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O CISNE DE UTRECHT

por Marcos Vinicius Cabral


Amigos de infância, Marco e Jopie eram inseparáveis.

Viviam na província de Utrecht e costumavam patinar nos rios congelados da circunvizinha Maarssen, pequena cidade com pouco mais de 40 mil habitantes, situada na parte baixa da Holanda.

Numa tarde, ao não percebe um buraco no gelo da espessa neve, Jopie caiu para desespero do amigo Marco, que tentou salvá-lo.

Foi em vão.

O amigo morreria congelado e afogado minutos depois, enquanto Marco se aprisionaria por um bom tempo nas lembranças daquele dia.

O tempo passou e o futebol ia sendo apresentado aos poucos ao menino de seis anos de idade pela família van Basten em doses homeopáticas, afim de cicatrizar a ferida aberta pelo infortúnio ocorrido meses antes.

Perdas e danos seriam tão normais em sua vida como (des) amarrar os cadarços das chuteiras.

Passou então a ser incentivado por sua mãe Leny a acompanhar Joop, que além de bom marido e excelente pai, era um zagueiro respeitável nos campos amadores de futebol da cidade holandesa.

Assim o menino não se fez de rogado e mesmo enlutado pela perda do amigo Jopie, seguiu os conselhos de sua genitora.

Não queria – apesar de boa estatura – ser como o velho pai e com seu talento natural, virou o paradoxo do que fora milimetricamente planejado: em vez de defender, ele queria atacar.

Na verdade, na verdade, vos digo: fazer gols mexia com o menino.

Aos sete anos, de mãos dadas com o pai, entrou nos portões do UVV, pequena equipe amadora de Utrecht, cidade onde nascera, e nos treinamentos, encantou a todos pela habilidade.

Por ser mais alto que a maioria dos meninos de sua idade, era impossível não notá-lo: Marco chamava a atenção.

Contudo, dores infernais incomodavam seus tornozelos e numa consulta despretenciosa com o ortopedista do clube, Drº Rein Strikwerda (1930-2006), foi constatado que era necessário parar de jogar ou viver pelos próximos anos confinado numa cadeira de rodas.

Palavras duras demais para uma criança que tinha uma (talentosa) carreira pela frente.


Pai e filho não lhe deram ouvidos e Strikwerda – que ganhou projeção internacional ao descrever a lesão no menisco que muitos atletas sofriam para tratá-la – lavou as mãos.

Ali, na antessala do consultório do médico, Marco van Basten e o pai Joop, se abraçaram, e decidiam que aquele ciclo de três anos havia chegado ao fim.

Foram para o Elinkwijk, outro modesto clube amador e aos dez anos, continuava a ser o mesmo garoto de sempre: habilidoso, goleador, bom driblador e acima de tudo frio, muito frio nas finalizações das jogadas que resultavam na maioria delas, em gols.

Mas o futebol ainda não era o que fazia seus olhos brilharem, o que ocorreria cinco anos mais tarde, quando aos quinze, recém-saído da infância e recém-chegado à adolescência, se apaixonou verdadeiramente pelo esporte e passou a desenhar como passatempo.

Desenhando – não era craque como o cartunista argentino Guillermo Mordillo (1933-2019) – e poucas não foram às vezes que Joop e Leny, ficavam observando o pequeno Marco, sentado no chão e riscando em folhas Moulin du Roy, escudos, uniformes, jogadas, assistências, gols, e tudo que mencionassem dois de seus maiores ídolos: o francês Didier Six e o compatriota Johan Cruyff (1947-2016).

O tempo passava e cada vez mais retraído, os acontecimentos iam arrefecendo seus sentimentos até ser visto por Aad de Mos, então técnico do Ajax, que percebeu no garoto de dezessete anos, um craque na acepção da palavra.

Era 3 de abril de 1981.

Um ano depois, na primeira partida como profissional, em 1982, contra o NEC, foi inesquecível para os ‘Filhos dos Deuses’, que em frenesi, viram seu primeiro gol com a camisa do Ajax, após ter entrado em campo substituindo Johan Cruyff, que prestes a pendurar as chuteiras, dava seus últimos suspiros na carreira, voltando ao time que o consagrou.

