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Marcos Vinicius Cabral

INCOMPARÁVEL

por Marcos Vinicius Cabral


Neste domingo (10), foi divulgado o resultado da eleição dos melhores jogadores do Grêmio Recreativo e Esportivo Barabá, referente ao ano de 2017.

Recebi o troféu como melhor meio campo neste maravilhoso grupo do qual faço parte desde o segundo semestre de 2015.

Fiquei surpreso com o resultado, ainda mais por estar prestes a completar 44 anos, daqui a duas semanas.

Tal honraria vai ficar no quarto da minha filha Gabrielle Cabral, que, sem sombra de dúvidas, é  sempre merecedora de tudo que conquistei desde seu nascimento, em 2007.


Vivo por ela, e para ela, e ela sim, é a razão maior de tudo isso.

Contudo, livros publicados, exposições individuais realizadas, projetos em curso, faculdade no fim e esse prêmio, tudo tem sua grandeza assim como importância na minha vida.

Portanto, agradeço a Deus (sempre), por ter me abençoado cada vez mais de forma sobrenatural.

Sem Ele, eu nada seria! 

Este troféu, apesar do seu valor simbólico e por que não dizer sentimental, deixa expostas algumas fraquezas que passamos durante os 12 meses do ano.

Mas mesmo nos momentos de lassidão, Ele nunca me abandonou e continua cada vez mais forte e onipresente na minha existência.

E para finalizar, essa homenagem em minha carreira de “boleiro” nos campos gonçalenses vem a ser a primeira no grupo e no campo da Brahma, no Porto Velho em São Gonçalo.

OS DOIS LADOS DA BOLA

por Marcos Vinicius Cabral


Quis o destino que os “Deuses do Futebol” tornassem o ano de 1974 marcante para Wemerson Lins Brum e Leovegildo Lins Gama Júnior.

No mundo ludopédico, tradicionalmente conhecidos como Lins e Júnior.

Foi em janeiro de 1974 que o recém-nascido Lins dava, no Hospital São Paulo, no Ingá, em Niterói, seu primeiro choro em vida.

Havia em Dona Elza, sua mãe, alegria em acordar nas madrugadas para amamentar e trocar suas fraldas, pois o pequeno Lins era a realização de um sonho dela com seu esposo Moacyr.

Em dezembro do mesmo ano, um certo Júnior marcava um golaço do meio-campo, na vitória do Flamengo por 2 a 1 sobre o  América.

O gol em si – precedeu o título carioca em um empate sem gols contra o arquirrival Vasco da Gama – foi marcado no Maracanã e percorreu alguns bairros como Tijuca, Cidade Nova, Praça Mauá, Glória, Flamengo, Botafogo, até chegar em Copacabana, onde Dona Vilma pulava de alegria com o primeiro de muitos triunfos do filho, camisa 4 e lateral-direito do Flamengo.

Se havia um brilho ímpar nos olhos das progenitoras dos predestinados filhos, as emoções em trocar uma simples fralda ou amamentar na madrugada, assim como o gol antológico ou o título logo no primeiro ano como profissional em uma noite iluminada no Estádio Mário Filho, representariam para elas um orgulho imensurável.

A vida seguia seu fluxo normal e ao ganhar pela primeira vez um presente especial das mãos de seu pai, seu Moacyr, o pequeno Lins entenderia aquele gesto paterno como um mandamento: amar a bola sobre todas as coisas.

Foi a primeira vez que, com os olhos marejados, seu Moacyr ficou emocionado com o sorriso sincero e inocente de seu filho.

Já Júnior, então com 22 anos, jogaria sua primeira e única Olimpíada, a de Montreal, no Canadá, na lateral-esquerda.


Contudo, dois anos depois, acabou tendo uma grande decepção ao ser preterido pelo técnico Cláudio Coutinho, que optou em improvisar o tricolor Edinho na lateral-esquerda, na Copa do Mundo da Argentina, em 1978 e não levá-lo ao Mundial na Argentina.

Mas apesar do ato imperdoável de um dos maiores treinadores do Clube de Regatas do Flamengo, os rubro-negros sabem que “herrar é umano”.

