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NEYMAR É UM PRODUTO

por Paulo Escobar


Desde sua infância foi moldado para ser um produto, desde muito cedo os valores que eram movimentados em torno de Neymar eram muito maiores se comparados aos de muita gente que levanta às 04 da manhã para pegar ônibus lotado. E sei que muitos virão com a história da “figura pública” ou “merece o que ganha”, não faço parte desse time que diferencia os que se lascam todos os dias para a riqueza de poucos e os que vivem da bola.

As pessoas a sua volta, entre os maiores beneficiados, seu pai, encheram os bolsos de grana e aproveitaram e aproveitam bem a vida que o produto Neymar lhes oferece. Desde festas com celebridades e viagens em vários lugares do mundo.

Neymar sempre foi blindado, inclusive as criticas que ele recebe são filtradas para não atingirem o menino, que pelo visto será menino com 40 anos. Incrível é observar como é blindado pela grande mídia inclusive e pela comissão técnica da seleção brasileira, que também o trata de forma infantil. Nesta sociedade aonde menores de 16 anos são condenados por roubo por fome, Neymar é poupado de toda realidade que o cerca.


O menino produto não pode ser atingido, pois pode influenciar seu desempenho mais fora do que dentro de campo, e vir a diminuir contratos e propagandas. Neymar tem sido poupado até das criticas no que diz respeito ao seu futebol, coisa que poderia ajudar ele, ou se alimentar disso para melhorar aquilo do qual é alvo de criticas.

Não espere de Neymar o amor a uma camisa, ou dele beijar um símbolo pensando na torcida por trás ou que leve em conta a história do time defendido, sei que isso é raro há décadas, mas nele isso é mais utópico ainda. Só no Brasil já declarou paixão pelo Santos, Palmeiras, Corinthians, Flamengo e por aí vai. Procura ficar bem com todos seus clientes, e não é diferente dos clubes por onde passou.

As entrevistas de Neymar sempre são mais do mesmo, o padrão que um produto com contratos milionários deve ter, essa chatice robótica que fala aquilo que não venha a desagradar as marcas esportivas. Inclusive as “desculpas” pelas marmeladas na seleção foram claramente escritas e pensadas numa propaganda, por que não fazer isso nas suas redes de graça?

Quando toma posição política é das mais deploráveis possíveis, apoia governos que promovem verdadeiros extermínios, vide esta semana com o primeiro ministro de Israel ao lado do presidente nefasto que temos aqui. Neymar sempre do lado dos que detêm o poder, dificilmente será coerente com aqueles que mais sofrem.


Este produto, cercado e mimado por aqueles o blindam inclusive pelo Tite, vive um mundo diferente e mais distante ainda que o de Cristiano Ronaldo e Messi, só ver seus comentários quando precisa se referir a algo que fuja da bolha que vive, seja politica ou cotidiano (vide as pérolas deixadas a cada fala). Seria pedir demais que ele fizesse menção durante a Copa, por exemplo, ao menino assassinado a tiros pelo Estado na favela da Maré em tempos de Copa e que deve ter sido fã de Neymar. Ao menos os dois chamados “melhores” do mundo pelo visto sabem das crianças palestinas assassinadas por Israel, uma posição mínima tomam.

Arrisco-me a dizer que Neymar é mais produto que jogador de futebol, não sou inocente, é claro que este futebol moderno é contaminado pelos contratos e pela grana, mas em cada lance e movimentos os empresários deste “menino” produto enxergam uma oportunidade. Só na Copa da Rússia levou aproximadamente 16 marcas (poder dar um Google). Você cansou de ver Neymar na TV nas propagandas durante a Copa, inclusive acredito que você o tenha visto mais fora do que dentro de campo, se esforçou mais pelo time das marcas que pela seleção.


Neymar é um produto trabalhado e cercado por gente que o vê como produto, e ele mesmo se aceita como tal, pois na idade que tem não é mais menino e já poderia pensar por si só. Para os que gostamos de futebol esperamos o dia que Neymar vire um jogador de Futebol e que o “menino” produto fique em segundo plano.

Infelizmente hoje temos um produto numa prateleira chamada futebol moderno, pensado e moldado para ser isso que ele é, e de um produto não pode se pensar nada de diferente disso que ele apresenta. Todo movimento em volta do produto é friamente calculado visando apenas o lucro, o futebol é apenas um detalhe.

