Escolha uma Página
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Marcelo Mendez

SANTA CRUZ 1975

por Marcelo Mendez


O ano de 1975 era importante para o futebol brasileiro.

Dentro dos conceitos de então, a seleção brasileira, que em 12 anos havia vencido três mundiais, não poderia terminar 1974 com um quarto lugar na Copa da Alemanha no ano anterior. “Vergonha!”, foi o que bradaram.

Dessa forma, o campeonato nacional que aconteceria um ano depois era aguardado com grandes expectativas. Foi um bom campeonato. Mas ao contrário do que se esperava, dos 42 times, um outro, até então pouco conhecido do cenário nacional, foi quem chamou atenção. E é desse time que falaremos aqui hoje.

Esquadrões do Futebol Brasileiro vem essa semana para homenagear o Santa Cruz de 1975

A FORMAÇÃO

A história desse time não foi construída à toa. Não foi uma obra do acaso o que aconteceu no Brasil de 1975. O Santa Cruz há muito tempo vinha sendo trabalhado para brilhar em nível nacional.

A coisa começa em 1969 quando o tricolor do Arruda traz do Rio de Janeiro o técnico Ivan Gradim para montar um time de jogadores jovens, como Ramon, Luciano, Cuíca, Zito Peito de Pombo, Fumanchu, Volnei para quebrar a seca de títulos e a partir dali vencer tudo, formando um time que seria pentacampeão pernambucano de 1969 até 1973. E que ano mágico foi 1973!


O Santa teve naquele ano o craque Ramon voando baixo! Em partidas lendárias como o 3×2 em cima do Santos de Pelé, Ramon deitou o cabelo, jogou muito, arrebentou. O time que contava com a gerência da camisa 5 do ótimo Givanildo, a frente dos zagueiros Lula (Pereira) e Levir (Culpi), começava a chamar atenção do Brasil. Inevitavelmente, o futuro seria glorioso.

1975, O ANO INESQUECÍVEL

A campanha do Santa engrenou na segunda fase do Brasileirão. Daí pra frente não teve pra ninguém.

O Santa Cruz venceu Grêmio, Sport, Palmeiras de Ademir da Guia dentro do Parque Antártica por 3×2, bateu o Internacional, que viria a ser campeão, por 1×0 e foi buscar a vaga para semifinal dentro do Maracanã metendo um 3×1 no Flamengo, numa noite de sonhos para Ramon e para o meia Mazinho.

As coisas estavam ótimas para o Santa, o técnico Paulo Frossad começava a falar em título e nada disso era absurdo. O Santa fazia por merecer e decidiria a vaga contra o Cruzeiro dentro de um Arruda em festa. A recepção do time após a vitória contra o Flamengo foi uma ótima mostra disso.


Todavia, para uma pessoa não tinha festa. No meio daquela multidão de felizes no aeroporto dos Guararapes. Mazinho, o meia que acabou com o Flamengo no Maracanã, já sabia que não poderia jogar contra o Cruzeiro alguns dias depois. E essa ausência seria muito sentida.

NO MEIO DO CAMINHO, UM GOL IMPEDIDO

O Cruzeiro de 1975 era uma seleção.

Ainda tinha por lá jogadores do porte de um Zé Carlos, de um Piazza, Palhinha, Eduardo, Nelinho e a novidade, um espetacular ponta esquerda de nome Joãozinho. Um time de respeito, mas o Santa vinha embalado. O povo de Pernambuco entendeu.

No dia do jogo, no Arruda lotado, havia bandeiras do Santa sim, mas também tinha bandeiras de Sport, Náutico, América e de todo Pernambuco a torcer pela Coral. Nesse clima ótimo, o Santa abriu o placar.

Fumanchu cobrando pênalti põe o Santa na frente. Poucos minutos depois, Zé Carlos em posição de impedimento, empata a partida. O Santa Cruz faz a festa, mas o time do outro lado era fortíssimo. Com mais um gol de Palhinha, a Raposa passa à frente e sua para conseguir manter esse resultado, até que Fumanchu, novamente de pênalti põe o placar igual


Nessa hora, percebe-se nitidamente que mesmo podendo ter a velocidade de um atacante como Nunes, o Cruzeiro amarra o jogo para suportar o desgaste físico, mas no final, de maneira surpreendente, meio a toda pressão, uma bola sobra para Palhinha meter o pé na bola pra finalmente conseguir derrotar o Santa.

