, meu Deus!

O Maracanã, patrimônio do futebol, jamais poderia ter sido modificado. Era um templo, virou boutique. Pelo Flamengo, ganhei um Torneio de Verão contra o Santos, de Pelé, e o Benfica, de Eusébio. Ouviram bem isso? Pelé e Eusébio! Também no Maraca, participei de um treino aberto da seleção brasileira, preparatório para 70. No intervalo, Zagallo me chamou e disse que colocaria Arílson no meu lugar. Na frente de Arílson, avisei ao Velho Lobo que não sairia, que ele escolhesse outro, Kkkk!!! Me dava muito bem com Zagallo e para evitar confusões ele pediu para Arilson dar mais um tempinho no banco.

No Vasco, formei meio-campo com Guina e Pintinho, tá ruim? As charangas nos injetavam emoção, bandeiras gigantes coloriam o velho Maraca e os camisas 7, 8, 10 e 11 davam seus shows particulares. Os cinegrafistas do Canal 100 à beira do campo flagrando as pernas bailando, o povão extasiado, Brito dando uma espanada na área, Eduzinho furando as defesas e Fio Maravilha inspirando Jorge Ben…”Fio Maravilha faz mais um pra gente ver…”.

Ele fazia e o Maraca tremia como tremiam nossos corações.

UMA HOMENAGEM AOS HERÓIS DE 70

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Nessa primeira coluna do ano faço questão de homenagear os heróis de 70, os personagens que apresentaram ao mundo uma nova forma de jogar bola e que até hoje serve de inspiração para grandes times, como Barcelona, e técnicos, como Josep Guardiola.

Em 2020, comemora-se 50 anos da conquista do Tri e guardarei para sempre aqueles dias que passamos no ensolarado México. O grupo era especialíssimo, uns respeitavam os outros até porque era comandado por dois bicampeões do mundo, Zagallo e Pelé. Ninguém ousava uma reclamação por ir para a reserva por respeito ao Rei. Ter referências na vida é fundamental para a nossa formação.

Eram três goleiros espetaculares, Félix, Ado e Leão. Félix passava gomalina na tentativa de se igualar aos seus dois reservas, galãs de primeira, Kkkk!!!! Mas nunca é demais lembrar que duas defesas de Félix, contra a Inglaterra e Itália, nos permitiram seguir adiante. Brito, o Cavalo, teve sua convocação muito contestada, mas só reclamou quem não sabia nada de bola. Foi eleito melhor preparo físico da Copa e tinha como parceiro Piazza, um líder nato, que mudou de posição sem reclamar.

Everaldo, por ser mais maduro e marcador, ganhou a posição de Marco Antônio, que avançava sem medo de ser feliz. E Zagallo já achava o time ofensivo demais! Carlos Alberto Torres reinava na posição, mas qualquer problema Zé Maria estava lá para dar conta do recado. Com João Saldanha, a zaga titular das Eliminatórias era Claudio _ lembram-se dele? _ , Carlos Alberto, Djalma Dias, Joel e Rildo, que ficou frustradíssimo com o corte.

Paulo Borges, Toninho Guerreiro e Dirceu Lopes também estavam no time, mas com a entrada de Zagallo alguns nomes mudaram. Zagallo conversava muito comigo e, certa vez, puxou assunto sobre Dadá Maravilha. Joguei com ele no Flamengo e, claro, tem o seu valor, mas se pudesse escolher teria levado Caio Cambalhota. A zaga também tinha Baldocchi, fechadão, na dele, e Fontana, que jogou contra a Romênia. No meio-campo e ataque era aquela constelação: Clodoaldo, Gerson, Rivellino, Pelé, Tostão, Jairzinho, eu, Edu e Roberto Miranda. Rogério foi cortado, mas seguiu com o grupo.