 

 

 

 

 

JOGADOR MORRE DUAS VEZES, NÓS VÁRIAS

por Paulo Escobar


Falcão um dia disse que jogador de futebol morre duas vezes, uma quando para de jogar e a segunda quando morre mesmo. Mas de uns anos pra cá acredito que nós, os torcedores, morremos algumas vezes.

Quantos ídolos acompanhamos desde as categorias de base, vimos suas histórias de saída das realidades de pobreza e nos encantaram nos gramados por décadas. E quantos deles no momento de pendurarem as chuteiras nos fizeram perder o chão?

Somos tão envolvidos com o sentimento que o futebol gera em nós, que não percebemos o tempo passar e quando olhamos se passaram os anos. E com este passar do tempo os nossos ídolos viraram senhores, que a idade lhes gerou as marcas também e os leva ao final de suas carreiras, pelo corpo já não aguentar aquilo que é exigido pelo futebol.


Eu era criança quando Zico se despediu do futebol aqui no Brasil, que depois continuou por mais quatro anos no Japão, naquele jogo Flamengo e seleção do Mundo. Maracanã lotado naquele 1990, que ainda existia a geral, totalmente estrumbado pra ver o adeus do Galinho.

Me senti vazio depois daquele jogo festivo, como se a partir daquele momento faltaria a magia, me emocionei. Pensei o que seria do futebol sem Zico, seria voltar a ver o Flamengo e procurar o camisa dez no meio de campo e não encontrá-lo.

Com o passar do tempo voltamos a viver de novo, aprendemos a conviver com a dor da primeira morte do ídolo, e criamos novos ídolos. No nosso altar interno outros se somam e passamos a viver tudo de novo.


Depois, na Bombonera, tive outra morte quando Diego se despediu naquilo que foi mais que um jogo, foi um verdadeiro ritual. Maradona que me fez vibrar e sonhar, pendurava as chuteiras, um tango se encerrava e ali voltei a ter os mesmos sentimentos de vazio, pensando o que viria depois de Diego.

Quando Roman e Marcelo Salas pararam tive a mesma sensação de tristeza, não os veria mais nos gramados e muitas vezes assisti aos jogos e os procurei me esquecendo que já não estavam mais nos gramados. 

Perdi as contas de quantas vezes chorei com a despedida de um ídolo, de quantas vezes estive de luto pela primeira morte deles. E suspeito que ainda morrerei outras vezes, suspeito que me iludirei de novo achando que eles nunca deixarão de jogar, até ter que enfrentar a realidade de que eles irão parar.

Morri junto também com Gamarra, Djalminha, Zamorano, Rincón, Alex, Gaúcho e com tantos outros que levaram um pedaço de mim. Procurei muitos deles no gramado depois que pararam e a cada dia que o futebol se moderniza, sinto mais a falta deles.

Os anos passam e sentimos as dores da idade dentro e fora dos campos, sei que ainda veremos muita coisa, mas uma delas é certa: que se jogador morre duas vezes, nós morremos e morreremos muitas ainda.

PELA VOLTA DO FUTEBOL AO POVO

por Paulo Escobar


Um futebol distante das pessoas pobres é de certa forma reprimir a paixão daqueles que sofrem todos os dias, a partir disso que começamos a pensar em como poderíamos reaproximar de novo o futebol ao povão.

O que nos aproximou do Museu da Pelada foi a ideia de preservar a memória do futebol, percebemos na página também que muitos dos excluídos do futebol voltaram a ter acesso às histórias de seus ídolos, e de certa forma muitos lembravam seus momentos de estádio quando este era acessível ainda.

Foi assim que começamos a caminhada para o projeto que leva por nome “Museu, Maloca e Boteco”. Para entender a lógica do programa, o Museu vem justamente em homenagem à página visando manter a ideia de preservação da memória do futebol, Maloca para que nós que estamos tocando este projeto não esqueçamos das nossas origens e o lugar a partir de onde enxergamos a realidade e o Boteco por ser o lugar onde rolam as resenhas sobre futebol, o espaço acessível às discussões onde na cerveja e prosa todos são técnicos.

No programa de estreia na quinta, dia 14, estivemos sentados na mesa de bar e recebemos Juliana Cabral, capitã histórica da seleção feminina, Roseli, que fez muito gol e jogava muita bola e com certeza não ficou devendo a ninguém no futebol jogado, Basílio, pé de anjo que fez talvez o gol que transformaria a história do Corinthians, Helvidio Matos, que nos seus anos de jornalismo buscou mostrar o lado humano do futebol, Mauro Beting, comentarista histórico e que o povão o tem na memória, Vitor Guedes, que contribuiu muito naquela mesa com suas ideias, Lu Castro, que é uma lutadora do futebol feminino que resiste e reivindica melhorias.