Foi triste. Aquelas pessoas mereciam mais, mas a gente entende; O futebol é o esporte que mais se aproxima da vida real humana. Nessa ocasião, vitimou um dos maiores times de futebol já formados. Só que para essa coluna, pouco importa se tem o tal do título. Vale a arte, vale o tesão de fazer bem feito. Portanto vamos à homenagem:

Esquadrões do Futebol Brasileiro tem a honra de apresentar, o Santa Cruz de 1975

FLUMINENSE 1983/1985

por Marcelo Mendez

O ano de 1984 na minha vida foi bem diferente daquele que o Orwell pintou em seu homônimo livro.

Ele até viria acertar depois, mas em 1984 as coisas ainda eram legais.

Eu tinha 14 anos, era o camisa 10 do Nacional do Parque Novo Oratório, que na nossa categoria, já havia vencido três títulos no ABC e no Estadual Infantil a gente estava passando por cima de todo mundo. No mundo dos amores, minha primeira paixão (ou algo parecido) já rolava e ela me ensinou a sacar que não era só o The Clash que era legal ouvir.

A Blitz com seus hits “Geme, Geme” e “A Dois Passos do Paraíso” embalavam a nossa vida de namorinhos de portão. No futebol, a coisa fervia em Santo André.

O time da cidade surpreendia e ia muito bem no Campeonato Brasileiro. Iria mais a frente talvez, se não encontrasse o time homenageado hoje aqui em Esquadrões do Futebol Brasileiro:

Nossa coluna rende, portanto, homenagem ao Fluminense de 1983/1985.

O CASAL 20 DE LARANJEIRAS E UM PUNHADO DE MENINOS

Nossa história poderia começar pela ultima glória do time tricolor quando desbancou o Flamengo na disputa do titulo carioca daquele ano. Seria legal até, porém, aquela foi a última conquista do Fluminense, antes dos anos de ouro do Flamengo de Zico.


A partir daí houve uma reformulação em Laranjeiras, o time manteve Delei, como remanescente de 1980, trouxe para o time de cima nomes como Jandir, Branco, Duílio, Aldo, o Paraguaio craque de bola Romerito e a grande atração daqueles anos:

Assis e Washington, o Casal 20.

Sim meus caros, antes de existir Netflix também existia seriados de televisão.

Nos EUA, uma série escrita pelo autor de Best Sellers Sidney Sheldon, estrelada por Robert Wagner e Stefanie Powers falava da vida perfeita de um casal que se dava muito bem em tudo. A alcunha caiu como uma luva para a dupla de atacantes que havia levado o Atlético Paranaense ao terceiro lugar em 1982 e que agora brilharia no tricolor.

Pronto:

Já havia a base sólida que viria a tomar conta do futebol no Brasil nos anos que se seguiriam…

UM CAMPEÃO BRASILEIRO EM SANTO ANDRÉ

Na noite em que meu pai estava preocupadíssimo com a votação das Diretas Já, eu só pensava em ir ao Brunão para ver o Santo André jogar.


O time da Cidade estava fazendo uma beleza de campeonato nacional, já havia vencido o Grêmio, então campeão mundial, em casa, e agora, na fase de grupos, precisava de uma combinação de resultados para se classificar para as quartas de final do Brasileirão. Dito e feito:

Um revés do Vasco e o outro da Portuguesa, associado ao gol de Esquerdinha para o Santo André, estava levando o Ramalhão para semifinal do campeonato e assim foi até os 37 do segundo tempo.

Após o escanteio batido, Delei pega o rebote da entrada da área e empata a partida para o já classificado Fluminense impedindo assim a primeira aventura do Santo André e marcando sua presença na minha vida de menino que amava futebol.

