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Palmeiras

FALCÃO X MOCOCA

por Serginho 5Bocas


Pode até soar estranho ouvir hoje tal comparação, muito jovens e torcedores com menos de 30 anos não devem nem saber do que eu estou falando, mas este era o “lead”, esta era a capa dos jornais e das revistas esportivas na semana do jogo de ida em São Paulo, partida decisiva de uma das semifinais do Brasileirão de 1979.

Quem mais ajudou a criar este factoide foi o mestre Telê, por sua incrível capacidade fazer jogadores medianos, evoluírem absurdamente na parte técnica sob o seu comando e chegarem até mesmo à seleção. Foi o que ele fez com Mococa, um meio de campo daquele Palmeiras de 1979.

O Inter era um time excepcional, em suas fileiras jogavam Mauro Galvão, Batista, Falcão, Jair, Mario Sergio e Valdomiro, o Palmeiras não era tão estelar, mas também tinha gente boa, do nível de Gilmar, Polozzi, Beto Fuscão, Pedrinho, Jorge Mendonça, Pires, Jorginho, Baroninho e é claro, Mococa.

Porém o banco das duas equipes eram verdadeiras poltronas, de um lado Ênio Andrade, que viria a ser tricampeão brasileiro (Inter, Grêmio e Coritiba) e do outro Telê Santana, que já era campeão e se tornaria bicampeão (Atlético-MG e São Paulo), dois monstros em armar equipes.

Eram extremos em estilos, Ênio armava equipes com muita marcação e pegada, já Telê gostava de toque de bola, posse e fundamentos, um ótimo cardápio. Quem venceria?


O Palmeiras de Telê era a sensação do campeonato naquele momento, pois acabara de eliminar o Flamengo de Zico em pleno Maracanã, com sonoros 4×1. Já o Inter de Ênio Andrade era um time imbatível, reunia craques e a força da marcação dos gaúchos. Além de tudo, vinha invicto, uma pedreira. 

Falcão era um extra classe, um dos maiores jogadores brasileiros de todos os tempos, já tinha vencido dois brasileiros e recebidos uma bola de ouro como melhor jogador da eleição realizada pela conceituada revista Placar. A segunda bola de ouro de sua carreira viria naquele ano, apesar de ter sido ignorado por Claudio Coutinho na convocação para a Copa de 1978.

Mococa era um jogador desconhecido, mas que nas mãos de Telê vinha gastando a bola, um motorzinho do time alviverde, que já sonhava em vencer o Brasileiro pela terceira vez.

Naquela noite, o Palmeiras foi melhor em campo, atacou muito, e até abriu o marcador, mas o Inter não se entregava e empatou numa falha de Gilmar que Jair não perdoou. Jorge Mendonça fez um golaço e colocou o Palmeiras na frente novamente, porém durou pouco. Falcão empatou de cabeça e fez o gol da virada numa jogada de muita raça e de categoria que só os gênios sabem fazer: encarando sem titubear a sola de Mococa, ele chutou com muita rapidez, evitando a chuteira de Mococa, e bateu com extrema precisão, para dar números finais à batalha épica. Depois foi só empatar no Sul (com gol de Mococa) e partir para a final contra o Vasco, vencendo as duas partidas contra o time da cruz de malta.


Mococa

Falcão continuou sua carreira de glórias, venceu aquele Brasileiro de forma invicta, liderando o time que nunca perdeu, ganhou a bola de ouro do campeonato e depois disso foi para a Roma da Itália, se tornando o “VIII Rei de Roma”. Fez uma Copa espetacular em 1982, entrando para história do futebol mundial.

Mococa, que tinha este apelido em razão da cidade em que nascera em São Paulo, fez um baita Campeonato Brasileiro naquele ano, sendo até cogitado para a seleção brasileira, depois teve uma curta e boa passagem pelo Santos e ainda teve umas três temporadas em alto nível no Bangu de Castor de Andrade, e daí para frente sumiu.

Hoje a comparação entre os dois jogadores pode parecer um exagero, mas naqueles idos, pelo menos em 1979, era mais do que realista.