Já no fim daqueles anos, o pequeno Lins passou a ser chamado carinhosamente na infância de “Merson”, por ter sido uma criança dócil e benquisto pelos moradores da Rua Benjamin Constant, no Barreto em Niterói.

E Júnior, ganhava dos companheiros de clube e da imprensa carioca, o apelido de “Capacete”, por ostentar um cabelo estilo “Black Power” (movimento representado pelo orgulho racial que teve início nos anos 20 mas ganhou notoriedade durante o período dos direitos civis no final dos anos 60).

Na abertura da década seguinte e na mais prolífera do vermelho e preto, o ano de 1980 traria importância às vidas de Lins e Júnior.

Se os jogos do Flamengo,  transmitidos pela Rádio Globo, na voz marcante de Waldir Amaral, criador do “Galinho de Quintino” – que acompanha Zico até os dias de hoje – eram a única forma de acalmar o espevitado Lins, que dava trabalho aos seus pais com suas peraltices inimagináveis, Júnior sagrava-se campeão brasileiro pela primeira vez, em um Maracanã apinhado de 154.355 rubro-negros.

Ao assoprar o apito com veemência, decretando o fim da partida, o árbitro José de Assis Aragão tornaria aquele épico Flamengo 3 x 2 Atlético Mineiro, a primeira alegria a nível nacional de Lins como torcedor e de Júnior como jogador.

Talvez tenha sido e permanecido até hoje, a maior rivalidade de dois gigantes do futebol brasileiro, oriundos de estados diferentes.

Alguns anos passaram e em 1984, com 10 anos, Lins foi parar no Praia Clube, em Niterói, para ser lapidado pelo “professor”Jair Marinho (lateral-direito reserva de Djalma Santos, na Copa do Mundo do Chile, em 1962), que viu qualidades no menino franzino.

E Júnior, já consagrado com três Brasileiros, alguns Cariocas, uma Libertadores, um Mundial e a Copa do Mundo de 1982, como cereja do bolo de uma belíssima carreira, desembarcava na Itália.

O camisa 5 do Flamengo aceitou uma oferta do Torino-ITA de dois milhões de dólares para jogar no duro “Calcio Italiano”, com 30 anos e pensando no futuro,  pediu ao técnico Luigi Radice para ser deslocado ao meio de campo, a fim de se preservar mais fisicamente e pôr em prática sua visão de jogo privilegiada. 

Com um futebol envolvente, a idolatria ao craque ficou ainda maior perante os torcedores, principalmente após os casos de racismo e preconceito de “pseudotorcedores” rivais.

Na partida contra o Milan, no San Siro, Júnior foi alvo de xingamentos e cusparada e, contra o Juventus, foi vítima de faixas racistas.

À procura de um lugar ao sol em solo brasileiro por onde pisam pés apaixonados e sofridos pela bola, o zagueiro Lins enfrentou os obstáculos como qualquer garoto de sua idade.

Acabou, com muita determinação, percorrendo um árduo caminho nas andanças pelos clubes.

Vestiu camisas como a do Palmeiras de Niterói e do Caramujo, ambos pela categoria infantil e adquiriu experiência para alçar voos maiores.

E na terra do Coliseu, com uma cabelo mais moderado e um futebol cada vez mais encantador, Júnior desfilava seu talento nos gramados italianos.

Pelo Torino, clube fundado em 1906, enfrentava jogadores do quilate do francês Platini, do polonês Boniek e do italiano Paolo Rossi na Juventus; dos brasileiros Edinho e Zico na Udinese; dos brasileiros Alemão, Careca e do argentino Maradona no Napoli; do italiano Baresi e do trio holandês Rijkaard, Gullit e Van Basten no Milan; do brasileiro Falcão e do italiano Conti no Roma; do brasileiro Cerezo e do italiano Vialli no Sampdoria; do trio alemão Matthäus, Klinsmann e Rummenigge no Internazionale e mesmo assim, se tornou em 1985 o melhor jogador do Campeonato Italiano.


O ex-camisa 5 do Flamengo já era considerado um “Maestro” pelos italianos.