Surgia ali para mim, um timaço de bola…

O BRASIL É TRICOLOR

Depois de um baile de bola no Corinthians de Sócrates, o Fluminense foi à decisão contra o Vasco.


Em duas partidaças, primeiro venceu o Vasco por 1×0 no jogo de ida e na volta, com um volume de jogo impressionante, o time treinado pelo jovem Carlos Alberto Parreira amassou o time de São Januário que contou com grande atuação do goleiro Roberto Costa para evitar que algo pior acontece-se. Final de jogo 0x0 e festa tricolor no Maraca:

O time formado por Paulo Vítor, Aldo, Ricardo Gomes, Duílio Branco, Jandir, Delei, Romerito, Assis, Washington e Tato, sagrava-se campeão Brasileiro pela segunda vez e a torcida fez a festa naquele primeiro semestre de 1983. No segundo semestre, viria mais festa.

Como seria comum em todos os segundos semestres entre 1983 e 1985…

TRÊS VEZES FLU

Foram anos de glória!

O Fluminense que havia começado a década vendo o seu rival Flamengo conquistar o Brasil e o mundo resolveu mudar a sorte das coisas a partir de 1983.


Treinado primeiro pelo técnico Carbone, o Flu quebrou a hegemonia do Rubro-Negro em 1983 e repetiu a dose em 1984 e 1985 com festas de gala no Maracanã. Títulos que mudaram a cara do Fluminense em âmbito nacional. O time mandou para seleção metade de seus titulares e o lateral-esquerdo Branco foi para a Copa do Mundo do México em 1986 tendo por lá grande destaque.

Uma máquina de jogar bola.

Essa semana, ESQUADRÕES DO FUTEBOL BRASILEIRO vem para saudar essa camisa poderosa.

Fluminense de 1983/1985, um timaço de bola.

GUARANI 1978

por Marcelo Mendez

Sou caipira pirapora nossa

Senhora de Aparecida

Ilumina a mina escura

E funda o trem da minha vida

Sou caipira pirapora nossa

Senhora de Aparecida

Ilumina a mina escura

E funda o trem da minha vida

O ano de 1978 começou da maneira mais bucólica provável na minha vida de menino de 8 anos de idade.

Havíamos acabado de nos mudar para nossa casa, só nossa, mas a saudade do quintal cheio de meus primos ainda era enorme e eu seguia por lá, junto deles na casa da Tia Leoni. As primas mais novas, Marlene, Silmara, junto de minha Tia Cida e da Tia Leoni se revezam entre afazeres de casa e outros trabalhos.

No rádio ligado, a música “Romaria” de Renato Teixeira, era sucesso na voz de Elis Regina, na trilha sonora da novela e eu que era bem afeito às coisas dos sons e do rádio já conseguia memorizar bem a canção. A vida de um só, em um destino de sonho e de pó e outras agruras que a música narrava, formava em minha mente um conjunto de imagens belíssimo.

Um orgulho enorme de ser Caipira, Pirapora Nossa. Como o time que vamos falar hoje, também do interior, também Caipira, também Gigantesco.

Esquadrões do Futebol Brasileiro volta 41 anos atrás para falar de um time esplendoroso; O Guarani de 1978.

O MINEIRO E A AVENTURA


A História do Guarani de 1978 pode ser contada por vários vieses. Mas acredito que optar por contar a coisa pelo momento em que o técnico Carlos Alberto Silva, oriundo da Caldense, chega em campinas, trazido pelo presidente Ricardo Chuffi, representa bem todas essas nuances.

Era começo de trabalho, o jovem treinador que havia feito bonito no Campeonato Mineiro, trouxe consigo o preparador físico Helio Mafía, com quem alias trabalharia a vida toda, para poder começar os trabalhos. Pelo Dirigente, foi informado que a grana era curta, que a moeda era escassa pelos lados do Bugre, mas que a base era muito boa.