Consagração que o atacante de 1,88m com incrível poder de conclusão, alcançaria muito em breve, para ser mais exato em 1983, na estreia na seleção holandesa (e no mesmo ano, na presença no Mundial sub-20).

Cirúrgico em definir jogadas como pouco se viu no futebol, dois anos depois, foi eleito o melhor jogador do ano na Holanda, e em seguida, a Chuteira de Ouro europeia, na temporada 1985/86 parariam em suas mãos, após usar os pés para marcar 37 gols em 26 jogos disputados.


Tudo ia bem, até sua mãe Leny van Basten, sofrer um AVC e em seguida, catorze dias depois, um infarto, no qual fez com que o marido Joop, então incentivador presente da carreira do filho, tivesse que assisti-lá até sua morte.

Sozinho e sem a figura paterna por perto, teve que deixar a casa dos pais, indo viver com Liesbeth van Capelleveen, então namorada, e há vinte e um ano esposa e mãe de seus três filhos.

No fim do mesmo ano, lesionaria pela primeira vez o tornozelo direito, tamanha a vontade que os adversários no Campeonato Holandês chegavam para marcá-lo.

“Se você não jogar e vencer, eu destruo você”, ouviu certa vez do treinador Cruijff – o ídolo que era desenhado por ele quando criança – enquanto fazia tratamento no Departamento Médico, semanas antes da decisão da Recopa contra o Lokomotive Leipzig, no Estádio Olímpico de Atenas, na Grécia.

Levando ou não a sério as palavras do técnico e maior jogador do futebol holandês, van Basten usou a cabeça para lembrar da ameaça quando fazia tratamento para recuperar da lesão no tornozelo direito e com ela marcou aos 21 minutos do primeiro tempo, o único gol da partida, garantindo o título.

Em 172 jogos pelo Gigante de Amsterdã, estufou 152 vezes as redes adversárias e chamou a atenção de Silvio Berlusconi, do Milan, do calcio, o ‘Eldorado’ da bola.

Contratado, em sua primeira temporada, foi comandado pelo então ‘novato’ Arrigo Sacchi e contava com Baresi, Maldini, além dos holandeses Gullit e Rijkaard.

Apesar de conquistar o scudetto com o Milan, o camisa 9 sofreu um bocado com as lesões e participou de apenas 19 jogos, marcando ínfimos oito gols.

A desconfiança, porém, foi deixada de lado logo ao final daquela temporada, quando o matador foi o grande craque da Eurocopa de 1988, disputada na Alemanha Ocidental.

Artilheiro com cinco gols e melhor jogador da competição, van Basten foi essencial para o título holandês, único conquistado pelos holandeses até hoje, marcando inclusive um dos gols mais bonitos da história do futebol na final diante da União Soviética, do lendário Rinat Dasayev.

Ajudou o Milan a conquistar o bicampeonato da Copa dos Campeões em 1988/89 e 1989/90, sobre o Steaua Bucareste e Benfica, e com 32 gols marcados na temporada (19 na Série A e 9 na Copa dos Campeões), se tornou artilheiro no Campeonato Italiano, desbancando o Napoli de Alemão, Careca e Maradona.

Enquanto a equipe do Milan recebia o apelido de L’Invincibile, pela conquista dos dois troféus, ‘San Marco’ chegava ao nível de reconhecimento fora da Holanda inimaginável: era vencedor da Bola de Ouro, da revista France Football, por duas vezes consecutivas.

Obsessivo, continuava mortal e cada vez mais artiheiro – como nos 4 gols marcados contra o Napoli, em pleno San Paolo, e outros 4 contra o IFK Gotemburgo, na já renomeada Liga dos Campeões – o ‘Cisne Holandês’ atravessava excelente fase, a ponto de ser eleito novamente melhor jogador do mundo em 1992 – desta vez pela Fifa e também pela France Football, fato alcançado apenas pelo holandês Cruyff em 1971, 1973 e 1974 e pelo francês Michel Platini em 1983,1984 e 1985 àquela altura.

Mas se o segundo maior jogador do futebol holandês vivia grande fase, na semana em que recebia o prêmio em Kongresshaus em Zurique, na Suiça, o destino lhe sorriria de forma sarcástica, ao sofrer entrada em seu tornozelo direito, quando o Milan enfrentava o Ancona, em 13 de dezembro de 1992, pelo Italiano.

