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Marcos Vinicius Cabral

VOZES DA BOLA: ENTREVISTA PAULO ROBERTO


Taxado por seu conterrâneo e mestre do radiojornalismo esportivo, Luiz Mendes (1924-2011), como o ‘lateral do cruzamento certo’ – a história de um lateral, seja direito ou esquerdo, passa por este fundamento para os arremates ao gol adversário.

Paulo Roberto saiu de Viamão para ganhar o futebol brasileiro até chegar à seleção, onde não teve êxito por motivos que não estavam ligados ao seu poderio físico, aeróbico e técnico.

Foi um lateral digno de estar na galeria dos grandes da posição. Não é para qualquer um ser campeão Brasileiro, aos 19 anos, e aos 21, campeão da Libertadores da América e do Mundial Interclubes.

Foi desta forma que Paulo Roberto iniciou sua saga de levantar troféus pelos clubes que tiveram a honra de tê-lo na faixa direita do campo.

Em 1984, arriscou-se no São Paulo, e no ano seguinte, no Santos. Em ambas as passagens pelo futebol paulista foram suficientes para encerrar sua passagem pelo futebol bandeirante.

Em 1986, chegou ao Rio de Janeiro para fazer história com a camisa do Vasco. Sagrou-se bicampeão Carioca, em 1987/1988 – a última vez que o Vasco foi campeão duas vezes consecutivas do Carioca havia acontecido em 1949/1950 – Paulo Roberto também marcou sua história no Botafogo, ao chegar em 1989.

No ano seguinte, bicampeão Estadual com o time da Estrela Solitária – a última vez havia sido em 1967/1968.

Nas Alterosas, foi campeão nos dois clubes. Chegou primeiro à Toca da Raposa para voltar a ser campeão de títulos nacionais e internacionais. Também foi bicampeão Mineiro, desta vez de forma inusitada, pois em 1994 vestindo a camisa do Cruzeiro, e no ano seguinte, já com o figurino preto e branco do Atlético-MG.

Saber qual o gol mais bonito que fez na carreira, é uma curiosidade que ficará no ar e poderá ser respondida pelos leitores do Museu da Pelada: um pelo Vasco contra o Flamengo pelo Carioca de 1988, quando chutou quase do meio de campo enquanto Zé Carlos (1962-2009), a muralha rubro-negra, bebia água após a saída de bola do Vasco em virtude do gol de empate do Flamengo; ou o gol de falta pelo Cruzeiro contra o Vasco na Copa do Brasil de 1993 lá do meio da rua igualando o placar e levando o time Celeste à final e ao título, consequentemente, da competição?

O nosso 37° personagem do Vozes da Bola enaltece os clubes que defendeu, a amizade com Renato Gaúcho desde as categorias de base, sua reverência ao ídolo Nelinho, carregando consigo a honraria de ser o jogador que mais vezes vestiu as camisas de clubes de massa no Brasil – nove. Ele, cuja mãe era professora, deu aulas na faixa direita dos campos de futebol Brasil afora.

Por Marcos Vinicius Cabral

Edição: Fabio Lacerda


Como foi a infância de Paulo Roberto Curtis Costa, em Viamão, no Rio Grande do Sul?

Inesquecível. Cidade pequena, todo mundo próximo um do outro e todos se conheciam. Eu tenho as melhores recordações dessa fase da minha vida. O mais legal era quando moravávamos nessa cidade do interior e jogávamos bola na rua e nas folgas das aulas dentro da escola. Havia, lá em Viamão, onde nasci ,e passei minha infância, dois campos, e o pessoal adorava jogar futebol. Até hoje está marcado na minha vida tais recordações.

Você jogava em um pequeno clube de futebol amador de Viamão chamado Tamoio Futebol Clube. Como foi descoberto pelo Grêmio?

Eu jogava no infantil do Tamoio Futebol Clube e graças a um amistoso contra o Grêmio, me destaquei jogando no meio de campo. Cheguei a marcar um gol nesta partida. Depois disso, houve o convite para fazer um teste. Fui para Porto Alegre, fiz o teste e passei. Joguei por três anos conquistando títulos e me tornando um ídolo do clube.

No Tricolor gaúcho, você foi campeão Brasileiro de 1981, da Libertadores, e do Mundial Interclubes em 1983. Como foi escrever seu nome na história do clube com esses títulos?

Poxa, foi muito importante isso! Conquistamos os principais títulos da história do clube como. Fomos o primeiro time gaúcho a conquistar títulos dessa magnitude. Eu vou completar 26 anos que parei de jogar nesse ano de 2021, e tenho o maior orgulho de saber que o Paulo Roberto está na história do Grêmio. E tenha certeza, que meus filhos sabem disso e, futuramente, os meus netos vão saber.

É verdade que você era meio-campo e quem te colocou para jogar na lateral foi Ênio Andrade? Como foi isso?

É verdade. Quando comecei a jogar no Tamoio Futebol Clube eu era meio de campo e cheguei no Grêmio como tal. Mas de vez em quando, na base, atuava na lateral-direita e o ‘seu’ Ênio Andrade me viu e sabia das minhas características. Não demorou muito e surgiu uma oportunidade no profissional. Como ele sabia que eu tinha jogado na base como lateral, me aproveitou. Nós acabamos sendo campeões brasileiros em 1981 e devo muito ao professor Ênio Andrade por ter enxergado em mim o jogador que ele precisou na ocasião.


Você formou com Renato Gaúcho um ótimo lado direito no estádio Olímpico e campos afora. Como era jogar com ele?

Foi maravilhoso. O Renato é um grande amigo, e a gente começou junto nas categorias de base do Grêmio quando ele veio do Clube Esportivo Bento Gonçalves. Nossa parceria começou aos 15 anos quando começamos a jogar juntos e criamos um bom entrosamento pelo lado direito. Mas não foi apenas no Grêmio que jogamos juntos e tivemos bom entrosamento. Depois repetimos nossa parceria no Botafogo, Fluminense, Cruzeiro e na seleção brasileira. Mas o Renato foi um grande jogador, um cara que cresceu comigo no Grêmio. Tenho uma ligação forte e um carinho especial. Foi muito legal ter jogado com ele nos clubes e sou grato por essa experiência e por um ter ajudado o outro. Desejo a ele toda sorte do mundo nesse desafio que é treinar o Flamengo.

Achou justo a estátua que fizeram dele?


Muito. Acho justo e merecida. O Renato é o jogador mais importante na história do clube tendo conquistado 19 títulos como jogador, sendo uma Libertadores e um Mundial, em 1983. Como treinador, dirigiu a equipe do Grêmio em 411 oportunidades, ultrapassando o Oswaldo Rolla que era o recordista com 383 jogos. O Renato merece, pois além de ser uma grande figura, tem uma história que se confunde, no bom sentido, é claro, com a rica história do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense.

Sua ligação com o Grêmio é muito forte, mas você jogaria no Internacional?

Lógico que minha história com o Grêmio é forte, não se apaga tão facilmente assim, pois foi onde comecei nas categorias de base e conquistei os títulos mais importantes como profissional. Mas o Internacional, apesar da grande rivalidade do Gre-Nal, é um grande clube. Eu não teria problema algum em jogar no Beira-Rio.

Pela seleção brasileira, você atuou sete vezes, e participou do vice-campeonato da Copa América de 1983, quando jogou contra a Argentina, Paraguai e na final,contra o Uruguai. Foi seu melhor momento com a camisa da seleção?

Desde os meus 17 anos eu participei da seleção. Confesso para os leitores do Vozes da Bola que foi um momento importante sim! Sem dúvidas! Mas pela importância da competição, que é a Copa América. Infelizmente, eu machuquei, não pude jogar as Eliminatórias, e mesmo assim, tudo acabou se tornando marcante.

Em 84, houve um desmanche no Grêmio e você foi um dos primeiros a sair, se transferindo para o São Paulo, onde não foi bem, e depois para o Santos. Porque você não rendeu o que poderia nesses dois clubes?


Vaidade, imaturidade e adaptação, para resumir. Mas não só a minha saída, mas como a de outros jogadores do Grêmio, em virtude de um planejamento mal feito pela diretoria da época. Houve um desmanche de uma equipe que havia conquistado os títulos mais expressivos e não era um time caro para os padrões daquele ano. Houve sim, a vaidade de diretores, e isso afetou o clube. Eu fui para São Paulo, um grande clube, mas confesso que tive problemas de adaptação, pois era muito novo na época e, além do mais, tive problemas de relacionamento com o treinador que não vale citar seu nome aqui nessa oportunidade. Mas tenho um orgulho imenso em ter jogado no Tricolor paulista. No entanto, não consegui ser o Paulo Roberto que era.

Apesar do grande lateral que foi, a concorrência pela camisa 2 da seleção brasileira era acirrada com Leandro, Josimar, Édson, Jorginho, Luís Carlos Winck, entre outros. Na sua opinião, porque você não foi aproveitado com a ‘Amarelinha’?

Um dos motivos está respondido na sua pergunta: a concorrência. Havia, naquela época, muitos jogadores de alto nível, craques mesmo, e disputar com eles a titularidade da ‘Amarelinha’ era complicado. Eu tive a oportunidade de jogar na seleção brasileira, mas machuquei em duas ocasiões que foram a Copa América de 89, em que o Sebastião Lazaroni improvisou o Mazinho de lateral-direito, e em amistosos na Europa, quando tive uma grave torção no tornozelo e fiquei no departamento médico por um bom tempo. Eu não reclamo por não ter tido uma sorte melhor na seleção e agradeço a Deus por ter jogado nela, que é o ápice na carreira de qualquer atleta profissional. Mas fui muito prejudicado por não ter mantido uma sequência na seleção devido as contusões que tive, numa época que a camisa 2 era bem representada por grandes laterais.