Por lá, Silva encontrou jogadores como Manguinha, Renato, Mauro, Miranda, Adriano e um jovem de 17 anos que era um gênio; Careca. Juntou essas feras ao goleiro Neneca e ao meia Zenon que estavam no clube desde 1976, trouxe o zagueiro Gomes, o atacante Capitão e o craque de bola Zé Carlos, campeoníssimo pelo Cruzeiro e a partir daí montou uma base forte e sólida para a maior aventura de um time do interior do Brasil…

O BUGRE DE CAMPINAS VIRA O BUGRE DO BRASIL


O Campeonato Brasileiro de 1978 foi uma zona.

Desistências, inchaços com dezenas de clubes convidados, regulamento abilolado, um verdadeiro faroeste pelo Brasil afora. Nele, o Bugre deu lá suas osciladas para se classificar, mas chegando nas cabeças, foi passando por cima de Geral. Sport, Internacional, Santos, Vasco.. Cada qual com um épico para contar.

Contra o Internacional, o Grande Internacional dos anos 70, o Bugre foi ridicularizado por todos do sul por conta do que eles chamaram de “Ataque de Risos” em função do nome dos seus titulares; Capitão, Careca e Bozó. Resultado, um chocolataço de bola e 3×0 para os Campineiros.

Contra o Sport, Neneca garantiu o 2×0 fora e o time deu um baile de bola em casa, com um 4×0 Clássico no Brinco de Ouro. O Vasco viu Zenon calar o Maraca na semi com os dois gols do jogo sacramentando o 2×0 final. Faltava pouco, apenas a final. E aí que entra minha história…

O BRASIL DESCOBRE CAMPINAS


Em 1978 seguramente posso afirmar que é o ano de afirmação de meu Palestrianismo.

Meu Tio Bida e meu Pai me enchiam de camisa do Palmeiras, de bola do Palmeiras, de meia do Palmeiras e nem precisaria de nada disso. Eu já era Palmeirense desde muito antes deles saberem. Mas por aqueles dias eles estavam especialmente aflitos.

O Palmeiras que havia perdido a primeira da decisão do Brasileirão teria que ir decidir em Campinas sem Leão no gol, expulso por uma cabacice após agredir Careca, o que resultou em pênalti e 1×0 contra.

Do que me lembro daquela decisão foi a gente ir assistir ao jogo na casa da Tia Dete em São Matheus, na zona leste de São Paulo, onde havia por lá uma TV colorida. Isso era algo muito novo para época e então lá fomos, eu feliz da vida porque era sempre muito bom ir na casa da Tia Dete, meu Tio e meu Pai tensos, porque em campo, o Palmeiras ia ter um problemão para resolver.


O Guarani, sem o craque Zenon, suspenso por cartão, mas com todos os outros jogadoraços que fizeram essa campanha histórica deram um baile de bola no Palmeiras e coube a Careca, pegar um rebote de Gilmar para meter o gol que faria do Guarani o único campeão Brasileiro do interior do Brasil até então.

Uma festa, uma honra, uma coisa divina e ímpar poder ter visto aquele time jogar.

Esquadrões do Futebol Brasileiro os homenageia, portanto.

Guarani de 1978, um timaço!

SÃO PAULO 1991/1993

por Marcelo Mendez


A história desse time bem poderia começar a partir de uma conversa entre o dirigente Carlos Caboclo e seu amigo, o técnico Telê Santana. Ambos estavam bem mal.

O técnico tinha acabado de fracassar no primeiro semestre, na luta para dar um titulo ao Palmeiras em 1990 falhando num 0x0 contra a desclassificada Ferroviária. Sem clima por lá, decidiu aceitar o convite do amigo para treinar o São Paulo, de onde chegou novamente perdendo, dessa vez para o Corinthians em casa. O dirigente estava de orgulho ferido pelo mesmo motivo, as perdas de dois títulos Brasileiros seguidos em casa. Para acabar de lascar, como herança da péssima e vexatória campanha do Paulistão no primeiro semestre de 1990, em 91 o São Paulo disputaria um módulo inferior no Estadual.

Há quem diga que de grandes tormentos surgem vitórias épicas, as quais a palavra e o verso serão poucos para contar. Tem os que apontam que a catarse da perda de uma paixão, pode dar força para que se surja um grande amor. Não sei…

Fato é que a partir de toda essa miséria ludopédica e dessa conversa entre Caboclo e Telê Santana, um compromisso foi firmado, Telê ficou e nasceu um dos maiores times da história do futebol mundial.

