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Marcos Vinicius Cabral

VOZES DA BOLA: ENTREVISTA ZENON


O destino, involuntário, sempre conduziu a vida do catarinense Zenon de Sousa Farias, hoje com 66 anos. O primeiro sinal disso, e que mudaria pra sempre os caminhos do então moleque, que gostava de jogar bola em campos de várzeas, mas nunca pensara em ser jogador de futebol profissional, aconteceu em 1971. Pois é, para quem pergunta qual o significado do nome Zenon: Zenon significa poderoso e gentil, e deriva do grego antigo.

Na versão polonesa, Zenon corresponde a Zenão. Zenon de Cítio foi um filósofo grego, discípulo de Sócrates da Democracia de Atenas, na Grécia.

Zenon de Sousa Farias foi um craque de bola, contemporâneo e companheiro do Doutor Sócrates na ‘Democracia Corinthiana’.

O destino é f…

Zenon já tinha 17 anos quando foi levado por um ‘olheiro’, para um teste no Grêmio, de Porto Alegre.

Recebeu o ‘não’ de um treinador da base do clube gaúcho e voltou para suas ‘peladas’ em Santa Catarina.

Dias depois foi assistir a um treino do Hercílio Luz, tradicional clube da cidade portuária de Tubarão.

Quis o destino – olha ele aí de novo -, que faltasse um jogador para completar os ’11’ do coletivo.

Zenon foi chamado para sair detrás do gol e entrar em campo, de onde só saiu 20 anos depois, após ‘pendurar as chuteiras’.

Em entrevista para a série ‘Vozes da Bola’, Zenon rememora sua história dentro dos campos, desde sua ascensão e glória no improvável escrete do Guarani de Campinas, campeão brasileiro em 1978; fala sobre uma mágoa com Telê Santana por tê-lo preterido em convocações para as Copas de 82 e 86; destaca sua brilhante passagem pelo Corinthians; e revela uma frustração por não ter jogado no Flamengo ao lado de Andrade, Adílio e Zico.

por Marcos Vinicius Cabral

Por que você apareceu tão tarde para o futebol? Como foi o seu início de carreira?

Minha carreira no futebol só começou quando eu tinha 17 anos, no segundo semestre de 1971, quando eu nem pensava mais em ser jogador de futebol. Estava nas arquibancadas assistindo a um treino do Hercílio Luz, clube da cidade de Tubarão, próximo à Florianópolis, quando me chamaram para completar o time reserva porque faltava um jogador. Depois daquele treino fui convidado para fazer parte da equipe.

Mas, você então já jogava bola, né? Tem a história de que você foi rejeitado no Grêmio. Explica aí essa história. O que aconteceu?

Então, eu tinha 17 anos e já estava ‘velho’ para começar uma carreira de jogador. Mas, no primeiro semestre de 1971, um senhor me viu jogando em times de várzeas, e me convidou para ir treinar no Grêmio, para ficar uns dez dias. Quando cheguei, o treinador demonstrou sua predileção por jogadores robustos, fortes. Eu era magrinho, pesava 50 quilos. Ele me disse: “Olha, você bate bem na bola, tem boa visão de jogo, sabe jogar, mas é muito franzino para o nosso clube”. Foi isso.

Azar do Grêmio, né!? Mas do Hercílio Luz você foi para o Guarani?

Não! O Guarani surgiu na minha vida devido às grandes atuações que tive lá no Avaí, em Florianópolis, para onde fui depois do Hercílio Luz. Cheguei no Avaí em 1972 e fiquei três anos, onde fui bicampeão Catarinense. O Guarani foi o clube que acreditou no meu futebol e negociou com o Avaí a minha compra. Por isso que eu vim para Campinas.

Quem foi sua grande inspiração no futebol?

Eu tive dois ídolos em quem me espelhei muito. Na Copa do Mundo de 70, quando vi Rivellino e Gérson atuarem, busquei me inspirar nos dois e considero que segui um pouco o estilo de cada um.

Camisa 10 do Guarani, campeão brasileiro de 1978, e camisa 10 da ‘Democracia Corinthiana’ no início dos anos 1980. O que representaram os dois clubes em sua carreira?

Guarani e Corinthians representaram muito na minha vida. Ambos me deram uma credibilidade, uma representatividade em termos de me denominar craque de futebol. Até hoje sou lembrado pelos amantes desse esporte, por ter vestido as camisas do Bugre e do Timão.

Suas atuações no Guarani lhe credenciaram a vestir a camisa da Seleção Brasileira. Foram quatro partidas no ano de 1979, inclusive duas válidas pela Copa América. O que faltou para você ter uma continuidade com a ‘Amarelinha’?

Verdade! A primeira partida foi contra o Ajax; depois duas contra a Bolívia, uma contra a Argentina e outra contra o Paraguai, quando fiquei na reserva, lá no estádio Defensores del Chaco, em Assunção. Ou seja, cinco participações na Seleção Brasileira, sendo quatro atuando e uma no banco de reservas. No entanto, não tive mais oportunidades na Seleção Brasileira, porque o técnico que entrou após o (Cláudio) Coutinho, não gostava de mim, simplesmente.

Como assim? O técnico era o Telê Santana!

Na verdade, ele não ia com a minha cara, e até hoje, não sei se foi birra que criou, pois eu contra os times dele, sempre tive grandes atuações. Posso te citar como exemplo, a Libertadores de 79, contra o Palmeiras que ele treinava, e onde fui um dos responsáveis pela a eliminação dele, fazendo um gol na vitória de 4 a 1, no Morumbi, e um dos gols no Brinco de Ouro, quando o Guarani venceu por 2 a 0. Então, acho que ele pegou uma cisma comigo, e em virtude disso, não me levou, tanto em 82 na Espanha, quanto em 86 no México, quando vivia grande fase no Atlético Mineiro.

Em 1980 você teve uma aventura curta pelo futebol árabe, jogando pelo Al Ahli. O que te motivou a ir pata lá? Foi o lado financeiro?


Sem dúvidas. Embora não se pagasse muito naquela época lá fora, eu fui ganhar três vezes mais do que ganhava no Guarani. Mas, foi mais interessante para o Guarani. Eles me comunicaram que seria muito interessante para o clube. Fui com contrato de três anos, mas fiquei apenas um, e aí chegou o presidente (Vicente Matheus) na minha vida, lá na Arábia, e me contratou para jogar no Corinthians.

Ao lado de jogadores como Sócrates, Casagrande, Biro-Biro e Wladimir, você viveu o movimento Democracia Corinthiana – um dos grandes marcos da história do futebol brasileiro. O que isso representou na sua vida?

Vestir o manto corinthiano não é para qualquer um, convenhamos, e sei que todo atleta profissional, sonha em jogar no Timão. Eu tive esse privilégio e acho que fui vitorioso, nesses quatro anos e meio em que vesti aquela camisa. Fui bicampeão estadual, chegamos em duas finais de Brasileiro. Foi uma passagem maravilhosa, memorável e inesquecível, ainda mais por ter participado da Democracia Corinthiana. O Corinthians é tão especial em minha vida, que me colocou novamente na Seleção Brasileira, como camisa 10, com a braçadeira de capitão, em um jogo contra uma Inglaterra, no Maracanã, com quase 100 mil pessoas.

E falando em técnico, quem foi o melhor na sua opinião?