E o Lins, no Campeonato Niteroiense, era eleito por três vezes como o melhor jogador, nos anos de 1986, 1987 e 1988, coincidentemente nos anos em que sagrava-se campeão.

Como se vibrassem com um título, os torcedores do Pescara – apesar de nunca terem visto seu clube dar uma volta olímpica – receberiam de braços abertos a nova contratação naquele 1987: Júnior.

Os desafios eram maiores e no segundo ano de clube, apesar de não ter conseguido ajudar a equipe a manter-se na primeira divisão, ele foi eleito o segundo melhor estrangeiro da Série A, ficando à frente de grandes jogadores.

Nada mal para um jogador prestes a completar 35 anos e jogando em uma equipe modesta.

No entanto, em 1989, Júnior resolveu atender a um pedido de seu filho Rodrigo, então com 4 anos à época, de voltar ao Brasil.

O menino, que sonhava vê-lo jogando no Maracanã com o manto rubro-negro, havia cansado de ver no vídeo-cassete, as fitas VHS com os gols do Zico pelo Flamengo, que o “Galinho” mandava para o garoto ver.

Mesmo assim, reconhecendo sua importância para o clube da cidade de Pescara em Abruzzo, em sua despedida do futebol italiano, recebeu uma bela homenagem: uma partida entre as seleções de Brasil e Itália, revivendo a “Tragédia do Sarriá”, em gramado italiano dessa vez.

No mesmo ano, Lins ia escrevendo sua história com destaque nas categorias mirim e infantil do Flamengo, levado por seu Moacyr nas peneiras (testes nas escolinhas de futebol dos clubes) no Fundão e Cocotá na Ilha do Governador, em Jacarepaguá e por fim na Gávea.

Ficou apenas um ano no Flamengo, seu clube de coração e divagou como uma estrela solitária em busca de se firmar no cenário futebolístico, indo parar no Botafogo, onde ficou apenas três meses.

Muitos reconheciam seu futebol e foi parar no Olaria a convite de um amigo.

Percorreu o Brasil, jogando no Estrela do Norte Futebol Clube (ES), Paraná Clube (PR) e chegou a jogar na cidade espanhola de Las Palmas de Gran Canaria, no time do Unión Deportiva Las Palmas, após uma excursão bem sucedida do clube suburbano.

Mesmo sendo um nômade da bola, esperou um dia realizar dois sonhos: enfrentar o Flamengo e Júnior.

Os anos 90 surgiam no horizonte e tanto Lins quanto Júnior trilharam caminhos opostos nas carreiras.

Se Lins buscava sua profissionalização, sendo destaque no Olaria Atlético Clube, o “Maestro”Júnior (apelido recebido pelo fino trato à bola nos anos em que jogou no competitivo futebol italiano) conquistava títulos importantes como o da Copa do Brasil em 1990, o Campeonato Carioca em 1991, vencendo o Fluminense com uma exibição inesquecível e o Campeonato Brasileiro de 1992, disputado no primeiro semestre do ano.

Aliás, foi o único remanescente da década de 80 a conquistar o quinto brasileiro de sua história.

Portanto, ganhar o Campeonato Carioca de 1992, seria para o “Vovô” Júnior encerrar a carreira com chave de ouro, conforme ditado popular.

Já o Campeonato Carioca daquele ano, seria para Lins – jovem zagueiro olariense – a oportunidade em ser relacionado para o banco em algum jogo, pelo professor Toninho Andrade.

E seu maior receio era não jogar contra o experiente jogador da camisa 5 rubro-negra, que estava com 38 anos e com a aposentadoria batendo à porta.

Com isso, naquela quinta-feira, 19 de novembro de 1992, o Flamengo enfrentaria o Olaria, no Estádio da Gávea.

Para Lins, além de querer ser promovido aos profissionais – até a véspera daquele jogo era juniores – o que ele mais queria era estar perto do seu ídolo e viver aquela atmosfera.

Lembrou das suas lutas e do quanto batalhou para estar ali, pisando no gramado onde seu ídolo deu seus primeiros chutes.

Foi escalado sim, não na sua posição de origem mas de cabeça de área. 

