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luis filipe chateaubriand

A OBRA PRIMA CARIOCA DE EL PIBE

por Luis Filipe Chateaubriand


O ano era o de 1989. Era jogada, no Brasil, a Copa América. Quadrangular final do torneio, envolvendo Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.

Haveria uma rodada dupla no Maracanã: na preliminar, Argentina x Uruguai; no jogo principal, Brasil x Paraguai.

Este signatário chegou cedo ao então “Maior do Mundo”, pois queria assistir à preliminar: nela, estaria presente nada mais nada menos do que Don Diego Armando Maradona, El Pibe, o maior jogador de futebol que o escriba já havia presenciado jogar.

Sendo jogada a preliminar, o estádio ainda não estava lotado. A maioria das pessoas, esperando o jogo principal, conversava nas arquibancadas, praticamente ignorando o que se passava no campo – um sacrilégio, tratando-se de duas seleções campeãs do mundo e maiores rivais do Brasil.

Mas, como diria o poetinha Vinícius de Moraes, “de repente, não mais que de repente”, Maradona recebe a bola no meio de campo e vê o goleiro uruguaio em posição adiantada….

Recebendo a bola do campo defensivo, na lua de meio campo, a mata no peito, posiciona o corpo, a ajeita e desfere um chute alto, em direção ao gol, ali do meio de campo, mesmo.

Como que a perceber o que está prestes a acontecer, a galera para de falar, acompanhando, ansiosa, a trajetória da bola.

Esta voa por todo campo defensivo uruguaio, encobre o goleiro da Celeste, e caprichosamente, bate no travessão uruguaio.

Durante o evento, os assistentes estão emudecidos, a tal ponto que muitos, inclusive este que vos escreve, ouve o barulho da bola a se chocar com o travessão.

Inconformado por não ter feito o gol, que seria antológico, El Pibe bate no gramado, em meio a uma enxurrada de aplausos, de quase todos no estádio, à jogada genial.

Percebe-se que, em poucos segundos, Maradona vê o goleiro adiantado, decide o que tentará fazer, executa o decidido com maestria e, por um triz, não faz o gol que seria, sem dúvida, o maior de sua carreira.

Inspiração pura do maior jogador do mundo dos últimos 40 anos. Sem dúvida, os ares do Rio de Janeiro o influenciaram positivamente…

Ave, Don Diego!

Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há 40 anos e é autor da obra "O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro".

O INESQUECÍVEL FLAMENGO DE 1981

por Luis Filipe Chateaubriand


O Flamengo de 1981 é, possivelmente, o melhor time que este escriba viu jogar.

Raul; Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico. Eis o time que, na opinião deste signatário, deveria ter sido a base da Seleção Brasileira de 1982.

Era um time perfeito, tecnicamente, taticamente e em termos de conjunto. Uma máquina de jogar futebol!

Eis os segredos do escrete:

·         O experiente goleiro Raul transmitia segurança à defesa.

·         O polivalente Leandro, com sua técnica apuradíssima, aparecia como elemento surpresa no ataque, deixando confusos os defensores adversários.

·         Os defensores Marinho e Mozer constituíam uma zaga composta de técnica e de vigor, o que inspirava excessivo respeito aos adversários.


·         Júnior era o lateral que se tornava atacante constantemente.

·         Andrade e Adílio se revezavam nas posições de volante e meia, confundindo os marcadores.

·         Tita, o ponteiro direito, e Lico, o ponteiro esquerdo, trocavam de posição constantemente, levando à loucura os oponentes. Além disso, com a bola atacavam como pontas, mas, sem ela, defendiam como meias. Pareciam fazer o time se multiplicar em campo.

·         Nunes, o artilheiro, não só fazia pilhas de gols, mas se movimentava ininterruptamente, de um lado a outro da área de ataque, levando consigo os marcadores. Com isso, abria espaço para a entrada dos companheiros, pelo meio.

·         Finalmente, Zico. Como diria Armando Nogueira, arco e flecha, tanto criava no meio para os atacantes, como chegava na área, se fazendo um deles. Técnica apuradíssima, inteligência ímpar, antevidência das jogadas, exemplo para o time, a estrela da companhia decidia quase sempre.

No banco de reserva, os bons Vítor, Figueiredo e Carlos Alberto também davam conta do recado, quando solicitados. O craque aposentado Paulo Cesar Carpegiani dirigia o time, que foi concebido pelo legendário Cláudio Coutinho – o mago da estratégia.

Tenho pena da garotada rubro negra, que se encontra toda ouriçada com as presenças de Arrascaeta e Gabigol: tivessem visto este timaço em ação, saberiam o que é se ouriçar de verdade!

Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há 40 anos e é autor da obra "O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro". 