Eu tive vários treinadores excelentes. Desde Jorge Ferreira, um técnico que veio do Rio de Janeiro para treinar o Avaí, muito inteligente e ótimo profissional. Depois, eu tive Mário Travaglini, no Corinthians, que foi excepcional; e Carlos Alberto Silva, que mesmo muito jovem na época, se consagrou no Guarani. Era um treinador de muito diálogo com os atletas e por isso está na lista dos meus três melhores, além de Cláudio Coutinho, que era brilhante.

Em 1986, no Atlético-MG, você foi campeão estadual duas vezes, mas teve problemas com o técnico Telê Santana e acabou saindo. O que houve?

O Telê Santana me perseguia. Eu estava na Seleção Brasileira muito antes dele chegar no grupo de 82, e depois em 86, e simplesmente, ele criou birra comigo. Quando jogava contra o time que ele era treinador, eu fazia sempre gols e jogava muito bem, então, ele criou uma antipatia por mim. No Atlético eu havia sido bicampeão, era capitão do time e quando ele chegou me deixou em terceiro plano. Arrumei minhas malas, pedi a rescisão do contrato, e fui para a Portuguesa de Desportos, em 89.

Você foi um exímio cobrador de faltas. Se considera o maior de todos eles ou teve alguém que batia melhor que você?

Olha, na minha época, nas décadas de 70 e 80, todo clube tinha um grande batedor de faltas. Eu sou considerado um deles, e fico muito feliz. Eu treinava muito, mas muito mesmo, e após os treinos costumava ficar uns 40 minutos cobrando faltas, e às vezes, de forma exaustiva. Infelizmente, hoje não temos grandes batedores de faltas. O melhor que eu vi, acima de mim, de Zico, de Dicá, de Roberto Dinamite, de Mendonça, de Ailton Lira, de Pita, de Juninho Pernambuco, de Marcos Assunção, de Neto, e outros que agora não lembro, chama-se Marcelinho Carioca.

Como tem enfrentado esses dias de isolamento social devido ao covid-19?

Essa pandemia tem nos deixado angustiado. Pratico esporte de segunda a domingo, e por aí, você pode imaginar como estou me sentindo. Mas, todos os dias faço meus treininhos para manter, ao menos, a musculatura.

O Maracanã ‘soprou’ 70 velinhas recentemente, de mais um aniversário. Quais são as suas lembranças como jogador no estádio?

Jogar no Maracanã é o sonho de todo atleta de futebol. Entrar e pisar no ‘Templo do Futebol’ é realmente uma coisa de arrepiar. O estádio em si tem muita energia, e eu fiz bons jogos no Maracanã, principalmente em 1978, jogando pelo Guarani, no Campeonato Brasileiro, quando fiz três gols e isso me marcou muito.

E qual foi o gol mas bonito que você marcou nesses 20 anos de carreira?

Os meus gols, sem brincadeira, eram bonitos. Eu não fazia gol feio. Não sabia fazer. Porque sempre chegava de trás, e pegava o rebote da defesa adversária ou em uma cobrança de falta. Num jogo contra o Internacional, em Porto Alegre, eu matei a ‘linha burra’ deles, saindo da minha intermediária e fazendo um gol muito difícil. Se naquela época existisse o Prêmio Puskas, esse gol levaria, por sua feitura, sua inteligência e criatividade, além do improviso. Já os de falta foram dois inesquecíveis: um contra o Santos, em 82, vencemos por 2 a 0; e outro contra o Vasco, no Maracanã.

Qual sua frustração no futebol?


Eu queria ter jogado naquele time do Flamengo que encantava a torcida, jogadores e técnicos. Então, se eu tivesse que escolher um time durante os meus vinte anos de carreira para ter uma passagem, esse time seria o Flamengo. Você já pensou um meio campo com Andrade, Zenon, Adílio e Zico? Seria um quarteto mágico. Mas nunca houve sondagem nenhuma.

O que o futebol representou para o Zenon?

Tudo. Simplesmente tudo. Não imaginava ser atleta profissional de futebol e me tornei um, de muito sucesso, onde conquistei títulos em quase todos os clubes em que passei.

Até hoje você é lembrado pela incomparável habilidade de organizar as jogadas e cobrar faltas, além do bigode que sempre o acompanhou durante a carreira. Do que sente mais saudades da época de jogador?

Eu não sou saudosista. Bato minha bolinha, e dei sequência, quando parei de jogar profissionalmente, na Seleção de Masters do Luciano do Valle, onde disputei quatro Copas do Mundo e em três delas, ganhamos: 89, 91 e 95, no Brasil, Estados Unidos e Áustria, respectivamente.

Defina quem é Zenon?

Genial em campo e fora dele, escolhido por Deus.

VOZES DA BOLA: ENTREVISTA ARTURZINHO


No dia 7 de setembro de 1983, há 37 anos, o Maracanã foi palco da coroação de Artur dos Santos Lima, o Arturzinho, como o ‘Rei Artur do subúrbio de Bangu e Moça Bonita’. 

Pois é, como diz o ditado, ‘Rei morto, Rei posto’. 

Fazia pouco mais de três meses que um outro Arthur (Arthur Antunes Coimbra), o Zico, havia abdicado do trono de ‘Rei da Nação Rubro Negra’, depois de 10 anos de reinado, para tentar conquistar outros súditos na Itália, sede do antigo Império Romano.

Quis o destino que a prova de fogo de Arturzinho pela conquista do trono de Moça Bonita fosse contra a Nação Rubro Negra. 

E ele não decepcionou. 

Fez 4 gols, um deles digno de um ‘monarca da bola’, na histórica vitória do Bangu por 6 a 2 sobre o Flamengo pelo Campeonato Carioca daquele ano. 

No lugar de Zico, no Flamengo, quem ‘comandava’ com a camisa 10 era Júnior, mas Arturzinho e seus ‘cavaleiros’ não tomaram conhecimento.

Poucos torcedores sabem, mas esta disputa  de ‘reinados’ que ocorreu entre o final da década de 70 e meados da década seguinte, está registrada nas páginas das crônicas esportivas. 

Os dois ‘baixinhos’ com o mesmo nome lideraram ’11 Cavaleiros da Redonda’ e se enfrentaram em vários campos de ‘batalhas’ do Brasil, um deles o ‘Maior do Mundo’, o Maracanã. 

De um lado, Arthur Antunes Coimbra, o Zico ou Galinho de Quintino, ‘Rei Primeiro e Único da Nação Rubro Negra’. 

Do outro, Artur dos Santos Lima, o Arturzinho, com súditos conquistados nos reinados das Laranjeiras, de São Januário, e outras ‘plagas’ do Nordeste e Centro Sul do Brasil, mas entronizado como ‘Rei Artur do subúrbio de Bangu e Moça Bonita’.

Com três anos de idade de diferença (Zico nasceu em 1953 e Arturzinho em 1956), e 10 centímetros na estatura (o Galinho tem 1,72 m, e Arturzinho 1,62 m), contam seus ‘súditos’ que os dois se igualavam em talento com a bola nos pés. 

Bem, hoje o ‘Vozes da Bola’ presta reverência a um deles: Arturzinho. 

Ele conta como enfrentou o preconceito pelo pequeno porte físico para o esporte e venceu dificuldades para conquistar seu reinado no futebol. 