Nunca mais seria o mesmo.

Operado em 21 de dezembro de 1992, pelo Dr. René Marti (1939-2018), teve retirado pedaços da cartilagem e de ossos do tornozelo, e a partir dali, recebeu um prognóstico pessimista: não poderia mais jogar futebol.

No primeiro semestre de 1993, o ‘Gazela’ esteve em apenas três jogos, incluindo atuação apagada na final da Liga dos Campeões e meses depois, passaria pelas mãos do médico belga Marc Martens, em mais uma operação.

Não havia mais o que fazer e a carreira de um dos jogadores mais brilhantes do século XX, chegava ao fim.

Fãs inconformados não aceitavam aquilo naturalmente e o desespero era tanto, que um deles, torcedor do Milan, numa atitude intempestiva, se ofereceu para doar a própria cartilagem de seu tornozelo ao craque, numa cirurgia impossível. 

“Eu não melhorei. Só de ficar em pé o tornozelo já dói, só com uma partidinha de tênis. E não sei se os doutores sempre me ajudaram, já que de 1992 para frente a situação só piorou”, disse recentemente, lamentando não ter jogado a Copa do Mundo de 1994, após o fiasco na de 1990.


Em 18 de agosto de 1995, sem poder sequer fazer um jogo de despedida, Marco van Basten se despediu do futebol aos 32 anos.

O Estádio San Siro, com mais 70 mil pessoas, viu o fim de uma carreira curta, mas simplesmente extraordinária.

As dores físicas com que conviveu durante os treze anos como jogador profissional, só passariam em 1996, quando fixou os ossos do tornozelo com parafusos numa operação.

Mas as emocionais, como a perda do amigo Jopie, as palavras duras do Drº Strikwerda, a perda da mãe Leny em 1985 e, recentemente, do pai Joop em 2014, até hoje ressoam na memória perpassando pelos pés, até os 1,88m de altura da cabeça, onde até hoje carrega com si toda sua brilhante, mas trágica trajetória esportiva, de quem foi um dos maiores atacantes de todos os tempos.

Em 2004, quando defendia o Juventus, Ibrahimovic, aos 23 anos, recebeu um conselho do treinador Fabio Capello: buscar inspiração nos gols de Marco van Basten.

“Estávamos no Juventus e ele um dia me mostrou um vídeo dos melhores gols de van Basten e disse: “Você precisa fazer que nem ele”. Eu era jovem e aprendi muito com esse antológico jogador. Daquele dia em diante, eu comecei a marcar como os grandes”, afirmou o sueco à época.

PARABÉNS, SHEV!

por Italo Correa


Falar de Shevchenko não é uma tarefa muito difícil, afinal, para um amante de futebol mundial como eu, considero como um dos responsáveis por me fazer começar a acompanhar o Cálcio, o tão bom campeonato Italiano…

Minhas lembranças de Shev começam em 2002 quando inicia o ápice da carreira desse “Monstro”, se tornando artilheiro da Itália e fazendo raiva nos rivais do clube de Milão. O que me encantava em Shevchenko era a facilidade em que se posicionava nas proximidades do gol, ele fazia de um jeito como se fosse uma tarefa fácil.

No auge de uma carreira já vitoriosa começou conquistar títulos, individuais e coletivos. Uma temporada 2003/2004 espetacular ao qual o Milan conquistou o tão sonhado Scudetto tendo o ucraniano como destaque da equipe, fazendo assim Schev ganhar a bola de ouro em 2004 com tantos craques em atividade, como o Bruxo Ronaldinho Gaúcho. Daí a carreira de Andriy só foi a deslanchar… Talvez um arrependimento que eu tenha é de não me recordar do tão feito histórico que conseguiu Shevchenko em pleno Camp Nou, marcando gols e surpreendendo o incrível time do Barcelona… Certamente o “Rei da Ucrânia” foi um dos maiores responsáveis por despertar meu interesse no Futebol Italiano e virar um admirador do A.C Milan, cujo sou até hoje. Obrigado Shevchenko por me proporcionar o prazer de assistir e acompanhar uma das lendas do futebol mundial como você !