Esquadrões do Futebol Brasileiro tem a honra de falar hoje do São Paulo F.C de 1991/1993.

DE CASA ARRUMADA, RESSURREIÇÃO EM 1991

A melancolia de perder mais uma decisão em casa não abalou o São Paulo.

Ao contrário disso, daquela vez foi diferente. O time entrou 1991 com uma verdadeira avalanche de mudanças, a começar pela estruturação de seus departamentos médicos, da reforma e conclusão de seu CT, com a chegada de profissionais do quilate de Turíbio Santos, Moraci Santanna e finalmente, com uma pré temporada para trabalhar.


Dali, o time saiu voando para a primeira competição, o Campeonato Brasileiro. O tricolor subiu na hora certa da competição, passou por Atlético Mineiro, Santos e na final, venceu o primeiro jogo contra o Bragantino no Morumbi por 1×0 para depois empatar em Bragança sem gols. O 0x0 que deu ao São Paulo seu terceiro titulo brasileiro.

No segundo semestre, foi de braçada;

O São Paulo amassou todo mundo no módulo amarelo. O que pesou na hora de decisão contra o Palmeiras. Com a melhor campanha justamente nessa primeira fase, o São Paulo eliminou o Palmeiras e foi a decisão contra o Corinthians. Um show de Raí!

Primeiro jogo 3×0 e três gols do 10. Segundo jogo, um protocolar 0x0 define a coisa. O São Paulo fecha 1991 com dois canecos e com uma perspectiva ótima:

A história seria feita nos anos seguintes…

LIBERTADORES DE AMÉRICA; UM CONTINENTE TRICOLOR.


Dá para dizer que 1992 foi a última Libertadores mambembe do planeta.

Jogos transmitidos para o Brasil POR uma tal Rede OM que em São Paulo funcionava no canal 11 da Tv Gazeta, times porradeiros, campos com gramados lamentáveis, vôos precários, em 1992 o continente nosso, definitivamente, não estava preparado para maiores devaneios de grandeza. No meio disso tudo teve um campeonato.

E nele, o São Paulo suou sangue para conseguir se virar.

Na primeira fase, tomou uma sapatada do Criciúma por 3×0 e teve que buscar sua classificação na altitude da Bolívia contra o San José de Oruru. Na volta, trouxe a vaga para despachar Nacional, Criciúma, Barcelona de Guayaquil e News Old Boys numa épica decisão por pênaltis no Morumbi. No outro ano, foi diferente:

O São Paulo nadou de braçada e na decisão contra o Universidade Católica do Chile, o tricolor meteu um 5×0 em uma das maiores partidas de sua história. Bi…

Bi campeão da América. Mas ainda faltava o mundo…

CADÊ A CINTURA DO FERRER??

O mundo em 1992 chacoalhava as ancas com Happy Mondays, Primal Scream e outros sacodes que vinham das pistas de Manchester. Madchester  era o nome do movimento que revelou uma porrada de bandas que tomavam conta das paradas musicais do momento.

No Brasil, todavia, nosso samba estava meio atravessado.

Até a conquista da Libertadores pelo São Paulo, nosso orgulho ludopédico estava bem avariado. Para se ter uma ideia, a Seleção perdeu as ultimas duas edições da Copa América, tomando goleada do Chile na Argentina (4×0) e levando baile de bola da Argentina em Santiago (3×2). Na última Copa em 1990, saímos na primeira fase, eliminados por Maradona.

Não é exagero, portanto, dizer que o São Paulo foi ao Japão enfrentar o Barcelona, jogando por todo nosso orgulho futeboleiro. E não fez feio.

Após o susto inicial com o gol de Stoichkov para os catalães, uma bola sobrou do lado esquerdo do campo para Muller.

Imbuído da consciência de que jogava por tudo isso que falei acima, o camisa 7 pegou a bola, levou para o lado do campo, trouxe para fora e depois, com a benção de um milhão de malandros de gafeiras imortais, deu um corte pra dentro, entortando o lateral direito Ferrer.