O futebol nos ensina o tempo todo e fica aí mais uma máxima que temos que considerar: um craque deve ser medido pelo conjunto de sua obra, pelo seu legado e não por uma fase, por um ano bom.

Mococa pelo menos pode se orgulhar de que em 1979 teve seus dias de Falcão, e que convenhamos não é pouca coisa.

DA GRATIDÃO, GUSTAVO, NINGUÉM SCARPA

por Zé Roberto Padilha


Uma pena, Gustavo Scarpa, você ter trilhado o nosso mesmo caminho, porém, ter sido levado por mãos e conceitos tão desprovidos de reconhecimento. E de gratidão. Eu, Gilson Gênio, Mário Marques, Zezé, Paulinho, Wallace, Joaquinzinho e Escurinho, só para falar dos canhotinhos revelados como você pela base, crescemos aprendendo a cultuar a instituição Fluminense FC.

Antigamente, pelas mãos de Roberto e Paulo Alvarenga, Pindaro, Pinheiro e Sebastião Araújo, entre tantos, ela formava atletas e cidadãos. Poderíamos até defender outras camisas, como o fizemos posteriormente, mas jamais deixamos de levar com a gente o respeito e a admiração pelo tricolor das Laranjeiras.


Quando soube que fui trocado pelo Doval, sem consulta naquele troca-troca do Presidente Horta, declarei ao Jornal do Brasil que não queria ir para o Flamengo. Não era verdade, me expressei mal. Eu não sabia era como deixar o Fluminense após o tanto que ele fez por mim. E agora, depois que vários profissionais do clube transformaram uma promessa como a sua em realidade, o colocaram na vitrine, na seleção brasileira sub-20, em 2015, e na principal ano passado, por causa de quatro míseros meses de salários atrasados você vira às costas para quatro anos de ajuda de custos, luvas, prêmios, salários em dia que lhes possibilitaram crescer.

E, sem se despedir da gente, como uma mercadoria que ganha um novo rótulo, sem conteúdo ou coração, desembarca no Parque Antárctica como se as cores tricolores, que o formaram, fossem uma mancha. Não um certificado ISO de qualidade e tradição. Como torcedor, fiquei desapontado. Nem apareceu por lá para se despedir da Young Flu, agradecer as massagens do Gerônimo, os sucos que tomou no Bar do Fidélis após cada treinamento.


Mas não se iluda. Independente dos novos rumos que tomastes, um dia a ficha vai cair, o tempo, senhor da razão, vai lhe mostrar cenas de um retrovisor com uma bela história. E você irá retornar às Laranjeiras para agradecer. Dar um abraço no Abel, um aceno para a gente nas arquibancadas ou na TV.  Porque da gratidão, Gustavo, ninguém Scarpa

ROMÁRIO E A FELICIDADE IMPUNE

por Rubens Lemos


O som que emiti quando Romário fez 4×3 no gol da virada matando o Palmeiras no Palestra Itália e garantindo a Mercosul de 2000 até hoje não consigo descrever. Foi um berro assustador que acordou meu filho de sete anos. Minha mulher pensou que fosse ficar viúva de um homem vítima de enfarte.

O grito foi o mais alto e assombroso da minha vida. Quando a bola bateu na rede do goleiro Sérgio, não gritei gol. Expulsei tudo o que havia dentro de mim que não fossem as entranhas. Foi um transe de alegria e desabafo. Corri até a janela e por longos minutos, para mim foram décadas, uivei e chamei os piores palavrões do vocabulário pornográfico.

Depois, cervejas na cabeça, bati fortemente no peito magro. Me esmurrei, dei cambalhotas no pequeno corredor do apartamento, beijei a mulher, o menino, ambos envergonhados e irritados pela interrupção do sono.

Lembro apenas da frase que inventei na hora e repeti por 22 minutos, salvo engano: “Quem não for Romário, vá pra casa do…….baralho” O Vasco, em 2000, formara um timaço e sofria tanto ou mais do que hoje a sina de vice. Havíamos trazido Romário de volta do Flamengo, no comecinho do ano, para tentar ganhar todos os campeonatos. Perdemos logo o Mundial de Clubes da Fifa, aquele pênalti que Edmundo bateu longe, já enciumado pela presença do baixinho. Ex-Maracanã lotado e os corintianos em festa.

