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PC Caju

A SUDERJ INFORMA: SAEM OS INCONSEQUENTES E ENTRAM OS SOLIDÁRIOS

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Por mais incrível que possa parecer, festeiro assumido, sempre gostei de me concentrar. Sinuca, ping-pong, carteado, os amigos reunidos, a troca de ideias, piadas, as histórias dos mais experientes. Para mim, concentração era como estar em família. Talvez, por isso, não tenha me adaptado ao modelo sugerido pela Democracia Corinthiana, de Sócrates, Casagrande, Wladimir & Cia. Mas, dessa vez, a concentração virou clausura. Por conta desse maldito coronavírus minha vida resume-se a casa, padaria, padaria, casa.

Os canais esportivos, sem muitas alternativas, reprisam jogos antigos, pelo menos isso. Gol do Ailton Lira, de falta! Que arrancada do Elói! Moreno, quanta categoria! Esses jogadores não existem mais, foram devastados pelo vírus do anti-futebol. Outro dia, achei um DVD antigo do Júlio César Uri Geller em que ele dizia que nunca treinou um drible, era natural, surgido nas peladas da favela. Hoje tudo é maquiado, os jogadores, os estádios. Os vírus já nos destroem há tempos. A conta chegou. As ruas estão vazias e até os ateus pedem ajuda divina. O que fizeram com o mundo? As lideranças são nulas. Nossa seleção é pífia, nosso Brasil está destroçado.

Odeio política e sigo a linha de Cazuza, “meu partido é um coração partido e as ilusões estão todas perdidas, os meus sonhos foram todos vendidos tão barato que eu nem acredito”. Estou sozinho em casa e o vírus bate em minha porta. Como se não bastassem os vírus da corrupção, da violência e do preconceito. Esses já arrombaram a porta faz tempo. O problema desse corona é que não tem para onde correr, o mundo está contaminado, até mesmo as potências mundiais. Somos todos iguais e talvez esse vírus seja um ensinamento, o de que estamos no mesmo patamar, carne e osso.

Com 70 anos faço parte do grupo de risco, mas vejo pessoas organizando festas, indo à praia, desrespeitando a vida dos outros. Enquanto isso os médicos se esfolam de trabalhar. O egoísmo é o pai desse vírus. Nós fabricamos os piores vírus. Mas a Suderj informa, saem os inconsequentes e entram os solidários. A solidariedade sempre vence. Sou osso duro de roer, nunca operei os joelhos, nunca tive uma contusão séria. Sou do tempo do Quarentinha, não da quarentena. Carrego a estrela no peito e se durmo ao som de Cazuza apostando que minhas “ilusões estão todas perdidas” acordo com Gilberto Gil me reerguendo… “andar com fé eu vou, que a fé não costuma faiá”.

 

MUNDO DE FANTASIA DO FUTEBOL

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Minha relação com a torcida sempre foi de amor e ódio. Nunca tive um estrategista de marketing para me transformar em ídolo e jamais medi palavras para dizer o que pensava. Eu era garoto quando meu pai foi enrolado por dirigentes do Botafogo. Ouvia suas reclamações e aquilo me revoltava. Não me conformava quando, já jogador, era barrado em restaurantes por ser negro. Minha diferença é que botava a boca no trombone e isso gerava antipatia dos dirigentes, os mesmos que deram uma volta no meu pai.

Construí minha carreira batendo e apanhando. Hoje quando me perguntam sobre essa história confusa de Ronaldinho Gaúcho e do irmão Assis acho curioso. Muita gente, até hoje, me olha torto por eu ter passado boa parte de minha vida mergulhado em cocaína e álcool. Há 20 anos estou limpo, nem chopinho. Nunca roubei ou passei a perna em ninguém, mas continuam me olhando com desconfiança.