Mais do que um drible, Muller esculhambou com Ferrer e recuperou nosso direito de ser gente, de ser os picas dessa coisa chamada futebol. Cruzou para a área e Raí meteu a barriga na bola para empatar a peleja. O mesmo Raí que meteu a bola no trinco de Zubizarreta para fazer o 2×1 que deu ao São Paulo a Alcunha de melhor do mundo pela primeira vez.

Viria mais no ano seguinte…

Em 1993, o Tricolor era comandado por Cerezo, Leonardo, Palhinha, Cafu e o mesmo Muller, que fez de costas, sem ver, o gol do 3×2 que deu ao São Paulo o Bi do mundo, em cima do poderoso Milan de Arrigo Sachi,


Bi da América, Bi do Mundo, Campeão Brasileiro, da Conmenbol, da Recopa, de tudo. O time que teve em sua base Zetti, Cafu, Adilson, Ronaldão, Ronaldo Luiz… Dinho, Cerezo, Palhinha, Raí, Muller, além de ter outros tantos como André Luiz, Juninho, Macedo, Pintado, Catê e Mauricio (in memorian) e mais outros tantos craques forma um dos maiores times da história do futebol mundial.

Esquadrões do Futebol Brasileiro rende hoje suas homenagens ao tricolor do Morumbi de 1991/1994. Um dos maiores times da história do futebol mundial.

BANGU 1985

por Marcelo Mendez


A história do time que vamos contar hoje começa nos sonhos do velho Senhor Eusébio de Andrade, nos teares das fabricas de tecido de Bangu, passa pelo Rio Maravilha dos anos 60, se consolida a partir dos anos 70 com um nababesco Chefão do Jogo do Bicho e termina com uma lágrima que não quer parar de escorrer pelos rostos da Zona Oeste.

Vamos ao ano de 1985 para tratar de um Esquadrão que ousou se formar para além da Zona Sul, longe do concreto Paulistano, afora das dinastias, Mineiras e Gauchas.

A série Esquadrões do Futebol Brasileiro vai até o subúrbio para falar do Bangu de 1985…

ZIRIGUIDUM 1985, UM TIME ESTRELAR

“Quero ser a pioneira

A erguer minha bandeira

E plantar minha raiz

A erguer minha bandeira

E plantar minha raiz

Nos meus devaneios quero viajar

Sou a Mocidade, sou Independente

Vou a qualquer lugar

(Eu sou)

Sou a Mocidade, sou Independente

Vou a qualquer lugar”

Quando Ney Vianna soltou a garganta para cantar os primeiros versos do samba “Ziriguidum 2001, Um Carnaval nas Estrelas”, o ano para Castor de Andrade pareceu ser bastante proeminente. Com um enredo luxuoso, metido à futurista e o escambau, a Mocidade Independente de Padre Miguel sagrou-se campeã do Carnaval de 1985


Castor de Andrade era só alegria.

O Barão do Jogo do Bicho, otimamente relacionado com todo primeiro escalão da Ditadura Militar, amigo pessoal do Presidente Figueiredo, havia tomado o comando tanto da Escola que acabara de sagrar-se campeã, quanto a frente do Bangu, time que outrora havia tido seu pai, o Velho Eusébio de Andrade, como Presidente.

Com a chegada de Castor, o Bangu deixou de ser um time mediano, coadjuvante no futebol carioca. Ele acabou com o Romantismo tanto nos negócios do pai, como também na gestão do clube. Com ele, o time passa a ser administrado de maneira profissional, firme. O time passa a ter investimentos e já no seu primeiro ano como diretor, em 1966, vem o titulo de campeão carioca daquele ano.

A partir da metade dos anos 70, Castor vira Presidente de Honra, tanto da Mocidade Independente, quanto do Bangu. Daí, chegamos na história que contaremos hoje…

O GIGANTE DA ZONA OESTE, DE VERDADE!

O Bangu havia sido um mero participante do Brasileirão em 1984.