Como foi jogar no Vasco entre os anos de 1986 e 1989, quando você viveu um grande momento ao lado de Mauricinho, Geovani, Romário, Vivinho, Zé do Carmo, Tita, Dunga, Roberto Dinamite, Acácio, Fernando, entre outros, reencontrando seu futebol?

Um honra. Um clube que eu tenho um enorme carinho pelo que vivi ali em São Januário e pelos grandes jogadores com quem tive a oportunidade de jogar. No Cruzmaltino, conquistamos títulos, fizemos grandes clássicos contra Botafogo e Fluminense, mas contra o Flamengo, considerado até hoje o maior rival, era muito bom vencê-lo. Era um campeonato à parte! – relembrando as palavras do ex-vice de futebol e ex-presidente Eurico Miranda.

Pelo Vasco da Gama, você sagrou-se bicampeão carioca em 87 e 88, em cima do Flamengo. Como foram esses títulos em cima do rival?

Foram maravilhosos. Recordo que chegamos a ficar dez jogos sem perder. Como esquecer o bicampeonato de 87 e 88 em cima deles? Uma prova da nossa hegemonia no Rio e diante do nosso maior rival à época. Isso marcou minha história em São Januário, e até hoje, quando vou ao Rio, os torcedores me reverenciam muito pela história bonita que ajudei a construir no clube. Isso me deixa feliz e sou muito mais feliz em ter escrito meu nome na história deste clube considerado o Gigante da Colina


Mesmo fora de São Januário, você continuou ganhando títulos. Em 1990, no Botafogo, foi campeão carioca (atuava no time do meia Paulinho Criciúma, do zagueiro Mauro Galvão, do goleiro Ricardo Cruz e dos meio-campistas Carlos Alberto Santos e Carlos Alberto Dias). Como foi vestir a camisa alvinegra?

O futebol é um esporte coletivo e você não ganha ou perde sozinho. Tive a felicidade de jogar em grandes clubes e com excelentes jogadores. No Botafogo, justificando a sua pergunta, não foi diferente. Muitos jogadores de nível técnico excelente, e esse conjunto nos fez conquistar títulos importantes pelo Alvinegro, como o bicampeonato carioca em 1989/1990, que ficou marcado na história do clube. Mas tenho orgulho dessa época e saudades em ter vestido uma camisa tão maravilhosa em que o ‘seu’ Emil Pinheiro conseguiu montar um grande time.

Quem foi sua grande inspiração no futebol?

Quando eu era mais novo, eu gostava muito de imitar o Nelinho, que naturalmente, se tornou fonte de inspiração para um jovem que iniciava no mundo do futebol. Quando estava na base do Grêmio, ele veio jogar no clube e eu ficava assistindo os treinamentos dele. Certa vez, tive a oportunidade de conversar com ele e recebi muitas dicas. Nem sei se ele vai lembrar disso se ler essa entrevista, mas absorvi conselhos importante e aprendi muito nesta nossa conversa. Quando subi ao profissional, comecei a imitá-lo e quando cheguei em Belo Horizonte para jogar no Cruzeiro, acabei sendo comparado a ele. Cara, que privilégio ser comparado com meu ídolo em cada gol de falta que eu fazia. Foi muito legal. Mas o mais barato de tudo que envolve nossa história foi quando ele treinou-me no Cruzeiro por um curto período – uns dois ou três meses, se não me engano. Mas falar do Nelinho é motivo de orgulho, não só como jogador, mas como homem e grande ser humano que é.


Quem foram seus melhores treinadores?

Foram o Ênio Andrade, o Valdir Espinosa e o Jair Pereira.

Quem foi o maior lateral-direito do futebol brasileiro na sua opinião?

Nelinho, sem dúvidas, incomparável e o melhor de todos!

Qual ponta-direita era enjoado de ser marcado?

Difícil escolher um, até porque, enfrentei muitos pontas talentosos e bons de bola. Mas eu era um lateral mais ofensivo do que defensivo.

É verdade que em 1993, você chutou uma bola por cima do Mineirão, coisa que só Nelinho e o goleiro Victor, em 2015, haviam feito?

Engraçada essa pergunta. Como já falei, o Nelinho sempre foi meu ídolo e quando cheguei no Cruzeiro, houve essa comparação com ele por vários aspectos: estar no clube, vestir a camisa 2, jogar na lateral-direita, chutar forte e fazer gols. Dessa forma, era inevitável ser comparado com o Nelinho, o que sempre encarei com naturalidade. Mas teve esse fato sim, em que ele havia chutado a bola para fora do estádio do Mineirão depois de a Tede Globo propor o desafio. Chutei a bola para fora do estádio, que acabou se tornando mais uma particularidade com o meu ídolo (risos).

E sua passagem no Atlético Mineiro, como foi?

Foi uma fase excepcional que tive no Galo. Uma honra ter vestido uma camisa tão marcante na história do futebol brasileiro e o clube não conquistava um título desde 1990. Quando lá estive, afirmei que seríamos campeões e foi o que aconteceu, em 1995.

Depois Fluminense, Cerro Porteño-PAR, e Canoas, onde encerrou a carreira. Se arrepende de alguma coisa?

De forma alguma. Não me arrependo de nada e sou grato a Deus por ter sido jogador de futebol, ter jogado em nove grandes clubes do país, conquistado títulos e honrar cada camisa que vesti.


Grêmio, São Paulo, Santos, Vasco, Botafogo, Cruzeiro, Corinthians, Atlético-MG e Fluminense, nesta ordem. Qual desses nove clubes você viveu o melhor momento da carreira e qual deles se arrepende em ter jogado?

Absolutamente. não me arrependo de nada que aconteceu na minha carreira e, muito pelo contrário, agradeço a Deus por ter me dado força e capacidade de jogar futebol e fazer dele minha profissão. Acho que devo muito mais ao futebol, pois joguei em grandes clubes, em alto nível e conquistei muitos títulos. Todos as equipes em que joguei foram importantes, pois em todos, ou quase todos, conquistamos algo importante. Sobre os títulos mais importantes, cada um tem a sua importância, pois cada um tem uma história diferente da outra, ou seja, todos, sem exceção, foram importantes.

Como tem enfrentado esses dias de isolamento social devido ao coronavírus?

Estamos mais adaptados, e esse novo momento de distanciamento social, máscara e álcool em gel, nos dá condições da gente se cuidar mais. Mas tudo isso que está acontecendo no mundo tem sido importante, e eu acho que é um propósito de Deus. O Covid-19 serviu para a gente pensar mais na família, nos amigos, ter mais amor pelas pessoas e aproveitar mais a vida. Eu sou um cara muito esperançoso e acredito que o dia de amanhã vai ser melhor do que o de hoje, independente das circunstâncias. Eu tenho meu momento íntimo com Deus pela manhã e agradeço sempre por ter acordado bem, com saúde e por ter uma família maravilhosa com esposa e filhos que são tudo para mim. Agora com as vacinas, tenho certeza que tudo vai voltar ao normal.

Defina Paulo Roberto em uma única palavra?

Vencedor.

MANGA, OBRIGADO POR TORNAR O BOTAFOGO IMORTAL

por Marcos Vinicius Cabral


Estive com a equipe do Museu da Pelada no Retiro dos Artistas em Jacarepaguá, Zona Oeste, para fazer com o ex-goleiro Manga, a primeira entrevista presencial para o quadro Vozes da Bola.

Contador de histórias e com o semblante tranquilo que nos lembrou da época em que fechava o gol quando se tornou campeão em todos os clubes que atuou e recordista brasileiro em participações na Libertadores da América.

Ser humano inclassificável, seu Haílton Correa de Arruda, de 83 anos, contou muitas histórias nos poucos mais de 60 minutos de papo.

Se o goleiraço, que entre 1968 e 1972 foi bicampeão carioca pelo Botafogo, campeão da Libertadores de 1971 pelo Nacional-URU e tetracampeão uruguaio elevou seu nome no cenário esportivo, mostrou ser bom de papo.

Ora, como deixar de fora o episódio com João Saldanha, que resultou numa briga com direito a tiro? E da famosa história da feira antes dos jogos contra o Flamengo? Do amor ao Glorioso, não titubeou: “Sou apaixonado pelo Botafogo”, quando questionado por Sergio Pugliese.

Obrigado, Senhor, por realizarmos a primeira (de muitas, se Deus quiser) entrevista para o Vozes da Bola, quadro criado em parceria com Fabio Amaro de Lacerda.

Que venham outras e outras e outras…

Mas o camisa 1 do Sport, Botafogo, Nacional-URU, Internacional, Operário-MS, Coritiba, Grêmio e Barcelona de Guayaquil, merece nosso carinho e nosso respeito. Sempre!

Vida longa ao Manga, o goleiro que não usava luvas e tinha o dedo anelar e o mínino das mãos tortos em decorrência das bolas defendidas por ele.

VOZES DA BOLA: ENTREVISTA PAULO SÉRGIO


Santa Teresa é um bairro situado no topo de uma colina com uma atmosfera encantadora, ruas íngremes e sinuosas, ladeadas de mansões antigas e elegantes, muitas com hotéis, bares e restaurantes com vista para a baía.

Mas o bairro de tantas belezas naturais e arquitetônicas escondia um menino, então, com 14 anos, que era goleiro do Capri e destaque nos campeonatos promovidos pelo Jornal dos Sports, no Aterro do Flamengo.

Numa dessas partidas, Paulinho – que apesar de ser chamado no diminutivo, se agigantava – chamou a atenção de um senhor conhecido como Farias, à època, técnico do dente de leite do Fluminense.

Era 1968, quando colocou as ‘mãos’ pela primeira vez nas Laranjeiras, e anos depois, conduzido por Pinheiro (1932-2011), ex-zagueiro e ídolo Tricolor, passou a conviver com Félix, Carlos Alberto Torres, Edinho, Rodrigues Neto, Marco Antônio, Marinho Chagas, Dirceu, Zé Mario, Pintinho, Rivellino, Paulo Cezar Caju, Gil e outras peças que eram consideradas a engrenagem de uma máquina de jogar futebol na década de 1970. 

