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Minas Gerais

O TERROR DA MULHERADA

por Matheus Rocha


Todos nós sabemos: somos fominhas por futebol. Você olha para o céu, aquela névoa sobre a cidade, relâmpagos distantes e depois do trabalho aquela pelada naquele mesmo campo society de toda semana!

Obviamente, a chuva só vai aumentar e começa aquele burburinho no WhatsApp: “Vai ter pelada com chuva?”. Sempre tem aqueles que não são tão fominhas de bola quanto nós, convenhamos, simples mortais! Mas óbvio que já cortamos a conversa às 3 horas da tarde com aquele carrinho (também via WhatsApp): “Você é de açúcar? Claro que tem pelada…”. Ainda joga umas carinhas na sequência da mensagem, só para o colega não levar para o lado pessoal.

Você passa em casa rapidinho e sua mulher pergunta: “Você vai no futebol? Mas está caindo o mundo…” Claro que nós vamos!!! NÓS SEMPRE VAMOS!!! Mesmo que o mundo esteja acabando!!!

Arruma a malinha com chuteira, meião e outros apetrechos, coloca no carro e #partiupelada!!!

Obviamente, quando saímos de casa, já sabemos o que nossas esposas, namoradas, mães, enfim, mulheres de nossas vidas estão pensando vendo aquela chuva lá fora. Mas isso é um problema para depois…

Mas não vamos preocupar com isso, afinal tenho umas divididas para entrar, uns lançamentos para fazer ou então ser o matador da pelada.

Tem coisa melhor que jogar bola na chuva? Bom demais! Refrescante, relaxante e… perigoso também! Sempre tem um sem-noção dando aquele carrinho que mais parece uma cegonheira deslizando no gramado.


Depois de tirar todo stress acumulado, chegou a hora de ir embora. Aquele meião encharcado pela chuva, com aquela tornozeleira cheirando podre e a chuteira… Ah, a chuteira!!! Cheia de borrachinha da quadra de futebol society!!!

Você pode bater a chuteira na arquibancada, no chão de cimento, onde você quiser. Quando você chegar em casa lá estarão milhares – por que não – milhões de borrachinhas sujando todo lugar que você encosta. Você leva ainda para aquela área de serviço minúscula (que muitas vezes é conjugada com a cozinha nesses novos minúsculos apartamentos do século XXI).

Quem tem esposa, namorada, juntada, mãe ou afins sabe qual é o verdadeiro terror da mulherada: A BORRACHINHA DA QUADRA SOCIETY, que em dia de chuva multiplica-se. Nós, peladeiros, sabemos que aquele “pó” de borracha estará em todos cantos. Estará no carro, porque na hora que você foi colocar a chuteira na bolsa, ficou um monte grudado do lado de fora. Ficará na área, na cozinha, no banheiro, quando menos perceber estará até no seu quarto. Parece que a borracha tem vida própria e ainda voa!

Aí você coloca para lavar com a melhor das intenções. Pronto! Agora é borrachinha de grama na calça, na meia, na calcinha da sua esposa… Quando você colocou aquela chuteira, aquele meião e aquela tornozeleira podre de molho no tanque, você não esperava que no dia seguinte que sua esposa passaria já pela manhã para lavar qualquer coisa e ainda foi tentar colocar aqueles apetrechos futebolísticos para secar (só porque você pensou em mexer com isso na noite seguinte). Aquelas borrachinhas não sairão do tanque nos próximos 40 dias: se transformaram na Terceira Guerra Mundial – e bem na sua área de serviço, amigo!

AGUENTA QUE É PENTA

por Matheus Rocha


Acabei de chegar do Mineirão. São 2 da manhã e ainda corre nas veias o sangue azul cheio de adrenalina.

Não sei nem por onde começar a contar. Se do início para o fim, do fim para o início… São muitas emoções, já dizia Roberto Carlos!

O Mineirão teve hoje uma final espetacular, desde o lado de fora, com as torcidas entrando juntas, shows no entorno. Faltando menos de uma hora, começaram os shows pirotécnicos, com projeções no gramado, luzes e a torcida do Cruzeiro cantando. A abertura e o espetáculo em si, não deixa nada a desejar para grandes finais na Europa. Foi coisa de primeiro mundo. Voltando a torcida, é bom lembrar que os guerreiros azuis mostraram para o Brasil no primeiro jogo da final sua capacidade de empurrar o time e o calar a torcida flamenguista em pleno Maracanã. Eu fui tanto no primeiro, quanto no segundo jogo da final. E, assim como no primeiro jogo, estou também sem voz após o segundo…

Depois de todo show, o Cruzeiro mostrou porque é dos maiores times do Brasil e muito distante do segundo time de Minas – que aliás, nem sei se é grande. Vamos ressaltar que, em Minas os cruzeirenses dizem que o Atlético Mineiro é um time pequeno, mas os atleticanos nem ousam dizer isso do Cruzeiro, afinal reconhecem a nossa grandeza. Nos últimos 20 anos, foram 2 Copas do Brasil e 3 Brasileiros, enquanto a outra “força” de Minas tem tão somente 1 Copa do Brasil e 1 Brasileiro nos últimos 100 anos. Mas isso é outra história.