FIQUE DE OLHOS BEM ABERTOS: SEU TIME PODE SER COMPRADO EM BREVE PELOS CHINESES. COMO SERIA PRA VOCÊ?

por Cesar Oliveira


Torcedores de Inter e Milan protestaram contra o horário do clássico

Torcedor troca de mulher, mas não troca de time. Hei de torcer até morrer. Você nunca caminhará sozinho. Até a pé nós iremos. Eu teria um desgosto profundo se… meu time fosse vendido, principalmente para um investidor estrangeiro, sem nenhuma relação com a história do futebol brasileiro.

Como se sabe, isso acaba de acontecer na Itália, com Internazionale e Milan, ambos da charmosa cidade de Milão, realizando o primeiro “clássico chinês” da história do futebol da Bota. A entrega é tanta que o “derby” da semana passada foi realizado em horário que se acomodava ao fuso horário. Meio-dia e meia na Itália, 19h30 na China, bem no horário nobre.

Depois de uma negociação arrastada e de atraso no pagamento das parcelas, o Milan do complicadíssimo Silvio Berlusconi foi oficialmente adquirido na quinta-feira, 13 de abril, pelos chineses. Compra sacramentada pelo grupo Rossoneri Sport Investment Lux, liderado pelos investidores chineses David Han Li e Yonghong Li (este, já proclamado o novo presidente do clube).

E, desde junho do ano passado, a Internazionale é comandada pelo Suning Commerce Group (dono da equipe do Jiangsu Suning e dos passes de Ramires, Alex Teixeira e Jô); o manda-chuva é o indonésio Erick Thohir, que também tem participação no clube.


Há tempos, os times ingleses vinham sondando o mercado oriental, trazendo jogadores de olhinhos puxados para seus times, e olho grande no gigantesco potencial do mercado chinês. Afinal, quem não quer uma torcida com algumas centenas de milhões de torcedores, vendendo camisas e mais camisas do outro lado do mundo?

Não sei o que pensam disso os torcedores dos clubes brasileiros, todos pendurados em dívidas monstruosas, impagáveis e, também, que não pretendem pagar?

Como você se sentiria?

O FUTEBOL COMEÇOU NA CHINA

Segundo registros milenares, por volta de 3000 a.C, militares chineses praticavam um treinamento chamado “tsu-chu”, que tem enormes similaridades com o nosso bom e (não tão velho) futebol. O velho e violento esporte bretão teria sido inspirado nessas práticas?

Conta-se que, durante a dinastia do imperador Huang-ti (conhecido como “o Imperador Amarelo”, que teria reinado entre 2697 a.C. e 2597 a.C.), após as guerras, equipes eram formadas para chutar a cabeça dos soldados inimigos.

Eram dois times de oito jogadores. E o objetivo era passar a cabeça, de pé em pé, sem deixar cair no chão, tentando fazê-la atravessar por dentro de duas estacas fincadas no campo (seriam os ancestrais das “balizas”?), ligadas por um fio de seda.

Com o tempo, as cabeças foram substituídas por esferas de couro, revestidas com cabelo (seriam escalpos?). Essa prática era chamada “tsu-chu”, que em chinês, significa “bola recheada” (tsu), “feita de couro” (chu).

AMARELO E INTELIGENTE

O Imperador Amarelo não era um qualquer. Tido como muito inteligente, é considerado como o ancestral de todos os chineses da principal etnia da China – a etnia Han. Ele introduziu o Calendário Chinês e importantes elementos da cultura chinesa, tais como o Taoísmo, a Astrologia, a Medicina Chinesa e o Feng Shui.

Veja mais sobre o “Tsu Chu” no YouTube:

FIFA RECONHECE ORIGENS

No dia 4 de fevereiro de 2004, a Fifa reconheceu que “os chineses, e não os ingleses, inventaram o futebol”. Segundo o então secretário-geral da entidade, o francês Jerome Champagne (dirigente da entidade entre 1999 e 2010), “os historiadores do futebol concluíram que uma forma rudimentar do esporte teria surgido na China. Os ingleses apenas criaram as regras que se tornaram a base do futebol moderno”.