Era um plantel que havia 16 jogadores com passagens pela Seleção.

No entanto, a idade, felicidade, vontade, identidade, plasticidade, elasticidade e a eletricidade demonstradas pelo camisa 1 embaixo das traves nos campos do Aterro não foram suficientes para fazê-lo assumir a titularidade: era o quarto goleiro, atrás de Félix, Roberto e Nielsen.

Sua estreia coincide com a de Rivellino na goleada por 4 a 1 sobre o Corinthians quando o Fluminense mandou abrir alas que a ‘Máquina Tricolor’ estava colocando seu bloco na rua no dia 8 de fevereiro de 1975.

Paulo Sérgio substitituiu Roberto na etapa complementar do clássico que marcava a chegada de Rivellino ao Rio de Janeiro como uma das transações mais fenomenais da história do futebol brasileiro.

Era sua redenção?

De forma alguma! Acabou preterido do clube onde deu suas primeiras espalmadas numa bola.

Foi em busca de novos caminhos e chegou em Maceió para defender o CSA e na volta ao Rio de Janeiro, jogou pelo Volta Redonda, Americano, Botafogo.

Saiu para o Planalto Central para fechar o gol no Goiás, e voltar à sua cidade natal para jogar no América e Vasco da Gama.

No Glorioso, – clube que o levou à Copa do Mundo da Espanha em 1982, sendo reserva de Waldir Peres – viveu a melhor fase na carreira e deixou sua superstição aflorada quando entrava no ônibus do clube e sempre sentava na poltrona 21, onde não abria mão de jeito nenhum em dias de jogos.

Econômico em títulos nos 16 anos que passou no futebol de campo – apenas conquistou a Taça Guanabara em 1986 com o Vasco – não lhe restou outra profissão a escolher antes de ser hexacampeão no Beach Soccer de 1994 a 2000: virou economista, formado pela Faculdade Cândido Mendes, em 1987!

Paulo Sérgio de Oliveira Lima não foi o ‘Anjo Irônico’ com 1,85 metro de altura, pernas arqueadas, cabelos vermelhos encaracolados e que jogou no Bayern Munique-ALE em toda carreira chamado Seep Maier.

Também não foi o sempre bem colocado e de defesas incríveis que viveu o apogeu no Vasco da Gama, clube que lhe proporcionou título e prêmios pessoais de nome Andrada (1939-2019), goleiro argentino mais conhecido por ‘El Gato’, e que por um triz não pegou a cobrança de Pelé que originou o milésimo gol do Atleta do Século XX.

Não, não foi de forma alguma Seep Maier – a quem considera o maior goleiro – e Andrada – seu ídolo.

No entanto, fez história como um dos maiores goleiros do futebol brasileiro.

O Museu da Pelada bateu uma bola com o dono da poltrona 21 do ônibus do Botafogo de Futebol e Regatas, e que coincidentemente, foi o número de anos que o Alvinegro de General Severiano ficou sem levantar um troféu de campeão.

Superstições à parte, o goleiro Paulo Sérgio é o nosso vigésimo personagem do Vozes da Bola desta semana.

Por Marcos Vinicius Cabral

Edição: Fabio Lacerda

Como foi o início de carreira?

O início da carreira, como a maioria dos garotos, era no time do bairro. Era o Capri, de Santa Teresa. A gente disputava os tradicionais campeonatos no Aterro do Flamengo promovido pelo Jornal dos Sports. Numa dessas partidas, um senhor chamado Farias, que era o técnico do dente de leite do Fluminense, me viu jogando e me levou para as Laranjeiras. E foi dessa forma que dei início a minha carreira. Das pelas peladas no Aterro do Flamengo para o Fluminense.

Você começou no Fluminense em 1972, mas teve o talento ofuscado por Félix, goleiro tricampeão mundial na Copa do Mundo de 1970. Como encarou ser reserva dele e como era a relação entre vocês?


Comecei no Fluminense em 1972, apesar de ter iniciado no dente de leite em 1968, passando em seguida para o futebol de salão. O senhor Farias me colocou para jogar futebol de salão para que eu não saísse das Laranjeiras. Quando deu minha idade para o juvenil, o Pinheiro, ex-zagueiro do Fluminense, que era o técnico, me levou para os profissionais. Da pelada de campo no Aterro fui convocado por um dos maiores nomes da história do clube para integrar a equipe do futebol profissional. Joguei todos os campeonatos juvenis com a camisa Tricolor e quando estourei a idade passei para o time profissional. Fui reserva do Félix, tricampeão do mundo em 1970. Vale ressaltar que quando cheguei às Laranjeiras, era o quarto goleiro – Félix, Roberto, Nielsen, e eu. Tive a honra de jogar na Máquina Tricolor de 1975. Neste momento ganhei muita experiência. Tinha ao meu lado craques como Rivellino, Gil, Pintinho, Paulo Cezar Caju, Edinho, Carlos Alberto Torres e outros grandes jogadores. Mas a minha relação com os outros goleiros era ótima. O Félix era um professor. Foi primordial para minha evolução.

Seu pai Osmar foi seu grande incentivador?

Sem dúvida. Ele quem me levava para os jogos no início da minha carreira no juvenil, e quando cheguei no profissional, eu não deixava ele assistir mais meus jogos porque ele ficava muito nervoso (risos). E me transmitia nervosismo também. Meu pai foi minha fonte de motivação.

Qual o motivo de ter saído do Fluminense em 1976 para jogar no CSA?

Eu saí do Fluminense em 1976 e fui emprestado para o CSA. O Pinheiro, que havia sido meu treinador no juvenil, falou que por ser o quarto goleiro, seria muito difícil eu vestir a camisa número 1 do Fluminense. Naquele momento, uma saída para mim seria bom para eu pegar experiência, jogar em um outro time, disputar outros campeonatos, conhecer um outro universo no futebol. E de fato esse empréstimo me ajudou. Fez um ter maios oportunidades e ter uma vida pessoal sozinha, por exemplo. Eu tinha que me virar! Em tudo na vida eu sempre tive esse lado que eu considero positivo: extrair sempre algo bom das oportunidades e foi assim no CSA, em 1976. Quando eu voltei, o Fluminense acabou me dando passe livre e num primeiro momento fiquei completamente desnorteado. Era garoto ainda, tinha grandes aspirações no futebol e queria ser um grande goleiro e vencer nesse esporte. Lembro foi uma barra. Eu cursava o terceiro grau à época fazendo Arquitetura e passei para Economia. Aí eu pensei: “Poxa vida, o Fluminense me mandou embora, acho que eu não vou ter mais chances. O que vou fazer?”, perguntei para mim mesmo. Fui no clube e pedi para me deixarem ficar treinando para eu ter um condicionamento físico até aparecer um clube interessado em minha contratação. Foi isso.

Como tem enfrentado esses dias de isolamento social devido ao coronavírus?

Desde março que estamos trabalhando home office e na TV, tenho feito meus comentários de casa. É utilizando o distanciamento, máscara para todos os lugar quando eu tenho que sair, e me exercitando na medida do possível. No início do ano deixei de ir para academia, aluguei uma bicicleta ergométrica da academia e faço meus treinamentos em casa. Mas de vez em quando, monto um circuito e faço meu treinamento em um campo de futebol que tem perto de casa e fico sozinho fazendo. Essa foi a forma que encontrei para enfrentar o isolamento e o distanciamento social. A vida profissional segue tendo todos esses cuidados e a vida social em casa assistindo TV, lendo livros e estudando.

Antes de chegar no Botafogo, você passou primeiro pelo Volta Redonda e depois no Americano, até ser contratado em definitivo pelo Glorioso no início de 1980. Como foi jogar em dois clubes considerados de menores investimentos, embora cidades importantes para a Economia do Estado? Já que cursou Economia!? (risos)?

Foi o Félix. Ele apareceu mais uma vez na minha vida e falou: “Paulinho, o Volta Redonda tá querendo me contratar e eu não vou, mas vou te indicar. Você quer?”, perguntou-me. Aceitei de imediato. Fui para o Volta Redonda e até hoje não esqueço que quando cheguei no clube para acertar o contrato o presidente disse: “A gente queria o Félix, mas ele indicou você, e a gente realmente tá precisando de um terceiro goleiro” (risos). Caramba! Terceiro goleiro do Volta Redonda, foi o que pensei! Mas tudo bem! Vou tentar mais esse ano. Foi em 1977. Eu vou tentar, se der continuidade na carreira, ok! Caso contrário, continuo dando seqüência aos estudos. E graças a Deus, deu tudo certo, eu passei pelo Volta Redonda, depois pelo Americano, e vale um registro. Esses dois clubes foram muito importantes na minha carreira profissional. Além de me dar visibilidade, porque eu jogando diretamente no Campeonato Carioca, e enfrentando os grandes clubes, é óbvio que você é muito atacado e estando bem fisicamente, você acaba se destacando. E foi exatamente isso o que aconteceu, fiz grandes partidas no Volta Redonda e no Americano e chamei a atenção de muitos clubes que começaram a ver no goleiro Paulo Sérgio um grande goleiro. Já o interesse do Botafogo surgiu após eu fechar o gol numa no Maracanã. Sabe aqueles dias em que tudo dá certo? Pega até pensamento? Foi desse jeito. Estávamos dentro do vestiário comemorando a vitória e tomando banho. De repente, veio Sebastião Leônidas (um dos maiores zagueiros da história do Botafogo que foi contratato junto ao América, campeão de 1960, para substituir o Nílton Santos) que havia sido meu treinador no Volta Redonda e ele era auxiliar técnico do Botafogo. Aí ele falou: “Paulinho, o pessoal do Botafogo tá querendo conversar com você, está querendo te contratar”, disse. Fiquei feliz, mas como estava com o contrato até dezembro com o Americano, mas nada que impeça de conversarmos. E foi o que ocorreu. Numa folga minha fui conversar com o Rogério Corrêa, que era o vice-presidente do Botafogo. Fui em sua casa e acertamos o contrato. Isso era em setembro, meu contrato com o Americano foi cumprido até o fim de ano, religiosamente, e em janeiro de 1980, me apresentei ao Botafogo para retornar a um grande clube do país. 

