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Marcos Vinicius Cabral

SONHOS RENOVADOS

por Marcos Vinicius Cabral


Dessa vez não fui despertado pelo celular que fica embaixo do meu travesseiro (graças a ele eu não perco a hora das peladas nos domingos).

Nele, marcava 4h57 da manhã da última quinta-feira, 27 de dezembro e ao olhar pela janela, uma escuridão tomava conta do céu.

O silêncio lá fora contrastava com o daqui de dentro do meu quarto, já que na ponta dos pés – como um bailarino ensaísta – dei os habituais vinte passos até o banheiro preocupado em não acordar Raquel minha esposa e Mel nossa cachorrinha da raça Shit-zu, que dormiam um sono angelical.

No regresso ao quarto, tentei dormir novamente e não reencontrei o sono.

Sem motivo algum comecei a pensar no Museu da Pelada, espaço virtual que resgata histórias de quem jogou bola e quem não jogou, de quem foi profissional ou de quem foi perna de pau nas peladas da vida e de quem marcou gols antológicos sendo aplaudido de pé e de quem perdeu outros feitos tendo na figura materna alvo de xingamentos.

Na verdade eu não estava pensando e sim sonhando com os olhos abertos, acreditem!

Já passava das 5h da manhã, deitado com olhos fixados no ventilador de teto, sonhei com o dia que conheci Sérgio Pugliese, pelos idos dos anos 90, quando visitei a redação do O Globo, na Rua Irineu Marinho, 35 – Centro – Rio de Janeiro.

Na ocasião, à procura de trabalho como ilustrador, o máximo que consegui aos 20 anos de idade foi conhecer Chico Caruso, segundo maior chargista desse país – ninguém supera o semovente Ique que se reinventa a cada ano.


Passados 23 anos, o reencontro na sede da Approach em Botafogo, Zona Sul da cidade, naquele segundo semestre de 2016.

Eu como estudante do quinto período de jornalismo e ele como Diretor.

Não falamos sobre outro assunto que não fosse os caminhos da Assessoria de Imprensa no século XXI, em que o dono da “canhota mais habilidosa do Albertão” foi sabatinado por minha colega de grupo Raquel Miranda.

Sonhei com minha adoração ao futebol do ex-camisa 2 rubro-negro e seleção brasileira Leandro, quando escrevi uma experiência vivida no “Enquanto todos queriam ser o Źico eu preferia o Leandro”, que foi minha primeira matéria para o Museu da Pelada.

Naquela ocasião, me senti como um garoto recém saído dos juniores e que treina bem durante a semana aguardando o momento de entrar na partida.

– Sensacional amigo, ela vai ser postada! – disse Serginho, como se fosse meu treinador e me chamasse para ser incorporado ao time do Museu.

E convenhamos, fazer parte de um grupo talentosíssimo como este e que tem Paulo César Caju, é um privilégio para poucos!

E foi assim que vi a publicação tendo curtidas, compartilhamentos e comentários, porém, após ser incorporado, a titularidade ainda estava longe.

O jogo estava só começando!

Comecei a escrever, escrever, escrever, pois era o mesmo que treinar, treinar e treinar.

Com isso, fui ganhando forma, assim como Rivellino na Copa do México em 1970, em que colocou uma “pulga” atrás da orelha do treinador Zagallo, que teve que arrumar uma vaga para o craque da camisa 10 do Corinthians e Fluminense, naquele time.

Aos poucos, fui me tornando uma grata surpresa, para Serginho e André – seu auxiliar técnico – assim como foi Josimar, lateral botafoguense que foi à Copa de 1986 – Leandro não estava no voo para o México – e fez história com dois golaços contra Argélia e Polônia respectivamente.

Oba, agora eu vestia o manto – não o rubro-negro – mas do Museu da Pelada!

O ano começou e com ele os sonhos foram renovados.

Que possamos escrever histórias cada vez mais bacanas de quem tem muito o que nos contar!

Feliz ano novo a todos!

DE ENGRAXATE A CAMPEÃO DO MUNDO

por Marcos Vinicius Cabral


Seu Bidinho e dona Veriana

Bastante apreensivos, seu Abel e dona Veriana – grávida e prestes a dar à luz – chegavam ao Hospital São Camilo, situado na Avenida Brasil, n° 938, Paes Leme, Centro de Imbituba, em Santa Catarina.

Ao chegar naquele lugar foram logo encaminhados à emergência, dando um basta numa espera angustiante de nove meses: enfim, o pequeno Antônio nascia.

Era o nono dia do mês de agosto de uma quinta-feira de 1951, quando o quinto filho de um total de nove chorou pela primeira vez.

Conhecido por todos em Imbituba como seu Bidinho, seu Abel era um português esbelto – trabalhava como estivador na EFDTC (Estrada de Ferro Dona Thereza Christina), que na época do início da exploração do carvão, tornou-se atividade principal nos serviços de transporte ferroviário – que adorava futebol.

Assim como todo brasileiro apaixonado pelo esporte – criado pelos chineses há 2 mil anos e aperfeiçoado em 1863 pelos ingleses – sofrera na derrota do Brasil para o Uruguai por 2 a 1, na final da Copa do Mundo de 1950, em pleno Maracanã.