Coincidências na Copa do Brasil 2017

O Cruzeiro até então havia ganhado 4 Copas do Brasil: 1993, 1996, 2000 e 2003, contra Grêmio, Palmeiras, São Paulo e Flamengo, respectivamente. Em 2017, quem foram os 4 últimos adversários do Cruzeiro? Exatamente São Paulo, Palmeiras, Grêmio e Flamengo. Não tinha como escapar essa taça. Outra coincidência ocorreu nas finais contra o Flamengo: no primeiro jogo da final de 2003, assim como no primeiro jogo da final de 2017, ambos no Maracanã, ambos terminaram em 1 a 1, ambos com gol irregular do Flamengo. Mas isso nós não guardamos, nós simplesmente jogamos contra tudo e contra todos.

Recorde

Não poderia esquecer que o Cruzeiro já possuía o recorde de público do Mineirão de todos os tempos na final do Campeonato Mineiro de 1997 contra o Vila Nova, de Nova Lima, com 133 mil pessoas (nem precisa dizer que eu estava lá!).

Ontem, o Cruzeiro bateu o recorde do “novo” Mineirão com 61 mil pessoas.


Minhas premonições

Essa última parte da coluna é egocêntrica, pois foi tudo dito por mim na arquibancada do Mineirão durante os jogos e só tenho uma testemunha: meu amigo de arquibancada Guilherme Almeida. Se você, leitor, quiser acreditar, pode acreditar!

O jogo contra o Palmeiras foi sofrido (como todos os outros), mas ainda nas quartas de finais. Quando o Diogo Barbosa, lateral esquerdo, marcou aquele gol de cabeça, onde ele mesmo disse: “no lugar errado, na hora certa”, do modo que foi o jogo eu disse: “esse foi o jogo de campeão!”.

No jogo contra o Grêmio, o Guilherme disse no momento do escanteio: “observa o Léo” e eu retruquei: “O Léo não, fique de olho no Hudson!”. Exatamente naquele escanteio, Hudson foi mais alto que a zaga gremista para marcar. Ainda no jogo contra o Grêmio, eu não tive uma premonição, mas sim uma lembrança. Quando Luan – o melhor jogador do Grêmio – pegou a bola nas disputas de pênaltis para sua cobrança, eu falei: “Se o Alex errou um pênalti a nosso favor nas oitavas de 2004, por que o Luan não perderia?”. Dito, feito e classificado.


(Foto: Agência 17)

E por último, a melhor de todas. Sem prever o resultado, quando o Paolo Guerrero pegou para a primeira cobrança, bati no ombro do Guilherme e falei: “O Fábio só vai pegar o pênalti do Diego!”. Foi o pênalti do título, com o Thiago Neves cobrando na sequencia e fechando a Copa do Brasil 2017.

Não sou Mãe Dinah, mas que eu disse tudo isso, eu disse!!!

Agora é só esperar amanhã para ver e ouvir o Chico Pinheiro, atleticano declarado, dizendo que o Cruzeiro é o novo Penta Campeão da Copa do Brasil!!!!

SEM FRONTEIRAS

texto: Matheus Rocha | fotos: Alain Gavage


A primeira vez que saí do país foi aos 25 anos para estudar inglês na África do Sul – isso foi antes da Copa por lá. Me perguntaram o porquê: simplesmente por curiosidade.

Mal sabia eu as voltas que o mundo dá. Somente três anos depois recebi uma proposta para ir trabalhar em Conakry, capital da Guiné, pela Vale. Minha única experiência fora do país havia sido na África do Sul, e agora retornando ao continente africano. Liguei para casa, com minha esposa grávida de 36 semanas (9 meses), dizendo que havia uma proposta muito boa para ir para a África Ocidental. Não era aquela África do Sul, com desenvolvimento – era a República da Guiné, ou Guiné Conakry – um dos 10 países com pior IDH do planeta. Agora, meu biótipo não deixava enganar: loiro e olhos claros, um legítimo africano.

Assim, antes que o Samuel Rosa, grande cruzeirense, colocasse a Guiné em versos: “Que seja no Japão / Jamaica ou Jalapão / No Jaraguá ou na Guiné / De charrete ou caminhão / De carro ou caminhando a pé / Eu vou”, eu já tinha ido para lá. Mas me parece que esse trecho da música seria onde e como vou jogar uma bela pelada.