É verdade que quando o Botafogo vencia, você repetia o mesmo uniforme para o próximo jogo, e no ônibus do time, fazia questão de ocupar sempre a mesma poltrona, a de número? Você era supersticioso mesmo?

Sou supersticioso sim e fiquei muito mais quando cheguei no Botafogo! Gostava de cuidar do meu uniforme todo. Trazia para casa e a minha mãe que lavava. Repetia o uniforme quando eu atuava bem na última partida. Eu era tinhoso! Fazia tudo da mesma forma (risos): as mesmas luvas, o mesmo calção, a mesma camisa, os mesmos meiões, e era tudo certinho. Já o lance da poltrona 21 é a mais pura verdade, já era cadeira cativa. E tinha uma outra superstição que você não abordou na sua pergunta e que eu era sempre o último a sair do ônibus. E aí todo mundo brincava comigo. Teve uma vez que foram me pregar uma peça, e o pessoal se escondeu lá atrás no ônibus. Olhei, já tinha todo mundo saído. E ao descer do ônibus o pessoal começou a me zoar e por coincidência o time acabou perdendo. Só sei que eles nunca mais fizeram isso e deixaram eu e as minhas superstições da poltrona 21 e sair por último em paz (risos).

O Maracanã soprou 70 velhinhas. Quais são as suas primeiras lembranças como jogador no estádio?

Poxa vida, foi no Maracanã onde eu tive as melhores atuações e o privilégio de jogar com 180, 190 mil pessoas! Impossível hoje em dia em função da redução de sua capacidade. Mas foram bons tempos. As arquibancadas estavam lotadas e podia, inclusive, conversar com alguns torcedores que ficavam nas gerais e os repórteres atrás do gol. Que saudades, cara!

Qual foi o maior goleiro que você viu no futebol?


Foi o Sepp Maier da Alemanha. Eu olhava e o achava um goleiro excepcional, apesar de meu ídolo na posição ter sido o goleiro Andrada do Vasco. Eu achava ele com o biotipo muito parecido com o meu, um goleiro baixo e muito ágil. Lembro das vezes que fui ao Maracanã só para vê-lo jogar. Ficava atrás do gol olhando seu posicionamento e como ele jogava. Como ídolo foi o Andrada, no entanto, o maior de todos foi o Seep Maier.

Em 1981, com a camisa 1 da seleção brasileira, você enfrentou a França, no Estádio Parc des Princes, em Paris. Quais as lembranças daquela partida?

Foi a minha estreia na Seleção Brasileira contra a França na excursão pela Europa. Convocado pelo saudoso Telê Santana. Além da vitória contra a França, que no ano seguinte foi à semifinal da Copa do Mundo da Espanha, ganhamos da Inglaterra,, em Wembley, e da Alemanha, em Stuttgart. Para mim foi especial. Primeiro que nesse mesmo jogo, o Zico marcou seu gol de número 500, e antes da partida, o Pelé recebeu o troféu de ‘Atleta do Século’. Lembro que ele passou perto de mim e até brincou comigo quando estava aquecendo: “O menino, não vai tremer não, né?”, perguntou sabendo que era minha estreia. Imagina, um garoto que estava até pouco tempo atrás no Volta Redonda e no Americano e tendo a chance na Seleção Brasileira. E o nosso Rei vira e fala isso para você? Mas foi uma estreia muito boa, marcante e a vitória por 3 a 1 contra uma grande equipe da França que tinha Platini, Gérard, Tigana, Trésor e Didier Six. Mas a nosso time era muito bom também.

Em grande fase, convocado, você foi reserva de Waldir Peres na Copa do Mundo da Espanha, em 1982. Foi uma injustiça aquele time não ganhar o título pelo futebol que jogou?

Sim, foi injusto, apesar de achar que não existe justiça no futebol. Foi um dia em que não fomos felizes e acabamos sendo derrotado pela Itália, que tinha um time muito bom, mas o nosso time era bem superior. Acredito, inclusive, que em condições normais, e sem cometer erros como aconteceu nesta partida, acho que nós seríamos merecedores da vitória, e consequentemente, do título, pois o nosso time era muito bom.

“Depois do nosso primeiro compromisso na Copa do Mundo de 1982, passei um dia inteiro tentando convencer o Waldir Peres de que ele não tinha falhado no gol da União Soviética”, disse você à Placar de 20 de agosto de 1982. Como era a relação sua com o nosso camisa 1 e titular do Brasil naquela Copa do Mundo?

Ótima. Nossa relação era ótima. Depois do primeiro jogo na Copa do Mundo de 1982, em que o Waldir Peres falhou no jogo contra a União Soviética, todo mundo ficou ventilando que eu ia jogar, que eu ia entrar e que ele falhou. É lógico que a minha vontade era de jogar, claro, eu queria ser titular, mas quando você trabalha, com senso coletivo bem desenvolvido, sinceramente, seria injusto da minha parte assumir a posição por causa de uma infelicidade do companheiro. Jamsia apunhalaria o Waldir Peres ou outro goleiro para tentar sobrepor-me diante de uma falha que acontece com todo o goleiro. E revelo para vocês, do Museu da Pelada: eu dei força para ele no nosso reservado e para os outros eu falei que ele não havia falhado, mas obviamente, que ele falhou. No chute, tecnicamente falando, ele fez uma entrada errada na bola, e a gente conversou internamente sobre isso. Lembro que eu falei para ele: “Waldir Peres, eu e o Carlos estamos aqui para te dar força, mas se o Telê me chamar para jogar é lógico que eu vou, mas estamos aqui para te apoiar e dizer que estamos contigo”. 

A última sobre 1982: você pode nos contar como era fazer parte daquele grupo? Como era o ambiente? Todos ali se davam bem de verdade? Telê realmente era muito fechado?

O grupo de 1982 era brincadeira (gíria carioca para designar algo único, que designa alto nível de pessoas)! Depois da Seleção Brasileira de 1970 foi o grande grupo de uma Seleção Brasileira de todas as que participaram de Copas do Mundo. A Seleção de 1970 era grande, e a de 1982 também. Eu só tenho que agradecer pelo privilégio em ter jogado junto com eles. Para ter uma ideia, a gente era, não uma Seleção, mas um grupo de amigos em primeiro lugar. Companheirismo de verdade. Após a classificação para a Copa do Mundo de 1982, a seleção fazia um amistoso por mês. A reunião estava garantida, porque o plantel só tinha dois que jogavam no exterior: o saudoso Dirceu e o Falcão. Os demais atuavam no Brasil. Então, nós tínhamos uma afinidade muito grande. Era de extrema relevância esse encontro com grandes jogadores, cada um estrela no seu time, mas na Seleção era em prol de um grupo. Foi uma pena a gente não ter ganhado, mas que ficou na lembrança de todos. Essa grande Seleção ficou.

É verdade que o ‘seu” Graciano Espíndola, seu sogro, comprou seu próprio passe e o alugou para o Goiás em 1985?

Essa história foi muito interessante, pois era final de 1984 e eu estava no Botafogo. Ocorreu que meu sogro, um empresário no mercado de Comércio Exterior, falou que tinha a possibilidade de dois clubes me contratarem. Achei legal, mas falei para ele que achava muito difícil o Botafogo me vender, e caso me vendesse, ia querer um preço enorme, já que eu era um jogador valorizado e de Seleção. O que a gente fez: como eu tinha algumas luvas atrasadas a receber do clube, fizemos um acordo e o meu sogro comprou o meu passe. A ideia era logo em seguida me vender para não ficarmos com o passe na mão. Mas acabou não dando certo. Apareceu o Goiás querendo que eu disputasse o Campeonato Brasileiro, e a gente achou uma oportunidade de ter a reciprocidade do retorno que a gente havia empenhado junto ao Botafogo. Foi isso que a gente fez. Alugamos o meu passe para o Goiás e acabamos de certa forma tirando um pouquinho do prejuízo.

No verão de 1985, você pensou em abandonar os gramados. Na época, cursava o último ano do curso de Economia da Faculdade Cândido Mendes. Porque resolver enveredar para uma outra área?

Quando voltei do Goiás, realmente, eu pensei em abandonar a carreira. Já estava me formando em Economia e tinha essa proposta de trabalhar nessa empresa de comércio exterior, onde estou atualmente. Mas como estava no Goiás, clube que fiquei apenas três meses, e quando voltei, fiquei dois meses sem contrato e só treinando. Aí apareceu na história o Lancetta que tinha sido meu preparador físico no Botafogo. Ele estava no América e me convidou para jogar. Movido a desafios, resolvi ir para dar continuidade na carreira. Retomei a carreira e passei pelo Vasco em 1986, clube em que me sagrei campeão da Taça Guanabara. Depois disso, já campeão e com uma boa passagem pelo Vasco, voltei ao América, que começou a atrasar salários. Mas como já tinha uma vida para cuidar, filho e tudo mais, resolvi dar seguimento a minha vida em outro setor e parei de jogar. Mas é bom deixar claro que eu parei de jogar em função dos salários atrasados e porque eu tinha contas a pagar e não podia ficar vivendo de sonhos. No entanto, depois disso, veio a seleção de Master do Luciano do Valle que me convidou para fazer parte daquele time sensacional. Reencontrei o Rivellino. Lembra que eu disse ter sido do plantel da Maquina Tricolor há 45 anos?  Foi um momento mágico também. Jogávamos todo os domingos. Foi organizado Mundialito. Foi um sucesso. Pendurei minhas luvas em 2000 no futebol de areia. 

Qual foi o melhor treinador com quem você trabalhou?