Fomos em frente. O troco seria no Campeonato Carioca, vingaríamos a derrota de 1999, gol de falta cruel de Rodrigo Mendes, bem no cantinho de Carlos Germano, quando o empate nos bastava.


Começamos bem o Carioca, enfiamos 5×1 nos rubro-negros, quatro gols de Romário, num domingo de páscoa, chocolate para tudo o quanto foi gosto. Edmundo e Romário começaram um duelo de máscaras terrível e o Vasco pagou. O Flamengo foi bicampeão como seria tri em 2001 no gol de Pet que maltrata o cruzmaltino de fé e coronárias de aço.

Ainda em 2000, o ano em que muito idiota pregou o bug do milênio, previsão de uma pane geral dos computadores na virada do Século, programados para começar com 19 do ciclo que terminava e fadados, segundo os entendidos e os verdadeiros sabidos, os picaretas, a gerar um colapso mundial. Deu tudo bem, o bug virou farofa e depois de 2000 um cidadão de nome Steve Jobs seduziu o planeta com suas invenções de tecnologia artística.

Ao Vasco, restava o Campeonato Brasileiro, a quem deram o nome de João Havelange para justificar a participação do Fluminense(que deveria ter disputado a Série e premiar todos os rebaixados no ano anterior. Foi o que livrou outros tantos clubes da Série C. E ao Vasco também sobrava a Copa Mescosul.


Grande dosagem do meu ceticismo em futebol foi injetada em 2000. O Brasileiro só viria a ser ganho em janeiro do ano seguinte, contra o São Caetano, depois que o alambrado de São Januário cedeu e houve o conflito de dois notáveis exemplares do sem-caratismo: Anthony Garotinho, governador do Rio de Janeiro e Eurico Miranda, presidente do Vasco.

Pouco antes do Natal, enfim, o Vasco assegurou sua vaga na final da Mercosul e contra o Palmeiras. Houve equilíbrio, cada qual venceu uma das finais e foi necessária a extra. Lembro-me do convidativo miolo de zaga do Vasco, com Odvan e Júnior Baiano. Romário, ainda bem, estava do lado certo.

O Palmeiras abriu 3×0 faceiro como quem vai a uma trattoria, pede um raviolli branco com bacon, acompanhado de um bom tinto da Sicília. Levamos gol de Tuta, Tuta, um centroavante bem abaixo do tosco. Decidi desligar. Tinha trabalho no dia seguinte, cedo.

Lembro bem, estava de pijamas, parei de tomar cerveja, por acaso, fui à cozinha e não desliguei a televisão do quarto. Pênalti a favor do Vasco. Romário diminui. É, 3×1 estava folgado para eles. Outro pênalti. Romário bate de novo, 3×2.


Resolvi ver no que dava, se aquela coro do casaca, saca,saca, a turma é mesmo boa, é mesmo da fuzarca, Vasco, ainda estava tocando no meu sofrido CD de esperança. Expulso Junior Baiano. Ficamos com mais um . Repito: O Palmeiras ficou com menos um a seu favor. Junior Baiano foi menos grotesco do que quem disse que ele era jogador de futebol.

Passei a acreditar e a tamborilar no copo. Uma nova cerveja gingava no peritônio. Aos 41 minutos do segundo tempo, o serelepe Juninho Paulista, nosso nanico do meio-campo, chuta mal, a bola entra: Um grito contido, abafado ao travesseiro.


Aos 48 minutos, jogada esquisita, que começa com Viola pelo lado esquerdo, bate-rebate, chute errado, goleiro espalma, bola encontra Romário no altar dos grandes finalizadores. Colocado onde deveria. Por Deus. Toque para as redes. O Vasco faz 4×3, meu espetáculo é o descrito inicialmente.

No dia seguinte, recebo um documento encaminhado pelo síndico, feitor moderno, entregue pelo humilde zelador. Abri. Uma advertência pelo tumulto que havia causado. Por atrapalhar a madrugada dos condôminos. A ideia fora só do síndico, ninguém reclamara e havia outros vascaínos pelo prédio. O último esporro por escrito eu recebera no primário. De um professor de Educação, Moral e Cívica, a disciplina-máter da Ditadura.