Afinal de contas, tanto sofrimento tinha lá seus motivos, já que alguns jogadores do poderoso “Expresso da Vitória” (um dos maiores times do Club de Regatas do Vasco da Gama de todos os tempos) serviam à seleção, como o goleiro Barbosa, o zagueiro Augusto, os volantes Eli e Danilo, os atacantes, Alfredo II, Maneca, Ademir Menezes (inclusive artilheiro da Copa com nove gols) e Chico, todos craques em suas respectivas posições.


Naquela fatídica partida disputada em 16 de julho de 1950, os olhos de seu Bidinho – torcedor vascaíno como Imbituba jamais conhecera – resignaram-se assim como os outros 173.850 mil pagantes naquela tarde triste de arquibancadas lotadas.

Já dona Veriana aos 31 anos, mulher exemplar e muito bonita por sinal, compreendia essa outra paixão na vida do marido.

Mulher prendada que não se limitava apenas em cuidar da família Nunes, mas desempenhava bem as funções de esposa e mãe.

Mesmo com toda dificuldade de criar os cinco meninos e as três meninas, o casal – que havia perdido um filho no parto – distribuía amor, carinho e mesmo com uma rigídez portuguesa e uma pontualidade britânica, educou toda prole na humilde casa onde residiam na Rua Otacílio de Carvalho, n° 298, no Centro da cidade.

Se a matriarca nunca deixou faltar bonecas para Alair, Abegail e Adelir brincarem, o patriarca arrancava sorrisos de Avanir, Antônio, Ademilson, Abenicius e José, com carrinhos de cores diferentes, que dava para os filhos, propositalmente, para não gerar brigas entre eles.

Já o pequeno Antônio, porém, deixava o seu brinquedo jogado em um canto qualquer da casa ou no quintal e aguardava ansioso a chegada do Natal para ganhar o seu tão desejado presente: uma bola de futebol!

A convivência com o tão aguardado brinquedo faria deles inseparáveis e com ele debaixo do braço após chegar do colégio – estudava no Grupo Escolar Henrique Lage, onde fez todo o primário – ia almoçar rapidamente para em seguida caminhar por cerca de 4 quilômetros a pé (ida e volta), até o serviço do pai, para levar o almoço numa marmitex sob sol ou chuva.

Depois passava direto na casa do amigo Serginho – seu colega de turma no colégio e filho de seu Lico, amigo de seu pai – para apanhá-lo para jogar futebol.

Era comum naquelas tardes passar mais tempo na casa de seu Lico do que em casa e por tal motivo, começou a ser chamado de Lico por todos da cidade, pegando de vez o apelido .

Em janeiro e fevereiro, meses em que os navios desembarcavam no Porto de Imbituba trazendo os marinheiros que procuravam aos berros por ele, que com apenas 7 anos era exímio engraxate.

– Aprendi a engraxar sapatos, pois na época dava uns bons trocados, principalmente quando os navios que traziam os marinheiros ancoravam – conta ao Museu da Pelada.

Poucas não foram as vezes que enquanto os soldados da Marinha do Brasil não chegavam, ensaiava dribles no irmão Ademilson no acimentado rachado em que as sandálias com as tiras presas com prego nas solas serviam de traves em um campo improvisado.

Embora tivesse habilidade para engraxar sapatos para ajudar os pais na criação dos irmãos nas noites frias de Imbituba, ainda sobrava fôlego para competir com o mesmo Ademilson na venda de amendoins torrados e bananas recheadas.

Ora vencia e ora era vencido!

Nas bancas montadas em frente ao Cine Marabá, viu a infância passar tão rápido como num estalar de dedos.

– Fui o quinto filho de nove irmãos. Meus pais foram meus grandes heróis. Às vezes penso e começo a imaginar como eles conseguiram criar tantos filhos, com tanto amor e com tanta disposição. Acho que foi pela fé, sabe? -, diz emocionado.

E foi ali, em frente ao único cinema da cidade – inaugurado em 03 de fevereiro de 1965 pelo então empresário Abady Rufino de Sousa – que sua vida mudou.

Por muitas vezes assistiu matinês de Django, Zorro, Capitão América e (o seu preferido) Rin Tin Tin – série esta produzida entre 1954 e 1959, em que um cachorro acompanhava uma cavalaria nos EUA. No Brasil, já teve a voz do então dublador mirim Reginaldo Faria, dublando o Cabo Rusty.

Mas nada, absolutamente nada, fazia seus olhos brilharem tanto como os filmes exibidos pelo Canal 100.

Ali, naquela projeção em preto e branco ele se imaginava dando os dribles desconcertantes de Garrincha nos “Joões” que insistiam em marcá-lo ou sendo Didi com sua habitual elegância no fino trato à bola ou ainda fazendo os lançamentos milimétricos como os de Gérson para os peitos dos atacantes.

Sim, ele estava disposto a mudar de vida e ser jogador de futebol!


