Escolha uma Página
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

marcos eduardo neves

O SÃO PEDRO DO FLA

por Marcos Eduardo Neves


Renato era camisa 7. Assim como Bruno Henrique. Assim como Michael. Assim como Vitinho. Em uma semana, três jogos, três vitórias, 10 gols marcados e um único sofrido – e, detalhe: não por mérito do ataque adversário, mas por falha bizarra de um grande goleiro de corte de cabelo bizarro.

O Flamengo começou o jogo irresistível, como desde Jorge Jesus não se via. Bruno Henrique lembrava o Renato de 1987. Um autêntico cavalo de raça, com sua vistosa crina e tudo. Um tanque. Talento e força física.

Tudo ia bem na equipe até Diego Alves entregar. Fiquei com saudade dos goleiros-raiz, que não sabiam jogar com os pés. Por essas e outras Hugo se queimou. E complicar um jogo fácil, em plena Libertadores, decididamente, não vale a pena.

Após o tenso intervalo, tudo mudou. Se Bruno Henrique é o seu Renato, o Portaluppi resolveu mandar a campo seu Alcindo, o Michael. Que é outro com ele. Autoconfiante e aliando objetividade a seu estilo agressivo. Depois, tirou da cartola Vitinho, que seria o artilheiro do jogo, mesmo jogando menos tempo. Nas apostas de Renato, o jogo que, se não fosse a falha de Diego Alves, acabaria uns seis ou sete a zero pôde terminar, sem defesa mas com justiça, 4 a 1 para o Flamengo – outra vez e cada vez mais temido.

Óbvio que Renato não é Jorge Jesus, nem vai ser. Mas é Renato, e continuará sendo. Jorge Jesus montou o grupo, desenvolveu o estilo de jogo e embutiu na galera o espírito vencedor. Parafraseando a Bíblia, Jorge Jesus é um Jesus Cristo para os fiéis rubro-negros. Mas, segundo a Bíblia, vale lembrar que Jesus deu ordem a seu apóstolo Pedro para, após sua morte, fundar a igreja e propagar sua mensagem. Sendo assim, Jorge Jesus é Jesus, mas São Pedro tá com toda pinta de ser não Pedro, o queixudo atacante reserva do Gabigol barba de carranca, mas São Pedro tem tudo para ser Renato.

Que se cumpram as escrituras!

Avante, Flamengo!

#RenatoGaúcho #RenatoPortaluppi #Flamengo #Maisquerido #Rubronegro #Raçaamorepaixão #umavezflamengosempreflamengo #CRFlamengo #Mantosagrado #camisa7

DRIBLANDO ATÉ O ANIVERSÁRIO

por Marcos Eduardo Neves


WhatsApp Image 2020-09-09 at 18.41.11.jpeg

Hoje não é aniversário de Renato Gaúcho. Incrível como nem quem trabalha diretamente com isso tem o costume de ler. Assim como boa parte da mídia, cresci acreditando que hoje era o dia do aniversário do ex-craque e hoje técnico de futebol Renato Portaluppi.

Não é. Por meio da falecida Dona Maria, mãe do próprio, soube que em 9 de setembro de 1962 o mais bem sucedido dos Portaluppi foi registrado em cartório, porém, nasceu meses antes. Portanto, bola fora da mídia – principalmente a gaúcha.

Um pouco de leitura não faz mal a ninguém. Compartilho aqui trecho do meu livro “Anjo ou demônio – A polêmica trajetória de Renato Gaúcho” no que diz respeito às circunstâncias do nascimento do meu primeiro biografado:

“Fazia frio em Marco da Pedra, distrito de Guaporé. A tarde coberta de nuvens anunciava a chegada de mais um Portaluppi. Como em dias chuvosos as múltiplas goteiras se manifestavam, inundando o casebre, dona Maria, 38 anos, ao sentir os primeiros sinais, preparou-se para dar a luz ao décimo terceiro rebento na casa dos vizinhos, seu Genuíno e dona Ivete. Foram dois dias e duas noites de sofrimento. Até que por volta das 17h de 22 de janeiro nasceu Renato. Mais um homem a juntar-se a Deoclido, Jaime, Adão, Mauro e Ardiles (Flávio fecharia o time masculino). As mulheres chamam-se Jane, Venulda, Íris, Salete, Inelve e Lurdes.

Ao sair do ventre materno, o pequerrucho pesava cinco quilos e duzentos gramas. Bebê robusto, forte como toda família. E lindo, segundo a “mamma”. Tanto que seria apelidado Rosa. Quando Flávio completou seu primeiro aniversário, Renato já com três, mudaram-se todos, em definitivo. Atravessaram 65 quilômetros para fazer a vida na promissora Bento Gonçalves(…)”

OBRIGADO, RR!

por Marcos Eduardo Neves


Morreu meu amigo Rodrigo Rodrigues. Só nessa hora alguns cegos conseguem ver. Só nessa hora o barulho silencia. Só nessa hora o calor congela por dentro.