“Ei, baixinho: pode sair! E não volte mais aqui!”, foi o que ouviu de um dirigente da Portuguesa-RJ, que apontou o portão de saída pra mim. Isso em 1969, quando eu tinha 13 anos e só tinha treinado 20 minutos”, relembra. 

Naquele dia, ele voltou para casa chorando e achou que só restava se contentar em jogar as peladas de rua no Caju, na Zona Portuária do Rio de Janeiro, defendendo o Redentor, time que Seu Amaro, o pai, tomava conta.

Mas, logo depois conseguiu uma chance de treinar na escolinha de futebol de salão do São Cristóvão de Futebol e Regatas, onde ficou de 1969 a 1974, e despertou a atenção de olheiros do Fluminense, onde começou sua carreira profissional.

Hoje, além de treinador, com vários títulos conquistados, Arturzinho é proprietário do Centro Esportivo Social Arturzinho, clube que disputa à série C do Campeonato Carioca.

Por Marcos Vinicius Cabral 

Como vê o Bangu atualmente?

Eu torço muito pelo Bangu. Costumo dizer que no Rio de Janeiro, é o único clube que eu torço para que ascenda e volte a ser o Bangu da minha época, o que disputava títulos todo ano. Hoje, não concordo com a filosofia e nem com a maneira que o Bangu tem trabalhado nesses últimos anos. Na minha opinião, o clube deveria olhar mais para as categorias de base, formar atletas, e acho que o Bangu vem se contentando apenas em trazer, às vezes, jogadores que não atuam de forma convincente e com isso desperdiçando anos e anos sem revelar jogador nenhum. Acho que o Bangu, como uma equipe tradicional do Rio de Janeiro, deveria pensar mais na formação, e consequentemente, no futuro, com a contratação de atletas pontuais, visando formar grandes equipes e postular bons resultados, títulos, conquistas, e pensar na parte de cima da tabela. Hoje infelizmente, entra na competição para não cair, e isso não é da grandeza do Bangu.

Em 22 anos de carreira como jogador, tem duas partidas épicas e que são inesquecíveis para os torcedores do Bangu e do Vitória. Uma foi a goleada por 6 a 2 sobre o Flamengo, no Carioca de 1983, em que você marcou quatro gols. A outra foi o Ba-Vi histórico, em que o Vitória venceu por 1 a 0, mesmo com dois jogadores a menos. Foram realmente suas maiores atuações por clubes?

Foram dois jogos que marcaram muito a minha carreira, sem dúvida. Ganhar do Flamengo em 83, que era um equipe muito qualificada, em que eu tive uma noite muito feliz, fazendo 4 gols, isso fica marcado para o resto da vida e na história. O outro, foi um clássico entre Vitória e Bahia, em que o nosso time, com dois a menos, ganhou de 1 a 0, gol meu de cabeça. Então, são jogos inesquecíveis, e que o torcedor, tanto do Bangu, como o do Vitória, sempre comentam quando a gente tem oportunidade de reencontrá-los.

Ainda pensa em voltar a trabalhar como treinador?


Sim. Tenho inclusive um projeto, estou trabalhando diariamente nele e quando acabar essa pandemia, se aparecer uma oportunidade concreta e que valha a pena, eu posso voltar ao mercado. Eu acho que ainda tenho muito a dar ao futebol e espero que isso aconteça em breve, sem descartar em hipótese alguma, o meu projeto, muito pelo contrário, para que esse projeto seja mais conhecido e a gente possa revelar mais garotos para dar a oportunidades deles virarem profissionais.

Você teve uma passagem curta como treinador do Bangu em 2017, clube onde jogou por sete anos e se tornou ídolo. Por que ficou tão pouco tempo?

A minha passagem como técnico do Bangu, era a realização de um antigo sonho de dirigir o alvirrubro e tentar fazer história. Mas, infelizmente, tive alguns transtornos que fizeram com que ficássemos apenas um mês e pouco, onde a indisciplina imperava. Inclusive, um atleta de renome, queria mandar mais do que eu dentro da equipe, e para não prejudicar o clube e não me desgastar com esse atleta, achei melhor sair. Uma pena, pois é um clube que tenho um carinho muito grande e que eu queria muito fazer história como técnico. Mas Deus sabe o que faz.

Defina Arturzinho em uma única palavra?

Não consigo me definir em uma palavra, mas acho que a melhor definição seria: jogador de Deus! Com o meu tamanho, com o meu corpo, jogando de ponta de lança e ter feito história no futebol, só Deus mesmo, a quem tenho que agradecer sempre. Então, três palavras me resumem: jogador de Deus! Só Ele para justificar como eu virei jogador profissional de futebol.

Quem foi o seu melhor treinador?

Eu tive bons técnicos  com quem eu tive a oportunidade de trabalhar. Posso citar o Edu, irmão do Zico, o Zagallo, outro ótimo treinador, o Didi, que foi sensacional, teve também o professor  Pinheiro, que me marcou muito na época da minha formação no Fluminense e Seu Valdir e Seu Décio, ambos no São Cristóvão, pessoas que foram importantes para mim. Mas o que mais me identifiquei foi Carlos Castilho, ex-goleiro do Fluminense, com quem trabalhei três anos no Operário-MT. Ele me deu uma diretriz correta sobre o que era ser profissional, e dele, extrai alguns pontos e coloquei isso no meu trabalho como técnico de futebol.

Como tem enfrentado o coronavírus?

Estamos guardados dentro de casa e saindo muito pouco, com raras exceções, quando é necessário sair. Às vezes, caminho na praia e tentando conviver com alguns amigos mas de uma forma diferente, em virtude da distância. É lamentável que esse vírus tenha nos deixado em casa, sem contato com as pessoas e a gente torce para que isso acabe logo, ou então, que fabriquem uma vacina o mais rápido possível para voltarmos a ter a nossa vida de volta, além é claro, da convivência com àqueles que amamos.

Por onde você anda e o que tem feito?

Estou no Rio de Janeiro, esperando que essa pandemia acabe, aguardando esses protocolos aí, tanto da Prefeitura, como da FERJ, para reiniciarmos nossos treinamentos. O nosso clube treina no CFZ, de segunda a sexta, de 10h às 12h, e esperamos que tudo se regularize para voltarmos sem nenhum transtorno e tocar o nosso clube, que é um sonho pessoal em fazer dele uma referência na formação de jogadores no futebol brasileiro e com nosso DNA. Se Deus quiser, colocar muitos jogadores no mercado, com qualidade e princípios, e não só futebolísticos, mas com princípios de cidadãos.

Você é o único técnico que conquistou a taça da Copa do Nordeste pelo Vitória e pelo América de Natal em 1997 e 1998, respectivamente. Por que sua carreira de treinador não decolou?

Além desses títulos na Copa do Nordeste, em 97, 98, ganhei campeonatos goianos, conquistei títulos no Joinville, fui campeão na segunda divisão pelo América-RN e outros títulos significativos. Eu acho que a minha carreira não decolou, primeiro porque não tenho empresário, segundo, que meus princípios vão na contramão do que é empregado pelos clubes brasileiros. Tem que ser complacente, maleável, para poder sobreviver, e eu não abro mão dos meus princípios, do meu comando, da minha diretriz, independentemente de, às vezes, até perder o emprego. No Brasil, isso é quase uma condenação das pessoas que têm esse tipo de conduta, mas não me arrependo, até porque faz parte do processo. O mais importante disso tudo é que deito a cabeça no travesseiro e durmo tranquilo.

