Escolha uma Página
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

PC Caju

FUTEBOL VIROU TRISTEZA

:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::


Não sou nostálgico e nem acho que o futebol tenha acabado após a minha geração pendurar as chuteiras. Não acho que tenha nascido fora de época porque, hoje, os salários são milionários, afinal também fiz ótimos contratos. E por já ter passado dos 70 anos e ter vivido intensamente nossa cidade, nossas praias, boates e bares posso comparar cada um desses períodos.

Já rodei o mundo, comprei brigas, me dei mal, me dei bem, fui campeão do mundo de 70 em uma seleção que tinha Pelé, Furacão, Tostão, Gerson, Rivellino, Carlos Alberto Torres e Clodoaldo. Assisti de perto a seleção de 82, testemunhei as diabruras do genial Ronaldinho Gaúcho, as canetas do Fenômeno, a arte fenomenal dos discretos Rivaldo e Alex. Fui treinado por meu pai, Marinho, por João Saldanha, Didi e Zagallo. Acompanhei a evolução física dos jogadores já na Copa de 70 e me encanta ver como os goleiros também evoluíram e se valorizaram no mercado.

Então, ninguém pode dizer que pego pesado em minhas críticas com o futebol atual porque não existe qualquer amargura, inveja ou qualquer sentimento parecido. Sinto, de verdade, uma tristeza profunda. Nesse fim de semana quando vi o meu Botafogo perder para o Brusque, o Vasco empatar com o Náutico e o Cruzeiro perder de três, em casa, para o Avaí, senti um aperto no coração porque, para mim, é ver três histórias recheadas de glórias sendo pisoteadas, humilhadas. Sozinho, sentado no sofá de casa, fechei os olhos e imaginei Garrincha, Amarildo, Quarentinha, Carlos Roberto, Afonsinho e Nei Conceição, Nilton Santos e Roberto Miranda entrando em campo. Lembrei até da irreverência de Túlio Maravilha!

Lembrei de Dirceu Lopes, Natal, Evaldo, Nelinho, Piazza, Procópio, Ozires, Zé Carlos, Tostão e Raul Plassmann com o manto azul encantando os torcedores. Do Vasco, lembrei de Ademir Menezes, Almir Pernambuquinho, Juninho, do meio-campo que formei com Guina e Pintinho, e de Dinamite, centroavante raro. Agora, me respondam sinceramente se isso é inveja, nostalgia, rancor ou tristeza pura e verdadeira por termos chegado aonde chegamos? Nenhum especialista vai me convencer que evoluímos.

No Brasil, hoje, temos dois clubes milionários que vencem adversários medíocres e se acham fantásticos. O time do Náutico, invicto na Segundona e treinado por Hélio dos Anjos, é fraquíssimo, Felipão está de volta com a velha estratégia de sempre de vencer por um gol e desse jeito vamos nos afundando cada vez nessa areia movediça. Preocupado com o pior dos piores, pedi auxílio ao Google para saber quais são os clubes da Terceira Divisão: Paraná, Figueirense, Oeste, Altos, Novo Horizontino, Floresta, Mirassol, Jacuipense, Santa Cruz, Ituano, Ypiranga (RS), Paysandu, Manaus, Ferroviário, Tombense, Volta Redonda, São José (RS) e……meu Deus, dois Botafogos, o de Ribeirão Preto e o da Paraíba!!! Será isso um sinal?

Depois dessa só me resta deitar e sonhar com a magia que um dia foi nossa. Já ia me esquecendo de mais uma pérola que ouvi dos analistas de computadores: “O time joga com três linhas compactadas para aumentar a intensidade nas jogadas por dentro”.

SELEÇÃO DE MENTIRA

:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::


Quem ligasse a tevê no momento em que Tite, de terno, curvava-se ao público, balbuciando algo, poderia imaginá-lo como um maestro reverenciando a plateia, que acabara de aplaudi-lo fascinada com o brilhantismo do espetáculo. Mas, não. Era o comandante da seleção brasileira, outrora a mais temida do mundo, pedindo desculpas por mais uma bola fora de sua orquestra decadente, desafinada, que já nasceu fora do tom e nunca floresceu. Na verdade, essa seleção é uma mentira, uma piada, um tapa na cara do torcedor.