Há meses que nos trancamos, mudamos a rotina, falamos sem parar palavras que mal faziam parte do nosso vocabulário. Isolamento, por exemplo. Isolar era chutar longe do gol, jargão de futebol. Quarentena me remetia à política ou retiro obrigatório após deixar certos cargos públicos. Corona, marca de cerveja ou sobrenome de ex-galã dos anos 80. Até mesmo vírus só me atemorava caso estivesse no computador.

Vivíamos algo etéreo, que parecia existir mas não tínhamos prova cabal. Tipo a hora que soube que ia ser pai. A mãe sentindo na barriga, no mínimo estado líquido para ela, mas apenas gasoso para mim. Só se torna sólido quando nasce.

Ou morre. Rodrigo pegou o covid, mas quantos não contraíram essa peste ao longo dos últimos 100 ou 120 dias? Girávamos em torno de números: morreram 800, mil ou quase 2000 no dia tal. Números, nada mais do que números. Poucos tinham nome. Poucos tinham vida. Até bater na porta de casa, como agora.


Morreu Rodrigo Rodrigues. De todas as perdas, a mais próxima que tive. Meu filho e minha mulher são testemunhas do quanto me excitei quando ele confirmou participação na minha live, em maio. Menos por falarmos de jornalismo, futebol e música, paixões em comum, mais por, no meio de uma pandemia, me embebedar por uma horinha da sua alegria, seu bom humor, seu alto astral.

Morre Rodrigo Rodrigues e agora, sim, devido à proximidade, o que eram frios números ganham carne, osso e alma. Agora os ímpios vão crer. Ainda que nem todos.

Parece que alguém o visitou em casa, visto que decidimos por conta própria afrouxar as medidas de isolamento. Nisso deu-se a fatalidade da transmissão. O que me prova, por exemplo, o erro de se voltar partidas de futebol agora, mesmo sem público. Ele foi contaminado em casa? Podia ter sido no estádio, a trabalho. No corredor da sala de imprensa, no estacionamento do Maracanã ou no gramado, como nessa foto de uma das últimas vezes que nos vimos.

Morre alegria em meio à tanta melancolia. Perde sabor o jornalismo cultural e esportivo. O único ganho é de saudades.

Que tenhas tido paz na sua passagem. A mesma paz que nos atingia em cheio a cada encontro e germinava frutos de sorriso na gente. Transformando a aura de qualquer ambiente numa bem-sucedida trilha de clássicos imortais do cinema.

O FALSO ALEGRE

por Marcos Eduardo Neves


No tempo em que existia ponta-direita e ponta-esquerda no futebol, surgiu uma peça ofensiva que vestia a camisa 7 ou 11 mas não se restringia à limitada faixa lateral do campo. Era o falso ponta. Em sua fase áurea, por exemplo, o Flamengo teve dois atacantes assim: Tita e Lico. Nesta semana, perdemos não um falso ponta, mas um falso alegre. O sorridente malandro Mário José dos Reis Emiliano. O trágico Marinho, do Bangu.

Moleque travesso, luz que escureceu da noite para o dia. Aliás, do dia, vários dias, para a noite. Treva eterna de uma existência triste, solitária e infeliz.

O destino foi cruel com ele. Disfarçadamente. Primeiro o enganou, fez dele uma revelação do futebol. Aos 12 anos, precisou arrancar forças do Além para superar o drama de ver sua irmã morrer na sua frente, atropelada, quando o levava a um treino. A bola o salvou.

Marinho despontou com a camisa da seleção de novos e disputou a Olimpíada de 1976. Estreou jovem no fortíssimo time principal do Atlético Mineiro. O céu parecia o limite. Mas justamente quando poderia ter disputado sua primeira final de Brasileiro, ao lado de astros como Cerezo, Reinaldo e Éder, não prestava mais seus serviços em Beagá. Escondia-se em São José do Rio Preto, defendendo as cores do América paulista. Primeira grande ironia.

Não se abateu. Talentoso, provou seu valor e por alta cifra se transferiu para o forte Bangu, clube patrocinado por um contraventor cheio de bufunfa. O bicheiro Castor de Andrade montou um time para ganhar tudo. Em 1985, Marinho se tornou estrela nacional. Melhor jogador do Campeonato Brasileiro, fazia parte da seleção. Nos braços de amigos e na boca das mulheres, surfava a crista da onda.

