por Zé Roberto Padilha
Os coadjuvantes das maiores obras de arte já produzidas pelo futebol brasileiro, embora momentaneamente abatidos pela genialidade da vez, deixaram o esporte sem traumas. De cabeça erguida, penduraram suas chuteiras porque entre eles e a bola havia um pincel de Michelangelo. E nos pés destes o respeito.
O elástico de Rivelino jamais humilhou o Alcir. Foi executado de frente, assim como drible de corpo do Pelé no goleiro uruguaio, Mazurkiewicz. Mesmo a dança de Mané Garrincha sobre seus Joãos, o dois pra lá, dois pra cá, combinava com sua pureza. E humildade. À vítima, prostrada, só restava o consolo de saber que entre suas pernas, da bola que passou ao seu lado e da ginga de um doce e inocente palhaço jamais seriam apagadas. E eles, ao contrário de muitos, não seriam esquecidos no Baú do Esporte pela história de um país sem memória.
O Brasil, hoje, tem apenas um gênio da bola. Mas que consegue empanar cada dose de genialidade com ares de deboche. Pode ser no Maracanã ou no Aterro do Flamengo, casa cheia ou só com o olhar do vigia: a caneta e o lençol efetuados em direção ao gol é um recurso. Para trás é mais que o fim de um contra ataque. É provocação. Quando aplicada e vir seguida daquela risadinha Neymariana, provoca até dos mais disciplinados marcadores a mais violenta das reações.
Perdemos uma Copa do Mundo não durante uma terça-feira no Mineirão, mas porque nosso maior jogador provocou tanto os colombinaos em um sábado anterior, que um deles o acertou. Machucado, cedeu seu lugar ao Bernard, comum como todos os outros de amarelinho, que pouco pode fazer para evitar os 7×1. E tem sido assim ao longo de sua carreira, Neymar encantando, dando show, Neymarra provocando e sendo expulso. Como um ídolo pode ser exemplo, uma referência para crianças e adolescentes como foram Pelé, Gérson, Tostão e Zico, se ele não carrega o respeito aos adversários colado à bola que tanto reverencia?
Nossa esperança era que ao ir jogar no Barcelona, ao lado do maior jogador do mundo, o Messi, Neymar seguiria seus passos. O craque argentino só encantava, não reclamava nem provocava os adversários. Mas no lugar de Neymar mudar, quem mudou foi o Messi. Desde a chegada do brasileiro, se encheu de tatuagens, pintou o cabelo de branco e já começou a reclamar com o juiz. Daqui a pouco vem desfilar no Salgueiro. O “diz com quem jogas e te direis quem és”, infelizmente, influenciou o cara errado. E logo agora que o Suarez tinha parado de morder seus adversários.
Fica a grande questão: é melhor vencer a Venezuela sem brilho, mas com respeito, ou ganhar de goleada e ter em campo um atleta que provoca para ser caçado por nossos adversários? Um ídolo é também um embaixador de sua pátria. Durante as Olimpíadas, Usain Bolt nos fez admirar a Jamaica tanto como Bob Marley. E Michael Phelps, com sua gentileza e recordes, melhorou por aqui o conceito norte-americano. Mesmo através de um craque, será que é este o Brasil, da soberba, da ironia carregada junto ao seu maior símbolo, uma bola de futebol, que queremos nos apresentar ao mundo?