Você fundou em maio de 2000, o Centro Esportivo Social Arturzinho, dois dias depois do seu aniversário. Era um sonho ter seu próprio clube de futebol?

Eu costumo dizer que realizei alguns sonhos. O primeiro, ter sido jogador de futebol profissional, e graças a Deus, consegui, e depois, ser técnico de futebol, que consegui também. Ser jogador e técnico com excelência, conquistando vários títulos. Depois, um outro sonho que tinha, era ter um clube meu, com meus princípios, minha metodologia e filosofia de trabalho, com ideias que tenho no futebol e agora estou realizando este outro sonho. O clube foi fundado em 2000, mas na época, não estava focado apenas nele, já que estava trabalhando como técnico Brasil afora, mas agora, um pouco mais voltado para isso, bem focado, estou tocando o  

Centro Esportivo Social Arturzinho. Lá sou presidente, técnico, massagista, roupeiro e é uma coisa que me envaidece muito, me deixa muito feliz, pois estou realizando um sonho. Vale frisar, que o meu sonho, possibilita realizar o sonho de outros tantos garotos, que assim como eu, quando garoto, tinha essa vontade em se tornar atleta de futebol profissional. Sinceramente falando, espero que isso dê certo, porque não é somente a parte financeira, é questão de se ter uma oportunidade.

No final dos anos 1990 e começo dos anos 2000, você voltou a atuar com destaque com a camisa do Vitória. Como foi esse período?

Eu cheguei no Vitória em fim de carreira, com 36 anos e tive atuações espetaculares. Eu costumo dizer que no Operário-MT, no Vitória, no Bangu, no Vasco, no Fortaleza, eu fiz partidas fenomenais e tive a honra de vestir a camisa grandiosa do Vitória. Estava nesse momento que cheguei em má situação em relação à credibilidade nos torcedores e conseguimos resgatar isso. Subimos da série B à A e depois fomos campeões baianos em 92, eu jogando e sendo artilheiro da equipe e do campeonato. Eu tenho as melhores recordações desse lugar e até hoje, tenho boas lembranças dessa equipe quando vou em Salvador. Confesso, que tenho um carinho especial pelo Vitória e sei o carinho que a torcida tem por mim, e espero que o clube recupere e volte à elite do futebol brasileiro, pois é um time de primeira grandeza.

Recentemente o futebol brasileiro perdeu a irreverência do ex-ponta Marinho, o Bangu perdeu um ídolo e você perdeu um grande amigo. Como foi jogar com ele e como era sua ligação com ele?

O Marinho foi um amigo e irmão, que o futebol me deu. Mesmo de longe ultimamente, eu sempre lembrava dele e torcia para que se recuperasse em todos os níveis, não só clinicamente, mas também emocional e de autoestima. Vou confessar aqui, que a primeira vez na vida que eu chorei por causa de um amigo, foi quando nos reencontramos em Belo Horizonte, depois de bastante tempo sem vê-lo. Marinho foi o maior jogador com quem eu tive o privilégio de jogar, apesar de ter jogado com Pintinho,  Rivellino e outros grandes jogadores. Mas o Marinho era diferente, foi o mais completo de todos, em todos os sentidos, ele driblava, lançava, cabeceava, batia bem com os dois pés, era veloz, inteligente, sabia fazer gols como poucos e um jogador completo. Nunca senti tanto a perda de um amigo como foi a sua morte. No futebol, eu cumprimentava a todos normalmente, mas o Marinho, eu fazia questão de beijá-lo no rosto. Infelizmente, foi uma perda muito grande, um cara que só trazia alegria, um bom astral, uma irreverência, e uma felicidade que transbordava. Que Deus o tenha, pois ele merece o melhor lugar do mundo pela pessoa que ele era, por sua simplicidade e sua humildade.

O Maracanã completou 70 anos recentemente. Quais são as suas primeiras lembranças como jogador no estádio?

Eu tenho as maiores e melhores lembranças. Minha primeira vez no Maracanã, foi na final do Campeonato Brasileiro em 74, entre Vasco e Cruzeiro, onde eu era juvenil do São Cristóvão e fizemos a preliminar enfrentando o próprio Vasco. Até hoje, não esqueço aquele dia, estádio lotado, e eu, com meus companheiros, jogando em um grande evento como foi aquela final. Depois, fiz belas partidas pelo Vasco, pelo Bangu, marcando gols importantes e que valeram títulos, como na final da Taça Rio de 87, contra o Botafogo, em que fiz dois gols, os quatro contra o Flamengo em 83, um time super campeão. Jogar no Maracanã era diferente, só quem jogou naquele palco pode dizer a magia que era aquilo ali.

Você viveu uma das melhores fases de sua carreira jogando no Operário-MT. Que recordação você tem dessa época?

Em relação ao Operário-MT, tenho as melhores recordações possíveis. Sou considerado em Mato Grosso do Sul, um dos maiores atletas de todos os tempos que já passou por lá. Em relação a títulos, nunca perdi nenhuma decisão com a camisa do clube e meu retrospecto é muito bom. Cheguei lá com 22 para 23 anos, totalmente focado em jogar futebol e tendo nos treinos um desempenho exemplar. É um clube que adoro, está em meu coração eternamente e que torço até hoje, para voltar aos seus momentos de glórias, e foi um clube que me formou praticamente junto com o Fluminense. Foi ali inclusive, que comecei a jogar como titular pela primeira vez de verdade e com a responsabilidade em tentar fazer o meu melhor para algum clube. Então, eu sou muito agradecido ao Operário-MT e estou na expectativa que volte a ser o grande time dos anos de 1970 e 1980.

Em 1984, você foi contratado pelo Corinthians com a enorme responsabilidade de substituir Sócrates, na época negociado com a Fiorentina, da Itália. Como foi vestir a camisa do Timão?

Ter vestido a camisa do Corinthians, foi uma coisa que me deixou muito envaidecido. Talvez, por alguma circunstância extra campo, como o nascimento da minha filha e ela não podia ir para São Paulo ficar comigo, isso me tirou um pouco o foco. Admito, que não fui tão profissional como deveria ser no Timão. No primeiro semestre fui bem, mas no segundo, não. Joguei apenas um ano no clube, não tive muitas oportunidades e também não merecia tais oportunidades, porque não estava focado no clube. Infelizmente, é algo que lamento, me entristece e me deixa até certo ponto, sabendo que fiquei devendo ao tratamento que me deram. Mas não fui no segundo semestre, nem metade do jogador que fui jogando lá, nos primeiros seis meses. E jogar no lugar do Dr. Sócrates,  um craque excepcional, era uma cobrança muito grande, apesar de não ter sido esse o motivo de não ter rendido o que esperavam de mim. Mas apesar do Corinthians ter me recebido com muito carinho, minha cabeça não estava boa. Infelizmente.

Ainda em 1984, você jogou uma única vez pela Seleção Brasileira, no amistoso contra o Uruguai, no Estádio Couto Pereira, em Curitiba, e fez o gol da vitória. Na sua opinião, por que não teve uma sequência?

