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País de Gales

FILHOS DO PAÍS DE GALES

por Rubens Lemos


Outro dia, revi o DVD de Brasil 1×0 País de Gales, em 1958, pelas quartas de final da Copa do Mundo na Suécia. O jogo de um time contra um bando de gigantes tenebrosos. Gosto das minhas reprises para reforçar os meus conceitos. A favor do futebol de verdade, jogado para a frente. Com inteligência, habilidade e improvisação.

Brasil x País de Gales é emblemático. Opõe o futebol em regra seguida com arte à covardia unida à brutalidade. O Brasil sofreu para vencer País de Gales porque apanhou demais de um time que se fechou por medo. Contradição: O fortão se escondendo do franzino.

O DVD de Brasil x País de Gales é chuviscado, feito para fanáticos. Comprei faz tempo, logo que surgiu a novidade eletrônica. Vejo e observo em detalhes. Se alguém me fotografasse diante do aparelho de televisão, enxergaria uma cópia malfeita de perito detalhista em cena de crime, juntando peças, buscando pistas. Encontrando caminhos.


O Brasil estava sem o centroavante vascaíno Vavá, seu rompedor, machucado desde a partida contra a União Soviética, quando um beque entrou de sola no momento em que ele fez o segundo gol. Foi 2×0, naquele baile de Garrincha destruindo o “futebol científico” do politburo.

Vavá seria o homem a enfrentar os jagunços galeses. Jogou Mazzola, o Altafini. Mazzola era o fino. Goleador e criativo. Apanhou um bocado. Com Didi e Pelé, fez triangulações arquitetônicas pelo meio. Entravam os adversários halterofilistas e perversos e atingiam os três na coxa, no tórax, no joelho, na canela, no tornozelo.

Garrincha driblava quatro. O quinto tocava-lhe os colhões. Garrincha urrava. Pulava feito um saci lá de Pau Grande, sua terra. O jogo, se prevalecesse o 0x0, iria para a prorrogação. O Brasil jogou uma partida espetacular.


Uma das maiores da Copa, a primeira ganha pelo escrete. Os gorilas da retranca perderam assim que um gênio de 17 aplicou uma meia-lua no beque e tocou de mansinho para as redes. Repórteres e fotógrafos entraram em campo para trabalhar e tietar Pelé.

Os teóricos da retranca, do uso abusivo e tóxico de zagueiros e cabeças de área, deveriam procurar uma cópia de Brasil x País de Gales. Eles são frutos amargos da costela dos gringos. Quem ataca primeiro, tem bons jogadores e aproveita o talento deles, não ganha se for incompetente ou se o destino não quiser.

É muito mais fácil o craque fugir de uma armadilha brutal do que o grosso encontrar alternativa quando está perdido. Aliás, o perna-de-pau sempre está na contramão, atrapalhando a bola, enchendo de horror a beleza do ludo no tráfego da grama.