E com esse pensamento aos 8 anos de idade, quando não estava engraxando sapatos dos marinheiros que procuravam por moças de família para namorar ou vendendo amendoins torrados e bananas recheadas, ficava até tarde da noite com Abenicius – seu irmão mais velho e um dos mais habilidosos que teve a oportunidade de conhecer na vida – aprendendo fundamentos do futebol.

Era passe, domínio de bola no peito, na coxa, na parte interna e externa do pé, cabeceadas, chutes à médias e longas distâncias, dribles em alta e baixa velocidades, deslocamentos, além dos exercícios físicos e alongamentos.

Aos 16 anos de idade, já era aspirante da equipe do Imbituba Atlético Clube – que foi fundado em 1924 e que encerrou suas atividades em 1990, após ter disputado suas últimas competições oficiais.

Não demoraria muito e nem causaria estranheza tamanha evolução aos que acompanharam de perto todo esse processo de aprendizagem do então jovem promissor Lico, que chegava ao América Futebol Clube em 1970, após pedido do amigo Paulo Roberto – ponta-direita daqueles que aliavam velocidade e habilidade – ao seu Lauro Búrigo, então treinador da equipe americana, exigindo que fosse contratado com seu amigo inseparável da camisa 11.

– Eu havia acertado tudo com o pai do Paulo Roberto, que se apresentaria no início da temporada. Aí ele exigiu que eu contratasse o Lico, que eu nem sabia quem era. Mas como estava desejoso em levar o craque da cidade para o meu time, aceitei, mas já pensando em dois ou três treinos depois, mandá-lo embora -, diz o “Velho Bruxo”, como é chamado pela mídia catarinense e que teve sua trajetória contada nas 328 páginas do livro “Lauro Búrigo – Segredos do Bruxo”, relançada ano passado pelo jornalista Paulo Brito.


América/SC em 1972

Ironias da bola, isso acabou não acontecendo pois o indesejado Lico que receberia um pé na bunda se firmou e foi o grande nome no time do América, comandado por seu Búrigo.

Se pela equipe americana nos gramados catarinenses o promissor camisa 11 magrelo e pernas compridas ia destronando laterais com dribles desconcertantes, rompendo por entre zagueiros viris com velocidade e desqualificando esquemas táticos com uma habilidade sobrenatural, sua permanência no clube em que se profissionalizou seria curta, para desespero do “Velho Bruxo”.

Para fazer caixa, o modesto América não resistiria as investidas do extremo Sul do país e emprestaria sua joia rara de 22 anos, para jogar no Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense em 1973.

Apesar da expectativa da exigente torcida gremista, que ostenta ídolos até hoje – como o goleiro Eurico Lara (jogador que defendeu o gol do tricolor por mais tempo, de 1920 a 1935), o meia Tarciso (que vestiu mais vezes a camisa do clube, em 721 partidas), o atacante Alcindo (que de 1963 a 1971 e de 1977 a 1979, comemorou 264 gols) e Renato Gaúcho (bicampeão da Libertadores como jogador em 1983 e como técnico em 2017) – Lico não foi tão produtivo como de costume e amargou seis meses sem jogar.

– Eu vi do banco de reservas, dois gols de Pelé, um de Nenê e outro de Brecha e aquele fantástico Santos nos golear no Pacaembu no Campeonato Brasileiro – confidencia sem esconder o desejo de ter enfrentado o Rei naquele Brasileiro de 73.


Figueirense em 1975

Depois de um ano e de ter dado um passo maior que as pernas – em questão da ida precipitada para o Grêmio -, regressou às origens e com o passe livre nas mãos – o América enfrentava uma crise financeira e não havia condições de pagar seu salário – negociou com o Figueirense.

Nos dois anos em que esteve no Orlando Scarpelli, vestiu a camisa 7 e teve a oportunidade de conhecer o habilidoso meia-esquerda Luiz Éverton, que além de ter se tornado seu grande amigo (ainda são até hoje), o ensinou a dirigir.

– Eu precisava convencê-lo em comprar um carro e assim que adquiriu um, não foi difícil. Ele estava se destacando nos jogos e precisava – como dizíamos na época – se motorizar. E foi bem rápido -, diz aos risos o ex-camisa 10 do Figueirense, hoje com 68 anos.

Em 1976, disputado pelos clubes de Santa Catarina, acertava com o Avaí Futebol Clube para ser o camisa 11, vestindo as cores azul e branco.


No Adolfo Konder, apelidado de “Pasto de Bode” ou “Majestoso” (estádio demolido em 1982 para construção do Beira Mar Shopping, que serviu de casa do Avaí antes da Ressacada ser utilizado em definitivo a partir de 1983), permaneceu até 1978, mas fez em 1977, um campeonato impecável em todos os aspectos, ganhando um Fusca como premiação por ter sido eleito o melhor jogador do Campeonato Catarinense, mesmo sendo vice-campeão após perder o título para a Chapecoense.

Depois disso, dois acontecimentos mudariam sua vida peremptoriamente, em 1978: o casamento com Simone Silva Nunes, na Igreja Matriz Imaculada Conceição, em 18 de março e a assinatura de contrato com o Joinville Esporte Clube, em 04 de dezembro.