Por instantes, segurou o choro ao lembrar das coisas que teve que abdicar para seguir na carreira.

Ao entrar em campo, sentiu um frio na barriga ao ver os jogadores do Flamengo, um a um, pisando no palco verde da Gávea.

Ainda meio disperso, viu com exatidão, o momento em que um enxame de repórteres entrevistava o recordista de partidas oficiais pelo Flamengo, com 876 jogos.

Enquanto seus companheiros do celeste suburbano batiam bola e aqueciam para o jogo, Lins não tirava os olhos da direção dos jornalistas.

Não havia tática e tampouco meios de parar o talentoso craque da camisa 5.

Mas Lins queria era jogar bem e registrar tal momento para um dia poder dizer: “Eu joguei contra o Júnior”.

Porém, antes do árbitro Paulo Roberto Chaves chamar os capitães para o tradicional par ou ímpar, Lins se aproxima do idolo e pergunta sem jeito: “Seu Júnior, dá pro senhor tirar uma foto comigo?”

Com alguns fios prateados no tradicional bigode e nas laterais da cabeça, a lenda rubro-negra se aproximou e fez o registro.

Ele (Lins), não lembra quem bateu a foto e nem da partida em si, pois foi há 25 anos.

– Na verdade, naquele Flamengo x Olaria, eu me entreguei de corpo e alma àquela partida. Com 18 anos, recém-promovido aos profissionais, joguei em uma posição que não era a minha, pois era zagueiro e fui deslocado para cabeça de área e enfrentar um ídolo como o Júnior, não pode ser considerado normal. Mas joguei e tentei aprender um pouco mais, porque aquele ali, realmente foi um maestro. Não tenho como explicar em palavras o que senti jogando contra ele. Sinto até hoje que foi um presente de Deus, algo que jamais vou esquecer”, diz emocionado.

Naquele 1992, o Olaria fez um bom campeonato, terminando em sexto lugar com 14 pontos, à frente do América e Bangu, clubes tradicionais da cidade.

O Vasco foi campeão invicto do torneio – conseguindo ganhar com facilidade as Taças Guanabara e Rio, deixando o vice-campeonato para o Flamengo, em um empate por 1 a 1, em São Januário. 


A equipe cruzmaltina, conquistaria o 18° título de sua história, contra o Bangu, com duas rodadas de antecedência.

Se Júnior não conquistou o título carioca, coube ao jovem Lins, conquistar seu título particular: enfrentar o veterano jogador.

Depois disso, as carreiras tiveram choques de realidade: Júnior parou um ano depois e Lins parou em 1996.

O vitorioso jogador rubro-negro, virou observador técnico da seleção brasileira em 1994, técnico de futebol, diretor de futebol e comentarista esportivo da Rede Globo.

Já o promissor e talentoso zagueiro do Olaria, virou bancário, trabalhou em uma seguradora e há seis anos, virou taxista. E a unidade 14 da Táxi-Forte, por onde conduz clientes contando suas histórias do mundo ingrato da bola.

De tudo, sua única saudade é de seu Moacyr, que faleceu em 2015:

– Meu pai foi meu amigo, companheiro de todas as horas, que me acompanhava nas partidas, treinos e onde eu estivesse, ele estava junto”, diz emocionado.

OS 45 ANOS ME LEMBRAM OS 43 MINUTOS

por Marcos Vinicius Cabral

O domingo tão aguardado, havia enfim chegado.

Na redação do jornal O São Gonçalo, estava eu fazendo charge (ou tentando fazer) naquele domingo, o que era uma tarefa não muito fácil.

Como de costume, em ocasiões especiais, eu sempre fazia duas charges, pois Flamengo e Vasco decidiam o Campeonato Carioca naquele ano de 2001.

Enquanto o Flamengo decidia pela terceira vez consecutiva contra o Vasco, para saber qual o melhor time do Rio de Janeiro (havia ganhado as últimas duas), o tricampeonato seria muito bem-vindo.

Com um super time, o Vasco era favorito e após vencer o primeiro jogo por 2 a 1, era (quase) certo que São Januário receberia mais um troféu de campeão carioca.