Vestir a camisa da Seleção Brasileira foi outro sonho que realizei. Por mais que alguma vez eu pensasse que isso seria impossível pela qualidade dos atletas da época, da minha geração. Foi apenas uma partida sim, em 84, eu tive a felicidade de jogar e fazer o gol da vitória, é uma coisa inesquecível. Jamais,  confesso, pensei em ter essa oportunidade, e quando a tive, graças a Deus, pude mostrar o meu valor. No entanto, jogar na Seleção Brasileira, que é considerada o país do futebol, com os maiores jogadores do mundo aqui, você é um privilegiado. Acho que, se não tive a sorte de ter a sequência de jogos, porque, depois eu fui para o Corinthians e na época, as convocações demoravam quase um ano para ter outros jogos e não tive outras chances, infelizmente. Já em 85, numa outra convocação, estava machucado. Mas eu sou muito agradecido a Deus, em ter vestido a amarelinha, representado o país, mesmo que tenha sido por apenas uma partida.

No dia 19 de julho foi comemorado o Dia Nacional do Futebol. O que esse esporte representou para o Arturzinho?

O futebol é tudo na minha vida. Sou uma pessoa melhor, um ser humano melhor, isso, porque eu joguei futebol. O futebol nos prepara para a vida, nos dá uma disciplina, um conhecimento de vitórias e derrotas e desde cedo, te prepara para ser uma pessoa mais capaz de ver as intempéries da vida, e, consequentemente, ter menos dificuldade de ultrapassar as barreiras. Agradeço a Deus pelo dom de jogar futebol e digo que, através desse dom, pude realizar sonhos, alguns materiais e outros, mais significativos, praticando esse esporte.

VOZES DA BOLA: ENTREVISTA ROBERTO DINAMITE


Muitas vezes, fazer sucesso no futebol é uma questão de sorte. São milhares de atletas em busca de reconhecimento de seu talento. Em muitos casos, eles não têm a oportunidade de provar suas qualidades nas ‘peneiras’, os famosos testes promovidos por escolinhas de clubes, e acabam se tornando os ‘craques que nunca foram’. 

Esse não é o caso de Carlos Roberto de Oliveira, o Roberto Dinamite, que saiu da Baixada Fluminense, aos 15 anos, para navegar por ‘mares navegados’. 

Moleque, ainda frequentando as aulas de catecismo, Roberto trocou um ‘santo’, o São Bento, time amador de Duque de Caxias, onde costumava fazer os adversários pagarem seus pecados em forma de muitos gol sofridos, por outro, São Januário, símbolo e padroeiro do Vasco da Gama, que completou 122 anos recentemente.  

‘Marinheiro de primeira viagem’, Roberto não sabia que ali começava uma jornada de 21 anos por mares nunca navegados, onde assumiu como capitão o leme da ‘nau vascaína’, e lá, viveu muitos momentos de glória, mas também teve que sobreviver a naufrágios. 

Recordista em ‘número de viagens envergando a farda vascaína’ (1.110 partidas disputadas pelo mesmo clube); maior artilheiro da ‘Colina’, com 708 tentos marcados (752 no total, contando os 44 marcados por outros ‘navios piratas’); principal artilheiro de São Januário (184 gols); maior marcador de gols na história do Campeonato Brasileiro (190 gols), o ‘timoneiro’ Roberto Dinamite ‘ancorou’ na redação do ‘Museu da Pelada’ para dar seu testemunho para a série ‘Vozes da Bola’. 

Terra à Vista, Almirante!         

Por Marcos Vinicius Cabral 

Como começou sua relação com o Vasco? Você veio da Baixada, onde jogava no São Bento, de Duque de Caxias, não é?

É. Mas, antes, é bom contar que tive uma infância muito difícil. Com 7 anos fiz uma cirurgia e com 12 tive que fazer outra por um problema na perna esquerda, já atuando na escolinha do São Bento. Mas, graças a Deus consegui superar tudo isso, me tornar um atleta e, sem sombra de dúvidas, um bom jogador de futebol.

É verdade que seu pai e seu irmão jogaram mais bola que você?

É verdade. As pessoas lá de Caxias, até hoje dizem que meu pai e meu irmão, jogaram mais do que eu. No entanto, eu fui profissional e eles não, mas foram pessoas importantes que me incentivaram e sempre estiveram do meu lado. Mas é isso, é a vida e que eles jogaram muito, eu sei, meu pai era goleiro e meu irmão era ponta e depois passou a ser goleiro também. Então, como eu era goleador, não teria como não dar certo.

De onde vem o apelido Dinamite?


Vem do meu primeiro jogo no Maracanã, com 17 anos, com a camisa do Vasco, no time principal, no Brasileiro de 1971. Entrei no segundo tempo da partida, contra o Internacional, no Campeonato Brasileiro e fiz um gol num chute forte de fora da área. Desse gol surgiu o apelido Dinamite. No dia seguinte o Jornal dos Sports colocou na primeira página: ‘O garoto Dinamite explode no Maracanã’. Isso foi criado pelo jornalista Eliomário Valente e foi importante naquele momento, no início da minha carreira.

Em 1973, você enfrentou o Santos de Pelé no Maracanã e fez um belo gol de voleio, sendo inclusive elogiado pelo ‘Rei’ ainda em campo. Você imaginava que aquele garoto de Duque de Caxias chegaria tão longe?

Ter recebido o elogio de Pelé foi motivo de orgulho. Mas depois tiveram outros jogos importantes, outras conquistas, como o Brasileiro de 74, onde o Vasco se tornou o primeiro carioca a ganhar o título da competição. Sem falar que fui o artilheiro. Mais à frente conquistamos os títulos cariocas de 82, 87 e 88, além da marca de artilheiro das competições. É realmente uma coisa fabulosa.

Quem foi sua referência no futebol?

Quando era criança, com 12, 13 anos, vi Garrincha e Pelé jogarem. Acho que foram referências para todos, cada um dentro do seu universo, Garrincha mais descontraído, com seu jeitão de povão e tal; e Pelé, além do grande talento, tinha uma outra linha, muito profissional, de se dedicar em tudo. No Vasco conheci os grandes Ademir, Barbosa, e acho que é por aí. A gente tem a referência, a gente vai olhando e para buscar lá na frente tem que sempre olhar para trás.

Num jogo contra o Botafogo, em 76, estavam na tribuna do Maracanã, Henry Kissinger, secretário de Estado dos Estados Unidos à época, e Mário Henrique Simonsen, ministro da Fazenda. Você entregou a camisa do jogo para ele?

Nesse jogo eu fiz dois gols. Estávamos perdendo por 1 a 0, e fiz o primeiro aos 39 minutos e o segundo aos 44, num  gol de lençol sobre o Osmar, que foi muito bonito. Nesse jogo o Mário Henrique Simonsen estava na tribuna de honra com o Henry Kissinger, e nós, capitães do Vasco e do Botafogo, entregamos as camisas usadas nos primeiros 45 minutos para eles. Isso abrilhantou a vitória, e o gol é considerado um dos mais bonitos do Maracanã.

Você jogou a Copa de 1978, e na de 1982 foi reserva. Acha que poderia ter tido mais oportunidades na Seleção?

Em 78 fiquei no banco nos dois primeiros jogos, no terceiro entrei como titular, fiz o gol contra a Áustria que classificou o Brasil e dali, fiquei até o final da competição, inclusive sendo artilheiro da Seleção Brasileira. Pena que o Peru entregou o jogo para a Argentina, e nós, que tínhamos saldo de cinco gols acabamos fora porque eles conseguiram. Já em 82 eu fui convocado para o lugar do Careca. Perdendo um pouco a humildade, a minha presença poderia contribuir mais.