Foi emocionante ver as pessoas do bar Repanchos na Mooca baixa, que muitas vezes observam seus ídolos somente pela TV, estarem próximos e poder abraçar cada um deles. Ver pessoas que moram nas ruas e não têm acesso ao estádio poder sentir aqueles que vivem do futebol ao lado deles.

Os meios de comunicação muitas vezes se tornam inacessíveis às pessoas que assistem, e de certa forma contribuem no distanciamento. O que vemos sobre futebol é mais do mesmo e comentários feitos a partir de uma realidade que muitas vezes não é a do torcedor.


Se as arenas excluem, muitos meios também, então o que nos resta é tentar o caminho inverso, o da aproximação. De sair do outro lado da tela e ir até onde o povão que vive o futebol e sua paixão se encontra. É isso que estamos procurando, e lá na Mooca baixa que estamos procurando levar os ídolos e pessoas ligadas ao esporte a estarem com o povo, que escutem o que eles têm a dizer e que sintam o que eles sentem e vivem.

Quebrar a bolha do distanciamento, e voltar aqueles que não estão mais nos estádios ou não tem canais fechados, para os quais o futebol não tem sido pensado de décadas pra cá.

Não estamos inventando a roda, mas queremos ser resistência às coisas do jeito que estão sendo postas, é pensar as coisas de baixo, trazer a visão dos que o futebol tem excluído. Que os Geraldinos sejam vistos de novo e que aqueles que comemoram os gols nos seus barracos possam ter a felicidade de abraçar seus ídolos de novo.

Foi o primeiro programa, esperamos que venham muitos mais, quinzenalmente nos reuniremos no boteco e ali conversaremos sobre futebol. O boteco será nossa geral e ali as pessoas poderão ter de novo o prazer de se sentirem pertencentes ao esporte que alegria e lágrimas lhes dá.


Dia 28 de março partiremos para o segundo programa e contamos com vocês para fazer com que esta ideia chegue a outras pessoas e que assim sejamos resistência à ideia excludente que paira no nosso futebol. 

Luiz Ricas, Marcelo Mendez e eu continuaremos pensando e tramando o futebol com os pés no barro. E sem esquecer do nosso amigo Sérgio Pugliese por acreditar nestes loucos sonhadores que insistem em viver a utopia já.

Não posso esquecer de agradecer ao manos do bar, Germano, Jeferson, Júnior e a tia que nos receberam muito bem, do Wladimir, Nicanor e Veio Henrique que ajudaram o Ricas na parte do áudio e vídeo, da Maris e Led que nos ajudaram a montar o cenário. Aos manos e manas do Corote Molotov que estavam tomando sua cerveja e trêmulos de emoção e nervosos por estarem diante dos seus ídolos tiravam fotos e pediam autógrafos.

Em especial quero deixar meu abraço e meu amor ao meu filho André que se alegra em cada notícia que lhe dou, e que vibrou de felicidade quando me viu pela página naquela resenha. Que além de tudo me faz viver e caminhar e seu amor é tão importante para mim, meu melhor amigo que sempre acredita em mim, te amo, cabelo, e te carrego dentro de mim.

Levar o futebol ao povão nos dias que vivemos é um ato de resistência.

Dia 27 tem mais…

MUSEU, MALOCA E BOTECO

por Paulo Escobar


Mantendo a linha do Museu da Pelada, que visa preservar a memória do futebol e ao mesmo tempo torná-lo acessível à população, trazemos o “MUSEU, MALOCA E BOTECO”, novo programa transmitido ao vivo via página do Museu da Pelada no Facebook. Uma iniciativa da galera do Museu de Sampa.

Quinzenalmente, Marcelo Mendez e Paulo Escobar chamarão figuras do futebol, dos esportes em geral, da música, do Jornalismo e das artes para um bate papo descontraído, regado à informação e descontração.

A estreia do programa é dia 14 de Março, quinta feira, às 20 horas.

Museu, Maloca e Boteco

Museu que visa justamente a memória e a história, Maloca pra não esquecer da origem da nossa equipe de Sampa e de muitos ídolos e boteco por ser lugar de resenha. 


Luis Ricas é o diretor geral da resenha toda e os convidados da estreia serão: 

Vampeta: Ídolo do Corinthians e Seleção brasileira

Basílio: Ídolo do Corinthians

Ataliba: Juventus e Democracia Corintiana

Juliana Cabral: capitã da seleção brasileira

Rosely: Uma das maiores jogadoras da história da seleção

Lu Castro: Jornalista e especialista Futebol de mulheres


Mauro Beting: Um dos maiores jornalistas esportivos.