Com isso, o time rubro-negro, dirigido por Zagallo, precisaria vencer por dois gols de diferença.

Confesso que naquele 27 de maio de 2001, havia em mim um certo ceticismo, mesmo com meus 28 anos de idade e com tantos títulos já comemorados.

Mas aquele campeonato era muito difícil, convenhamos!

Após descer os nove andares – já que o elevador demorava muito – do prédio do relógio, tradicionalmente conhecido aqui em Alcântara, fui já pegando meu vale-transporte, que era ainda em papel e me encaminhei para o ponto de ônibus.

No trajeto, carros buzinavam fazendo um grande estardalhaço e a maioria deles, com bandeiras cruzmaltinas nos tetos dos veículos, que tremulavam.

Nas janelas dos prédios, os gritos de “é campeão, é campeão!”, me chamavam atenção e corroboravam com a certeza da vitória.

Nas esquinas das ruas que antecediam o lugar onde pegaria meu ônibus, o vento soprava os papéis para longe de mim, demonstrando com isso a pocilga deste tradicional bairro da cidade de mais de um milhão de habitantes.

Já dentro do ônibus, meu celular toca e do outro lado da linha era Wellington querendo saber se eu assistiria o jogo no bar de Paulo, lugar sagrado dos flamenguistas nas vezes em que o “Mais Querido” jogava.

Lembro que respondi sim, mas a verdade é que queria assistir em casa aquele Flamengo e Vasco.

Por tal motivo, passei celeremente em frente ao bar e fui beneficiado pela enorme bandeira do Flamengo, que escondia as pessoas no interior do estabelecimento e as que passavam em frente a ele.


 O time do Jovem Fla, marcou época em São Gonçalo

Graças a Deus, passei sem ser visto pela turma do Jovem Fla, um dos times mais respeitados da cidade, em que Wellington era o técnico, seu irmão Wallace, o presidente, e eu, o camisa 8, no qual me orgulho de ter envergado com maestria. 

Uma pena esse time ter existido tão pouco tempo, apesar do bicampeonato no campo do Gradim (2003 e 2005) e diversos títulos, entre campeonatos e festivais.

Mas ao chegar em casa, faltando poucos minutos para o início do jogo, tomei um banho, peguei minha camisa do Flamengo número 10 do Zico e por que não dizer, número 10 do Petković (escrito corretamente, com acento agudo no c, sem erro, pois ele foi a peça nevrálgica naquele jogo), e fui para a casa da minha sogra.

O Flamengo entrou em campo e contava com a minha confiança, sempre fui um torcedor fanático pelo Flamengo, apaixonado mesmo.

Tem certas paixões que não se pode explicar e o Flamengo é uma delas, algo assim inexplicável.

Não sei, mas alguma coisa parecia que ia acontecer de positivo naquela tarde para nós, flamenguistas.

O que sempre buscava, era sentir as emoções dos grandes tempos áureos do time da década de 80 de Zico e Cia. 

Apesar do Vasco ter na época um super time, muito bem treinado por Joel Santana, no primeiro jogo os dois gols vascaínos foram de bola parada. 

Um de pênalti, convertido pelo atacante Viola e outro de falta, em que Juninho Paulista contou com o desvio da barreira para enganar Júlio César.

No segundo jogo, o Flamengo entrou em campo de mãos dadas como a Seleção tetracampeã de 1994 e aquele simples gesto balançou minhas estruturas, pois havia percebido em se tratar de uma ideia do Zagallo, nosso técnico na ocasião.

Só aí, a emoção já ia à flor da pele, com o Maracanã lotado, torcida inflamada empurrando o time e fazendo uma linda festa como sempre.

O jogo estava muito tenso e aos 23 minutos do primeiro tempo, pênalti para o Flamengo e o “capetinha” Edilson fez 1 a 0.

Faltava mais um gol, mas ao 40 minutos, em grande bobeira da zaga rubro-negra, o talentoso Juninho Paulista empatou a partida.


(Foto: Eurico Dantas

Aquele gol não foi um balde de água fria e sim uma cachoeira, que de tão gelada me fez lembrar as águas da região serrana de Nova Friburgo, onde dei meu primeiro choro em vida ao nascer.