Alguns jogadores, como o Ronaldinho Gaúcho, podem se meter em confusões e cometer fraudes que continuarão sendo idolatrados pela torcida. Passam a imagem de bom moço. Ronaldinho Gaúcho deixará de ser ídolo? Duvido muito. Seus golaços e acrobacias em campo soterrarão todas as lambanças. Desconstruir a imagem de um ídolo não é simples. É como se o torcedor não quisesse enxergar nada de errado em seu herói, ofuscasse seu lado monstruoso. É um mundo de fantasia.

Se Ronaldinho sair da prisão e circular pelo centro da cidade será cercado por torcedores que pedirão autógrafos e selfies. O mundo funciona assim. O planeta está contaminado por um vírus muito mais devastador que o “Corona”. É o vírus da mediocridade, da insensatez e da estupidez. Mas em um ponto esse vírus agiu corretamente, afastou o torcedor dos estádios, afinal ninguém merece pagar para ver Flamengo x Portuguesa, Vasco x Fluminense, Botafogo x Bangu, Corinthians x Ituano e Palmeiras x Inter de Limeira. Sem falar, no Grenal, o clássico troglodita. 

É inadmissível como o Sul preserva esse perfil machão, de batalha campal, totalmente ultrapassado. É tudo que nosso futebol não precisa. Por isso, sigo na minha torcida por Fernando Diniz, que vai ajeitando o São Paulo, e Jorge Sampaoli, que estreou vencendo no Galo. Roger Machado segue no Bahia e tomara que continue. Por falar em Roger, os jogos da Copa do Nordeste são muito agradáveis de ver. O Fortaleza, de Rogério Ceni, outro para quem torço muito, continua jogando bonito e venceu o Náutico. É um futebol leve, veloz, que valoriza os pontas.

O Flamengo também vem priorizando o futebol ofensivo. Precisamos dessa ousadia, chega de nos contentarmos com pouco, com esse futebol covarde que se alastrou como um vírus pelos estádios do Brasil. Em tempo, na coluna da semana passada citei os novos chavões dos comentaristas e treinadores, e o pessoal lembrou de mais uma: leitura de jogo. Só faltava essa! Futebol não se lê, se joga!

A FALSA MODERNIZAÇÃO

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Em 1989, Ricardo Teixeira assumiu o comando da CBF e trouxe Sebastião Lazaroni para assumir a seleção. E o novo capitão foi logo anunciando a modernização do futebol, que consistia no fim dos jogos espetáculos, como ocorrera em 82 e 86. Agora, o que importava era a conquista de títulos. Criou o líbero, na época Mauro Galvão, e passou a usar termos, como “galgar parâmetros”, intenção sinergética” e “lastro físico”. O vocabulário logo ganhou o apelido de “lazaronês”, Kkkkk!

Mas essa tal modernização já havia sido tentada por Cláudio Coutinho, mais um que tentou engessar nossa criatividade e copiar o futebol europeu. E o pior é que para passar seriedade esses “acadêmicos” usam essas expressões chatíssimas. No caso de Coutinho, as mais famosas foram “overlapping”, “ponto futuro” e “polivalência”. Esse “polivalência” é o famoso “coringa”, o jogador que atua em várias posições. Na época, a imprensa fazia piada, divertia-se e criticava, mas, hoje, os jornalistas esportivos resolveram aderir, ou seja, assistir futebol está insuportável. Grande parte dos comentaristas fez esse curso da CBF ou outros por correspondência, que devem existir por aí. O “titês” tem sido mais eficaz que o coronavirus em sua contaminação, Kkkk!!!

Em todas as bancadas ouve-se “último terço do campo”. O campo virou igreja? Para Tite, Garrincha não seria um ponta endiabrado, mas um “extremo desequilibrante atuando pela beirinha”, Kkkk!!!! E não entendem porque o futebol virou essa chatice! O que é “sinapse”? E “sinapses no último terço”? E “treinabilidade”, “performar”? Mas o que mais tem me irritado é a intimidade que esses “especialistas das bancadas”, que nunca chutaram uma bola na vida, ficam querendo nos transmitir. É “ligação direta”, que no meu tempo era roubo de carro, “cara da bola”, “orelha da bola”, “bochecha da rede”, “quebrar a bola”….mas isso deve fazer parte da Modernização do Futebol Parte 3! Os comentaristas sonham ser técnicos e os técnicos sonham ser palestrantes de auto-ajuda.