Helvidio Matos: Ícone do jornalismo esportivo de cunho social.

A gravação será no boteco Repancho’s bar na Mooca, rua André de Leão 330, Travessa da rua da Mooca e da Radial leste, próximo a estação do Brás saída da rua Piratininga, e da estação Mooca da CPTM. O bar terá seu funcionamento normal.

FUTEBOL É COISA DE VIADO TAMBÉM

por Paulo Escobar


O futebol, a exemplo da sociedade, vem andando para trás de novo de alguns anos pra cá, tanto na beleza, que é rara dentro dos gramados, como no conservadorismo e exclusão vinda das arquibancadas muitas vezes.

O que temos visto é uma onda de intolerância contra tudo aquilo que é diverso fora dos gramados, e em partes tem se trasladado esses preconceitos para o lado de dentro dos estádios. 

Essa cultura de que futebol é coisa de homem que já exclui as mulheres, e as relegam a segundo plano, colocando o futebol de mulheres no ostracismo no qual só é lembrado em tempos de grandes torneios. E se essa coisa que de “homem” já exclui as mulheres o que dizer então dos gays no mundo do futebol?

Quantos jogadores gays talvez não passaram pela história do futebol, quem sabe muitos tiveram que manter sua sexualidade em segredo pela pressão de todos os meios ligados ao esporte. Em momentos de suspeitas de que jogador X ou Y poderia ser foram motivos de críticas e muitas vezes até o futebol dos mesmos colocados em dúvida.

Além de enfrentar a pressão dentro dos gramados, os “suspeitos” em sua sexualidade devem enfrentar a pressão da torcida rival e da que defendem também. É forte ter que se referir como suspeitos, mas é dessa forma que se enxergam os jogadores que geram “suspeita” em relação a sua condição sexual.


Ainda me lembro quando, numa comemoração no meio dos anos 90, Maradona beija a boca do Caniggia, a mídia esportiva e muitas pessoas saíram com frases do tipo: “Além de drogado, é viado também”.

Richarlyson foi campeão do mundo pelo São Paulo, mas muitas criticas eram mais potentes pela desconfiança que existia em torno da sexualidade do jogador. Admirava a coragem dele de aguentar a pressão do jogo e a humilhação que passou em campo muitas vezes das torcidas que destilavam toda sua homofobia.

Reinaldo, do Atlético Mineiro, sentiu na pele, segundo ele, uma campanha contra sua convocação a Copa de 1982 pela desconfiança que sofreu também, como ele mesmo aponta numa reportagem recente:

“Falavam que eu era gay porque eu era amigo do Tutti. E ele é amigo da minha família. Normal, como eu conhecia vários gays. E o gay daquela época era um gay, digamos assim, mais discreto. Mas falavam que eu era gay também porque eu era amigo dos caras …”

Do seu lado no estádio podem haver milhares de gays não assumidos, você deve abraçar eles na comemoração dos gols, eles devem até te dar opiniões sobre o jogo que você pensa serem interessantes e coerentes. Mas imagina se aquele teu amigo de arquibancada assume sua homossexualidade, você o abraçaria no gol, ou acharia coerentes seus comentários?


A arquibancada reproduz o pior da sociedade também, e nesse pior vem a homofobia junto, os gritos de “viado” ou “bicha” estão em aumento de novo. O ódio por conta da sexualidade vem numa crescente e os clubes mais do que nunca precisam se posicionar em relação este assunto e não só com faixas, mas desde a base.

Proporcionar educação aos moleques da base neste sentido também, que a estrutura permita a liberdade de manifestarem sua condição e os abrace neste tema também. E que acima de qualquer coisa esteja o futebol jogado, que isto seja valorizado independente da sexualidade.

Já parou para pensar se o maior ídolo da história do seu clube fosse gay, como seria sua relação com ele? Será que você o veria da mesma forma? Vestiria a camisa dele e o defenderia diante das provocações sofridas?

Então, torcedor homofóbico, tenho uma triste notícia para você que entoa os gritos carregados de preconceitos, seu time é time de viado também, no futebol tem gays e muitos talvez nunca se assumam pois temem perder até a chance de jogar, e você sem saber já deve ter abraçado mais de um viado numa arquibancada ao gritar um gol. Na sociedade e nos gramados a diversidade continua sendo resistência.