Nem imagino o que pensam disso os velhinhos da Board…


O chamado “cuju” seria o primeiro embrião do futebol. E a cidade de Linzi, capital do antigo Reino Qi, o lugar original do futebol. Em Chinês Antigo, “cu” (sem gracinhas, por favor, isso aqui é História…) significa “dar pontapé”, e “ju” significa bola. É provável, por questões linguísticas que não nos é dado entender facilmente, eis que a Língua Chinesa tem milhares de meandros; então, quem sabe “tsu-chu” e “cuju” podem se referir ao mesmo jogo?

Historiadores asseguram que, por volta de 300 a.C., o “cuju” já era um jogo muito popular na cidade de Linzi, que atualmente integra a província de Shandong, no leste da China.

No século primeiro, na Dinastia Han, haveria sólidos regulamentos sobre o “cuju”. Até a Dinastia Tang, a técnica de produzir a bola foi sendo aprimorada. Usavam-se oito peles de vaca para formar a superfície; e, para encher a bola, bexigas de animais (ao invés de crinas de cavalo ou cabelos). Esta seria, então, a primeira vez que surgiu a bola com preenchimento de ar no mundo.

Na Dinastia Song, os bons jogadores de “cuju” eram respeitados e assediados por admiradores e até podiam alcançar uma alta posição social e política. Eram as celebridades do esporte, sem as facilidades de comunicação que temos hoje, em que qualquer zémané vira um sucesso de mídia.

O historiador Bai Yunxiang, da Academia da Ciência Social da China, afirma:

“Nossos ascendentes inventaram o ‘cuju’, uma antiga forma de futebol e elaboraram seus regulamentos, o que deu uma base para o desenvolvimento do futebol moderno. E esta é mais uma contribuição da China antiga para a civilização humana. Acredito que o esclarecimento da origem do futebol favorece o desenvolvimento deste esporte na China”.

A opinião de Bai Yunxiang conseguiu consenso junto aos responsáveis pelo esporte na China. Segundo Yuan Daren, diretor do Departamento do Estudo Histórico da Administração Estatal de Esportes da China, “a descoberta é um sucesso, e foi conseguido por parceria de especialistas de estudos históricos esportivos e da Arqueologia. Queremos aproveitar esta oportunidade para impulsionar o desenvolvimento do futebol da China”.

UM MARCO POLO ÀS AVESSAS


Rowan Simons

O inglês Rowan Simons, um lateral-esquerdo das peladas das tardes de domingo, veio ao Brasil, a passeio, bem na época da Copa de 1986 e andou pelo nosso País atrás de futebol.

Tal como aconteceu com os pioneiros do futebol no Brasil (Charles Miller, em SP; Thomas Donohoe, no Rio de Janeiro) – e seguindo orientação de amigos –, Simons trouxe várias bolas para o Brasil. Segundo seus amigos aconselharam “uma bola de futebol abre portas no Brasil”. Ele percebeu isso por ter conseguido contornar situações de ameaça com a proposta de uma “pelada”, simplesmente apresentando uma bola. O mesmo se deu na Argentina; imaginem, um inglês por lá, as feridas da Guerra das Malvinas ainda sangrando…

A experiência vivida aqui – que levou Simons desde a Transamazônica até o Cone Sul –, o incentivou a buscar novas experiências pelo mundo. Como seria na China? – imaginou. E se preparou para isso, estudando chinês intensivamente durante um ano, na Universidade de Leeds, quando voltou à Inglaterra.

Chegando à China, em 1987, e aproveitando a amizade de antigos colegas da universidade inglesa, procurou – mas não conseguiu –, encontrar um clube amador de futebol no qual pudesse jogar. E, pior, descobriu que todos os encontros que envolvessem dez ou mais pessoas tinham que ser submetidos à aprovação das autoridades governamentais. Mesmo com a falta de interesse dos chineses pelo jogo, Rowan conseguiu organizar pequenos campeonatos e atrair a atenção da nação para o futebol.

UM INGLÊS VIVENDO NA CHINA

Ele viveu na China por 20 anos e virou uma celebridade. Ensinou futebol como um esporte que, praticado de maneira amadora, traria benefícios sociais e de saúde. Não foi fácil, naquela época em que juntar pessoas, mesmo que para a prática esportiva, era visto com maus olhos.