Enquanto o coração transbordava em amor pela sua dona foi na Arena Joinville que se transformou em ídolo, vestindo pela primeira vez a camisa 10, apesar da preferência pela 8.

– Certa vez, quando criança, assisti Imbituba x Metropol, em que vi um (camisa) 8 chamado Madureira, jogar tanta bola que passei a gostar desse número por causa dele -, confessa.


E foi com a 10 que foi derrotado por 3 a 2 para o Corinthians de Sócrates e Cia, no Morumbi, válido pela primeira fase do Campeonato Brasileiro de 1980, que o “jogador magro de pernas longas mas extremamente habilidosas”, como era chamado na cidade pelo jornalista Maceió, tenha feito sua melhor partida como profissional, naquela tarde de 23 de fevereiro.

Depois dessa atuação de gala, alguns clubes despertariam interesse em sua aquisição, entre eles o Flamengo que para desgosto de seu Bidinho, o pai vascaíno, o contratou.

– Na transação entrou Cr$ 6.000,00 (seis milhões de cruzeiros) e mais os passes de Valdo, Lima e Hélio dos Anjos -, cita Waldomiro Shutzler, presidente do Joinville que negociou o craque com o Flamengo à época.

Nômade nos campos catarinenses à procura de uma boa pastagem para alimentar seu futebol, chegou ao Rio de Janeiro com a difícil missão de ser o reserva imediato do Galinho de Quintino.

Porém, como o camisa 10 rubro-negro dificilmente ficava fora das partidas, Lico quase não jogou e voltou ao Joinville, dessa vez emprestado para jogar o Brasileiro daquele ano.

Em três meses, atuou apenas em oito partidas e voltou ao time carioca.


Preterido pelos treinadores Cláudio Coutinho e Dino Sani, que não lhe deram oportunidade em sua primeira passagem pela Gávea, Carpegiani, recém efetivado no cargo, não queria cometer o mesmo erro de seus antecessores.

Dessa vez parecia que Lico daria um salto na carreira ao desembarcar pela segunda vez na Cidade Maravilhosa para vestir o manto rubro-negro, com as orações de dona Veriana, sua mãe, de Simone, sua esposa, e a bênção de São Judas Tadeu, padroeiro do clube.

Na chegada ao Flamengo no segundo semestre de 1980, já amadurecido pelas cicatrizes da bola, não demorou para mostrar seu verdadeiro futebol.

Numa tarde aprazível, no esburacado Estádio Ítalo del Cima, contra o modesto Campo Grande, no 3° turno do Campeonato Carioca, Carpegiani lançou no segundo tempo o ponteiro técnico e veloz, quando o time de Zico e Cia perdia por 1 a 0.

Ali, os 6.588 pagantes presenciaram o surgimento do mais novo camisa 11 do Flamengo, que ao dar um passe para o gol de Tita – pouco antes do camisa 7 ser expulso – e fazer o outro de bicicleta, chamou a atenção da imprensa esportiva.

Mas foi no mítico Estádio do Maracanã, no dia 08 de novembro de 1981, contra o clube da Estrela Solitária, que o endiabrado ponta-esquerda “comeu a bola” literalmente.


– Foi nesse jogo que o futebol dele se cristalizou de tal maneira que eu não tinha mais como tirá-lo do time -, diz Paulo Cézar Carpegiani, lembrando da atuação dele na goleada de 6 a 0 contra o Botafogo, no Carioca daquele ano.

Mas se nove anos antes, numa quarta-feira 15 de novembro de 1972, em seu 77° aniversário, o clube da beira da Lagoa recebia como presente no Maracanã, a acachapante goleada de 6 a 0 imposta pelos “Gloriosos” Cao, Mauro, Valtencir, Osmar e Marinho; Nei e Carlos Roberto; Zequinha, Fisher, (Ferreti), Jairzinho e Ademir, (Marco Aurélio), válida pelo Campeonato Brasileiro, quis o destino que o troco viesse à altura.

Demorou mas a faixa “Nós gostamos de vo6!”, estendida ironicamente nos clássicos entre as duas equipes, numa mais foi vista nas arquibancadas.

– Este foi um jogo especial. Era um placar que estava entalado na garganta dos torcedores. Mas eu só fiquei sabendo da história no intervalo da partida. Tinha que ser naquele dia -, diz “Bigode”, chamado carinhosamente pelos companheiros de time.

Companheiros estes, que se renderiam ao seu talento e importância para o sucesso da equipe.

– Lembro quando ele veio de Santa Catarina, já com 29 anos, considerada uma idade avançada para se integrar em um clube como o Flamengo. Chegou com o aval do nosso treinador Cláudio Coutinho, caindo como uma luva naquela equipe – diria o imortal ex-lateral Leandro.

Se os 90 minutos do jogo da vingança seriam relevantes, o que dizer da maratona de competições?

E convenhamos, naquela temporada seria desgastante: seis meses antes, em maio, disputa o Brasileiro, em julho conquista a Taça Guanabara por pontos corridos, em novembro é campeão da Libertadores e em dezembro conquista o Carioca e o Mundial Interclubes.