O seu ‘divórcio’ temporário com o Vasco e a ida para o Barcelona em 1979 até hoje são motivos de discussão entre os torcedores cruzmaltinos. Mas, regressar ao Maracanã sob desconfiança, depois de um ‘flerte’ com o Flamengo e  marcar logo cinco gols na vitória de 5 a 1 do Vasco contra o Corinthians em 1980, foi o ápice?

Foi muito bom. Voltar ao Brasil depois de uma passagem curta no Barcelona e marcar cinco gols contra a equipe do Corinthians, para mim foi motivo de muito orgulho e satisfação. O Timão tinha uma grande equipe e foi uma tarde maravilhosa. Essa é a lembrança que eu tenho. E para coroar a jornada, a torcida do Flamengo torcendo pelo Corinthians, pois eles haviam feito a preliminar contra o Bangu. Então, teve sabor em dose dupla.

Em como foi essa história de você voltar do Barcelona para jogar no Flamengo?

Realmente o Flamengo foi até Barcelona para tentar me contratar. Acabei voltando para o Vasco, numa decisão minha de querer voltar para o Brasil e voltar a vestir a camisa do meu clube de coração. E foi importante, muito importante, mas houve sim esse interesse rubro negro, mas acabei voltando para o Vasco.

Como é ser ídolo de um clube como o Vasco da Gama e ser respeitado por adversários e torcedores de outros times?

Os gols, claro, que para mim, foram importantes na minha carreira. Mas a relação de respeito com as pessoas, desde as categorias de base até o profissional, dos meus adversários, que hoje são meus amigos, sempre foi importante. Então, o que eu pude ver dentro do futebol é que você pode ser um grande adversário, mas pode criar amizades também. Foi o que fiz ao longo da minha carreira e essas foram as grandes conquistas de amizade, respeito e carinho de todos. Isso é muito bom!

Até hoje, não teve Pelé, Zico, Romário, Edmundo, Renato Gaúcho, Túlio, ninguém. O maior artilheiro da história do Campeonato Brasileiro segue sendo Roberto Dinamite, com 190 gols. Acha que um dia esse recorde vai ser batido?

Ser o maior artilheiro do Campeonato Brasileiro é decorrência de ter jogado um número bom de campeonatos, mas também pela qualidade de saber fazer gols. Minha técnica como centroavante ajudou, e só tenho a agradecer. Já tem algum tempo, eu parei de jogar em 92 para 93, e até hoje o recorde não foi batido. Espero e torço para que isso possa motivar essa nova geração. Aliás, o único jogador em evidência é o Fred, que é o mais próximo e está a 40, 50 gols de mim. Para mim, essa marca é muito significativa. Ser o maior artilheiro da história do Campeonato Brasileiro é um orgulho.


Ao lado de Pelé e Rogério Ceni, você jogou mais de mil partidas pelo Vasco (são 1.110 na verdade). Que retrospectiva você faz da sua carreira no clube?

É verdade. Sou um privilegiado, pois lá atrás não tinha ideia de que me tornaria um jogador de futebol, em razão das contusões que tive. Hoje é oficial. Eu, Pelé e Rogério Ceni somos os únicos jogadores no mundo que mais vezes vestiram as camisas de um mesmo clube. Joguei 1.110 partidas com a camisa do Vasco da Gama e para mim é motivo de muito orgulho. Jogar no Vasco, ser seu maior artilheiro e ser um dos ídolos de sua história é um orgulho muito grande.

Qual foi o melhor treinador com quem você trabalhou?

Eu tive grandes treinadores, e meu primeiro grande treinador foi seu Célio de Souza, ainda no juvenil. Mas citar um apenas é difícil. Travaglini do jeito dele; Orlando Fantoni, Joel, Lopes… Foram vários e cada um com sua característica. E sou grato a todos eles.

Como tem enfrentado esses dias de isolamento social devido ao Coronavírus?

Com muita preocupação. Não se sabe como se pega, você tem que usar máscara. É uma série de coisas e todo mundo está sujeito a isso. Já tive isso, mas graças a Deus, foi bem brando. Então, temos que ficar atentos a tudo que está em volta, porque infelizmente é uma coisa nova que pouca gente sabe. E isso é algo que está aí e vai durar por muito tempo. O que eu posso dizer para vocês é isso: “Se cuidem, se preservem, usem máscara, álcool gel, mas acima de tudo, tentem na medida do possível, ter o menor contato com outras pessoas e principalmente as que você não conhece!”.

Defina Roberto Dinamite em uma única palavra?

Artilheiro.

Roberto e Vasco foi coisa do destino?

Acho que sim. Eu acredito muito no destino e que a gente está aí para cumprir uma etapa aqui na Terra. Meu pai e meu irmão, foram muito mais jogadores do que eu, mas não chegaram, não foram profissionais como eu, mas fizeram história no futebol amador. Então, eu acredito muito nisso, que a gente vem aqui para uma missão neste mundo e a gente tem que trabalhar isso, melhorar, evoluir, crescer, para que realmente a gente possa cumprir essa etapa. Fica aí a mensagem, de que quando se tem uma oportunidade, tem que saber aproveitá-la.

VALEU, XERIFE

por Marcos Vinicius Cabral 


O ex-jogador de futebol Antônio Carlos Ferreira da Costa, de 58 anos, morreu neste sábado (15), no Hospital das Clínicas, em São Gonçalo, onde estava internado com coronavírus.

Nascido em São Gonçalo, Antônio Carlos era zagueiro e jogou no Flamengo na década de 1970, com Júnior, Tita e Zico.

Nas redes sociais vários amigos fizeram postagens exaltando o caráter de Antônio Carlos e lamentando a sua morte.

– Ele era uma pessoa maravilhosa. Tive a oportunidade de conviver com ele no futebol, jogando nos grupos de pelada aqui de São Gonçalo. É muito triste e não tenho palavras para expressar a minha dor”, afirmou o companheiro de peladas Maurício Pimenta.


VOZES DA BOLA: ENTREVISTA BOBÔ


Quando ouviu pela primeira vez os versos “Quem não amou a elegância sutil de Bobô?” – um dos refrões da música ‘Reconvexo’, composta por Caetano Veloso em 1989 e interpretada por Maria Bethânia -, Raimundo Nonato Tavares da Silva, quase não acreditou. 

O apelido, que ganhara ainda na infância, por conta da irmã bebê, que não conseguia pronunciar seu nome, era eternizado pelo compositor baiano, no mesmo ano em que ele se eternizava como ídolo do Esporte Clube Bahia.

O Raimundinho, como também era chamado quando moleque, correndo atrás da bola nos campos de várzea da cidade de  Senhor do Bonfim, pediu para ser ‘beliscado’, sem acreditar na homenagem.

Assim como teve que, ele mesmo se ‘beliscar’ várias vezes, até ver o seu apelido improvável para o nome de um jogador de futebol, ovacionado pela torcida do Tricolor da Bahia. 

Mas nem sempre foi assim. Sete anos antes, quando ele atuava pela Catuanse-BA, e o time enfrentou o América-RJ, no Maracanã, em jogo válido pela Taça de Prata de 1982 (segunda divisão nacional), o apelido Bobô foi motivo de chacota.