Telê Santana na Seleção Brasileira e Paulinho de Almeida no Botafogo.


E o treinador de goleiros?

Muitos treinadores de goleiros foram importantes na minha carreira, como Raul Carlesso, que foi o meu primeiro treinador no Fluminense, onde foi o começo de tudo. Depois tive o prazer de ter o Sebastião Leônidas no Botafogo, no qual reputo como um excelente treinador. Mas o Nielsen foi o melhor com quem eu trabalhei.

Novamente no Rio de Janeiro, você firmou seu compromisso com o América e na temporada de 1986, alugou seu passe ao Vasco da Gama. Como foi essa passagem pelo clube?

Aliás, esse time do Vasco foi campeão da Taça Guanabara e era treinado por Antônio Lopes. Sobre a minha passagem? Basta dizer que esse time tinha Romário, recém lançado aos profissionais, Roberto Dinamite e Mauricinho. Tá respondido?

Em campo, seu último time foi o América, no entanto, na areia, você jogou por mais doze anos. Que balanço você faz da carreira?

Foi legal. Agradeço tudo que eu passei. Minhas vitórias, derrotas, demissões, no caso quando eu fui mandado embora e recebi passe livre do Fluminense, e tudo na vida (risos)! O que vale é a experiência. A carreira de jogador profissional, além de ter me dado muita coisa financeiramente falando, produziu uma imagem positiva e de profissionalismo.

Qual era o segredo para ter uma ótima impulsão, já que você tinha apenas 1,78 metro de altura?

Eu sou oriundo da areia, apesar de ter nascido em Santa Teresa. Mas você já nasce com a musculatura preparada para isso e desde muito cedo que eu treinava no Aterro do Flamengo. Inclusive, sempre joguei nos campeonatos de praia e depois fui morar em Botafogo, e continuei jogando minhas peladas. Então foi assim. Fui crescendo na areia, e por meio dela, que consegui uma impulsão muito grande. No entanto, o grande segredo não era só a impulsão, mas a colocação, que foi isso que aprendi com o Andrada. Ele tinha uma ótima impulsão, mas a colocação dele era muito boa. A colocação do argentino dava condições de antever a jogada para um salto ou melhor posicionamento para fazer a defesa de um chute. Lógico que quando a bola ia muito longe você tinha que usar sua impulsão, sua elasticidade, mas o grande segredo foi que eu nasci com musculatura propícia para isso e aperfeiçoei na areia.

Defina Paulo Sérgio em uma única palavra?

Batalhador.

MARADONA, O CALÍGRAFO DA BOLA

por Marcos Vinicius Cabral


“Não acredito, meu Deus!”, foi o que disse às 13h15 da tarde desta quarta-feira (25/11), quando parei o carro embaixo de uma amendoeira bem próxima da barraquinha de seu Antônio e do mercado em que segundos antes havia deixado minha esposa e sua mãe.

À sombra da árvore enquanto esperava por elas, peguei o celular para ver as mensagens que chegavam a todo instante no WhatsApp.

Fui checando uma a uma e infelizmente era verdade: Maradona não conseguiu driblar a morte.

Com o celular ainda nas mãos, impactado, olhei para o céu, fechei meus olhos, encostei minha cabeça na porta do carro e comecei a pensar em Diego Armando Maradona Franco.

– Está passando mal? – perguntou o dono do caldo de cana mais saboroso de São Gonçalo.

– Não, estou pensando em Maradona! – respondi com os olhos fechados e suspeito que a essa hora ele já tenha entendido minha resposta mesmo dizendo um “Eu, hein!” como se eu fosse louco.

Mas se ele não entendeu nada naquele momento, imagine nós, amantes do futebol, com a notícia da morte do maior nome do futebol argentino de todos os tempos?

Mas permaneci ali por dez minutos no máximo e coloquei o meu hipocampo para funcionar.

Ali, no silêncio fúnebre, refleti sobre as vidas humanas perdidas na ‘Guerra das Malvinas’, em que a Argentina tentou e não conseguiu recuperar parte territorial dos arquipélagos da Inglaterra. 

Resultado: 640 argentinos fecharam os olhos em definitivo e 255 ingleses foram carregados em seus caixões por seus familiares.

Nessa viagem de poucos minutos, deu tempo de pensar naquele 22 de junho de 1986 – quatro anos após o fim do confronto bélico entre os países.

Dessa vez, para o bem da humanidade, não haveriam armas, helicópteros, explosivos ou aviões militares, mas sim um Estádio Azteca abarrotado de gente, que assistia 22 homens vestidos com suas fardas de seus países e uma bola que serviria para vencer a batalha campestre: o gol!


O fato é que ‘La revancha de los Dioses’ ocorrida há 34 anos, foi vencida pelos sul-americanos, que fizeram justiça com os próprios pés, uma mão divina e um ‘Dios’ dentro de campo: Maradona, eterno como aquele jogo que é, segundo o jornalista Paulo Vinícius Coelho em seu livro ‘Os 50 maiores jogos das Copas do Mundo’, o 11º mais importante de todas as edições de Copas do Mundo.

Já o gol de Maradona aos 36 minutos do segundo tempo, o mais bonito de todos os novecentos jogos nas vinte e uma edições de Copas do Mundo.

Nessa viagem insólita, pensei na fraca Argentina de Carlos Bilardo, que venceu no Estádio Delle Alpi, em Turim, a equipe brasileira por 1 a 0, num lance majestoso de um camisa 10 de 1,65m de altura que em um rompante iluminado – como fez o norte-americano Thomas Edison (1847-1931) ao criar a lâmpada para o mundo – colocou o atacante Caniggia para marcar o único gol da partida.

Mesmo sendo melhor nos 90 minutos da partida, terminava ali, a jornada brasileira logo nas oitavas de final, naquele 24 de junho de 1990.

Nessa viagem intrínseca, lembrei dos jogos transmitidos pela Bandeirantes, dos títulos do Napoli em 1986/87 e 1989/90, e de tantos e tantos jogos narrados por Luciano do Valle (1947-2014), Silvio Luiz e Jota Júnior e comentários de Elia Júnior, Juarez Soares (1941-2019).

Nessa viagem inimaginável ao passado, lembrei do gol que marcaria época não apenas pela beleza do lance, mas também pela comemoração: raivosa, aos berros, na direção das câmeras, em plena Copa do Mundo dos Estados Unidos, em 1994.

Maradona queria provar, ali, que estava inteiro para o futebol, que, aos 33 anos, poderia conduzir sua seleção a mais um título mundial e que os meses em que permanecera suspenso por consumo de cocaína eram coisa do passado.

Golaço contra a Grécia e presente de grego na suspensão imposta pela Federação Internacional de Futebol (FIFA).

Nessa viagem ao túnel do tempo, lembrei das vezes em que discuti com amigos, como o jornalista Helvio Lessa, o repórter fotográfico Kiko Charret e o diagramador Jorge Quintanilha, sobre quem foi melhor: Maradona ou Pelé, quando começou a polêmica envolvendo os dois camisas 10 do futebol mundial no século XX.


Eles eram Maradona, eu Pelé.

Mas o ‘Pibe de Oro’ foi verso, reverso e controverso, a ponto de ter lugar cativo no coração do torcedor e um ‘Natal’ argentino comemorado em seu aniversário: 30 de outubro!

Não há um argentino na face da Terra que não idolatre seu eterno ídolo, como o jornalista Hernán Amez, que criou a Igreja Maradoniana em 1998 e tem o tetragrama sagrado D10S, que mistura a palavra em espanhol (Diós) para Deus com o D de Diego e o 10 da sua camisa.

Ainda daria tempo para pensar na vida do menino pobre que nasceu na Villa Fiorito, favela situada em Lanús, na Argentina, nos excessos com o tabaco, bebidas e drogas, assim como a difícil relação com a imprensa.

Sim, daria, mas o som da porta do carro sendo aberta pela minha esposa e sua mãe, me despertou.

– Vamos embora, meu bem, que estamos atrasados para o almoço! – disse minha adorável esposa, me preservando de pensamentos tão ruins de quem fez tão bem para o futebol.

Maradona merece reverências, já o cidadão Diego Armando Maradona Franco, respeito.

VOZES DA BOLA: ENTREVISTA MAURO GALVÃO


Por alguns anos, foi atribuído erroneamente ao bairro Menino Deus, em Porto Alegre, a música do cantor e compositor baiano Caetano Veloso.

Anos depois, em entrevista ao programa Patrola da RBS TV (afiliada da Rede Globo na cidade gaúcha), o gênio da MPB relata ter conhecido, na capital do Rio Grande do Sul, um ‘menino’ tão lindo que para ele era um ‘Deus mitológico’, razão da escolha do título de sua bela canção.

Se os versos harmônicos deste sucesso de 1978 tornaram o bairro conhecido despretensiosamente, havia ali, desde muito cedo, um garoto que costumava jogar bola até o sol se despedir.

Com as estrelas batendo à porta do céu em sua chegada, o pequeno ‘Maurinho’, com 10 anos de idade, era chamado por seu Oquelésio e pela saudosa dona Luzia para vir tomar banho, jantar e dormir.

No dia seguinte, a maratona recomeçava: colégio, casa, futebol até tarde e casa novamente.

Com destreza, começou precocemente a mostrar na ponta-direita do União dos Onze – time tradicional do bairro – um futebol que chamava atenção.

“Eu vestia a camisa 7 e apesar de ser ponta-direita, voltava para ajudar na marcação”, diz já mostrando um sentido de coletividade desde pequeno que marcou seus quase 24 anos de carreira.

Certa vez, foi jogar contra o Grêmio defendendo as cores amarelo e verde com listras vermelhas na manga do União dos Onze, na casa do temido adversário.

Com os olhos fixados no gramado do campo suplementar – que ficava ao lado do estádio Olímpico – olhava os pingos fortes da chuva, que fizeram com que o confronto contra o tricolor gaúcho fosse cancelado.

