Escolha uma Página
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

paulo escobar

OS SELECIONADOS E A REALIDADE DO SEU POVO

por Paulo Escobar


Quantas vezes nos dias atuais você já viu seu ídolo ou jogador da seleção nas ruas? Geralmente quando essas coisas acontecem, você não acredita ou então fica sem reação diante do fato. Entendo que isso não seja somente por se tratar do seu ídolo, mas talvez por ser tão raro nos dias de hoje você encontrar um deles nas ruas.

Neste maldito futebol moderno esse encontro já deve ser comemorado. E mais comemorado deve ser se você consegue um contato sem toda a burocracia que cerca essas figuras, que a cada dia que passa parecem ser mais metidos a deuses longe dos mortais.

Você ouve da boca de jogadores de futebol ultimamente aquilo que são assessorados a dizer, não o que eles realmente pensam e, quando aparece algo diferente daquilo que são orientados a falar, se tornam verdadeiros pontos fora da curva. Por isso, digo que sinto saudades do Loco Abreu e de alguns poucos iguais a ele.

Para uma criança pegar um autógrafo de uma dessas entidades distantes da realidade é um desafio. Até chegar na mão que assinará a camiseta ou o item que esse pequeno levar, primeiro terá que passar pela assessoria que fará uma análise prévia. São distantes de tudo aquilo da sociedade que os cerca, a maioria deles não vai te emitir algo que para você seja comum ou que seja parte do seu dia a dia, mas ele terá que ser informado antes pela sua assessoria no que diz respeito à realidade do país, por exemplo.

Não pense que muitos desses que vestem a camisa da CBF se manifestem ou digam algo a respeito das questões que envolvem as pilantragens da entidade que defendem, pois pra eles é indiferente ou não importa e o mais incrível é que justamente eles teriam o poder de talvez abalar a estrutura dessa coisa. Eles defendem os interesses dessa entidade e somente manifestam opiniões daqueles que os assessoram, eles não estão preocupados com você que torce e muito menos com a realidade que você vive.


Esses jogadores da seleção, por exemplo, não defendem um país ou a realidade crua que o povo mais pobre passa, eles não jogam por você, mesmo você os assistindo e torcendo. Os selecionados jogam pelos interesses deles mesmos e da realidade que eles vivem, que não é a sua de torcedor. Diferentemente de Sócrates, por exemplo, eles nem sabem como a realidade política da nação te atinge.

Veja só que de algumas décadas para cá, as eliminações da Seleção Brasileira não são tão doloridas para o povão. Se hoje Ghiggia fizesse o segundo gol do Uruguai no Maracanã nessa Seleção da CBF, ele não veria a mesma tristeza daquela época. O gol de Rossi nessa Seleção não te causaria a mesma dor que causou no povo em 82.

Não é o povo que se afastou da Seleção, é o time da CBF que não é popular e distante do povo e suas realidades. Esse time que defende interesses da entidade, do umbigo de cada um ou então dos seus empresários, não pensa em você torcedor e para eles não importa a realidade que você vive. Eles se separaram de você faz décadas e de 4 em 4 anos pedem para você se lembrar deles, mas infelizmente eles não jogam por você, então será que vale a pena torcer por eles?


Não se envergonhe nas derrotas que eles sofrem, pois neles não doem tanto, já que depois voltam às realidades europeias ou aos cercos e blindagens do dia a dia que os cerca e as realidades deles que não são as suas. Eles não se interessam pelas derrotas diárias do seu povo e com certeza sua indignação não será a deles. Quem sabe um dia o povo volte a ter uma seleção que seja povão mesmo, como já aconteceu no passado.

Me arrisco a dizer que dessa seleção nove de dez jogadores pensam ser Deus, um tem certeza. Eles vivem e respiram outra realidade, não se esqueça que antes de ir para Copa eles se despediram num jogo na Inglaterra e não diante de seu povo no Brasil.

 

NO FUTEBOL A FELICIDADE DEVE SER PUNIDA

por Paulo Escobar


Eduardo Galeano se referia ao gol como “orgasmo do futebol”, pensando talvez num dos momentos de maior prazer que possam ser gerados numa relação. Podemos pensar na relação dos envolvidos numa partida, aonde tanto como jogadores e torcedores chegam a momentos de êxtase e alegria depois de um gol.

Um gol pode gerar alegrias e esquecimentos de realidades e problemas enfrentados durante a semana, naquele momento que tudo passa somos levados ao céu. E quantos não foram os jogadores que nos forneceram verdadeiros prazeres com um gol?