Muitos ficaram de fora, como Arílson, Silva, Eduzinho Coimbra, Scala, Ademir da Guia. Na Copa, tive orgulho de ter sido titular no jogo contra a Inglaterra, considerada por muitos a decisão antecipada. Jogar contra o Peru foi muito emocionante porque nosso rival era treinado pelo mestre Didi.

Na partida contra o Uruguai, Zagallo me mandou aquecer e fiquei feliz na vida. Entraria na vaga de Clodoaldo, que em um momento de pura inspiração, meteu um golaço! Mas ele raramente fazia gols! Olhei para o banco e todos riram, pegaram no meu pé, porque sabiam que aquele gol mudaria os planos do Velho Lobo. E não deu outra, voltei para o banco, Kkkk!!!

Sempre que me deito, esses momentos adoçam a minha mente. Se é nostalgia, não sei, mas dá uma saudade tremenda. Nos últimos dias, recebi ligações de produtoras de diversas partes do mundo, México, Estados Unidos, Inglaterra, França, todas agendando entrevistas para documentários, livros e homenagens. Do Brasil, zero. Ninguém valoriza a memória como americanos e europeus, e nossos irmãos argentinos, chilenos e uruguaios. Eu valorizo e idolatro meus mestres de 58 e 62, e que essa nostalgia continue guiando meus dias e ritmando as batidas do meu coração. Feliz 2020!!

HABITUADOS A PERDER

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Em 1950, jogamos de igual para igual com o Uruguai, na decisão do Mundial, perdemos de 2×1 e vivenciamos o maior choro da história do Maracanã.

Em 1982, com uma seleção dos sonhos, jogamos de igual para igual com a Itália, levamos de 3×2 e desabamos em lágrimas.

Em 1974, o Brasil jogou de igual para igual com a Holanda, perdi um gol feito – até hoje tenho pesadelos com esse lance – e fomos eliminados da Copa.

Depois disso, o Brasil curvou-se aos europeus e há 20 anos tomamos pancadas nas principais competições internacionais. E o pior disso é que nos acostumamos a perder.

Essa derrota do Flamengo para o Liverpool foi a prova incontestável de que estamos em outro patamar no futebol mundial. Antes mesmo de o Flamengo entrar em campo muitos torcedores rubro-negros e a própria mídia destacavam o poder de força do time inglês. Ou seja, o time do Mister já estava feliz por ter ido tão longe. Jogou de igual para igual com o River e até mesmo com o Al Hilal.

Jogar de igual para igual já está de bom tamanho para o futebol que um dia foi o. melhor do mundo. Os alemães nos colocaram na roda e tiraram o pé para não nos dar de 10 o que não bastou para enterrar, ali, a Era Felipão. Agora, outro alemão, Jürgen Klopp, reforça que ainda falta muito para voltarmos a ser os melhores do planeta. Estamos alguns bons patamares abaixo. Enquanto o time inglês voltou para a Inglaterra sem festas e carros de bombeiro esperando no aeroporto, o noticiário da tevê brasileira abriu informando que o Flamengo perdeu jogando de igual para igual. Mas não bastou! No último domingo, no intervalo do Faustão, um ao vivo despertou minha atenção, afinal chovia muito e pensei em alguma catástrofe, mas era, pasmem, uma repórter, de capa amarela, sozinha, em um lugar ermo, informando que o avião do Flamengo acabara de pousar no Galeão.

Nunca um vice-campeonato foi tão festejado, nunca aceitamos tão passivamente uma derrota, nunca assinamos um atestado de segundo escalão, talvez terceiro, quem sabe quarto, do futebol mundial. Mas na mesa ao lado da minha, no bar, um torcedor jovem comentava com o outro, orgulhoso, “mas ganhamos milhões, o clube está com muito dinheiro”. Me preocupa essa postura, que não se concentra apenas naquela mesa de bar. O futebol brasileiro precisa contratar um bom psicanalista, deitar-se no divã e rever os seus conceitos.