Alguns jogos tão intensos e disputados, principalmente na Libertadores, onde hematomas, suor e sangue, fizeram parte do nacionalismo radical e da ditadura do general Augusto Pinochet (1915-2006), seguidos à risca pelo Cobreloa, no gramado de Santiago.

– Nessa competição tem que se usar todos os recursos. Contra a gente foi dessa forma, mas nosso time tinha um equilíbrio emocional muito grande -, contemporiza Adílio, uma das vítimas dos “Pinochetianos” jogadores do time chileno.

Lico, outra vítima, vai além:

– A agressão que sofri foi covarde, já que esse tipo de coisa não condiz com o futebol e muito menos com profissionais que decidem uma competição tão importante.

Naquele solo infértil de grama verde em que o árbitro uruguaio Roque Cerullo fez vista grossa para o supercílio cortado de Adílio, o olho inchado de Lico, ocasionado pelo soco desferido por Mário Soto e o corte na orelha de Tita – sabe se lá como – a decisão se tornaria um barril de pólvoras.

E se tornou uma das mais violentas da história quando no finalzinho do jogo, o jovem atacante Anselmo, de 22 anos, entrou aos 40 minutos do segundo tempo e acertou um soco em Mário Soto, explodindo de vez na briga generalizada após o apito do árbitro encerrando a partida.

Entre vencedores e derrotados nesta batalha em que se transformou a decisão, coube aos soldados rubro-negros hastearem a bandeira nas cores vermelho e preto e fazer desta conquista da Libertadores um juramento: “Uma vez Flamengo, sempre Flamengo, Flamengo eu sempre hei de ser…”

Ainda impactados com a difícil conquista das Américas, quis o destino que quatro dias depois uma notícia pegasse todos de surpresa na véspera da decisão do Campeonato Carioca: a morte de Cláudio Coutinho!

– Havia entre nós jogadores um carinho e admiração enormes pelo Coutinho e foi um choque muito grande a notícia de sua morte. Demoramos a assimilar o duro golpe e perdemos os dois primeiros jogos para o Vasco (2 a 0 e 1 a 0) mas no terceiro, superamos e tivemos força para vencer (2 a 1) – diz recordando seu primeiro título Carioca.

Se lamentavelmente faltou ar para o brilhante treinador nas águas profundas na Ilha Cagarras – arquipélago próximo à praia de Ipanema – naquele trágico 27 de novembro de 1981, quando o mesmo praticava pesca submarina, não se pode dizer o mesmo do Flamengo na decisão do Mundial Interclubes contra os ingleses do Liverpool, em Tóquio, duas semanas depois.


Com um Zico inspirado e com participações especiais nos dois gols de Nunes e no de Adílio, o Flamengo vencia o jogo mais importante da sua história para deleite dos 62 mil pagantes.

Na Terra do sol nascente, o que se viu foi uma verdadeira aula de futebol em que onze jogadores de camisas brancas com mangas rubro-negras ensinaram aos de camisas vermelhas, o objetivo do esporte: vencer!

Não bastaria apenas vencer mas a busca incessante pela perfeição estava no equilíbrio.

– O Lico foi na verdade o grande ponto de equilíbrio do nosso time.

Primeiramente com sua experiência, pois era um jogador com uma estrada muito grande já percorrida, depois a sua técnica e sobretudo a sua inteligência tática, fizeram com que a nossa equipe conseguisse atingir o maior equilíbrio para atacar e defender da mesma forma – frisa o ex-lateral Júnior, recordista de partidas com a camisa do Flamengo.

E reitera:

– O Lico foi uma das principais peças na engrenagem tática vencedora do Flamengo.

Um ano após o Mundial, em 1982, após um 1 a 1 no Maracanã e um 0 a 0 no Olímpico, a equipe do Flamengo, sob o comando de Carpegiani, vence o bom time do Grêmio, treinado pelo eficiente Ênio Andrade, na terceira partida que decidiu o campeonato.

O gol do “João Danado” Nunes aos 10 minutos do primeiro tempo, em passe açucarado de Zico, proporcionou ao Flamengo comemorar seu segundo título brasileiro e o primeiro em nível nacional de Lico.

– Não foi uma vingança. Até porque eles sinalizaram com uma proposta de compra do meu passe e o América/SC não aceitou por considerar a proposta baixa. Mas fica em mim, a certeza de que eles haviam perdido um grande jogador, campeão Carioca, da Libertadores, do Mundo e do Brasileiro – diz o ídolo rubro-negro hoje com 67 anos.

No ano seguinte, em 1983, enquanto Carlos Alberto Torres (1944-2016) estreia como treinador de futebol, um 3 a 0 contra o Santos de Marolla, Paulo Isidoro, Pita, Serginho Chulapa e João Paulo, em um Maracanã com mais de 155 mil pagantes, garante ao “Mais Querido” seu terceiro título nacional e ao Lico, a tristeza em ter jogado boa parte do campeonato e ficado de fora da final.

Aos 32 anos, seu “coração da perna” – assim como o Dr. Giuseppe Taranto, chefe do departamento médico do Flamengo costumava chamar seu joelho – infartaria com tantas emoções vividas de 80 a 83: era necessário operar!

