por Zé Roberto Padilha
As câmeras do Globo Esporte, durante o jogo do Vasco contra o Bahia, se revezaram entre o gramado e o banco de reservas de São Januário. Pela primeira desde que chegou como solução no segundo semestre do Campeonato Brasileiro de 2015, Nenê ficava entre os reservas. E poucos cumpriram seu papel como ele: mesmo com o péssimo primeiro turno, fez do segundo uma emocionante escalada de recuperação que durou até a última rodada. Ano seguinte, trouxe o seu time de volta a primeira divisão e ainda ajudou o clube a ser bi-campeão carioca. E jogando todas as partidas.
Mas na medida em que encarava com naturalidade sua estada no banco, torcendo e comentando normalmente os lances com seus companheiros, vibrando com o gol da sua equipe, a reportagem, que virou seu foco para lá atrás de revolta e inconformismo, foi deixando de lado suas tomadas. Foram atrás de audiência, não de anuência.
Aí vem o clássico com o Fluminense, dentro de São Januário, e novamente Nenê é escalado para o banco de reservas. Durante a semana, Rodrigo, dispensado e contratado pela Ponte Preta, joga o veneno no ar de Campinas:
– O próximo a ser dispensado será o Nenê!
Mas o Nenê não é o Rodrigo, joga pela arte, não pela violência. E a arte é um produto da paz, do amor, já a violência é o desaguar da revolta, da insatisfação, do futebol ruim que andam praticando. Sem lhe dar o troco, os repórteres nem se aproximaram dele para dar entrevistas, aí o meio da bola, que é cruel, joga no ar pelas resenhas: “Deve estar acomodado. Nem reclamou do treinador!”.
Mas se o futebol não é justo, os deuses que o amparam são. No ultimo sábado, entrou quando o time estava perdendo por 2×1, ajudou a organizar o meio-campo para alcançar o empate e se colocou no lugar certo para definir, com um chute forte e cruzado, a vitória. Nenê foi, mais uma vez, o herói vascaíno. E quanto tempo o Vasco não sabe o poder e o carisma de um deles.
Se já nutria admiração pelo seu futebol, depois da partida contra o Fluminense passo a admirá-lo como homem. Na política há uma máxima: “Dê-lhe o poder e saberemos o homem que é!”. No futebol, a partir de sábado, a máxima passa a ser: “Dê-lhe o banco. E conhecerás de perto a grandeza de um jogador!”. Mesmo chateado como tricolor, um apaixonado pelo futebol como eu não poderia deixar de reconhecer: Parabéns, Nenê! Agora, com o seu exemplo, sua humildade, muitos jogadores passarão a encarar o banco de reservas como ele foi concebido, um trunfo, uma banco de dados, não uma reunião de cacos. Uma estratégia para o treinador e não uma tragédia na vida de cada um jogador.