Tite é um tenor sem voz, um professor que se embaralha com as próprias fórmulas, especialista em caras e bocas, mas que nesses anos todos nada acrescentou ao futebol. Sinceramente, acho que após a derrota para a Argentina o professor deveria ter reunido a sua turma, ainda no vestiário, e cantado o sucesso de Kleiton e Kledir…”deu pra ti, baixo astral, vou pra Porto Alegre, tchau..”. A reformulação deve ser rápida e rigorosa. Alguns jogadores não tem a menor condição de vestir a camisa da seleção. Estar em algum grande time da Europa não é sinônimo de ser bom de bola. Os empresários lotearam a seleção e a CBF está deixando o baile seguir.

Se estamos com escassez de craques vamos investir em alma. Não temos qualquer estratégia e quando estamos no sufoco a saída é dar a bola para Neymar e torcer para que ele drible o time inteiro. Mas Neymar não é mais o menino que muitos ainda imaginam ser. Não temos mais um fora de série, não sabemos jogar coletivamente e sequer temos um líder. Nem o choro da derrota nos convence. Patético Casemiro aplaudindo o árbitro, patético Thiago Silva explicando mais um fiasco, patético Vinicius Jr. consolando Neymar. E olha que perdemos para uma Argentina sem graça, onde o destaque foi De Paul. Os “desarmadores de jogadas” se transformaram nos grandes astros do futebol, nunca vi isso.

Mas, certamente, Tite sairá mais prestigiado desse episódio, afinal é o queridinho da CBF, da mídia e vai classificar o Brasil para a Copa, missão “dificílima”. Escrevo enquanto assisto a final da Eurocopa e ouvi muitos gritos no gol da Inglaterra e mais ainda na vitória da Itália. Não vi nenhuma mobilização para a decisão do Brasil. Isso é grave, na verdade, triste, muito triste. Fico feliz por Roberto Mancini, da Itália. O episódio triste foi a volta dos hooligans, que aterrorizaram para invadir o estádio antes da bola rolar.

Por aqui, tudo na mesma. O Flamengo conseguiu uma virada no sufoco contra a Chape.O Náutico lidera a Segundona sob a batuta do veterano Hélio dos Anjos, algum time anunciou o retorno de Ney Franco e Felipão voltou ao mercado comemorando um empate com o Inter. Que nosso futebol está dentro de um túnel, não tenho dúvida o problema é descobrir onde está a luz, a saída, a salvação. Enquanto isso, sou obrigado a ouvir que fulano deu uma estilingada na bola pela beirinha do campo e que o Fortaleza é um time com conceito de ideia de jogo…

PC E A ARTE DA PALAVRA

por Rubens Lemos


O melhor texto do jornalismo esportivo nacional é de Paulo Cézar Lima, o PC Caju, tricampeão do mundo. Sua pena segue o estilo polêmico, debochado e verdadeiro dos tempos em que perfilava zagueiros para driblá-los. PC, quando menino ainda, veio a Natal em 1970, ano em que nasci, depois da Copa do Mundo do México. Amistoso contra o ABC no velho Estádio Juvenal Lamartine.

PC Caju aplicou tanta finta no pobre lateral-direito Preta que a torcida queria agredi-lo no estacionamento da Avenida Hermes da Fonseca, que ficava interditada aos domingos para o povão chegar no teatrinho de arena da bola potiguar.

PC abusou que perdeu um pênalti, defendido pelo falecido baixinho Erivan, um dos principais goleiros da história do ABC. PC fez Preta cair de testa no chão ao tentar acertar-lhe um pontapé. PC riu e as arquibancadas ficaram furiosas.

Mas, hoje, maduro, depois de conseguir dar canetas e toques de curva no destino que apagou suas luzes para ele, durante longo período, contado em belo livro: Dei a Volta na Vida, PC brinda os viciados no bem escrever com palavras bem colocadas, certeiras iguais aos seus lançamentos de três-dedos para Jairzinho, no auge do Botafogo glorioso e não o lixo atual, da mesma lata onde está jogado o Vasco.