Peguei uma caneta e escrevi no papel de carta: “Não assino. Felicidade não se pune”. E saí cantando: “Tu tens o nome do heróico português, Vasco da Gama, tua fama assim se fez…”

PS. 20/12/2011 – Palmeiras 3 x 4 Vasco Local: Parque Antártica(Palestra Itália) – São Paulo – SP. Palmeiras: Sérgio; Arce, Galeano, Gilmar e Thiago Silva; Magrão, Fernando, Flávio e Taddei; Juninho e Tuta(Basílio); Vasco: Helton; Clébson, Odvan, Júnior Baiano e Jorginho Paulista; Nasa(Viola), 

UM POUCO DE CADA CAMISA 10 GENIAL BROTOU NO ALEX

por André Felipe de Lima


Desde pequeno, entre uma e outra pelada pelas ruas de Colombo, cidade próxima à Curitiba, Alex convencera-se de que seu destino era o futebol. Não sabia ao certo se gostaria de jogar bola na grama. A predileção era o asfalto. Mesmo assim, gostando ou não dos gramados, foi nele que se tornou ídolo de três grandes clubes brasileiros e de outro gigante do futebol turco.

Alex nasceu em Curitiba, às 2h20 do dia 14 de setembro de 1977, na Maternidade Santa Brígida, mas seguiu com os pais para Colombo ainda bem pequeno. Cresceu jogando bola nas ruas próximas à sua casa.


Enquanto os pais iam trabalhar, a zelosa avó materna cuidava do menino, para o qual a vida mostrava-se hostil. Toda a família vivia uma intensa dificuldade financeira. Alex, que muito aprendera com a luta dos pais, jamais percebera o vaticínio da certidão de nascimento: a corruptela do nome [Alexsandro de Souza] tem quatro letras. E quatro letras recheiam nomes [ou apelidos] de craques famosos, igual ao Dida, ao Pelé, ao Pita e ao Zico, principal espelho de Alex. “Esse é o meu ídolo”, dizia aos colegas, como se ele mesmo fosse o Zico. Em verdade vos digo: um pouco de cada um destes geniais camisas 10 renasceria em Alex.

Muita gente só se convenceria disso alguns anos depois. Alex percebera isso bem antes. Decidira que não faria outra coisa na vida. Ser jogador era uma escolha definitiva, embora uma convicção muito precoce para um garotinho que mal largara fralda e chupeta. E o colégio, como fica? Não ficou, embora Alex se esforçasse e mantivesse o desejo de um dia formar-se em Educação Física ou Psicologia. A bola, sempre ela, prevalecera.

“Desde pequeno meus pais me ensinaram a valorizar o estudo e fizeram questão absoluta que eu frequentasse a escola. Agradeço muito a eles por isso, pois sei que a escola ajudou a construir meu caráter e a me tornar um cidadão mais consciente. Só lamento não ter podido concluir o colegial [tive que parar quando estava no segundo ano], pois me profissionalizei muito cedo e ficou impossível conciliar futebol e colégio.”
Para redimi-lo, o inexorável fato é que desde cedo todo menino acredita ser craque. Tenho pena de quem disser o contrário para qualquer garoto que seja. Para quem furar uma bola por conta de um vidro da janela quebrado ou por implicância mesmo, só restará o castigo de Deus, que, em suas onipotência e onisciência, há de castigar também o menino que deixar de lado a sala de aula. Com irrepreensível Justiça Divina.
Quando esteve cara a cara com Argemiro Bueno, o professor Miro, da escolinha do Coritiba, Alex não tremeria. Estava preparado para uma peneira com cerca de 250 meninos para a qual foi levado por Silvio, seu colega e quase vizinho, que já treinava no Coxa.


