Por Victor Kingma
Mão de Onça foi um goleiro do interior mineiro que tinha a fama de ser o maior catador de pênaltis que já existiu pelas redondezas. Para alcançar tal façanha ele tinha desenvolvido uma técnica pessoal: ficava parado no meio do gol, encarando fixamente os olhos do batedor. No último instante, quando esse mirava o canto e chutava, o gigante de 1,98m e incrível agilidade, sempre pulava para o canto certo e, invariavelmente, fazia a defesa.
Na decisão do título daquele ano, Mão de Onça tinha tudo para se consagrar mais uma vez: no último minuto do jogo, o seu time, que jogava em casa e pelo empate, segurava o 0 x 0 quando o juiz marcou uma penalidade máxima a favor dos visitantes.
A torcida, que normalmente deveria entrar em desespero, esperava, confiante, mais uma espetacular defesa do seu paredão. Afinal, somente naquele campeonato da liga regional, ele já havia defendido todos os cinco pênaltis que foram marcados contra o seu time.
Conhecendo a fama do goleiro e querendo surpreendê-lo, o técnico adversário, velha raposa das quatro linhas, mudou o batedor oficial que era o craque e artilheiro do time e colocou para bater o pênalti um desconhecido jogador que estreava.
O novato ajeitou a bola para a cobrança e o arqueiro, imóvel no meio do gol, como sempre, olhava fixamente para ele. Olhos nos olhos… Ninguém piscava no pequeno estádio. Ele correu, chutou e Mão de Onça se atirou como um felino para o canto direito, mas a bola entrou mansamente no canto esquerdo… GOOOOL!!!
Enquanto o desolado Mão de Onça se levantava todo empoeirado, o esforçado meia do time visitante era carregado como herói nos braços da sua pequena torcida que, eufórica, entoava:
– VESGUINHO! VESGUINHO! VESGUINHO!!!