Tudo em vão, porém, antes de ir embora, um convite do diretor Fernando Zacouteguy mudaria sua vida para sempre: era atleta do Grêmio e deixou de ser chamado de Maurinho para virar Mauro Geraldo Galvão.

Mesmo se destacando nas categorias inferiores da equipe gaúcha de 1971 a 1975, numa gangorra sem fim de um sobe e desce interminável, decidiu ir para o Internacional graças aos ouvidos argutos de seu Abílio dos Reis – considerado o maior garimpador de talentos do futebol gaúcho, tendo inclusive uma biografia escrita contando alguns casos de suas descobertas envolvendo a dupla ‘Gre-Nal’ – e  começou a escrever sua história.

Lançado por Ênio Andrade nos profissionais com 17 anos de idade, começou a trocar passes com Falcão, chupar laranjas com Jair, dividia esparadrapo com Mário Sérgio, pegava gaze emprestado com Batista, revezava aparelhos na academia de musculação com Valdomiro, matava a sede após os treinos  no mesmo bebedouro onde o goleiro Benítez matava a sua e extraia o máximo dessa rica convivência que aqueles jogadores lhe proporcionavam.

Certa vez, em um treino de dois toques, Falcão o reeprendeu por não ter dado um ‘bico’ na bola.

“Mas onde é o bico?”, respondeu ao ídolo Colorado, deixando todos em volta com olhos arregalados.

Mas se o menino se tornou campeão  Brasileiro em 1979 de forma invicta, o futebol conheceria um dos maiores zagueiros de sua história: Mauro Galvão!

Clássico e com uma tranquilidade impressionante, Mauro Galvão se tornou um quebrador de jejuns durante a trajetória dentro dos campos de futebol quando conquistou a Taça Rio pelo Bangu em 1987 – o último troféu erguido pelo alvirrubro havia sido em 1966 pelo goleiro Ubirajara – o Carioca pelo Botafogo em 1989 – desde 1968 que a torcida alvinegra estava com o grito de campeão preso na garganta – a Copa América pela Seleção Brasileira no mesmo ano de 1989 – após quatro décadas sem título – o Brasileiro pelo Grêmio em 1996.

O Museu da Pelada entra de forma forasteira no território sem lei do futebol em plena pandemia e chama o xerife no ‘saloon’ para um bate-papo para a série Vozes da Bola da semana.

Por Marcos Vinicius Cabral

Edição: Fabio Lacerda


No Grêmio, você começou como lateral-direito e mesmo se destacando nas categorias inferiores do tricolor gaúcho de 1971 a 1975, foi pouco aproveitado. Seu Abílio dos Reis – considerado o maior garimpador de talentos do futebol gaúcho – ficou sabendo, e o levou para o Internacional.  Como foi essa história do Grêmio não te valorizar e o Internacional, seu rival, sim?

Eu comecei na escolinha do Grêmio aos 11 anos de idade e fiquei um bom tempo ali. Foi uma experiência muito boa, aproveitei bastante e só tenho a agradecer por essa oportunidade. Comecei como lateral-direito, e aos poucos, fui deixando a extremidade do campo e começando a vir para o miolo da zaga. Quando me transferi para o Internacional já estava atuando como zagueiro. Essa questão é muito difícil de explicar, né? O Grêmio é um time muito organizado, assim como o Internacional. No entanto, naquela época, a filosofia do Internacional era aproveitar mais jogadores da base, enquanto o Grêmio contratava jogadores já formados com 28, 29, 30 anos. Diante deste cenário, eu conversei com meu pai e nos percebemos que as chances de subir ao profissional jogando pelo Internacional eram mais reais. E foi assim que aconteceu. Não houve nada de diferente, e sei que até hoje, tem muitos comentários no Sul sobre esse assunto. Alguns dizem que fui dispensado, outros dizem que fui para o Internacional porque meu pai era torcedor. As histórias são diversas. Mas é bom poder contar o que de fato aconteceu nessa entrevista, pois houve a proposta do Internacional, eu aceitei e acabei indo para o Beira-Rio, exatamente por perceber que ali eu teria mais condições de me profissionalizar, pois eles davam mais atenção para a base. Simplesmente por isso. Basta ver o Falcão, Batista, Jair e eu, que subi aos 17 anos.

Você começou precocemente a mostrar seu futebol na ponta-direita do União dos Onze, time tradicional do bairro. Não era zagueiro, mas um ponta direita que atacava e defendia com a mesma eficiência nos campeonatos no campo da Redenção, no bairro Menino Deus, em Porto Alegre. Ali foi o começo de tudo?

União dos Onze foi o meu primeiro time organizado que eu participei. Era um time de bairro que a camisa era amarela e com listras vermelhas;. Era muito legal. Foi uma experiência muito boa porque eu pude conviver com jogadores mais velhos do que eu e isso me deu experiência. Comecei a jogar com 11 anos no time de 14. Eu sempre procurei jogar com jogadores com mais idade. Isso era uma estratégia minha para poder aprender e também ter condições de melhorar minha performance diante das dificuldades, já que a diferença física nesta faixa etária é muito acentuada. Lembro que comecei realmente a jogar pelo lado direito como um ponta-direita. Eu fazia um ponta falso que vinha para dentro a fim de ajudar o lateral-direito. Desde pequeno eu sempre tive essa preocupação em jogar e também em ajudar na parte defensiva. Então, não podia ser diferente, já que no futebol você realiza as funções de atacar e defender.

Mauro Galvão, você foi um jogador predestinado a quebrar jejum. Foi assim com a conquista da Taça Rio pelo Bangu em 1987, no  Botafogo e na Seleção Brasileira, ambas em 1989, no Grêmio em 1996, e no Vasco em 1997. Na sua opinião, qual destes foi o mais difícil?

Os tabus fazem parte do futebol e a imprensa gosta muito desse tipo de situação e acho que é normal. Eu particularmente, quando jogava defendendo qualquer clube nunca pensava nisso. Claro que tive essas experiências no Bangu, Botafogo, Seleção Brasileira, Grêmio e no Vasco, pelo fato da equipe ficar um tempo sem ganhar. Mas acho que nenhuma foi tão grande quanto a do Botafogo, pois foi muito forte as encarnações das pessoas que eram torcedores rivais e isso deixava a torcida alvinegra bastante chateada. Um exemplo do que estou falando era aquela história de cantar parabéns antes dos jogos e acho que realmente foi a parte mais forte de todos esses clubes em que passei. Os rivais faziam isso como forma de desestabilizar os jogadores e os torcedores do Botafogo. Mas confesso que incomodava um pouco, mas para nós jogadores, o foco nosso era apenas em jogar futebol, ganhar os jogos e tentar o tão esperado título. Vale ressaltar que esse jejum não era nosso, daquele grupo de jogadores em 1989, mas sim o jejum de equipes passadas e do clube em si. Posso te afirmar, sem sombra de dúvidas, que nós não vivemos aquele período de tantos anos sem título e sim daquele período em que estávamos jogando no clube, ou seja, o ano de 1989. Eu tenho a consciência tranquila e nunca me preocupei com isso e agente entrou durante a competição para conquistar o título de campeão Estadual de 1989 e foi o que fizemos, onde procuramos não pensar muito nisso nesse negócio de tabu, jejum, e parabéns para você. Era uma carga muito grande e uma responsabilidade maior ainda, um clube da grandeza do Botafogo ficar anos sem títulos. Mas graças a Deus, conseguimos conquistar um título muito importante e acho mexeu muito com a gente, pela repercussão que teve em função de ser 21 anos e também pelo fato das torcidas adversárias procurarem sempre nos desestabilizar.

No primeiro ano de profissional ganhou logo de cara a primeira ‘Bola de Prata’ da carreira. Que importância teve esse prêmio?

Foi muito importante conquistar o título de Campeão Brasileiro de forma invicta em 1979 com o Internacional, e consequentemente, esse prêmios acabaram surgindo. A Bola de Prata sempre foi um prêmio que se tornou uma referência e o maior prêmio individual que um atleta de futebol pode conquistar. Particularmente, para mim foi muito bom ter conquistado essa Bola de Prata e ser considerado o melhor quarto zagueiro do Brasil em 1979, e o Falcão, o melhor cabeça de área. Inclusive, nessa premiação, fomos juntos na festa que foi no Rio de Janeiro. Encarei isso com uma alegria muito grande e quando você está feliz por ter conquistado um título da relevância de um Brasileiro e ainda recebe o prêmio de melhor da sua posição, isso motiva e ajuda muito para quem está iniciando a carreira como foi o meu caso.

Revelado no Internacional, você conquistou o Brasileiro de 1979 e o tetracampeão gaúcho em 1981/82/83/84. Como foi ser campeão, ainda garoto, num time com Falcão, Batista, Mário Sérgio, Jair, Mauro Pastor e Valdomiro?


Foi uma convivência muito importante. Uma verdadeira escola. Não era apenas jogar com eles, mas conviver e ter a noção de como um profissional tem que se comportar e a importância que tem tudo isso. Foi muito bom para mim. Acho que eu soube aproveitar. Pocurei em todos os momentos extrair o máximo dessa convivência e acabou como se eu estivesse em uma faculdade do futebol. Posso afirmar que todos os grandes jogadores e companheiros que tive como João Carlos, Falcão, Batista, Jair, Mário Sérgio, Benítez, Mauro Pastor, Cláudio Mineiro, Gasperin, que era o goleiro reserva e que faleceu, o Adilson, falecido também infelizmente, Bira, que acabou parando um pouco mais mais cedo, o atacante Chico Spina, que fez gols importantes nas finais, e Valdir Lima, substituto do Falcão, estavam prontos a ajudar sempre. Isso sem falar do nosso treinador Ênio Andrade e do preparador físico Gilberto Tim que foram essenciais e nos proporcionavam um ambiente sensacional com muito profissionalismo e uma leveza boa no vestiário.