A derrota deve ser chorada, sofrida. Do contrário, nos acostumaremos com ela e oficializaremos esse ridículo de igual para igual como nosso mantra. Pergunte para algum jogador brasileiro da Copa de 78 se eles concordam com o título dado a eles de campeão moral.

Campeão é quem está no alto do pódio, como fez o Liverpool e sua louvável miscigenação, com o egípcio Mohamed Salah, o senegalês Sadio Mané, o holandês Virgil van Dijk, o brasileiro Roberto Firmino e o inglês John Alexander-Arnold.

O Brasil mais uma vez bateu palmas para os vencedores. Se continuarmos com essa filosofia acabaremos lustrando suas chuteiras e os carregando nos ombros durante a volta olímpica.

FIM DE ANO MEXE COM O CORAÇÃO

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Se eu começar a coluna dizendo que não gosto de Natal muita gente vai dizer “caramba negão, mas nem de Natal você gosta?”, Kkkkk, mas a verdade é essa. Acho Natal uma data muito comercial e grande parte das crianças não ganham os presentes sonhados.

Minha infância foi muito pobre, não conheci meu pai, minha mãe não contava histórias de Papai Noel, não tenho fotos de meu batismo e meu único brinquedo, não poderia ser diferente, era uma bola, que jogava nas ruas Aníbal Reis e Diniz Cordeiro, em Botafogo, com os meus amigos Naninho, Luisinho Salada, Jairo, Lozinho, Paulinho da Viola e Roberto Beiçola, pai do zagueiro Juan. Também jogava na casa do Alvinho, com os irmãos Rubem e Roberto Medina. Cresci vendo injustiças sociais, raciais e não gosto dessas datas comemorativas, mas confesso que esse fim de ano vem mexendo com o meu coração.

Foram muitos reencontros, homenagens, lembranças, novos amigos e lições de vida. A produtora Iafa Britz é um desses grandes presentes. Na minha época de doidão me desfiz de muitas coisas, dentre elas uma edição histórica da revista Manchete em comemoração ao tricampeonato no México, com autógrafos de todos os jogadores para mim. Por anos ela guardou essa relíquia. Tinha certeza que sairia desse mundo das drogas e me devolveria. Devolveu! Jamais esquecerei disso!

Aí abro jornal e vejo meu nome citado no livro lançado pelo genial Nei Lopes, “Afro-Brasil reluzente – 100 personalidades notáveis do século XX”. Não há nada mais gratificante, afinal Nei Lopes é uma referência nessa incansável luta contra o preconceito.

Nesse fim de semana, para completar, revi vários amigos tricolores, na festa de confraternização, nas Laranjeiras, quando Búfalo Gil assumiu a presidência do Masters e Erivelto, a vice. Haja champanhe, Kkkkk!!!! Toquei tamborim acompanhando Noca da Portela e reencontrei Romeu Evaristo, nosso eterno Saci. Momentos maravilhosos que deixam nossa vida mais suave.

Sobre futebol, não gostei da postura de Vanderlei Luxemburgo, afinal desde o início ele sabia qual era o projeto do Vasco, mas a vaidade e os cifrões sempre nos fazem desviar o rumo. Se for comentar como os especialistas, diria que Luxa fez uma leitura do jogo, pegou a beirinha do campo, flutuou, pegou a segunda bola e foi parar no último terço do campo, Kkkk!!! O que isso quer dizer, não faço a menor ideia, Kkkkk!!!!

Sinceramente, minha maior preocupação é com o próximo Sulrioca, que dizer Carioca. Se nem os gaúchos estão suportando tanta retranca, o que os dirigentes do clubes cariocas estão pensando da vida?

Odair Hellman, no Flu, Abelão, no Vasco, e Espinoza, no Botafogo. Será o campeonato com menos gols da história do Cariocão? Não dá mais para seguirmos nessa linha do Paizão, gerenciador de egos, Família Scolari, família disso, daquilo. O futebol precisa fluir, ser reinventado. Vamos voar como águias e desapegar definitivamente desse caranguejo que só emperra o nosso futebol.