Sendo assim, voltávamos a depender de mais dois gols para levar a taça para a Gávea.

Aos oito minutos do segundo tempo, o nosso camisa 10 Petković, fez uma belíssima jogada pela esquerda e botou a bola na cabeça do “capetinha” Edilson.

Resultado: 2 a 1.

Entretanto, com um jogo bem aberto e com Euller, “o filho do vento” causando estrago no lado do nosso esforçado lateral Cássio, temi que, nos 37 minutos restantes, tomássemos mais um gol.

O tempo foi passando, passando, passando…


(Foto: Hipólito Pereira)

Com meus olhos atentos na TV, via o velho lobo Zagallo, que na beira do gramado, naquele espaço destinado aos técnicos, incentivava o time e com sua fé irrestrita, segurava uma imagem de Santo Antônio, beijando-a a todo instante.

Seria o presságio do terceiro gol?

Na hora, me veio à mente a Copa de 1998, quando nas semifinais, o supersticioso treinador do número 13, incentivava os jogadores brasileiros na decisão de pênaltis contra a Holanda.

Se há 19 anos, na Copa da França, deu certo, por que não daria agora, em 2001?

Ansiedade, ansiedade, ansiedade e aos 42 minutos, o árbitro Léo Feldman interrompeu o silêncio fúnebre e devastador na nação rubro-negra no estádio à espera do gol do título.

E assim, apitou a plenos pulmões uma falta de Fabiano Eller, cabeça de área vascaíno, no “capetinha” Edilson.

Apesar de ser muito distante, é verdade, a esperança estava ali, diante de olhos vermelhos e pretos.

Como sempre faço, em jogos que são testes para cardíacos, tirei o som da TV (nada contra os narradores esportivos e nem ao Luís Roberto, que narrava aquela partida pela Rede Globo), e liguei o rádio, para ouvir o Luiz Penido ou o José Carlos Araújo.

Até porque, as maiores emoções vividas no futebol, foram nas vozes dessas duas lendas do Radiojornalismo.

Enquanto Luiz Penido, o “Garotão da Galera”, me fez chorar de emoção com os Brasileiros de 1992 e 2009, com narrações memoráveis no microfone da Rádio Tupi, José Carlos Araújo, o “Garotinho”, expôs de forma direta, momentos inesquecíveis como o Brasileiro de 1987 e o tetra da seleção brasileira em 1994, nas ondas sonoras da Rádio Globo.

Lembro que ao sintonizar na AM 1220 kHz, um misto de nervosismo e adrenalina, tomavam conta de mim, ainda mais com o “Garotinho” narrando.


O sérvio da camisa 10 se apresentou, ajeitou a bola e com um carinho especial, esperou o árbitro autorizar a cobrança da falta.

Um suspense tomou conta de nós e lembro da vibração da torcida tremulando as mãos para passar enegria positiva, e eu, repeti aquele ato litúrgico, como se estivesse nas arquibancadas apinhadas de flamenguistas e não na sala da casa da minha sogra, que me olhou sem entender nada.

Por um instante, confesso que pelo pragmatismo daquele olhar, pensei em se tratar de uma vascaína e descobri, anos mais tarde, ser flamenguista.

Na cobrança daquela falta, a Rede Globo, que transmitia o jogo, mostrou por alguns segundos no banco de reservas, o lateral Alessandro – que havia sido substituído por Maurinho – que olhava intensamente sem piscar, com as mãos juntas, rezando, acreditando no último lance do jogo e Zagallo beijando o santinho nas mãos.

Aos 43 minutos, o árbitro autorizou, Petković caminhou para a bola e bateu… a bola fez uma curva incrível e ainda toca na ponta dos dedos do goleiro Hélton. 

Viagem insólita da bola, que foi no ângulo, indefensável, era o gol salvador com a inesquecível comemoração do Petković, se jogando no gramado e sendo tomado pelos outros jogadores.

Entrei em êxtase, era como se estivesse revivendo o que outros torcedores na década de 80 viveram. 