QUANDO O GÊNIO CANTA DE GALO

por Luis Filipe Chateaubriand


Em 1985, Telê Santana estava de volta ao comando técnico da seleção brasileira de futebol. Seu desafio era classificar o Brasil para a Copa do Mundo de 1986, passando, nas eliminatórias, por Bolívia e Paraguai.

No primeiro jogo, com a Bolívia em Santa Cruz de la Sierra, o Brasil havia vencido de 2 x 0, dois gols de Casagrande.

Foi o escrete canarinho, então, a Assunção, para enfrentar os alvi colorados.

Jogo difícil, disputado, Casagrande faz 1 x 0 para o Brasil ainda no primeiro tempo.

Na segunda etapa, os paraguaios pressionam, mas uma jogada genial, de um brasileiro genial, selaria o destino da partida.

A bola está com Leandro, na intermediária direita do campo de ataque. Percebe Zico desmarcado um pouco atrás da meia lua. Faz o passe diagonal, com a perfeição habitual.

No entanto, devido ao campo irregular, a bola chega atrás de Zico, levantando-se suavemente.

O jogador convencional precisaria se virar de costas para o gol, e de frente para a bola, para dominá-la. Mas Zico, o Galo, decididamente não é um jogador convencional…

Mesmo com a bola ficando atrás dele e tendo quicado no campo, faz uso do inusitado: puxa a bola de calcanhar para a frente, ela sobe pelo seu lado direito até a altura de seu pubis, mas sem tocar nela, decai e, antes de chegar ao chão, Zico emenda de primeira, ainda atrás da meia lua.

A bola segue baixa, mas não rasante, quica de leve no campo já na pequena área, e vai morrer no fundo do gol, no canto esquerdo do impotente goleiro guarani.

Fica claro que o Galo concebeu o gol, sabendo o que faria antes da bola chegar. Gênio!

Um gol sensacional, que determina o 2 x 0, placar definitivo do cotejo, deixando bem encaminhada a classificação brasileira à Copa do Mundo de 1986.

Anos mais tarde, Zico faria o lindíssimo “gol escorpião”. Mas, já então, fez o “passe meio escorpião lançando para si próprio”, que culminou em gol.

Toda a lógica mostrava que o jogador qualquer teria que se virar para a bola, dominá-la, girar o corpo em direção ao gol e, quando fosse chutar, já estaria bloqueado pelos adversários. Zico simplificou as coisas. A genialidade está na simplicidade, como o Galo nos ensinou em mais de 20 anos de carreira do maior jogador brasileiro do Pós Pelé.

“A BOLA PELA QUAL ZICO ESPEROU NA CARREIRA INTEIRA”

por Luis Filipe Chateaubriand


Arthur Antunes Coimbra, o Zico, é o jogador de futebol brasileiro mais completo que este escriba conheceu. Era bom para lançar e concluir, como Armando Nogueira bem definiu certa vez, arco e flecha. Passava e chutava de perna direita e de perna esquerda. Cabeceava como poucos. Batia faltas de forma divina. Sabia usar o calcanhar com perfeição. Driblava de forma vertical.

Uma estória pouco lembrada da carreira do “Galinho de Quintino” aconteceu em 1988: jogo pelo Campeonato Brasileiro, no Maracanã, o Flamengo venceu o Criciúma por 3 a 0.

No primeiro tempo, o Flamengo vencia de 2 x 0, dois gols de Bebeto. Com o segundo tempo em andamento, Bebeto recebe a bola na grande área, em seu lado esquerdo. Domina, ajeita o corpo e, mansamente, rola a bola para a meia lua, na entrada da grande área. Zico, um pouco atrás de onde a bola chegaria, corre, arma o chute e desfere uma “bomba” no ângulo direito do goleiro do clube de Santa Catarina.

Um gol fora de série!

No vestiário, comentando o gol, Zico fala sobre o passe de Bebeto:

– Esperei minha carreira inteira que alguém rolasse uma bola como essa, para fazer um gol assim!

A magia de futebol é composta de lances que marcam a nossa memória. Este aconteceu há 29 anos, mas, em minha mente, parece que aconteceu ontem. Bendito futebol, que nos dá a chance de ter recordações como essa!

*Luis Filipe Chateaubriand é estudioso das questões acerca do calendário do futebol brasileiro. Foi consultor do Bom Senso Futebol Clube para o assunto. Escreveu vários livros e artigos a respeito, entre os quais “Um Calendário de Bom Senso para o Futebol Brasileiro”. Foi membro do Grupo de Trabalho de Reformas do Calendário da Confederação Brasileira de Futebol. Vascaíno, é um grande admirador do futebol de Zico, com quem sofreu durante a juventude.