Íamos com alguma frequência para a “Île de Los”, próximo à capital Conakry. Um certo dia, os nativos estavam jogando bola por lá. Não perdi a oportunidade de entrar lá. Todos bem mais novos que eu – já estava quase com 30 anos-, deviam ter cerca de 20 anos de idade. Ainda deu para dar um sangue extra, apesar de estar totalmente fora de forma. Ou melhor, na forma arredondada do Ronalducho.

Observando a forma de jogar, a gente entende o porquê a África, apesar de ter jogadores fortes e habilidosos, não consegue evoluir em termos de futebol sendo grandes potencias. Naquela pelada era visível como os nativos eram “afoitos” e, podemos dizer, inocentes: entravam sempre “de primeira” nas bolas: um corte para o lado era o suficiente para tirar a marcação da jogada, assim como também era a melhor oportunidade de salvar o próprio joelho!

Cruzeirense apaixonado, Matheus Rocha não perde um jogo do time no Mineirão e, sempre que viaja, leva uma camisa do clube e sai em busca de peladas pela região, mesmo sem conhecer a rapaziada! Atualmente faz parte da AGC – Associação de Grandes Cruzeirenses que promove ações em prol do Cruzeiro.

O MENINO QUE JOGAVA SORRINDO

por Victor Kingma


Sorriso era um moleque daquela pequena vila, que tinha uma habilidade impressionante com a bola nos pés. Nas peladas no pequeno e irregular campinho de terra batida, não havia nenhum outro menino que conseguia escapar de seus dribles desconcertantes. 

Descoberto por um desses olheiros do futebol, foi levado para a escolinha de um grande clube. No primeiro treino, assim que recebeu a bola, a meteu no meio das pernas do grandalhão vitaminado que o marcava. Veio o segundo marcador e o serelepe de pernas finas jogou a bola por um lado e pegou do outro. E foi assim até o final, para desespero dos marcadores e delírio dos poucos torcedores que assistiam ao treinamento. 

Terminado o teste, eufórico, dirigiu-se sorridente até o técnico, um desses “professores” de futebol, na certeza que tinha abafado. Então veio a primeira decepção: 

– Você tem habilidade, mas precisa soltar mais a bola. Não pode driblar tanto assim. Futebol é jogo coletivo. Não é pra ficar brincando desse jeito. 

Nos treinos seguintes, sempre a mesma coisa. Toda vez que o menino se excedia nos dribles vinha a repreensão:

– Solta a bola! Joga sério! – “ensinava” o professor.

Num jogo da categoria, inconformado com a ousadia do moleque, que desobedecia as suas ordens e teimava em driblar em vez de passar a bola de primeira, o técnico, aos berros, não só o substituiu como proferiu a bronca que seria definitiva na carreira do garoto: 

– Já te falei várias vezes que isso aqui é futebol, não é circo pra ficar de brincadeira! Daqui pra frente, toda vez que não jogar SÉRIO vou te tirar do jogo. 

Foi a última partida do menino Sorriso. Ele, que aprendeu a driblar por intuição, que ganhou o apelido por jogar sempre sorrindo, talvez por sentir prazer em ver os adversários caídos e sem ação, nunca mais apareceu no clube. Resolveu voltar pra sua terra e, assim, poder se divertir de novo jogando bola nos campinhos de pelada. Não queria mais participar daquele jogo sem graça. 

Até porque, de todas as instruções que seu “professor” de futebol lhe dera, aquela ele definitivamente jamais poderia cumprir: jogar SÉRIO. 

OS CALOS DO ZÉ PERCATA

por Victor Kingma


Charge de Eklisleno Ximenes.

Zé Percata era um zagueirão do interior mineiro. Daqueles que davam pontapé até na própria sombra. Forte como um touro e com quase dois metros de altura, no dia a dia era um sujeito gentil e pacato. Entretanto, em campo, defendendo as gloriosas cores do Guarany, de Mantiqueira, virava uma fera. Principalmente quando algum adversário atingia seus calos, o que geralmente acontecia, pois, para conseguir calçar as chuteiras e abrigar os pés, de tamanho 49, tinha que fazer um furo nas mesmas e deixar as enormes calosidades à mostra.

Certa vez, numa decisão local, no estádio Mantiqueirão, arrumou um tremendo sururu com meio time do adversário, após ter sido pisado no “Nicanor” do pé direito. Além de expulsos pelo juiz, os arruaceiros foram presos. E passaram a noite no xadrez. No outro dia, o delegado local, um pernambucano “linha dura” que assumira a delegacia do lugar, foi chamando, um por um os esfolados brigões e passando-lhes o maior sermão. Por último, chamou o Zé Percata:

–  Gosto de cabra macho! Foi você o valente que brigou sozinho com aqueles cinco?

–  Fui eu mesmo, seu delegado!

– Pode ir embora. Eles continuam presos e você está solto! Já falei com eles que achei uma covardia!

–  Eu também achei que foi, Dotô! Na verdade eu queria bater no time todo, mas os outros seis covardes fugiram!