Na ocasião, o repórter e comentarista Washington Rodrigues, então na ‘Rádio Globo’, não conteve a gargalhada: “O time baiano tem até Bobó”, debochou o radialista, fazendo alusão do prato típico baiano ao craque da camisa 7.

Pobre Apolinho, que tempos depois teria que se ‘beliscar’ ao ter que aplaudir a elegância’ e a  qualidade técnica do franzino e habilidoso Bobô.

O filho de Florisvaldo Tavares da Silva, o Seu Flori, e Antonieta, a Dona Tieta, se transformou num dos maiores ídolos da história do Bahia, chegou à Seleção  jogando num time do Nordeste, fato raro na história futebolística do país.

Em meio à pandemia de coronavírus, nosso quinto personagem é Bobô, que isolado em sua ‘terrinha’, conversou por telefone com o Museu da Pelada e deu seu depoimento para a série ‘Vozes da Bola’.

Por Marcos Vinicius Cabral

Como foi o seu início de carreira?


Como profissional foi na Catuense-BA, aos 17 anos, e no amador em Senhor do Bonfim, onde nasci, jogando o campeonato intermunicipal. Competição muito importante, quando eu tinha 14 anos. Foi a primeira oportunidade que tive no futebol, e que me levou para jogar por quatro anos na Catuense, de Lagoinhas.

É verdade que você adorava jogar com a camisa 8 e se sentia desconfortável jogando com outros números?

É verdade. Eu sempre gostei de jogar com a camisa 8, mas é claro que isso foi com o passar do tempo. No início mesmo de carreira, no primeiro clube que joguei profissionalmente, eu jogava com a camisa 7, na Catuense. No segundo ano de profissional, na mesma Catuense, aí sim, jogando mais por dentro como meia-direita, escolhi a número 8. De lá pra cá, nos clubes em que passei, sempre pedia para usá-la. Com exceção de um ou outro clube, que já tinha o número definido. Mas a camisa 8 era um número simbólico para mim e até hoje fazem essa referência do número comigo.

Quem foi sua grande inspiração no futebol?

Eu tive dois grandes jogadores como referências no passado: Zico e Careca. O Careca, que jogou no Guarani, e depois no São Paulo, era um meia-direita, grande jogador, qualidade técnica muito grande, eu adorava vê-lo em campo, além de ter sido  inspirador. O outro foi o Zico, que é referência para todo mundo, não só como atleta, mas também como cidadão. O Zico passava coisas boas para todos, além de jogar muita bola. Para mim, especialmente, era referência como jogador e com seu comportamento dentro e fora de campo. Esses dois foram minhas maiores referências no futebol.

Quantos gols você fez em toda sua carreira?

Eu acho que fiz quase 300 gols, segundo uma estatística feita por uma pessoa aqui na Bahia. É bom lembrar que comecei a jogar profissionalmente com 17 anos e esses gols são daí pra frente. Nessa estatística, não entram os gols na base, que eu não fiz.

Qual a importância de Evaristo na conquista do Brasileirão prlo Bahia em 1988 e como foi trabalhar com ele?

O Evaristo foi um dos grandes responsáveis pela conquista de 88. Não só do título em si, mas também da montagem da equipe. O Bahia era um time que veio montado de 86, 87 e 88, mas quando o Evaristo chegou em 87, ele mudou a forma de jogar da equipe, mexeu em algumas peças do time e ousou na forma de jogar. Tornou a equipe agressiva e que jogava um futebol veloz, alegre e para frente. O Bahia se prevalecia do conceito de futebol adotado pelo nosso treinador. O Evaristo foi um grande técnico, particularmente, um dos mais  importantes do futebol brasileiro. Nós sabemos muito da sua importância naquela conquista e sabemos o quanto não foi fácil assumir o Bahia, no Nordeste, ganhar de todo mundo e se tornar  campeão. Foi em um momento difícil, porque pouco se pagava aos treinadores, ainda mais times menores ou do Nordeste, mas ganhamos graças ao grande trabalho dele e da comissão técnica.Tenho um orgulho muito grande de ter convivido com ele, além de ser um amigo.

Em 1988 você estava em grande fase e ganhou o prêmio da Bola de Prata. Foi o melhor ano da sua carreira?

O ano de 88 foi muito importante para mim. Além de ganhar o título de campeão Brasileiro, ganhei a Bola de Prata e fui escolhido pela ABCD (Associação Brasileira de Cronistas Desportivos) como o melhor jogador daquele ano. Isso me levou a ser convocado para a Seleção Brasileira. Não tenho dúvida alguma de que foi um grande ano e vivi um grande momento na carreira. Quando você tem a oportunidade de conquistar um título Brasileiro, jogando por um clube do Nordeste e se destacar, obviamente, a gente tem que estar agradecido também.

Depois você passou por São Paulo, Flamengo, Fluminense, Corinthians e Internacional, antes de voltar ao Bahia e encerrar a carreira. O que não deu certo nesses outros clubes?

Depois do Bahia eu joguei no São Paulo, e lá fiquei dois anos. Tive a felicidade de ser campeão Paulista em 89, mesmo ano em que pelo Bahia, meses antes, havia sido campeão Brasileiro. Estranho, né? Mas são coisas desse calendário maluco do futebol brasileiro. Em 89, por pouco, não conquistei três títulos no mesmo ano, já que me tornaria campeão Brasileiro por dois clubes diferentes: Bahia em fevereiro e São Paulo em dezembro, mas enfrentei o Vasco na decisão de 89, e fomos derrotados por 1 a 0, gol de Sorato, no Morumbi. Com o Flamengo fui campeão da primeira Copa do Brasil, depois, em 90, ganhei a Taça Guanabara com o Fluminense… enfim, tive o privilégio de disputar títulos que eu considero importantes. Mas tive dificuldades em alguns desses clubes em que joguei, em função até das lesões musculares que me acompanharam na carreira. Mas tive carinho por todos eles e o Fluminense, em especial, porque meu pai era torcedor e quando era vivo, me convenceu a ir jogar lá, quando saí do São Paulo. Não me arrependo e gostei muito em ter passado esse período nas Laranjeiras, em um clube maravilhoso. Já no rival, o Flamengo, joguei pouco tempo é verdade, apenas seis meses, mas foi uma fase bem interessante antes de voltar para São Paulo e ir para o Corinthians e depois Internacional. Então, em todos eles eu tive momentos felizes. Depois, voltei para encerrar a carreira no Bahia, porque eu queria que fosse no clube. Estava com 34 anos e em virtude das lesões, cirurgias, acabei precocemente parando. 

Por que você, Charles e Zé Carlos passaram a ser convocados para a Seleção Brasileira, mas não tiveram muitas chances com Sebastião Lazaroni?

Eu tive três com (Sebastião) Lazaroni, mas foi um ano difícil, pois naquela época, chegar à Seleção já era muito difícil, sobretudo jogando em um clube do Nordeste. Na verdade, se convocava mais jogadores do Sul e Sudeste, né? Nesse ano, nós fomos um pouco mais ousados e o Bahia foi o melhor time do futebol brasileiro, sagrando-se campeão e a CBF, tinha por obrigação convocar alguns jogadores do nosso time. Eu tive essa chance em algumas oportunidades, e o Charles e Zé Carlos, também. Mas falaram oportunidades maiores naquele ano e acho que nós três poderíamos ter ao menos, jogado uma Copa América. Infelizmente, ele (Sebastião Lazaroni) já havia definido o grupo que iria disputar a competição. Disputei alguns jogos que antecederam a Copa América, em amistosos, contra o Peru, o Paraguai, enfim… mas ele já havia definido o grupo que disputaria a Copa América e desse grupo, 80, 90% ria para a Copa do Mundo da Itália, em 1990.