PC Caju tecla verdades em seu computador e a última delas é clara: a atual seleção brasileira não tem sintonia com a torcida. É o que eu procurava expressar e não conseguia.

O time de Tite é desconectado do povão. Do povão não, esse, coitado, está banido do esporte luxuoso de arenas reluzentes e pernas de pau decadentes. PC é da turma que fazia o país parar por conta de jogo do Brasil.

Viveu a Era Pelé, com Gerson, Rivelino, o citado Jairzinho, Tostão, Clodoaldo, Marinho Chagas, Dirceu Lopes, Nei Conceição, Ademir da Guia, Silva Batuta e Zanata e brilhou também na fase em que Zico assumia o cetro da bola das mãos (ou da canhota?) de Rivelino.

A ausência de PC foi fundamental para que a seleção brasileira ostentasse o título de “Campeã Moral” de 1978, invicta e em terceiro lugar, com um quarto-zagueiro de lateral-esquerdo (Edinho), um brutamontes (Chicão) em lugar de um nobre (Falcão) e ninguém da estirpe malandra de PC para temperar a partida nos momentos quentes, ele que havia sido fundamental nas Eliminatórias.

Todo redator, repórter, colunista, cronista, colaborador, metido a entender de futebol deveria usar PC como leitura obrigatória. O parágrafo dele é curto e esclarecedor, instigante, provocador.

O texto de PC é o próprio. Sincero e até antipático, problema do interlocutor ou do leitor. Como era transtorno para laterais, fossem da qualidade de Carlos Alberto Torres e Nelinho, fossem limitados como o humilde Preta do baile mais para o tripudiar do que para o empolgar aqui em Natal.

Experimente ler seus artigos e depois ligue a TV no SBT para assistir ao time de Tite. A Lucas Paquetá sendo guindado à referência de uma seleção que assombrava como um tigre e agora não mete medo em combinado de Trinidad e Tobago. Um time em que Neymar vai se esgotando, perdendo o gás, o tesão que nunca teve, a condição física de carregar outros dez marmanjos nas costas.

Jornalista – assim me ensinaram – é para transmitir tudo em linguagem simples. Os experts (os de TV por assinatura mais ainda), conjugam o Titês das linhas altas e baixas, da transição, do jogador de beirada (simplesmente o velho ponta-direita), da contenção e da assistência famigerada em lugar do velho, bom e natural passe. Esses caras não amarram os dedos de PC Caju. Se era uma maravilha vê-lo jogar, é uma delícia saborear suas palavras.

FALTA DE IDENTIFICAÇÃO

:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::


Itália, Espanha, Inglaterra e Dinamarca. Fiquei muito feliz com o quarteto final da Eurocopa. Torci pela Bélgica, mas é bem interessante ver a Itália, de Roberto Mancini, seguir em frente, afinal ele não adota mais aquele insuportável ferrolho. Consegue defender-se bem, mas atacar com qualidade. É uma seleção bem mais leve. Também gosto muito do trabalho de Luis Enrique, apesar de a Espanha não ter feito nenhuma apresentação brilhante.

A Dinamarca é quase sempre uma surpresa agradável e Gareth Southgate vem surpreendendo no comando da Inglaterra. Virou técnico da seleção principal quase que por acaso, mas vem dando conta do recado. Como nos últimos anos me acostumei a ver a liga inglesa, a qual considero a mais agradável de acompanhar, acabo torcendo um pouco para eles. Preferia que o técnico fosse o Guardiola, mas a sua hora vai chegar.

Não acho nenhuma espetacular, mas consigo assisti-las e não consigo ver o Brasil. Acho que algo muito grave acontece e não é só comigo. Estava viajando com amigos e ninguém sequer sabia que a seleção jogaria. Não temos qualquer identificação com esse time. Não falta apenas qualidade, mas carisma. É um grupo sem sal que depende apenas dos lampejos de Neymar. É preciso uma reformulação geral, um trabalho de marketing pesado para atrair novamente a atenção do torcedor. O futebol por si só já está muito chato.