E lá foi com o cabeça de área Andrade para os Estados Unidos fazer a primeira intervenção cirúrgica no menisco do joelho direito, com o Dr. John Xetalis, médico do New York Cosmos – clube americano que se popularizou nos anos 1970 por ter Pelé, Beckenbauer e Carlos Alberto Torres, como seus jogadores.

Todavia, em seguida iniciava sua via-crúcis de sessões de fisioterapia e musculação, recondicionamento físico, ingestão de forma controlada de anti-flamatórios e analgésicos e o acompanhamento de perto da família.

Reencontraria a bola meses depois e passou a sentir dores no joelho esquerdo dessa vez, onde operaria o ligamento cruzado anterior.

Porém, pelo esforço feito nessa volta, se submeteu a uma raspagem na cartilagem devido a uma cárie óssea e pela terceira (e última) vez faria uma artroscopia com o Dr. Abraão Fiszman, um dos médicos do Flamengo.

No entanto voltaria sem o brilho de antes, inclusive com limitações e com dores intensas após as partidas.

Pediria então a Giuseppe Taranto (1936-2010), Pinkwas Fiszman e Abraão Fiszman para reavaliarem seus joelhos para constatar uma grave lesão de cartilagem.

Entraria 1984 deprimido e com a incerteza de ser o Lico de outrora e aos 33 anos sentia mais dor do que alegria àquela altura.

Durante três meses fazendo infiltrações para atuar decidiu que aquele 11 de fevereiro seria, definitivamente, sua última partida como jogador de futebol.

Entrou no segundo tempo e aos 35 minutos vestindo a camisa 22, fez o quarto gol na vitória por 4 a 1 contra o Santos no Maracanã, válido pela Libertadores daquele ano.

– Foi muito difícil para nós, pois tudo aconteceu no auge de sua carreira. Na verdade, ninguém estava preparado para aceitar que ele não poderia mais fazer o que mais amava na vida, que era jogar futebol – relembra Simone, sua esposa.

No dia 18 de fevereiro de 1984 anunciaria o encerramento de sua carreira tendo disputado 126 partidas (75 vitórias, 28 empates e 23 derrotas) e marcado 20 gols, segundo o “Almanaque do Flamengo”, de Roberto Assaf e Clóvis Martins.

A trajetória desse brilhante jogador foi contada em “A Travessia de um Sabiá”, documentário produzido e dirigido pelos jornalistas Cleber Latrônico e Fábio Lima.

A obra, de 32 minutos de duração, narra a trajetória do ex-craque Lico por meio de imagens, gols, depoimentos de amigos, familiares, colegas do futebol, como Zico, Andrade, Balduíno, Fontan; os treinadores Paulo Cézar Carpegiani e Lauro Búrigo; cronistas esportivos como Roberto Alves, Fernando Linhares e Maceió; além do ex-repórter de campo e hoje apresentador de TV Hélio Costa.


Atualmente mora com a esposa Simone, com quem é casado há 40 anos e tem três filhas: Mônica, Mariana e Marina, com quem divide os bons momentos que a carreira lhe proporcionou.

– As grandes conquistas desse campeão não foram somente em sua carreira, como pai ele é daqueles que faz as coisas impossíveis se tornarem fáceis quando o assunto somos nós, suas meninas -, entrega a caçula Marina Silva Nunes, de 25 anos.

Hoje, quinta-feira, 13 de dezembro, antes de tomar café com sua esposa Simone, passar a mão no jornal Diário de Santa Catarina, brincar com Nina – um vira-lata adotado há 30 dias -, colocar seu curió na varanda para pegar sol e sair para a habitual caminhada às 6h da manhã pelas ruas de Imbituba, seus olhos se fecharão levando-o para bem longe.

Vai lembrar de muitas coisas, principalmente de seu Bidinho (1919-1986) e de dona Veriana (1920-2009), antes, porém, de passar um filme na sua cabeça.

Talvez ele aperte os olhos evitando o choro ou esboce um leve sorriso… isso não saberemos!

Mas sabemos com propriedade que ele foi gigante ao lado de Raul, Leandro, Marinho, Mozer, Júnior, Andrade, Adílio, Zico, Tita e Nunes, na conquista do título mundial de um dos maiores times da história do futebol de todos os tempos.

MAIS UMA GUERRA – COMO OUTRAS TANTAS – VENCIDA

por Marcos Vinicius Cabral


Certamente na última segunda-feira (24), às 15h30 (horário de Brasília), os olhos do mundo estiveram voltados para a cerimônia do prêmio “Fifa The Best”, em Londres, que escolheu o melhor jogador do mundo na temporada 2017-2018.

No Royal Festive Hall – palco sagrado em que poucos pisaram -, com alguns metros de comprimento por alguns outros de largura, jogadores se digladiaram uns com os outros na busca pelo tão sonhado voto, e posteriormente, o tão cobiçado troféu de melhor jogador do mundo.

Não foi apenas uma simples votação de quem jogou mais bola e sim uma batalha campestre, em que o poder bélico de cada indicado foi colocado em prática à serviço da pátria de chuteiras.