Após sete anos a serviço do Internacional, você chegou no Bangu, aceitando o convite de Paulo César Carpegiani para a conquista do Campeonato Brasileiro de 1986. Por que o Bangu não foi bem naquele ano?

No final da minha passagem pelo Internacional, acabei indo para o Bangu, logo após eu ter ido à Seleção Brasileira na Copa do México em 1986. Acontece que no retorno achei que era o momento de sair e apareceu essa oportunidade de jogar no Bangu. Em seguida falei com Paulo César Carpegiani que formalizou o convite. Naquele momento achei que era interessante para a minha carreira e conversei com Castor de Andrade e acertamos. Acho que foi uma decisão acertada porque eu já estava no final de um ciclo no Internacional e havia aparecido algumas oportunidades, mas como eu tinha um contrato a cumprir, fiquei preso e naquela época só se o atleta fosse vendido ele saía do clube. Quando apareceu o Bangu não pensei duas vezes e fui. Mas essa mudança para o Rio de Janeiro, eu, particularmente, gostei. É lógico que existia uma diferença entre o Internacional e o Bangu, não como clube, mas como torcida, pois não tem como negar a diferença entre elas. No entanto, o time do Bangu naquele momento era uma grande equipe, muito competitiva, e com grandes recursos financeiros para contratar. Foi uma mudança boa que acabou se revelando melhor ainda quando permaneci no Rio de Janeiro.

Em 1988, você, Marinho e Paulinho Criciúma, foram para o Botafogo. Mas quase foram parar no Fluminense, que havia sacramentado a venda do cabeça de área Jandir para o próprio Botafogo, mas a diretoria do Glorioso desistiu do negócio. O que realmente houve ali?

Nós fomos para o Botafogo em 1988, pois em 1987, nos sagramos campeões na Taça Rio com o Bangu, um título que foi muito importante e decidimos contra o próprio Botafogo vencendo por 3 a 1. Posteriomente, a gente acabou sendo contratado pelo Botafogo, e o seu Emil Pinheiro, dirigente naquela época me contratou. Sobre essa questão abordada na sua pergunta sobre o Fluminense, eu não sei de nada, apenas boatos na época, mas como no meio do futebol existe muito boato, a gente nunca sabe se é verdade. O fato é que quando eu sai, em 1987, de férias, conversei com o Castor de Andrade e falei para ele que queria sair e que ele conseguisse uma equipe para minha transferência. Eu queria continuar minha carreira e era importante voltar para um time com uma grande torcida. E foi o que aconteceu com o surgimento do Botafogo.

Recentemente, fez 31 anos da conquista do Campeonato Carioca de 1989, em cima do Flamengo. Como foi quebrar um jejum de 21 anos sem títulos para o Botafogo e o que representou essa conquista para você?

Foi muito importante esse título do Botafogo que marcou a minha carreira. Eram 21 anos sem título e isso era um tabu a ser quebrado por nós, jogadores. A torcida estava muito desconfiada. O time do Botafogo ia, ia, ia e não conseguia chegar, então, claro que nós não tínhamos nada a ver com isso. Naquele Campeonato Estadual de 1989, estávamos ali para fazer o nosso melhor e escrever uma outra história, mas no final das contas a gente acaba entrando nessa descrença dos torcedores. Graças a Deus  nós conseguimos montar uma boa equipe, um grupo bom de atletas e a chegada do Valdir Espinosa, treinador com uma cabeça boa e que procurou sempre dar um sentido tático para aquela equipe. Mas a vida de atleta é essa: conviver sempre com a dúvida se dá ou se não dá para conquistar esse ou aquele título. Isso foi importante para aquele grupo. Mas começamos a acreditar que só seria possível esse título com um trabalho bem feito. E foi o que aconteceu naquela noite do dia 12 de junho. Fizemos a nossa parte e não foi uma conquista fácil, porque para vencer aquele Flamengo, só sendo muito capaz.

Na Copa do Mundo de 1990, a ‘Era Dunga’ no qual você fez parte, sucumbiu para a Argentina nas oitavas de final, e você foi um dos poucos a se salvar naquele time, tanto que o Lugano, da Suíça, te contratou. O que tem a dizer disso?

Tive uma passagem muito boa na Seleção Brasileira em 89 quando conquistamos o título da Copa América (jejum de 40 anos) logo após o título do Carioca pelo Botafogo. Lembro que na sequência nos classificamos nas Eliminatórias para a Copa do Mundo da Itália e quando chegamos lá as coisas mudaram um pouco. Acho que perdemos o foco, acabou acontecendo algumas coisas que tiraram a nossa concentração e isso atrapalhou um pouco o nosso trabalho. Quando você tem um grupo fechado de jogadores é normal que aconteça problemas. Acho que poderíamos ter passado pela Argentina, pois dominamos o jogo, fomos melhores e não seria absurdo algum afirmar que poderíamos ter vencido e vencido bem. Mas acredito que justamente por causa dessa falta de concentração e por não estarmos tão focados. Quando a chance aparece você não está preparado, você acaba não fazendo o gol. Um exemplo do que estou falando aconteceu no lance do gol deles, porque a gente sabia que aquela jogada poderia acontecer. Quando enfrentamos A Argentina na Copa América, nós não deixamos isso acontecer. Não demos chances à seleção argentina que era a campeã mundial de 1986. Mas vale ressaltar a diferença do nível de concentração entre a Copa América e a Copa do Mundo. No jogo contra os argentinos no Maracanã pela Copa América, entramos ligados, e no estádio Delle Alpi, em Turim, nas oitavas de final da Copa do Mundo, parecia que a gente estava com a cabeça no mundo da lua. E aí, não dá! Quando se enfrenta um jogador com a qualidade do Maradona, sem marcação, basta um pequeno espaço para tudo complicar. No entanto, acho que a gente poderia ter ido mais longe na Copa do Mundo de 1990.

Como tem enfrentado esses dias de isolamento social devido ao Coronavírus?

Normal. No isolamento social tenho procurado fazer aquilo que tem sido colocado, e seguindo o que é pedido como evitar aglomerações, lavando as mãos, ficando em casa e saindo no máximo para coisas importantes e necessárias de se fazer. Uso máscara desde o início e sempre utilizando o álcool em gel. Tenho procurado fazer o que que foi colocado pelos órgãos competentes, mas claro, nem sempre aquelas coisas que eu acredito que são certas de se fazer ou são faladas, realmente tem que analisar bem. Mas é uma situação muito importante esse período de pandemia. É uma pena que no Brasil a gente use isso para levar o negócio para o lado da política. Isso é muito triste. Em um momento como este em que, infelizmente, tudo se politiza, uma situação como essa que todos deveriam estar unidos para tentar ajudar e melhorar as coisas, a gente está preocupado em responsabilizar os culpados pelo covid-19. Uma pena.

Foram seis anos na Suíça, e em 1996, aceitou a proposta do seu Grêmio, seu clube de coração. No Olímpico conquistou o Campeonato Brasileiro de 1996 e a Copa do Brasil de 1997. Jogar no tricolor gaúcho, foi um sonho realizado?

Eu fiquei seis anos na Suíça, e foi uma experiência maravilhosa, tanto na parte do futebol quanto na parte familiar. Foi uma época que fiz muitos amigos, além de ter aprendido uma língua, que era o italiano que a gente falava. É um país com uma cultura diferente e a gente teve essa oportunidade de conviver durante seis anos. Foi muita aprendizagem tanto para mim quanto para os suíços. Mas teve uma hora que foi o momento de voltar e como sempre acontece no futebol, acabei aceitando a proposta do Grêmio porque era um time que vinha fazendo um bom trabalho e muito organizado com o Luís Felipe Scolari no comando. Lembro que havia uma proposta do Palmeiras também, mas optei pelo Grêmio pelo desejo de voltar para minha cidade natal que é Porto Alegre e por ter iniciado a carreira lá aos 11 anos. Era um ciclo que se abria e fechava com essa minha volta. Mas graças a Deus, deu certo. Não foi fácil no início e para um cara que jogou no Internacional e ser contratado anos depois pelo Grêmio, a torcida fica na dúvida. Mas com o passar do tempo as coisas foram acontecendo e pude mostrar nos jogos meu profissionalismo e meu primeiro Campeonato Gaúcho pelo Grêmio, em 1996, o Brasileiro do mesmo ano naquele jogo incrível diante da Portuguesa de Desportos que tinha uma bela equipe. Na sequência, em 1997, conquistamos a Copa do Brasil contra o Flamengo, no Maracanã, outro campeonato muito importante e que nos marcou bastante. Foi uma realização pessoal ter retornado e ter fechado um ciclo no Grêmio com títulos. 

Em 1997, chegou a São Januário para conquistar quatro objetivos: o Brasileiro no mesmo ano, a Libertadores e o Mundial, ambos em 98, ano de centenário do clube, e ser ídolo da exigente torcida. Que balanço você faz desses quatro anos de serviços prestados ao Vasco da Gama?