Seu Bangu chegou às finais de tudo que disputou naquele ano. No Carioca perdeu a decisão para o Fluminense de maneira contestável. O árbitro fez vista grossa para um pênalti claro a favor do clube suburbano, nos instantes derradeiros. Já no Brasileiro, cenário final apoteótico. Maracanã lotado com as torcidas cariocas em peso no estádio; o Rio a favor do alvirrubro de Moça Bonita. Nos pênaltis, Bangu vice. Diante do mediano Coritiba e em casa, o apogeu de um belo time sem títulos, em suma, uma excelente equipe condenada ao ostracismo.


Marinho, contudo, era maior do que uma simples faixa no peito. 1986 era ano de Copa do Mundo. Na convocação final para o Mundial do México, porém, Telê Santana contrariou o ‘Zé da Galera’, personagem de Jô Soares no humorístico ‘Viva o Gordo’, e extirpou em um corte só dois ponteiros: ele e Renato Gaúcho. Nova decepção. Que sempre com um sorriso no rosto, sua marca registrada, Marinho haveria de contornar no ano de 1988.

Contratado pelo Botafogo, clube que dependia financeiramente de outro dono de banca do jogo do bicho, Emil Pinheiro, tudo indicava que Marinho, aos 30 anos de idade, daria finalmente o pulo do gato.

Não deu. E por não saltar não salvou seu filho, que com um ano e sete meses caiu na piscina da mansão enquanto o pai concedia uma entrevista à imprensa. O anjinho partiu afogado. Matando Marinho de vez.

Do mundo de tapinhas nas costas e farras, o jogador mergulhou profundamente no umbral das bebidas. Foi dizimado aos poucos pelo alcoolismo. Em contrapartida, seu patrimônio e sua vida pessoal dele se desfaziam de maneira tão veloz quanto partia Marinho para cima dos beques, serelepe, com a bola nos pés.

Perdeu a esposa, morou no próprio carro e até nas dependências do Bangu. Vagava pelas ruas do bairro que lhe deu fama e anonimato. Nos últimos anos contraiu tuberculose. Resgatado por um filho, voltou a Belo Horizonte. Na cidade que viu seu início mostrou-lhe o capítulo final.

Aos 63 anos, numa sala de UTI de um hospital público, o falso alegre perdeu o jeito para driblar tantas adversidades. Encarava um marcador inclemente: um câncer metastático de pâncreas. Passou por três cirurgias, mas pela última vez perdeu o jogo decisivo. Deixando lacrimejado nos fãs um sorriso amargo. Amargo de amargura.

AGORA COMO É QUE EU FICO

por Marcos Eduardo Neves 


Despertei com a notícia da morte de Moraes Moreira. Foi encontrado caído no chão sem vida pela empregada que havia chegado para trabalhar e percebeu o gás aberto. Moraes tomava medicamentos para pressão. A grande imprensa fala em infarto fulminante, mas fonte segura me avisou que ele era muito distraído – e era mesmo, isso eu pude constatar!

ACABOU CHORARE para o BRASIL PANDEIRO nesta segunda-feira. BESTA É TU, se não conheces direito a obra de Moraes. O MISTÉRIO DO PLANETA era um dos gênios imortais da MPB. Com ele A MENINA DANÇA, seja ela loira, morena, índia ou PRETA PRETINHA. Os meninos também. Não à toa, PELAS CAPITAIS só se fala disso. LÁ VEM O BRASIL DESCENDO A LADEIRA com mil homenagens a quem, COM QUALQUER DOIS MIL RÉIS, alegrava a plateia sem fazer esforço.


POMBO CORREIO me passou que o mestre do cordel contemporâneo esqueceu a COISA ACESA e a moça da VASSOURINHA ELÉTRICA bateu de frente com a tragédia ao chegar. Não importa. Gosto dele desde que calçava o CHINELO DO MEU AVÔ e a seu lado tive duas passagens mágicas, SINTONIA profunda em ambas. Primeiro, numa entrevista. Depois, no lançamento de um livro meu, faz um ano e meio. Tenho SANTA FÉ que ele agora CHAME GENTE para cumprimentá-lo no Além. Divertidas as próximas baladas no céu.

Aqui na Terra, ficam as SAUDADES DO GALINHO, saudades minhas, saudades nossas desse rubro-negro que soube levar a vida como novo baiano e autêntico carioca. Solto um GRITO DE GUERRA: Agora, como é que eu fico nas tardes de domingo sem a LENDA DO PÉGASO para aplaudir? O CAMINHÃO DA ALEGRIA freou.  PAROU POR QUÊ, POR QUE PAROU? Só Deus há de saber. E ISSO AQUI O QUE É? Ainda estou sem resposta.

Eis aqui o meu respeitoso e apaixonado POEMA DO ADEUS.