Aqueles jogos memoráveis decididos no final depois de tanto sofrimento, ou o gol marcado sobre o rival. O instante da bola entrando de maneira agônica e que pode mudar sua rotina durante a semana diante dos torcedores de outros times.

O que um gol significa pra você, já parou pra pensar? Qual a importância daquele momento tanto para torcida como para jogadores? E toda a articulação prévia daquele momento tanto dentro como fora de campo?


Nesta depressão que chamam de futebol moderno, tanto a jogadores e torcedores nos é imposta a moral e bons costumes vindas da FIFA e suas federações, que insistem em nos colonizar de acordo com o certo e errado deles. Tanto para aquele que torce como para aquele que faz o gol nos é orientado a como ser feliz, ou seja, eles querem interferir até na nossa subjetividade.

A alegria deve ser punida, o jogador pode comemorar de maneira controlada, não pode abraçar os seus torcedores, não pode desabafar, não pode, não pode não pode…

Aos torcedores é proibido levar seus instrumentos e sinalizadores, são proibidas suas bandeiras, é proibido até tomar uma cerveja dentro de estádio, ou então pular de alegria nas cadeiras, pois você deve ficar sentado e comemorar como eles querem.

Um jogador que comemora com os seus ou num gesto de êxtase ou orgasmo tira a camisa, leva amarelo, e se duas vezes ele marca no mesmo jogo corre risco do vermelho. Cabe ao jogador se conter, e ao torcedor se controlar.


O conservadorismo mundial que a cada dia te impõe uma serie de proibições, dentro de campo através de suas entidades e mídias tenta também te proibir de se alegrar no momento mais alto de uma partida, no gol. O controle social é uma realidade dentro de campo, o controle que mata a cada dia mais os pobres fora dos estádios, hoje também reprime as alegrias.

E lembre-se que em caso de gol não se alegre, não comemore, não festeje o seu orgasmo. Pois hoje fica claro que no futebol a felicidade merece ser punida.

 

QUEM ME DERA TER SIDO ROMAN

por Paulo Escobar


O tempo parou naquele momento, por um toque divino o vi e nunca mais me esqueci daquele cara com um olhar de tristeza e um sorriso alegre. Talvez por ser reflexo da sua vida uma mistura de alegrias e tristezas, e por assim ser o futebol que era real e vivo dentro dele.

Tinha a mesma idade dele, nós dois de 78, quando com a bola nos pés deslizando pelo meio de campo, protegendo-a com seu corpo, te vi Roman. “El torero” vinha carregando cheio de talento de um 10 clássico, abençoado nos pés batia de uma maneira que só ele sabia, fazia chorar os narradores argentinos e eram verdadeiras odes que eram feitas a cada lance e a cada gol que ele nos fornecia.

Jogador dos jogos grandes, parecia que a pressão não penetrava nele, naquelas finais de Libertadores que parecia que ainda eram os jogos dos bairros nas quais rolavam apostas e porradas. Roman queria estar ali, e como podia tremer se não teve medo nos jogos das favelas?


Como se esquecer daqueles jogos contra Palmeiras, aonde Arce e Galeano se revezavam para ver quem dava nele, ou no Olímpico contra o Grêmio. Aquelas disputas de Libertadores contra o River aonde Roman insistia em fazer pinturas em telas nas quais os pés de muitos tremeriam.

Roman era um corpo estranho no futebol moderno, conseguia ser clássico num futebol que quer a cada dia extinguir os que jogam da maneira como Riquelme jogava. A beleza parece não ter lugar neste futebol atual, e toda beleza dentro de campo hoje parece merecer castigo.

Tinha 18 anos a primeira vez que o vi, eu ficava desde pequeno chutando a bola contra os muros da escola, treinava nos fim de tarde bola parada, tentava na base e na várzea fazer algumas coisas. Mas quando vi Roman, naquele momento que o tempo parou, pensei: “como gostaria de ser Riquelme”.


Como gostaria de ter vestido a 10 do Boca e ter jogado contra o River, como gostaria de ter cobrado escanteios tocando minhas costas nas grades da bombonera. Como gostaria de ter visto sorrir depois de um gol aqueles moleques pobres do forte Apache, que por um momento poderiam esquecer a vida que a sociedade os destinou.