Estava vendo Vasco x Goiás e o pau cantou só porque um atacante do Goiás tentou um drible no fim do jogo. Alguns vascaínos foram reclamar com o árbitro, pedir cartão!!!! Não falta mais nada!!! E outro dia o Cazares, do Flu, fez gol contra o Corinthians, seu ex-clube, e não comemorou em respeito. Meu Deus, qual a história que o Cazares tem com o Corinthians? Quanto tempo jogou lá? Virou piada! Mas piada mesmo foi Gustavo Scarpa respondendo ao jornalista no fim da partida contra o Sport, vitória de 1×0, gol seu. O repórter queria saber a que se devia sua excelente fase. “Estou jogando na minha posição”, respondeu. Morri de rir porque o futebol é óbvio, simples, mas não para esses professores que só destroem nossa arte. Já colocaram o Gustavo Scarpa na lateral, ponta-direita, só faltou de goleiro. Agora, descobriram que ele rende na posição de ofício. Patético.

Pelo menos Bahia, Fortaleza, Ceará e Bragantino seguem fazendo bonito! O reinado precisa mudar de mãos e se depender da minha reza esse dia vai chegar! Os que não me dão mais esperanças são os analistas de computadores, que inventaram agora jogador agudo! Na minha época agudo era o acento! E teve outro que disse que o número 10 central deu uma assistência por dentro para o atacante concluir!

TÉCNICOS MEDROSOS

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Não quero fazer parte da turma dos estatísticos, mas posso garantir que o medo de perder está destruindo o futebol mundial. Pelo menos 80% dos treinadores não entram em campo pensando em jogar bonito e vencer, mas acovardados, na retranca, com um batalhão de zagueiros-gladiadores dispostos a tudo para acabar com a graça dos atacantes. Esses “professores” prestam um desserviço e destroem a carreira de muitos jovens talentos.

Vejam o caso de Portugal, por exemplo! O treinador Fernando Santos nos últimos 15 jogos venceu apenas três, País de Gales, Marrocos e Hungria. E jogando feio demais. Aposta apenas na inspiração de Cristiano Ronaldo, que nem sempre vem. Percebe-se que há uma geração boa de portugueses, pessimamente aproveitada. Do que adiante convocar e não usar? Pedro Gonçalves, do Sporting, artilheiro do campeonato português, muito pedido pela torcida, não entrou um minutinho sequer, nem contra a Bélgica quando precisava reverter a situação. Sabem a razão de não ter entrado? Porque os técnicos só gostam de marcadores. Essa mentalidade precisa mudar.

Atacantes estão sendo trocados por “homens de contenção”. Futebol virou canteiro de obra? A República Tcheca não era favorita nem da sua chave e eliminou a Holanda, que vem apostando em uma nova geração. Perdeu justamente por essa inexperiência. Mas qual contribuição a República Tcheca apresenta ao futebol? Zero! Áustria, País de Gales e tantas seleções medrosas também são mais do mesmo. Croácia, Dinamarca, Bélgica sempre tentam, mesmo que não consigam. Ah, mas a Bélgica ainda não mostrou o seu futebol, dizem os especialistas das bancadas. Vai jogar contra um time que apenas se defende, onze atrás! Marcar é fácil.

Não, por acaso, já pensam em eleger Kanté, um volante, como o melhor do mundo. Será que Kanté não funcionaria melhor em outra função, de criação? Lembram-se do fenômeno Toró, que seria o novo Pelé? Terminou a carreira como volante, correndo atrás dos outros quando deveria ser o contrário. Culpa dele ou de algum treinador medroso? Futebol não é isso!

A Itália vem conseguindo esse equilíbrio, defesa segunda ura e ataque criativo. Futebol é para ser jogado, leve, solto e não apenas de um lado. Por isso, torço demais para que o Nordeste continue mantendo suas boas atuações, assim como o Bragantino. Fernando Diniz deu uma aula no Atlético Dinheiro, que dizer, Mineiro. Seria lindo esses times avançando cada vez mais porque está insuportável aturar essa forma de jogar, essa geração de treinadores caras e bocas, treinadores faniquitos, de discursos prontos.

Me perdoem, mas para mim são estelionatários do futebol porque vivem nos entregando gato por lebre. Como de costume, fecho a coluna com uma frase dos analistas de computadores para vocês tirarem as próprias conclusões: “o time faz a ligação direta porque tem jogadores reativos pra finalizar no último terço do campo”.