Nesse meio, o futebol perdeu-se. Os torcedores assistem os jogos como uma partida de tênis. E por algum aplicativo. Os jogadores seguem a cartilha dos treinadores e até jogadores que eu gostava, como Richarlison e Phillippe Coutinho, não rendem mais. Culpa deles ou da modernização? Aí, sai a nova convocação de Tite, com Daniel Alves, Danilo & Cia e a imprensa não abre o bico, acha que está de bom tamanho, que Tite está “performando” bem.

Modernizar o futebol, só não vê quem não quer, é devolver ao menino da base seu lado intuitivo, criativo, versátil, de improviso. Tite, nossos jogadores são naturalmente “desequilibrantes” e, me desculpe o mal jeito, mas se ainda não conhece o “cajuês” vou apresentar algumas de suas expressões: “Jogou aonde?”, “Vestiu a amarelinha quantas vezes?”, “Foi campeão do mundo jogando? Dá um tempo!” e por aí vai…

SAFRA SOFRÍVEL

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Por saberem que sou um crítico ferrenho do futebol atual adoram me provocar nas ruas com perguntas variadas. “PC, quem você escalaria do time do Flamengo de titular na seleção brasileira?”, me questionou um jovem, no metrô. Sem pensar, respondi ninguém. E sem qualquer clubismo gostaria que os rubro-negros respondessem também. O jogador mais inteligente do Flamengo, Arrascaeta, é uruguaio e nem titular de sua seleção é. A fase do Flamengo é maravilhosa e o torcedor tem mais é que comemorar, mas isso não me impede de continuar dizendo que há alguns anos a nossa safra de jogadores é sofrível, no Brasil e no exterior. Podem perceber que os grandes destaques dos clubes brasileiros são estrangeiros ou veteranos. Fluminense é Nenê, Botafogo é o Gatito e, agora, trouxe o Honda, e o Vasco tem o Guarín e o Cano. Corinthians é o Boselli, Atlético Mineiro tem Cazares, Otero e trouxe Diego Tardelli, no Internacional os ídolos são D´alessandro e Guerrero, e o São Paulo tem Hernanes, Daniel Alves e Pato. Uma ou outra revelação, mas renovação de qualidade é baixíssima.

Mas vou abrir um parêntese para falar do São Paulo, afinal sou admirador confesso dos times treinados por Fernando Diniz. O primeiro tempo contra a Ponte Preta foi muito bom de assistir, mas se ele não fizer um intensivão de finalizações seu projeto pode ir por água abaixo para felicidade de muitos jornalistas que torcem contra, esses mesmos que usam expressões “repertório de ataques” e “cara da bola”. Tanto que os “especialistas das bancadas” preferiram elogiar Santos 0 x 0 Palmeiras, jogo horroroso! Torço muito para esses heróis da resistência, como Diniz, por isso vibrei por mais um título do Manchester City, de Guardiola, e gostei da derrota sofrida pelo retranqueiro Mourinho: Tottenham 2 x 3 Wolves. Não consegui assistir Real Madrid 2 x 0 Barcelona porque já não se sabe mais onde os jogos serão transmitidos. É um tal de clube brigando com emissora e o torcedor fica perdido.

Me indicaram um aplicativo, mas preferi desistir e encontrar meu amigo Rildo, lateral lendário do Botafogo e da seleção de 1966. Há anos mora nos Estados Unidos e nosso papo foi muito mais divertido, afinal ele é um dos grandes contadores de história do futebol, sem falar que foi capitão no Santos, de Pelé, e no Botafogo dos áureos tempos, não é para qualquer um. Adorei Jorge Sampaoli, outro de quem sou fã, no Atlético mineiro. Torço para quem inova, quem consegue transformar pó em ouro. Mais tarde soube que na vitória do Real Madrid Vinícius Jr. abriu o placar e não tenho dúvida que hoje, em algum momento do dia, me perguntarão se o menino já está merecendo uma vaga na seleção. Taí, acho que vou aderir ao modismo dos fones de ouvido, imitar os jogadores da nova geração e, dessa forma antipática-estilosa, consigo evitar perguntas como essa. Sempre tive fama de marrento mesmo e acho que um fone de ouvido daqueles gigantões vai cair bem em mim, Kkkk!!!