Ali pelo meio da tabela, sem incomodar ninguém, sem chamar muito atenção. Mas o Seu Castor não era um homem muito dado à descrição e para 1985, muda isso pra valer.

Com a chegada de jogadores como Mario, Ado, Lulinha, Israel, o centroavantão João Claudio e o craque Marinho, o time de Moça Bonita entra no Campeonato Brasileiro para arrebentar e consegue de cara, com uma primeira fase irretocável.

Foram 14 vitórias, 5 empates e apenas 3 derrotas na primeira fase da competição.


Para a fase de classificação, um grupo enroscado com o Mixto do Mato Grosso, além de Vasco e Internacional. O Bangu jantou com todo mudno! Foi 3×0 no Vasco, 4×1 no Mixto, 2×1 no Inter em Porto Alegre e quando o País acordou, o Bangu estava numa das semifinais mais insólitas da história do Campeonato Brasileiro, contra o Brasil de Pelotas.

Foram dois passeios!

Em Porto Alegre, o Bangu venceu por 1×0 e no Rio, um baile de bola, 3×1 no Placar em um show de Marinho e Ado. Pois é:

Ado…

AO 11 COM AMOR

São muitos os mistérios que circundam as marquises de sonhos e odes do futebol.

Paradoxalmente, uma partida de futebol não se faz na exatidão de um ponto final, frio e calculista ao término de uma equação. Não se desvenda esses mistérios a partir de fórmulas, soluções, magias ou feitiços. O futebol tem para sim uma imprevisibilidade que o aproxima demais do que é a vida da gente. Por isso é algo grandioso, épico e também cruel.

Após aquele 1×1 da final em jogo único contra o time do Coritiba, o Bangu poderia ter sido campeão se o árbitro Romualdo Arpi Filho não tivesse feito a cagada de anular um gol de Marinho. Gol legitimo! Poderia ter virado o jogo, após o empate que veio com Lulinha. Ninguém mais lembrava do gol de Índio de falta.

O Bangu foi melhor o tempo todo. Mas o futebol tem os mistérios que falei, lembra? Ele se fez na disputa de pênaltis.

Prorrogação empatada, cobrança de pênaltis empatada, série alternada começando com o Bangu abrindo as cobranças; 5×5 no final, ninguém errou. Nas alternadas, o Bangu começa e aí chega a vez de Ado…

Era o melhor jogador do Brasil em 1985. Canhoto, habilidoso, inteligente, cotado para se transferir para grandes clubes, seleção brasileira, o camisa 11 de Moça Bonita estava voando. Quando o técnico Moisés o designou para a sexta cobrança, o craque, já sem ataduras, sem as chuteiras, sem o mesmo poder de concentração, veste todo o equipamento e vai.

Do centro do meio campo até a marca do Pênalti, Ado caminha para aquele que viria a ser o maior calvário da sua vida. A cobrança:


Rafael Camarota de um lado, bola ao lado da trave, explodindo nas placas de publicidade. Pra fora. Os mistérios todos que rondam o futebol são presentes aqui também. Não sabemos o que se passou na cabeça de Ado, a única coisa que vi dele naquela noite foi o tanto de lagrimas que desceu por seu rosto.

A dor de um cara digno, de um jogador que também é trabalhador, pai de família, torcedor e que ainda por cima tem que por fim jogar o jogo e decidir está aqui sendo respeitada por essa coluna.

O pênalti de Gomes, em seguida deu o caneco ao Coritiba. Sabemos. Mas a coluna Esquadrões do Futebol Brasileiro vai terminar hoje de uma maneira diferente, vai sair do protocolo, homenageando sim o ótimo time do Bangu de 1985, mas será dedicado para outro fim:

Ado, nós não podemos aqui dar a você o titulo de 1985. Mas com todo prazer do mundo, a série Esquadrões do Futebol Brasileiro homenageia você, glorifica as suas lágrimas, saúda a grandeza que tem em ti, para além de jogador, como pessoa ótima que você sempre foi e segue sendo.

Humildemente, esse jornalista dedica a coluna de hoje a você, Ado. Obrigado por tudo