“É sempre mais fácil achar que a culpa é do outro”. (Hemingway apud Raul Seixas”)
por Luiz Ricas
Vou confessar aqui que tem algo que não consigo mais fazer é ver redes sociais após os jogos de futebol. Ontem, vendo um reprisado programa de entrevistas na tv aberta, Zico comentava da ausência de qualidade técnica e por consequência de resenhas de futebol no dia seguinte. Concordo com ambos as constatações, mas não vejo uma como causa da outra, mas sim uma arrogância hedonista e fugitiva da comunidade futebolística. SE FALA DE TUDO APÓS O JOGO, MENOS DO JOGO!
A imprensa, em busca de audiência, curtidas e visualizações, se dedica a caçar polêmicas e caso não tenha nenhuma muito aparente colocam um articulista para falar algo que saiba que virará discussões inócuas e sem nenhum ou com pouco contato da realidade e da racionalidade (“Neymar é maior que Pelé”?, “(insira aqui o time de mais investimento na temporada) é o Real Madrid das Américas”?, ou cunhar termos como “apito amigo” sempre para o time de maior torcida do Estado do veículo garantindo a polêmica, entre muitas outras).
O torcedor, quando não se baseia nesses comentários e sempre vê lances polêmicos contra seu time e conspirações diversas, cria muitas dessas polêmicas em redes sociais pelos mesmos motivos da imprensa (audiência, curtidas e visualizações) e assim retroalimenta essa técnica de “não” comunicação muito usada em política por exemplo, se falar da moral do oponente e não do assunto a ser debatido em si. Uma forma de fugir do debate que sabe que irá perder sem “fugir” dele. Outra furtiva de torcedores é eleger algum culpado pela derrota dentro do próprio elenco tornando ele o imoral que atrapalhou o natural, a óbvia vitória do meu time, ignorando uma coletividade que jogou contra eles durante mais de 90 minutos e que também estava em busca da vitória.
Esse sintoma já seria grave se não houvesse algo ainda pior, o desejo dos profissionais de esconder e não falar sobre o mal desempenho em teorias conspiratórias quase sempre envolvendo juízes, federações e rivais. Nota-se que qualquer time quando perde acha um lance que ele considera capital para o resultado da peleja. Busque na memória e garanto que terá dificuldades em lembrar de alguma entrevista que o técnico, dirigente ou jogador derrotado reconhece o mérito da equipe oponente no resultado.
Alguns de forma completamente irresponsável chegam a incitar sua própria torcida em suas acusações só para não admitir a vitória do oponente. O cerne do debate é a fuga dele. É não aceitar que o jogo é disputado por duas equipes e não importa quão díspares são qualquer uma delas poderá vencer, como diz o consenso geral, essa é uma das grandes graças do futebol. E que sim, outra equipe pode jogar melhor que a sua e, olha lá, vencer! E se tu criar diversas chances e a outra equipe apenas uma e ela fizer e seu time não, quem mereceu vencer foi quem fez, não quem criou e não concluiu as diversas criações durante o jogo.
Note que é tão generalizado isso que não citei nenhuma equipe ou região nesse artigo. Esse sintoma vale para o país todo. Sim, concordo com o Zico, falta jogador bom no futebol profissional masculino jogado no Brasil. Falta jogo bom. Mas um sintoma maior impede as resenhas sobre futebol: elas foram sequestradas pela vontade de não assumir falhas próprias ou méritos rivais, afinal a culpa da derrota é daquele lance (sete centímetros) impedido que o bandeirinha validou, na próxima vez vamos tirar o time de campo…