Miro coçou o queixo e exclamou: “Joga muita bola!”. Para, em seguida, ponderar: “É bom, sim, mas ainda é muito cedo para o gramado. É muito mirrado para o futebol de campo.”
Alex, embora pequeno, conformou-se. Não gostava mesmo de grama. Queria apenas jogar bola. Só isso. Nada mais. Poderia ser no Coritiba, poderia ser em qualquer lugar, menos no Atlético. Sei lá. Aonde houvesse um espaço, com duas traves e uma bola para rolar, bastar-lhe-ia. “Depois da brincadeira, eu estava trocando de roupa para ir embora quando o prof. Miro, que comandava a peneira, chegou para mim e perguntou se não queria ir treinar futebol de salão na AABB [Associação Atlética do Banco do Brasil]. Ele foi até a minha casa e falou para o meu pai que eu ainda era muito novo para jogar no campo, mas disse que seria interessante que eu jogasse futebol de salão. Depois, quando tivesse idade suficiente, voltaria para o Coritiba.”

E lá foi Alex para o futebol de salão da AABB. Ali, foi crescendo e mostrando um domínio de bola incomum. Marcando gols em profusão. Fazendo mágicas dignas de um genuíno camisa 10.

***

O texto acima integra a biografia do craque Alex, que consta do I volume (a Letra “A”) de “Ídolos – Dicionário dos craques do futebol brasileiro, de 1900 aos nossos dias”, com lançamento previsto para este semestre. A enciclopédia, que consiste em 18 volumes, está sob a edição do querido Cesar Oliveira.

A propósito, leiam a excelente biografia do Alex assinada pelo Marcos Eduardo Neves.

DINHEIRO E OBA-OBA NÃO ESCREVEM A HISTÓRIA

por Mateus Ribeiro


Em mais uma noite terrível para clubes brasileiros, Palmeiras e Atlético Mineiro foram eliminados da Copa Libertadores da América. O alviverde caiu para o modesto Barcelona de Guayaquil nas penalidades máximas, enquanto o Galo de Minas apenas empatou com o mais modesto ainda Jorge Wilstermann.

Os dois clubes se juntaram ao Flamengo como os brasileiros eliminados (dentro do campo, já que a Chapecoense foi excluída do torneio por outros motivos). Curiosamente, no início do ano, os três figuravam como os melhores elencos do Brasil, pelo menos na boca da imprensa esportiva “especializada” e de alguns torcedores mais exaltados.

Quem acompanha futebol sabe que essa história de melhor time, melhor elenco, geralmente é o Selo da zica, que faz com que os times assim nomeados não alcancem nem metade do que foi projetado. Exemplos temos de monte, e em todas as proporções: os galácticos do Real Madrid, o time da MSI, a seleção de 2006, o “melhor ataque do mundo” e o próprio Internacional de Porto Alegre nos últimos anos.

A receita é basicamente a mesma: trazer jogadores que estão sem mercado na Europa a preço de ouro, inflacionar o mercado, encher as redes sociais de propaganda e vídeos mostrando todo o suposto poderio do elenco, lançar dezenas de campanhas, e dar entrevistas falando sobre as finanças do clube. Do lado da imprensa, o papel é projetar sucesso, fazer um carnaval em cima de qualquer pereba que o clube contrata por um valor exorbitante, palpitar sobre as possíveis escalações do time e repetir a frase “time x tem um dos melhores elencos do Brasil” quantas vezes puder. Sem medo de repetir, para entupir a grade de programação, sem pudor algum mesmo. Resultado: um número gigantesco de torcedores mais desinformados que compram essa ideia, e invariavelmente se decepcionam.

Com Palmeiras e Atlético Mineiro as coisas não foram diferentes. E, analisando friamente, a chance de acontecer algo longe das expectativas era real.

Falando sobre o Palmeiras, o campeão brasileiro de 2016 resolveu continuar tentando gastar o dinheiro da Crefisa de qualquer forma. Despejou um caminhão de dinheiro em Borja, o símbolo do fracasso. Alguns podem dizer que ele foi bem nas fases finais da Libertadores passada, e que cansou de fazer gols no futebol C O L O M B I A N O. Está certo que realmente ele foi bem no torneio continental. Mas, sejamos honestos, é inadmissível pagar uma quantia pornográfica por um jogador que tem um ano bom no futebol, e que em seis anos de carreira já rodou o planeta. Estava escrito que provavelmente não iria atingir o nível que se esperava dele. Pior, até o momento, é um mico gigantesco.