Como parte do seu projeto, fundou o China Club Football FC, clube de futebol amador de estilo inglês para expatriados e, depois, principalmente moradores. Tem mais de quatro mil membros, tornando-se um dos maiores clubes de futebol amador em Pequim. Veja o site do clube: (http://www.clubfootball.com.cn/).

TRAVES DE BAMBU RESUME EXPERIÊNCIA


Como fruto dessa odisseia, Rowan Simons escreveu um livro: “Traves de Bambu (Bamboo Goalposts) – como a China aprendeu a amar o futebol”, tradução de Carlos e Anna Duarte para a Editora Record (2008). O subtítulo do livro, em inglês, explica melhor as intenções e objetivos do autor: “A busca de um homem para ensinar a República Popular da China a amar o futebol”.

A edição chinesa de “Traves de Bambu” foi publicada inicialmente como uma série do “Titan Weekly”, o maior jornal esportivo da China, em fevereiro de 2008, e depois editado lá pela SEEC, em março de 2008. O livro mereceu uma versão em francês: “Des Bambous dans la surface de réparation – l’historie vrai de l’Anglais qui a fait jouer au football um milliard de Chinois”, uma edição da Editions Intervalle (2012).

Na obra, autobiográfica, Rowan narra sua longa jornada, por mais de 20 anos, para ensinar os chineses a amar o futebol, inspirada na iniciativa individual dos pioneiros do futebol amador, que levaram o esporte aos confins do mundo no século passado. O desafio era contar a história do futebol num país sem chuteiras. E ele o fez de modo bem-humorado. A narrativa é divertidíssima e cheia de informações interessantes sobre o país.

Fluente na língua, durante muitos anos Rowan tentou explicar na televisão chinesa, como apresentador, o que o futebol significava. Virou celebridade e referência da garotada que queria começar a jogar bola.

“Traves de Bambu” é a descrição de uma odisséia pessoal inspirada pelos pioneiros altruístas do futebol amador, que levaram o futebol pelo mundo nos séculos passados, mas, por algum motivo, esqueceu a China.

UMA CELEBRIDADE NA CHINA


Simons vive na China, é apresentador na Beijing TV, tem sua própria empresa de mídia – The Susijn Agency – e dirige o “Guinness World Records” na China. Mas é mais conhecido por sua carreira como comentarista de futebol na TV de Pequim e como defensor da reforma do futebol.

Ele concedeu uma esclarecedora entrevista à jornalista Liu Zheng, do South China Morning Post, falando da sua extraordinária de ensinar Inglês nas escolas durante a prática do futebol.

ENTREVISTA

Como você se interessou pelo futebol?

Minha família é fã de esportes. Meu pai ama o rúgbi, minha mãe era membro de um clube de tênis. Ainda joga competições aos setenta anos de idade. Eu era o capitão da equipe da minha escola e capitão da equipe do meu clube de 10 a 13 anos, na cidade de Guildford, em Surrey, ao sul de Londres. O meu primeiro clube foi o Ockham FC. Mas nunca joguei futebol profissionalmente.

Como começou sua aventura na China?

Eu vim para a China em 1987, como estudante. Estudei Chinês na Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim. Gostei muito do meu tempo e antevi uma enorme oportunidade para desenvolver minhas coisas na China.

Naquela época, nada acontecera na sociedade de consumo. Qualquer coisa que eu fazia impressionava o povo chinês, qualificadas como “idéias incríveis”. Mas era apenas porque eu vim de um país mais avançado no esporte.

Consegui um emprego na TV Central da China e decidi ficar. Trabalhei originalmente como professor de Inglês para os locutores do canal. Mais tarde, nos anos 1990, virei comentarista de futebol na televisão de Pequim.

Um inglês comentando sobre o futebol chinês?

Sim, para a Premier League e da FA Cup. Era comentarista convidado. O programa tinha dois anfitriões e um comentarista convidado chinês também. Eu comentava a partir de uma perspectiva de fãs de futebol Inglês sobre a história dos clubes, as rivalidades entre as equipes, os contextos culturais e um pouco de humor.