Vale frisar que não foi um treino tático visando algum jogo importante e tampouco uma partida de 90 minutos: foi uma guerra!

Menos para um: Luka Modrić, de 32 anos e capitão da equipe croata no vice-campeonato na Copa do Mundo da Rússia!

– Obrigado aos meus fãs do mundo inteiro pelo apoio. Fico feliz pelo apoio que me deram desde sempre. Gostaria de agradecer aqueles que votaram por mim. Gostaria de mencionar o meu ídolo do futebol, capitão da Croácia na Copa de 1998, em nossa primeira participação, quando ganhamos o terceiro lugar. Aquele time mostrou que poderíamos conquistar coisas grandes e, por sorte… Tivemos a sorte de ser a mesma coisa para as próxima gerações. E mostramos que o sonho pode ser realidade! – disse Modric.

Nascido em um pequeno vilarejo chamado Modrici (plural de Modric, na língua croata), o pequeno Luka e seus familiares não tiveram opção quando em 1990, o país vivia em guerra por sua independência.

Quando houve então a secessão da Iugoslávia, a população sérvia – contrária ao movimento separatista – se juntou ao Exército iugoslavo para tomar o país.

A coisa estava tensa!


E ficou mais ainda, quando no final de 1991, o avô da estrela do Real Madrid – que coincidentemente se chamava Luka – passeava pelas colinas com seu gado quando párias de origens sérvias o sequestraram e em seguida o fuzilaram.

O mundo do pequeno Modrić desabou e aos 6 anos viu seu pai ser obrigado a servir ao Exército croata, sua família constantemente recebia ameaças de morte dos sérvios e a região onde moravam estava toda cercada por minas terrestres.

O terror físico e psicológico acabou obrigando-os a mudar para um hotel e com outras tantas famílias, se refugiando na cidade de Zadar.

Mesmo em meio ao território hostil de bombas, mortes e perseguições, havia no dono da camisa 10 da Croácia o sonho de ser jogador de futebol.

Contudo, na fase mais difícil da vida, fez do estacionamento do hotel um campo de futebol e ao som das explosões de granadas e morteiros, conviveu por um longo tempo com o perigo real e imediato.

E mesmo assim, ainda criança, deixou de driblar os veículos estacionados no concreto rachado daquele lugar e ingressou nas categorias de base do NK Zadar, clube local.

A dor existia dentro do pequeno Luka e sob forte pressão com os constantes ataques e a iminente marcação cerrada dos sérvios, soube se desmarcar, extraindo boas lições e cicatrizando aos poucos as feridas da alma.

Aos 12 anos, teve a chance de fazer parte do Hadjuk Split – seu clube de coração -, mas seu corpo franzino foi o responsável pelo não aproveitamento.


Com a persistência de um soldado de guerra, se profissionalizou aos 15 anos no Dínamo Zagreb e logo em seguida foi emprestado ao Zrinjski Mostar da Bósnia-Herzegóvina.

Entre idas e vindas, chegou à terra da Família Real em 2008, jogando pelo Tottenham, onde ganhou projeção internacional.

Atualmente joga no Real Madrid e disputou sua segunda Copa do Mundo – ficou em 22° lugar com a Croácia em gramados alemães em 2006 – e neste Mundial, apesar de não ter conquistado o título, fez os croatas se orgulharem de ter nele seu camisa 10, o equilíbrio da equipe muito bem treinada por Zlatko Dalic.

Portanto, venceu com 29,05%, o português Cristiano Ronaldo, que ficou com 19,08% e o egípcio Mohamed Salah, com 11,23%.

Se para os votantes (são técnicos e capitães das seleções, que não podem votar em jogadores de seu próprio país) essa eleição foi uma difícil missão, para Luka Modrić foi apenas mais uma guerra como as outras tantas que enfrentou desde 1985, quando veio ao mundo.

CAMISA 10

por Marcos Vinicius Cabral


Seja nas águas cristalinas de rios esverdeados, por onde passeiam em mansidão fúnebre e enlutada, ou em qualquer outro quilômetro sem fim, a camisa 10 nunca morre!

Nas folhas das árvores ou nas sementes das frutas comidas pelos pássaros que caem do alto e fazem companhia à corrente d’agua, ela se agiganta e demonstra sua grandiosidade.

É mais pura que a emoção do primeiro choro em vida do filho que chegou ao mundo, pois ela exorta qualquer resultado contrário à seus magnanimidade.

Selada em quatro linhas e traçadas na maternidade, ela não é nem de longe inocente e requer cuidado numa aproximação que seja.

Ah, o que dizer, da mística da camisa 10?

Talvez, diriam os insanos por futebol, como cachorro raivoso, que são ídolos mortais.

Não, definitivamente não são!

O torcedor, aquele que conhece os preâmbulos deste esporte, destina um intervalo de seu precioso tempo, e ao subir no palco, em prosa e verso, transformando em cenas inesquecíveis de uma jogada.

Se o gol arranca aplausos, o que dizer de uma jogada com um happy end no descortinar dos atos?

A mística da Camisa 10 e suas glórias resgatam uma lição poética, histórica, trazem à luz uma paixão antiga e uma infinita magia.