Desejaria ter a mesma calma e frieza nos momentos decisivos, ou então no meio da pressão jogar como se estivesse no meio da rua e ter aqueles momentos de felicidade que pareciam eternos no campo de jogo. Pois jogando em campos de várzeas muitas vezes tentei imitá-lo e as vezes olhando pra ele como num misto de alegria e louvor pensei comigo mesmo:

“Como Gustaria haber sido Roman”.

Paulo Escobar

Maloqueiro, Varzeano, corre com o povo de rua e Sociólogo.

AS COPAS SÃO PARA OS PERFEITOS, NÃO PARA OS DEMÔNIOS

por Paulo Escobar

Há uma inquisição por trás do futebol, que age nas entidades oficiais, nas mídias tradicionais e nas cabeças conservadoras daqueles que assistem e pregam essa crença moral e perfeita.

Através do futebol tentam moralizar a sociedade, através dele tentam nos dizer o que é certo e errado. Desde como jogar, como se comportar, até como agir dentro e fora de campo.

Para estes o futebol deve seguir conceitos morais de pureza, deve ser sacro, limpo de maus pensamentos. Para estes temos que ser Freis ou Santos para jogar ou torcer.

As Copas do Mundo são as verdadeiras reuniões de como há de ser bom e moral para estar nela ou estar presente em suas igrejas (digo arenas), ali somos ensinados em como agir e sermos Fair Plays. A mídia nos transmite os bons modos a nível mundial neste evento, todos os ensinamentos e doutrinas são transmitidas durante os jogos e comentários.

Ali não há lugar para aqueles que usam drogas, ou pelo menos se caçam os que são detectados e às vezes depende do país que se nasce ou o que o drogado pensa, nada de entorpecentes mesmo que toda essa pressão e em nome do espetáculo sejam necessárias as substancias para poder aguentar essa loucura toda. Afinal as crianças estão assistindo e há que deixar o bom exemplo, mesmo que essas crianças no futuro venham sofrer a mesma pressão e serão talvez aqueles que venham a usar as mesmas drogas também.


Maradona teve o erro de falar demais, de bater de frente com entidade moral que guia o futebol, a partir dali seus “erros” morais foram colocados a luz. Uma verdadeira cruzada para mostrar ao mundo que este ser profano era um verdadeiro “demônio” a ser combatido. A cada investida que Diego sofria, mais os imperfeitos gostávamos dele. Mesmo frequentando as Copas, era caçado e passou a ser o rei dos antidopings.

Alex, um gênio com uma qualidade incrível, da sua geração aqui no Brasil poucos fizeram o que ele fez, não ficou devendo a ninguém e inclusive até hoje poderia ser convocado. Mas Alex cometeu o crime de pensar diferente e isso não é bem visto no futebol.


Cantona teve a “maldita” ideia de chutar um fascista, de dar um golpe naquele que destilava seu veneno contra um estrangeiro, ou contra negros e gays, o futebol lhe cobra autocontrole e ser pacifico mesmo quando tocado no mais profundo e da forma mais desumana. A voadora foi à gota para os moralistas do futebol, pois não era só por aquele momento que Eric era um incomodo.


Djalminha maldito gênio da cabeça quente, não era o bom moço que poderia ser um exemplo a ser seguido pelas crianças. Como levar alguém sem etiqueta para estar na cita máxima da moral futebolística?

O que dizer do Chile, no qual toda uma geração foi punida pelo gesto do Rojas, que talvez cometeu o crime que mais se comete nos bastidores do futebol, ganhar a qualquer custo. Mesmo com todo o peso de um país que acabava de sair de uma ditadura militar e colocava sua esperança naquele time.

E quando alguns destes profanos e hereges do futebol conseguem entrar nestes encontros da moral futebolística, são observados o tempo todo nas suas ações e gestos, a mídia faz verdadeiras analises mais centralizadas nas vidas que levam. O futebol passa a ser um detalhe, o que importa é mostrar as vidas devassas e o que as crianças não devem fazer.

As Copas do Mundo não foram feitas para os maus rapazes, não foram pensadas para os contraditórios ou que pensem a sociedade de outra forma e nem para ex-pobres com manias de pobres. Assim como a igrejas não são para os demônios o futebol não é para os imperfeitos, as Copas são para os santos e deuses, pois eles possuem a perfeição, essa perfeição chata e impossível.

Eu prefiro os demônios do futebol, pois:

“A perfeição é o chato privilegio dos deuses” – Eduardo Galeano

 

 

Paulo Escobar

Maloqueiro, Varzeano, corre com o povo de rua e Sociólogo.