Desci as escadas e desembestado fui correndo comemorar o tricampeonato com meu amigos do Jovem Fla, no bar de Paulo.

Na TV, a torcida entoando o canto de “vice de novo”, a imagem do Zagallo aos prantos, a torcida… enfim, foi mágico! 

Entrou para a história esse gol do Petković, que passou a ser chamado carinhosamente, e diga-se de passagem, merecidamente, apenas de Pet.

Assim, três letras, de um tri, na falta sofrida a três minutos do fim do jogo.

Hoje, esse talentoso ex-jogador completa 45 anos.


Foi genial, foi exemplo, foi craque e foi decisivo nas passagens que teve pelo Flamengo.

Em 2009, solidificou de vez seu nome na galeria de ídolos imortais do clube, com a conquista do Brasileiro.

Portanto, a geração que não teve a oportunidade de ver Arthur Antunes Coimbra, ou melhor, Zico, teve a felicidade de ver este sérvio, que conquistou os 40 milhões de corações espalhados pelo país, com atuações, títulos e gols marcantes, como este contra o arquirrival Vasco da Gama.

Parabéns para você Pet e obrigado por tudo!

O QUE NÃO SE PODE EXPLICAR AOS NORMAIS

por Marcos Vinicius Cabral


Em 1981, Alemanha e Brasil entrariam em campo para medir forças.

E se tratando de um clássico mundial, um mero amistoso se tornaria um jogo à vera.

Portanto, naquela terça-feira, 19 de maio, os gramados alemães receberiam um grande jogo de futebol.

De um lado, os anfitriões Muller, Rummenigge, Fischer e Breitner, que arrancavam sorrisos de um povo frio e tão acostumados a não sorrir.

Contudo, vê-los em ação, era sinônimo de vitória, mesmo com um futebol tão arrefecido e ausente em emoções, que são o cerne dessa paixão.

Já do outro lado, oito titulares do time que encantaria o mundo em 82, estavam presentes naquele jogo.

Diante de um gigante do futebol mundial, que jogava em casa e com o apoio de seus quase 72 mil torcedores, o Brasil queria confirmar seu favoritismo para a Copa da Espanha, que até hoje, é motivo de choro, seja pela derrota “vitoriosa” para a Itália ou pela simples lembrança.

Com exceções de Leandro, Falcão e Serginho, os demais entraram no Neckarstadion, em Stuttgart, para uma bela exibição.

Porém, nessa constelação de craques, foi o arqueiro brasileiro Waldir Peres, que fez história.

O Brasil vencia por 2 a 1 (gols de Cerezo e Júnior para equipe canarinho e Fischer descontando para os alemães), quando aos 34 minutos do 2º tempo, Rummenigge cruzou e a bola bateu na mão do zagueiro Luisinho.

Com um apito firme e uma pontualidade britânica, o árbitro inglês Clive White, assinalou penalidade máxima em cima do lance.

Coube ao craque alemão Paul Breitner (acostumado a converter pênaltis), cobrar e comemorar junto aos torcedores o gol.

Mas Waldir Peres defendeu a penalidade.

Não satisfeito, o árbitro mandou cobrar de novo, alegando que o goleiro brasileiro havia se antecipado na cobrança.

Era a redenção para o craque alemão da camisa 8 e parafraseando o ditado popular: o raio não cai duas vezes no mesmo lugar.

Nisso, gol preso na garganta dos milhares de torcedores alemães, até que Breitner cobrou no canto esquerdo e Waldir Peres espalmou para escanteio.

Portanto, o que não se pode explicar aos normais, neste vasto mundo do futebol?

Se todo time memorável começa com um grande goleiro, em 1982, Waldir Peres foi o camisa 1 e homem de confiança do técnico Telê Santana.

Em 20 edições de Copas do Mundo, chegar ao evento de quatro em quatro anos como favorita, era um feito para poucas seleções.

E realmente, o Brasil era favorito para se tornar campeão e costurar a quarta estrela em nosso escudo.


Mas naquele 05 de julho, Waldir Peres e os outros jogadores, sucumbiram diante de uma Itália – que fez o “jogo da vida” – e sofreu como ninguém, pelos três gols que sofreu do camisa 20 italiano.