70 ANOS DE PRAIA

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Minhas estreias sempre foram marcantes. Em todas, aquele friozinho na barriga e o desejo de entrar logo em campo. Em 67, pelo Botafogo, primeira vez no Maracanã, marquei os três gols da vitória contra o América, na final da Taça Guanabara. Aquele momento ainda está congelado em minha memória. Cinco anos depois, estreava pelo Flamengo, também no Maraca, no Torneio de Verão, enfrentando o Santos, de Pelé, e o Benfica, de Eusébio. O Fla tinha Renato, Moreira, Chiquinho, meu irmão Fred, Reyes, Rogério, Fio, Caio Cambalhota e Arílson. Fomos campeões!  Em 74, me mandei para o Olympique de Marselha e fiz o gol da vitória contra o Strasbourg. Não falava a língua, não conhecia ninguém e fomos vice-campeões. Aí, em 76, o Horta me trouxe para integrar a Máquina Tricolor. A estreia foi no maior do mundo contra o poderoso Bayern de Munique, base da seleção alemã, e vencemos por 1×0, com show de Cafuringa e Mário Sérgio. Da Máquina para o Time do Camburão, no Botafogo, com Rodrigues Neto espanando e os delegados Hélio Vígio e Luís Mariano, na comissão técnica. Ficamos 52 jogos invictos. Depois teve Grêmio, Vasco e, claro a seleção brasileira. Aos 17 anos, fui convocado por Zagallo para um jogo contra o Chile, em Santiago. Vencemos por 1×0, gol de Roberto Miranda. O curioso era que essa seleção era formada apenas por jogadores do Bangu, campeão de 66 e Botafogo, de 67, e o chefe da deleção foi Castor de Andrade, que reprovou o hotel escolhido pela federação chilena e, com dinheiro do próprio bolso, nos levou para o melhor da região, Kkkk!!!

Fora de campo, trabalhei no Pasquim, Diário de SP e, recentemente, Globo, mas a Placar é aquele time em que todos sonham jogar. E eu nem teria motivos para sonhar porque apanhei muito dos cronistas paulistas, Kkkk!!! Minha relação com São Paulo sempre foi de amor e ódio. Era vaiado quando chegava ao Aeroporto de Congonhas e rebatia dizendo que não gostava da cidade, suja e poluída. Fui contratado pelo Corinthians, mas odiei e apesar de me dar muito bem com Sócrates, não me encaixei com a filosofia da Democracia Corinthiana, até porque eu adorava treinar, Kkkk!!!  Anos depois, comprei um apartamento, no Morumbi, onde morei 20 anos com minha mulher, Ana Reis, e, hoje, amo esse estado. Estive em várias capas da Placar e em incontáveis matérias, ganhei quatro Bolas de Prata, mas nunca entendi não ter levado uma de Ouro. Sempre colecionei Placar, El Gráfico, France Football e L´Équipe. Se eu não fosse o Caju, negão marrento, 70 anos de praia, talvez eu falasse aos leitores da Placar que “vou dar o meu máximo”, “seguir as orientações do professor” e “lutar pelos três pontos”, mas prefiro dizer que chego para falar de futebol na linguagem do boleiro, sem esse discurso professoral que tomou conta do futebol e o deixa cada vez mais chato, chego para zunir os quadros-negros e as pranchetas da sala e falar de futebol-arte, de pelada, de sonhos, de memória, personagens e jogos inesquecíveis. E a Placar está na memória afetiva dos amantes do futebol. Que esse jogo desperte a chama adormecida do torcedor e dure para sempre! Viva a Placar!