Na TV britânica, você não precisaria disso, porque todo mundo já sabe que o Manchester United foi fundado por trabalhadores de ferrovias, mas o público chinês precisa desse tipo de experiência.

Foi muito difícil no começo porque a linguagem era lenta para traduzir. Mas depois foi divertido.

Como foi fundado o seu clube de futebol?

Adoro futebol e queria jogar futebol. Mas descobri que não havia futebol na China. Não havia clubes, ligas locais, equipes amadoras, futebol nas escolas. Não encontrei qualquer dessas coisas que são normais na Inglaterra.

Nos anos 1980, o futebol inglês já era muito conhecido em Pequim e as grandes cidades; e o futebol europeu era muito popular na TV. Mas ninguém jogava futebol. Apenas assistiam, como um entretenimento na TV. Era muito estranho para mim.

Então, eu tentei organizar uma equipe para estrangeiros, para começar a jogar. primeiro, como amador. Houve um rápido crescimento de negócios e o patrocínio de futebol no país – mas os habitantes locais ainda não jogavam.

Então, finalmente, em 1997, decidi que o futebol de base poderia ser um bom negócio; e que o futebol poderia ser um negócio na China, como em toda parte do mundo.

Por que é diferente administrar um clube de futebol na China?

Foi muito difícil fazer acontecer porque, naquela época, o esporte era uma atividade controlada pelo governo. Todas as associações são órgãos governamentais.

Demorou muito tempo para obter permissão. Passamos quase um ano tentando explicar que não queríamos nos tornar um clube de futebol profissional, como o Beijing Guoan, e que nós só queríamos organizar o futebol amador, o futebol de base. Essa era uma ideia muito diferente para eles.

Obtivemos nossa licença em 2001 e começamos o negócio de futebol de base. Não houve financiamento externo. Foi autofinanciamento. Mas nós ficaríamos gratos por algum apoio de patrocínio.

Como você transformou um clube do passatempo de expatriados em um negócio comercial?

Foi possível fazer quando obtivemos nossa licença em 2001. Já estávamos contratando árbitros, jogando uma liga de forma livre. Assim que formamos a empresa, tudo isso mudou. O futebol infantil começou em 2004.

O pensamento por trás disso é simples. Ao olhar para os investimentos dos estrangeiros no nosso clube, vimos muitos professores de Inglês, que alguns deles também tinham qualificação para serem treinadores de futebol.

Aí, pensei: e se nós trouxermos o ensino de Inglês junto com a prática e ensino de futebol? Aprender inglês enquanto joga futebol poderia ser uma boa idéia. Pedimos a essas pessoas para trabalharem conosco e ensinar Inglês através do futebol. Foi assim que começou.

Aprender Inglês jogando futebol motivava os pais da classe média chinesa?

Sim, nosso primeiro cliente foi a Escola Internacional de Pequim. Fornecemos classes de futebol de alto padrão para seus alunos. Então, começamos a construir alianças com outras escolas internacionais, que ficaram felizes em trabalhar conosco. Daí, começamos a ir às escolas chinesas, que era mais complicado.

Conseguimos finalmente atingir a nova geração de pais chineses, que são bem educados, que desejam mais para o seu filho, querendo que seus filhos sejam felizes e tenham uma educação equilibrada.

Aprender inglês enquanto jogava futebol era um ponto de venda muito importante para convencer as mães a deixarem os filhos ir jogar.

As pessoas gostam da nossa equipe. São quatorze treinadores europeus qualificados. No começo, só tínhamos crianças estrangeiras. Agora, 70% das crianças são chineses.

Qual foi o maior desafio?

Desde nosso primeiro ano, em 2001, levamos doze anos até atingir o equilibro financeiro. Doze anos de lutas muito grandes. Sem a paixão muito profunda das pessoas envolvidas, não teria sido possível.

O ano de 2008 foi o pior ano para o nosso negócio em nossa história por causa dos Jogos Olímpicos, que quase matou esportes de base em Pequim.

Durante todo o verão, houve proibição de atividades por conta dos Jogos Olímpicos. Todas as nossas atividades foram proibidas durante todo o verão olímpico. Foi um desastre. Muitos pequenos clubes esportivos não sobreviveram. Conseguimos sobreviver, porque já estávamos com certo porte; então, tivemos algum impulso. E focamos nosso negócio no período da primavera e do outono. Mas foi muito difícil.

