por Victor Kingma
O futebol, essa paixão nacional, é feito de histórias, muitas delas fantasiosas, fruto da imaginação dos torcedores.
Assim, através dos tempos, cada gol ou lance inusitado que tenha acontecido numa partida, são contados pelos boleiros de forma diferente, onde são acrescentados novos detalhes e até outros personagens para o mesmo fato, quase sempre envolvendo figuras marcantes do futebol.
E essas histórias acabam entrando definitivamente para o folclore do velho esporte bretão.
Entretanto, existem aquelas que se tornam verdadeiras lendas e possuem registros oficiais que as comprovam, a despeito de pequenos detalhes que possam ter sido acrescentados pelo imaginário dos amantes da bola.
Uma dessas lendárias histórias foi a que aconteceu na estreia do Brasil, na Copa de 1958, na Suécia.
Brasil e Áustria se enfrentavam. A seleção havia vencido o primeiro tempo por 1 x 0, gol do centroavante palmeirense Mazzola, e tinha o jogo sobre controle.
Entretanto, logo que começou a segunda etapa, os austríacos iniciaram uma grande pressão em busca do empate. O goleiro Gilmar já havia feito duas difíceis defesas.
Aos cinco minutos o time austríaco inicia novo ataque pela direita quando Nilton Santos desarma o arrisco ponteiro Horac e parte para o ataque, coisa rara nos laterais daquela época.
No banco, o técnico Vicente Feola, temendo que ele pudesse perder a bola e propiciar um contra-ataque fatal, grita desesperado:
– VOLTA, NILTON! VOLTA, NILTON!
O lateral, com a personalidade que sempre o acompanhou, não dá ouvidos ao treinador e prossegue na jogada.
– VOLTA, NILTON, VOLTA NILTON! – Insistia, descontrolado, o treinador.
O craque botafoguense, então, avança com a bola dominada, tabela com Mazzola, recebe na frente e desloca o goleiro Rudolf Szanwald com um toque de classe: Brasil 2 x 0!
– BOA, NILTON! Valeu, meu craque! – Teria gritado, aliviado, e quase sem voz, o bonachão Feola!
A partir do gol, o primeiro marcado pela seleção por um defensor, com a bola rolando, o Brasil voltou a tomar conta do jogo e ainda faria o terceiro, novamente através do avante Mazzola.
Com a vitória por 3 x 0, e o lance marcante de Nilton Santos, a “Enciclopédia do Futebol”, o Brasil iniciava a memorável campanha que o levaria a conquistar pela primeira vez a Copa do Mundo de futebol.