Eu acabei acertando com o Vasco em 1997 e foi uma grande surpresa a forma como a coisa aconteceu nessa minha vinda para São Januário. Lembro que cheguei na mesma época que o Evair, o Válber, e o Nasa, que se não me engano veio do Madureira, mas o Vasco já tinha uma boa equipe formada. Havia sido vice-campeão Carioca, e em pouco tempo a gente conseguiu o entrosamento com os que já estavam no clube de forma surpreendente. Eu sei que não é fácil entrosar um time, e a gente conseguiu isso em poucos jogos o que nos proporcionou vislumbrar a possibilidade de lutar por títulos. Recordo-me que o time foi ganhando as partidas, encorpando, a confiança aumentando, e na final contra o Palmeiras, entramos com a moral elevada, pois vínhamos de uma goleada de 4 a 1 contra o Flamengo e vencer esse clássico nos deu um gás especial. Mas a final do Campeonato Brasileiro contra o Palmeiras, que era uma grande equipe e com jogadores de qualidade, foi especial e conseguimos levar o Vasco ao terceiro título de campeão do Brasileiro. Mas vale ressaltar que essa conquista acabou nos levando no ano seguinte ao nosso maior objetivo que era disputar e conquistar a Libertadores no ano do centenário do Vasco da Gama. Mas o ano de 1998 foi especial, pois tivemos a primeira conquista do ano, que foi o Estadual, no qual tive a oportunidade de fazer o gol da vitória contra o Bangu, e em seguida, a maior conquista da história do clube, que foi a Libertadores da América. Tivemos um começo muito difícil e crescemos durante a competição. Depois disso tivemos outros títulos como o Rio-São Paulo em 1999, a Copa Mercosul e a Copa João Havelange, ambas em 2000 e, infelizmente, perdemos duas finais, uma contra o Real Madri no Mundial Interclubes e outra contra o Corinthians no Maracanã, pelo Mundial de Clubes da FIFA. Mas acho que minha passagem em São Januário foi sensacional e a equipe transformou esse ciclo em um período muito vitorioso na história do clube.

Quatro anos antes de encerrar a carreira, em 1998, você lançou ‘Mauro Capitão Galvão – Lições de Vida, Lições de Futebol’, pela editora Gryphus. Qual a intenção de lançar uma biografia ainda estando em atividade?

Na verdade apareceu a oportunidade de lançar o livro, e o vascaíno Hélio Ricardo, que é jornalista e tem formação em teatro, acabou me apresentando essa proposta. A gente acabou acertando e fazendo. Não vejo diferença em fazer isso antes, durante ou depois de encerrar a carreira, sendo bem franco. Na verdade, apareceu a oportunidade, foi um período legal para fazer e a gente achou necessário produzir o livro, que acabou se tornando um documento. Vale citar que você tem várias histórias e uma delas aconteceu no próprio Vasco quando eu acabei completando 1000 jogos na carreia e só aconteceu porque houve o evento de divulgação do livro. Do contrário, a gente não teria como saber isso, e são vários fatores que são importantes. Estão contidos na obra e aconteceu na minha carreira. Têm coisas também que são passagens fora do futebol. Foi um momento importante porque fizemos o lançamento na sala de troféus do clube e acho que foi muito bacana e no momento propício. Mas minha passagem em São Januário foi importante para lançar o livro mencionando toda a minha carreira, fazendo um completo raio-x dos anos que passei no clube, as vitórias, títulos, conquistas. É um resumo bem bacana de toda minha carreira com a camisa vascaína.

Em recente entrevista para um famoso veículo esportivo do Rio, você citou cinco jogadores que foram referência para sua carreira: o zagueiro chileno Figueroa, Luis Pereira, ídolo da torcida palmeirense, Falcão, que foi seu companheiro no Internacional em 79, Cruijff, maior nome do futebol holandês e o Rei Pelé. Queria saber em que eles te inspiraram?

É verdade. Citei esses nomes em uma entrevista que eu tinha como referência na minha infância e quando eu comecei a jogar. Eu via muitos jogos na televisão e já gostava de futebol nessa época. Vi muito o meu pai que jogou futebol amador. Lógico que alguns jogadores me chamavam atenção, e normalmente, eram os que tinham uma capacidade técnica acima da média e uma postura boa. Era aquilo que me interessava mais. Um atleta que fosse também um exemplo, porque eu acho que é nossa função dentro do futebol, passar uma boa imagem e mostrar como o profissional deve ser. Eu aprendi isso com esses que você citou na pergunta e com os meus companheiros quando comecei no futebol. Isso para mim valeu muito e acho que a gente tem que fazer a mesma coisa: passar uma boa imagem para os jovens que querem jogar futebol. Nosso papel é mostrar para eles a verdade, e não enganá-los dizendo que se tornar atleta profissional é fácil e que tudo acontece tranquilamente. Não, não é verdade! Muito pelo contrário, é bem difícil e complicado. Para chegar lá, você tem que ser profissional, dedicado e abrir mão de muitas coisas, e só alguns chegam lá em cima e conseguem jogar. Um recado que eu deixo para os que querem fazer do futebol sua profissão.

Quem foi seu melhor treinador?

Tive vários treinadores bons e competentes. Muitos me ajudaram na minha carreira e me ensinaram bastante, mas o principal que eu menciono, até porque foi o meu primeiro treinador no profissional, foi o saudoso Ênio Andrade.

Você retornou ao Grêmio para encerrar a carreira aos 39 anos e jogou até os 41, conquistando o Campeonato Gaúcho e a Copa do Brasil. O que faltou para você como jogador?

Verdade. É uma coisa bem interessante e sempre falo para as pessoas que eu fui contratado pelo Grêmio, uma grande equipe de futebol brasileiro, aos 39 anos. É um negócio incomum isso e para você que é jornalista, acho que vale uma matéria ou uma pesquisa aprofundada para ver se já aconteceu com outros jogadores de futebol em ser contratado com essa idade para jogar em um time grande e disputar competições relevantes como Libertadores e Copa do Brasil. Na verdade, não acho uma coisa muito simples, entretanto, é motivo de satisfação poder falar isso. À torcida gremista, eu afirmo que foi muito boa essa passagem pelo clube em 1996 e 1997, e quando voltei ao Tricolor Gaúcho em 2000 e joguei até os 41 anos, em 2002. Foi super tranquilo, foi bom, ganhamos um Campeonato Gaúcho, uma Copa do Brasil e ficamos na semifinal da Copa Libertadores, em que até hoje a gente fica meio na dúvida sobre aquele jogo no Olímpico contra o Olimpia-PAR, em que na decisão dos pênaltis o juiz mandou voltar uma cobrança que o Eduardo Martini, nosso goleiro, havia defendido. Independente disso, o terceiro lugar eu acho que foi uma boa colocação e uma bela campanha, sem falar dos títulos do Campeonato Gaúcho e da Copa do Brasil contra o Corinthians. Mas a nível de curiosidade, lembro que certa vez um árbitro veio me perguntar antes de começar um jogo do Grêmio, se eu estava com 41 anos mesmo e eu respondi que sim (risos). São lembranças muito boas.


De todos os atacantes que você enfrentou, qual foi o mais difícil de marcar?

Marquei vários atacantes importante no futebol brasileiro e que foram grandes jogadores, que tinham qualidade, velocidade e imposição física. Mas aquele que realmente me deu mais trabalho, foi o Reinaldo do Atlético-MG logo no início da minha carreira. Reinaldo foi um jogador muito inteligente, habilidoso e com uma arrancada e velocidade impressionantes. Não bastasse isso, jogava em um grande time que contava com Luizinho, Toninho Cerezo, Paulo Isidoro, Éder, enfim, uma equipe muito forte. Sem dúvida, Reinaldo foi o atacante que me deu mais trabalho de todos que eu enfrentei.

Você chegou a ser diretor-executivo em alguns clubes, como o Grêmio, o Vitória e o Avaí. Na sua opinião, por que grandes jogadores no passado não conseguem se destacar como dirigente?

Primeiro lugar quero deixar claro que foi uma enorme satisfação ter trabalhado nesses times. No Grêmio, em 2009, no Vitória em 2010 e no Avaí em 2011. Em relação a essa questão de jogadores que não se destacam na função de executivo, o importante é você fazer o seu trabalho. Você é pago para realizar o seu trabalho e ali você não é mais jogador que tem que ficar aparecendo ou chamando a atenção. Não, não é! Nessa função, você deve fazer o seu trabalho e foi o que eu fiz nesses três clubes em que passei. Infelizmente ou felizmente, essa função não é para sempre e a todo momento é trocado conforme são trocadas as direções nos clubes. O mais importante de tudo isso é que os clubes em que passei como diretor, eles não têm nada para falar sobre a minha conduta profissional e sobre a minha pessoa. Podem perguntar: o Mauro Galvão deixou de desempenhar suas funções aqui ou deixou algum problema para vocês? Não vão achar nada. Isso para mim é o mais importante e nessa função é o cargo que mais acontece coisas estranhas. Não vou falar aqui, pois não é o caso, mas quem tem um mínimo de inteligência sabe o que que estou falando. O que mais me interessa em te responder é dizer que eu trabalhei, fiz o que eu pude e dentro das minhas possibilidades no clube, ajudei a trazer jogadores e membros da comissão técnica e os resultados conquistados. Para de ter uma ideia, no Grêmio, tivemos uma fase muito boa e chegamos a ficar em primeiro na fase de grupos. Já no Vitória, fomos campeões baianos e vice-campeão da Copa do Brasil com orçamento de R$ 500 mil ou até menos. Aonde você vai com isso aí? Em qual clube você vai conseguir resultados com um orçamento desses aí? Chegar numa final de Copa do Brasil com um orçamento desse? É complicado, né? Mas isso aí ninguém fala, até porque não interessa falar, mas nem eu quero que fale também. Depois no Avaí, chegamos às semifinais da Copa do Brasil também da mesma forma, com um orçamento bem baixo e contratamos jogadores com custo que ia de acordo com a realidade do clube. Então, revelo para vocês do Museu da Pelada que estou muito satisfeito com o trabalho que fiz nesses clubes.

Defina Mauro Galvão em uma única palavra?

Acho que essa pergunta não cabe a mim ainda mais em uma única palavra ou frase. Eu sou um cara simples, transparente e sou aquilo que eu sou dentro e fora de campo, ou seja, sou um só. Não existe diferença nenhuma do Mauro Galvão dentro de campo e do Mauro Galvão fora dele. Já ouvi falar algumas coisas de outros jogadores que eram uma coisa dentro de campo e fora dele eram totalmente diferentes. Nada disso, eu sou o Mauro Galvão dentro de campo, fora de campo, aqui, ali, ou em qualquer outro lugar. Sou o mesmo. Não tenho duas caras, duas personalidades, e sou uma coisa só, um cara simples e bem fácil de reconhecer quem eu sou.