Texto publicado originalmente na Gazeta Esportiva
Ainda criança, Odir Cunha assistiu, pela televisão, o centroavante Coutinho, parceiro de Pelé no ataque mágico do Santos, cabecear uma bola chutada com força pelo ponta esquerda Pepe, marcar o gol e cair desmaiado. Aquela cena ficou marcada na memória do menino que se tornaria um jornalista premiado e escritor de mais de uma dezena de livros sobre futebol, muitos deles retratando aquela equipe memorável.
Adolescente, Odir viu um colega de ginásio, bom atacante da várzea de Parelheiros, acordar com metade do corpo paralisado dias depois de perder os sentidos ao cabecear uma bola mais pesada pela água da chuva. Fausto, era este o seu nome, jamais se recuperou e morreu em consequência do alcoolismo.
O mal que os cabeceios fazem
Em novembro de 2011, no encontro anual da Sociedade Radiológica Norte-americana, a Universidade Yeshiva, de Nova York, apresentou um estudo que deixava claro a relação direta entre lesões no cérebro e os cabeceios no futebol.
“O estudo analisou imagens de ressonância de 38 atletas amadores que praticavam o futebol desde a infância. Os que cabeceavam a bola 1.500 vezes ou mais por ano apresentaram resultados semelhantes às pessoas que sofrem concussões, um tipo de traumatismo craniano, e tiveram os piores resultados nos testes de memória e reação motora”, informou Odir.
Outra pesquisa, mais recente, da Universidade de Glasgow, Escócia, concluiu que jogadores de futebol têm cinco vezes mais possibilidades de contrair Alzheimer do que a população em geral. Esses estudos serviram de base para que as Federações Inglesa e Escocesa proibissem crianças de menos de 12 anos de pôr a cabeça na bola nos treinos, uma tendência que está se espalhando por outras federações nacionais.
“Em outros esportes, como rugby, futebol americano e boxe, os danos ao cérebro são mais visíveis e imediatos. No caso do futebol a degeneração é lenta, e por isso poucos se dão conta. Foi aí que resolvi fazer algo a respeito e criei o Cabeceador”, prosseguiu o jornalista.
Para proteger a cabeça e potencializar o golpe
Um equipamento que protegesse a cabeça sem atrapalhar o cabeceio – este era o desafio de Odir quando iniciou os estudos que o levaram a inventar o Cabeceador, uma touca especial de silicone medicinal que preserva a cabeça do atleta e não traz nenhum prejuízo técnico ao cabeceio. Nos testes já feitos ficou comprovado que sua superfície mais espessa e irregular na testa e têmporas dão mais conforto e controle ao golpe.
– Tinha de se ajustar bem à cabeça, ser leve, mas reforçada e irregular nos pontos de contato com a bola. Além disso, ter orifícios para a respiração do couro cabeludo e também nas orelhas, para permitir ao jogador ouvir seus companheiros e as marcações do árbitro. Por fim, a touca tem um design moderno e pode ser produzida em todas as cores, para satisfazer aos praticantes, aos clubes e aos futuros patrocinadores! – detalha o inventor.
A patente, válida em 153 países, foi obtida junto ao IPI (Instituto de Propriedade Industrial) por meio da Associação Nacional dos Inventores.
Ideal para ser utilizado nos treinos, ou para substituir a improvisada touca de natação quando os jogadores têm um ferimento na cabeça, o Cabeceador deverá se popularizar entre os atletas amadores e nas escolinhas de futebol, minimizando os efeitos dos cabeceios e assim passando mais segurança aos jovens e a seus pais. Seu uso também está previsto no futevôlei, futebol de cinco e futsal.