As autoridades chinesas do futebol o consideravam como um desafio ao sistema?

Não temos problema com o Governo. Eles não nos criam qualquer problema, nem interferem com o que fazemos, o que é bastante incrível para mim. Mas também mostram o quão longe o Governo estava de até mesmo entender o que o futebol deve ser, e que eles realmente não precisavam se preocupar com o que estávamos fazendo.

Sou o presidente do maior clube de futebol de Pequim. Temos jogadores jogando todos os fins de semana em Pequim, em 30 locais, por toda a cidade. Mas eu não tenho participação na Associação de Futebol de Pequim, e eu não vejo como contribuir com a AFP em nossa cidade.

Isso é pelo fato de você ser estrangeiro?

Historicamente, a AFP era uma organização governamental, então não havia espaço para um estranho, seja você estrangeiro ou chinês.

Agora, o Conselho de Estado emitiu o Plano de Reforma do Desporto. Foi um dia muito, muito feliz para mim.

Diz muito claramente que a FPA tem que mudar e se abrir. Que o Governo deve se retirar do controle, e a FAP deve ser dirigida pelas partes interessadas de futebol, especialistas e, muito especificamente, fala de “especialistas internacionais”.

O plano foi publicado em 2014, há dois anos. A mudança realmente está acontecendo?

Não vi nenhuma mudança prática. O plano de reforma é um plano maravilhoso, um plano de longo prazo que a China precisa. O presidente Xi Jinping colocou a reforma da FPA no topo de sua agenda, mas também é a coisa mais difícil.

O que foi parar a reforma? Por que a reforma é tão difícil?

Quando eu vi o discurso do presidente sobre a reforma do futebol, achei que ele estava perguntando à China uma questão muito maior; se a China, como uma grande sociedade, poderia realmente organizar corretamente algo tão simples quanto o futebol. Se não conseguimos organizar o futebol adequadamente, como podemos pensar sobre a nossa sociedade civil?

O grande problema na China que os esportes abordam, diretamente, é a corrupção. O jogo justo é o cerne dos esportes. É o problema da China?

São princípios e moral, como o respeito mútuo, o respeito pela verdade, o respeito pelo fair-play, o respeito pela meritocracia. Estas são as coisas que está faltando na China e que os esportes poderiam trazer.

O que mais na sociedade ou cultura chinesa você considera relevante para o desenvolvimento do futebol?

Vejo surgir uma classe média ávida pelo tipo de experiência e qualidade de vida que vem nos clubes, nos grupos sociais e nas sociedades. Essa é também a base do futebol de base.

Pode o seu modelo de clube ser copiado para grandes cidades como Xangai, onde a classe média se desenvolveu? Você já tem esse plano?

Sim. Cada cidade deve ter sua rede. Mas a capacidade de treinar é um grande problema.

Começaremos a nos mudar para cidades diferentes. Mas a verdade é que, depois de todo esse tempo, o mercado de Pequim ainda tem muito espaço para o crescimento. Há um longo caminho a percorrer.

Quando você se considerará bem sucedido com seu clube de futebol da China?

Um termo recentemente popular é “empreendimento social”. Nós precisamos nos encaixar neste segmento.

Gostaríamos de ganhar dinheiro e merecemos, e é possível porque pode ser em qualquer mercado desenvolvido com uma classe média que busca qualidade de vida e paga por experiências de qualidade. Mas também produzimos impacto na sociedade. Estamos construindo comunidades e amizades.

Outra coisa que vi na China foi a estratificação da sociedade, pouca mobilidade entre os níveis sociais. É possível para o motorista do táxi se encontrar com o CEO de uma grande corporação na sociedade chinesa? Achamos que o esporte oferece um campo justo e equitativo.

O produto secundário do nosso plano é ter muitas crianças felizes. Não sei se vai sair daqui um jogador para a seleção nacional da China; mas este não é o nosso objetivo. Mas se você quer uma equipe nacional e usar o atual sistema soviético, meu caminho vai funcionar mais rápido.