Uma pena que ela seja extinta cada vez mais em solo verde e inóspito por tantos pernas de pau que a vestem.

Estes merecem o pior castigo do mundo e que me desculpem os que têm compaixão deles.


Mas aos jogadores que vestiram esse número em seus clubes, cravaram seus nomes em letras folheadas a ouro que nem o tempo será capaz de apagar minha referência e ovação.

No máximo, um empoeiramento será notado, mas nada que uma pano úmido do avivamento seja utilizado.

Os torcedores que enchiam os estádios, com bandeiras, bandeirolas, diria o locutor fanático, que estremeciam as ondas sonoras do rádio com sua voz tresloucadamente de um apaixonado torcedor.

Talvez, um dia tenhamos a curiosidade de saber como é difícil ser um José Carlos Araújo ou um Luiz Penido ou um Washington Rodrigues, na ocultação dessas emoções ao microfone.

O camisa 10 repousa antes, vê o mestre aproximar-se distante, o templo (estádio) tem o sopro do dragão e a expressão de milhões de curiosos.

Zico, Platini, Maradona, Roberto Dinamite, Zidane, Rivelino, Ronaldinho e outros tantos têm um lugar especial ao lado do trono do Rei Pelé.


Portanto, o que dizer da soma de valores, em que a fama – osso do ofício – se torna ínfima para olhos que registram tanto encantamento e saúda em prosa, o artista da bola que ele é em verso?

Ali, dentro de campo, a largos passos românticos, o lance que encanta, levanta, tem brilho próprio, nota-se a marca do artilheiro, preso a um visgo, ao místico de vestir a camisa que se identifica com ele.

É a 10 sem dúvida!

Um presente aos mestres, craques e deuses do futebol arte!

Viva o futebol e seus camisas 10!

FUTEBOL TRANSPORTADO EM AMBULÂNCIA SEM BATERIA

por Marcos Vinicius Cabral


O encontro entre os defensores vascaínos Bruno Silva e Luiz Gustavo, aos 27 minutos do segundo tempo, no clássico carioca Vasco x Flamengo, mostrou o choque de realidade de duas das principais equipes do futebol brasileiro.

Se por um lado, vascaínos e rubro-negros fizeram um jogo ruim tecnicamente, o empate em si mostrou aos 54.288 pagantes que estiveram nas arquibancadas do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha, que as próximas partidas da competição serão de emoções e decepções cada vez maiores.

O Flamengo, que ocupa a 4° colocação neste campeonato brasileiro com 45 pontos, está longe de ser o protagonista que a mídia esportiva quer que ele seja.

Já o Vasco, que amarga 25 pontos, tem a luta real e imediata contra o rebaixamento, que – se ocorrer – será o quarto de sua história.

Mas algumas peculiaridades transformam o Flamengo – imortalizado por Zico, Júnior e Leandro – e o Vasco – respeitado com Roberto Dinamite, Edmundo e Romário – em motivos de chacotas.


O Flamengo, há quase uma década sem o titulo de campeão brasileiro, comemora como título uma mera classificação à Libertadores, para mais uma vez, participando, fazer vergonha.

O Vasco, que deixou há tempos de ser o “Gigante da Colina” ou o “Time da Virada” – para ser exato desde 2000, quando foi campeão brasileiro pela última vez contra o São Caetano – viveu uma entressafra nefasta com Roberto e Eurico à frente do clube de 120 anos, com dívidas megalômanas.

Enquanto o Flamengo de hoje tem Eduardo Bandeira de Mello, que tira selfie com torcedores (as) sem representatividade alguma com as tradições rubro-negras e faz do clube trampolim para ser eleito Deputado Federal pelo Rede – pelo amor de Deus, não votem no número 1818 – se contenta com conquistas regionais e acha o máximo ter colocado as contas em dia.

É como se fosse um favor ao clube, e não uma obrigação, equacionar dívidas.

Já pelo lado da Nau Vascaína, o ditadorismo de um Eurico Miranda, que por anos, soube apenas jogar no ar fumaças carregadas de prepotência nas baforadas dadas em seus charutos, disputas internas e medindo forças com Roberto Dinamite – a estátua do Romário em São Januário foi em retaliação ao eterno camisa 10 – marcado suas passagens em campanhas esdrúxulas.


Portanto, queridos vascaínos e rubro-negras de verdade, devemos agradecer ao Flamengo de 81, por ter nos permitido bater no peito e gritar a plenos pulmões: “Sou campeão da Libertadores e Mundial”; ao Vasco de 97, por ter permitido a cada torcedor a satisfação em dizer que tem uma Libertadores.

E por fim, não esquecer de enaltecer grandes jogadores como Raul, Acácio, Zico, Roberto Dinamite, Júnior, Edmundo, Nunes, Felipe, Leandro, Jorginho, Mozer, Mauro Galvão, Angelim, Mazinho, Tita, Geovani, Pet, Juninho, Adriano e tantos outros que conquistaram títulos, e sendo assim, souberam extrair de nós, torcedores, um sentimento que há tempos perdemos: a alegria de torcer!