Caetano Veloso, célebre torcedor tricolor, eternizou a ‘elegância’ de Bobô no futebol, na música ‘Reconvexo’. Como foi virar música do compositor baiano?

Pois é. Isso é uma honra muito grande para mim ser cantado em versos por Caetano Veloso, numa música linda por sinal, a ‘Reconvexo’. Até hoje é um sucesso na voz de Maria Bethânia. Brinco, dizendo que estou imortal por conta dessa música e dessa homenagem que ele fez. Sou muito grato e algumas vezes estive com ele e agradeci por esse momento, essa grande homenagem. É claro que a gente fica orgulhoso com isso, afinal de contas, estou sendo homenageado por Maria Bethânia numa composição de Caetano Veloso. Aproveito essa entrevista para agradecer aos dois, mais uma vez, por eu ser imortal (risos).

O canal SporTV reprisou  jogo do Bahia contra o Fluminense, pela semifinal do Campeonato Brasileiro de 1988. Na sua opinião, foi um dos jogos mais difíceis na caminhada ao título do Campeonato Brasileiro?

Foi bacana lembrar de 31 anos atrás, e confesso, não me lembrava muito dos lances, porque foi na íntegra, ou seja, os 90 minutos. Assisti ao jogo e foram jogos difíceis, né? Esses contra o Fluminense foi muito complicado para a gente, mas não acho que tenha sido os mais difícil. Fizemos dois jogos contra o Fluminense no Rio, um no Maracanã, que foi 0 a 0, e poderíamos até ter vencido esse jogo e fomos muito bem, e no segundo, começamos perdendo e viramos. Mas eu acho que o jogo contra o Sport-PE, eu considero o mais difícil pela rivalidade do Nordeste. Foi 1 a 1 lá em Recife e aqui 0 a 0, indo para prorrogação até. Nos classificamos para enfrentar o Fluminense na semifinal nessa prorrogação contra o  Sport-PE. O jogo contra o Fluminense foi legal porque teve o maior público da história da Fonte Nova, com 110 mil pagantes.

Queria que falasse um pouco sobre o ‘Dignidade dos Ídolos’. Como foi criado e qual o objetivo do programa?


O ‘Dignidade dos Ídolos’ é um projeto criado pelo presidente do Bahia, Guilherme Bellintani. Na época, ele me convidou e achei espetacular, porque era algo que entendia que tinha que acontecer um dia e espero que os demais clubes copiem Mas, não só fazer uma festa de comemoração de um título importante ou reunir os ex-atletas. A gente sabe que a maioria dos jogadores de futebol, independente de ter passado por grandes clubes, não ganhou dinheiro suficiente para ter uma estabilidade financeira. Os jogadores do passado precisam de apoio e quando o ‘Dignidade dos Ídolos’ foi criado, para nós, ex-jogadores, foi muito bacana. Hoje, esse projeto beneficia seis ex-atletas, como o Zanata, que mora no Rio, o Maílson, que infelizmente está acamado. Atualmente, esses jogadores precisam desse auxílio, que é um salário mensal, e é um reconhecimento do clube pelo trabalho desses ex-atletas. O bacana foi que eles ganharam não só uma placa ou aplausos, mas tiveram de volta a dignidade, já que esses caras destinaram uma boa parte de suas vidas ao clube e construíram uma história bonita. Eu acho que essa reciprocidade é difícil acontecer nos outros clubes, mas no Bahia está acontecendo. Eu, particularmente, tenho muito orgulho, de alguma maneira ter feito parte disso, em reconhecer esses ex-atletas em um debate com o presidente do Esporte Clube Bahia.

Defina Bobô?

Não sei dizer exatamente. Talvez um cara persistente, talvez vitorioso na carreira, onde sou grato ao futebol como falei, pois tive a felicidade de jogar em alguns clubes importantes no Brasil e neles ser campeão. Eu acho, que isso na realidade, acaba de uma maneira dando credibilidade a uma carreira de dezessete anos. Então, poderia definir a pergunta, nas oportunidades que tive na maioria dos clubes, em que aproveitei muito bem. De alguma forma, fui recíproco com essas oportunidades.

Qual o gol mais importante que você fez na carreira?

Eu tive a felicidade de marcar alguns gols importantes pelo Bahia, e, sobretudo no Campeonato Brasileiro. Não só no de 88, mas no meu primeiro ano de clube. Em 86 ganhei uma placa na Fonte Nova, com o gol mais bonito do estádio. Em 87, 88, nos jogos finais, esses gols, óbvio, ajudaram muito o Bahia a ser campeão Brasileiro. Realmente foi um título espetacular.

Como tem enfrentado esses dias de isolamento social devido ao coronavírus?


Esse isolamento tem sido difícil para todo mundo, ou seja, ficar isolado não é bom. Ficar sem poder cumprimentar, conversar, e abraçar as pessoas, não é legal. São mais de quatro meses desse isolamento social, e é claro que, o início foi mais fácil do que tem sido agora, mas está dando para levar. Acho que é a única maneira ainda que temos de superar esse vírus e manter esse isolamento social. Sair, só se for extremamente importante, usar máscara e álcool em gel sempre. Eu tenho feito isso mas na expectativa da gente  voltar ao nosso ‘novo normal’.

O Maracanã completou 70 anos recentemente. Quais são as suas primeiras lembranças como jogador no estádio?

O primeiro jogo que eu fiz no Maracanã, foi jogando pelo Bahia, na década de 1980. É um estádio maravilhoso e sempre foi referência no Brasil e no mundo. Todo atleta tinha dois desejos: vestir a camisa da Seleção Brasileira e jogar no Maracanã! Mas todos os jogos que fiz, jogando pelo Bahia, depois São Paulo, Flamengo e Fluminense, são jogos que tenho na lembrança e, sobretudo, quando joguei no Campeonato Carioca, nos Fla-Flus por exemplo, é inesquecível. Tive o privilégio de jogar no estádio, jogar e fazer gol em Fla-Flus, e isso, marca muito, ainda mais sabendo a importância do clássico no futebol brasileiro.

No dia 19 de julho foi comemorado o Dia Nacional do Futebol. O que o futebol representou para o Bobô?

Essa data é especial na vida de quem joga futebol ou já jogou. O futebol representa muito na vida de todos e na minha em especial, porque essa estrutura que eu tenho hoje, como cidadão, eu credito muito ao futebol. Esse 19 de julho, que se comemorou o Dia Nacional do Futebol, representa muito e sou muito agradecido. Sempre faço questão de dizer em entrevistas que o futebol me projetou e o que ele me proporcionou, seja não só estabilidade financeira, que isso eu não tenho, pois continuo trabalhando, mas sobretudo, na condição de fazer com que você conhecesse pessoas, cultura, lugares, jogar nos maiores clubes do futebol brasileiro e cheguei à Seleção. Inclusive, virei ídolo de uma geração, e isso para mim, é motivo de orgulho e agradecimento. Obrigado ao futebol e graças a Deus, por ter me dado o dom de ter jogado futebol e o que ele me proporcionou como cidadão. Agradeço aos clubes por onde joguei e aos ex-companheiros.