De quem era a culpa?

Talvez do Telê, que não escalou um time para jogar com o regulamento embaixo do braço?

Talvez do Cerezo, que virou uma bola despretensiosamente no segundo gol dos italianos?

Talvez o Serginho, que atrapalhou o Zico em um lance de gol?

Talvez o Júnior, que não saiu e deixou o Paolo Rossi em posição irregular?

Tantos “talvez”, que talvez nem o mais cético dos especialistas do mundo impiedoso da bola, saberia responder.

E se as reminiscências daquela partida ecoam como escombros do antigo Estádio Sarriá, implodido em 1997 – onde hoje funciona um condomínio habitacional, na cidade de Barcelona – difícil é não lembrar da seleção canarinho.

Uma pena que o arqueiro brasileiro, não tenha se tornado campeão do mundo com seus companheiros, uma das maiores injustiças do futebol.

Aquela geração de jogadores talentosos, merecia sorte maior na Espanha.

Todavia, Waldir fez história e cravou seu nome na seleção brasileira, com 25 vitórias, 4 empates e 1 derrota (exatamente nos 3 a 2 para a Itália), assim como foi um grande ídolo no São Paulo, com 617 partidas, só perdendo para Rogério Ceni.

Também pelo clube do Morumbi, ganhou o Brasileiro de 77, além dos Paulistas de 75, 80 e 81.

Ainda assim, defendeu o América-RJ, Guarani, Corinthians, Portuguesa e Santa Cruz.

Sobretudo, Waldir Peres foi gigantesco por onde passou, desde o uso das luvas pela primeira vez, na Ponte Preta em 1970, até pendurá-las em 1989.


por Marcos Vinicius

Se o coração do goleiro do escrete canarinho resistiu há 35 anos os 3 a 2 para a Itália,  neste domingo, este mesmo coração do nosso eterno camisa 1 foi derrotado por um infarto fulminante.

Nos deixou, indo fechar o gol no céu ou quem sabe, defender alguns pênaltis, no time que tem o Dr. Sócrates na meiuca e o comando do mestre Telê.

Boas peladas aí no andar de cima, e que você continue fechando o gol e defendendo pênaltis, seja dos anjos ou dos craques que já estão aí há tempos.

NADA SERÁ COMO ANTES

por Marcos Vinicius Cabral


Depois da Copa da Espanha, em 1982, o futebol passou a ser encarado por resultados.

Aquela derrota para a Itália do até então ineficiente Paolo Rossi, não acertou apenas uma geração de grandes jogadores, mas expôs uma fratura difícil de cicatrizar, a partir de então, no futebol brasileiro.

Sendo assim, foi posto de lado o futebol arte,  envolvente, de toque de bola e acima de tudo, o futebol que vencia e convencia a qualquer custo.

Se Telê Santana (teimoso à mineira) não fez súditos, aquela seleção não teria como servir de exemplo para as menos favorecidas em material humano.


Aquela derrota, fez um mal à saúde do futebol que até hoje, vive à base de encontrar substitutos para aqueles 11 exuberantes atletas e sangra em nós.

Passados 23 anos do tetracampeonato e 15 do pentacampeonato, os programas dos canais fechados não cansam de comemorar essas datas e a galera – que nem era nascida em 82 – vai na onda compartilhando nas redes sociais.

Com isso, cada vez mais me orgulho e tenho a plena consciência do quanto aquela seleção me fez feliz, apesar do insucesso naquele Mundial.

Sobretudo, para um povo carente de ídolos, ter Romário em 94 e Ronaldo Fenômeno em 2002 como tais não chega a soar estranho e nem nevrálgico.


Então, seleções de Dunga & Cia e Kleberson & Cia, vocês, mesmo tendo beijado aquelas taças, jamais, eu disse jamais, serão e representarão o que Waldir Perez, Leandro, Oscar Luizinho e Júnior; Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico; Serginho e Éder representaram não só para mim mas para o mundo da bola.

Parabéns aos jogadores de 82, verdadeiros campeões!