Mas não para por aí. O tal Felipe Melo chegou como se fosse o Falcão do Século XXI. Falou muito, jogou pouco, teve imprensa e torcida passando pano para suas atitudes estúpidas, fez mal para o grupo (óbvio) e foi dispensado. De resto, um elenco inchado e com nomes do calibre de Keno, Tchê Tchê, Egídio, Bruno Henrique, Edu Dracena, e tantos outros não pode ser considerado imbatível. Ainda mais se tal elenco for comandado por um treinador que acredita que uma calça pode dar sorte ao time. Para o Palmeiras, resta uma reflexão profunda sobre o ano de 2017 (e sobre o papel dos tais diretores de futebol).


O Atlético Mineiro não tinha tanto holofote, mas também era bem cotado. O que não consegui entender desde o início foi porque um elenco envelhecido, recheado de jogadores que saíram da fase boa há tempos era tão louvado. Para completar o pacote, contrataram aquele que seja talvez o jogador mais acomodado e supervalorizado do Brasil, Elias.

Não bastasse todos esses fatores, o tão falado planejamento foi por água abaixo quando demitiram o, até meses atrás, aclamado e intocável Roger Machado. A solução encontrada foi trazer um treinador cuja glória máxima foi vencer as Olimpíadas. Está certo que era um título inédito. Porém, não é justificável a expectativa exacerbada em cima de alguém que comandou um time vencedor de um torneio de nível técnico baixíssimo, aos trancos e barrancos, onde a única seleção que realmente se importou e levou jogadores de renome foi a brasileira. Desde o começo, estava na cara que Micalle não seria o salvado da Pátria. Não foi, e o Atlético continua sua trilha de ser favorito em todos os campeonatos que disputa, e terminar apenas com o estadual (isso quando termina com algo).


Sobre o Flamengo, ainda disputam a Copa Sul-Americana, com chances de ir mais longe. Porém, isso é muito pouco. Está longe das expectativas criadas. Tão longe quanto o time está de passar o carro nos adversários do Campeonato Brasileiro, como muitos entendidos cravaram no início do ano.

Pode se dizer que o Flamengo tem um time até bacana do meio pra frente. Mas nada de outro planeta, analisando friamente. Aí entro em outro mérito: um dos principais itens de uma equipe de sucesso é o equilíbrio. E aí não adianta você ter um meio campo e um ataque razoáveis quando seu sistema defensivo é catastrófico. Somado a tudo isso, uma torcida que se iludiu e caiu no conto de jornalistas que pouco se importam com as bobagens que falam no início da temporada, e só querem ver o circo pegar fogo. Resultado: time escalado pela vontade de terceiros e o pobre Zé Ricardo pagando o pato.

Tenho quase certeza que pouco disso será falado. Talvez até comentem sobre essa importância demasiada que dão para o dinheiro sendo gasto apenas e simplesmente por gastar. Mas nunca falarão o suficiente. Nunca se falará o suficiente do oba oba também.

Continuaremos a ver programas esportivos desenhando um sucesso imenso para clubes que torram milhões em jogadores e em propaganda. Continuaremos a ver torcedor que não se importa com o valor absoluto (muito menos com o relativo) de certas contratações. Continuaremos a ver diretor de futebol sendo chamado de herói. Continuaremos a ver presidente sendo tratado como rei porque, TEORICAMENTE, cumpre a obrigação de cuidar bem das finanças do clube.

Eu entendo o fato de torcedor se iludir. eu mesmo já até acreditei que Pato e Ganso fossem jogadores de futebol de nível profissional. Digo mais, acreditei que pudessem ter um futuro. O que não dá pra engolir é esse número gigantesco de profissionais (muitos deles de competência duvidosa) da imprensa, que ganham muito dinheiro para palpitar e iludir torcedores. Pior ainda, sabendo que estão falando borracha desde o início do ano e que correm o risco enorme de passar vergonha.

Que eles deixem de passar vergonha. E que o torcedor deixe de se iludir.