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luis filipe chateaubriand

O FLAMENGO E UM DILEMA HAMLETIANO

por Luis Filipe Chateaubriand


Era uma vez um menino de 11 anos que, em 1981, torceu para o Flamengo ser campeão sul americano e mundial, apesar de seu clube de predileção ser o Vasco da Gama. 

Esse menino ficou alegre quando o Flamengo foi campeão de ambos os certames, pois era um clube brasileiro que levava o título.

O menino cresceu e, aos 28 anos, viu torcedores do Flamengo criarem uma torcida especial, a Fla / Madrid, para torcer a favor do Real Madrid na disputa pelo título mundial, contra seu amado clube, o Vasco da Gama.

Aquele homem ficou injuriado!

Esse homem, com quase 49 anos atualmente, e torcedor do maior rival do Flamengo, tende a torcer para que o River Plate vença o Flamengo, na disputa do título da Libertadores de 2019.

Ao mesmo tempo, esse homem de quase 50 anos é, atualmente, alguém que é mais um apreciador do futebol, do que um torcedor. 

Entende que, independentemente do clube em questão, o que importa é se ver um espetáculo bem jogado, competitivo, que enleve a alma.

Nesse sentido, admira o futebol que o Flamengo vem praticando. 

Entende que seu técnico Jorge Jesus, sem ser espetacular, conseguiu dar ao time uma forma de jogar ofensiva, aplicada tecnicamente e, em muitos momentos, exuberante.

Entende, também, que virtudes como essas, em um futebol brasileiro empobrecido tecnicamente e taticamente como o atual, merecem ser recompensadas e, por isso, o Flamengo deve ser campeão.

O homem, enquanto torcedor, que ver o Flamengo derrotado, pois o rival não pode prevalecer. 

O homem, enquanto apreciador do futebol, que ver o Flamengo vencedor, pois isso significa premiar a Instituição que sabe, brilhantemente, se reinventar.

Sheakspeare – ao longo de toda sua brilhante obra, mas especialmente em “Hamlet” – mostrou que o dilema é uma das grandes aflições que consomem o ser humano. 

Mas, contraditório que é, também faz parte de sua mais sublime beleza.

Em meio ao dilema que vivo, em verdade vos digo: se o Flamengo vencer, não sofrerei, ganhou que vem merecendo pelo conjunto da obra; se o Flamengo perder, não sofrerei, o rival tem mais é que “entrar pelo cano” para parar com essas gracinhas de Fla / Madrid.

E estamos conversados! Ou não?

Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há mais de 40 anos e é autor de vários livros sobre o calendário do futebol brasileiro.

TÚLIO MARAVILHA, NÓS GOSTAMOS DE VOCÊ

por Luis Filipe Chateaubriand


É raro ver, no futebol, uma identificação perfeita entre um clube e um jogador. Evento mágico, denota que aquele personagem é o cara certo no lugar certo.

É, sem dúvida, este o caso de Túlio e Botafogo! 

Casamento perfeito, mágico, indescritível, em que a personalidade do jogador e a do clube se encaixam perfeitamente, como poucas vezes se viu no futebol.

Túlio jogou em diversos clubes, brasileiros e estrangeiros, alguns deles gigantes, como Corínthians e Fluminense. E até na Seleção!

Mas, quando se lembra de Túlio, é do Túlio do Botafogo.

O Túlio do Botafogo campeão brasileiro de 1995, título mais importante do clube nos últimos 50 anos. Time fantástico, de jogadores fantásticos, como seu companheiro de ataque Donizetti, o Pantera, dirigido pelo excelente técnico Paulo Autuori. 

Mas com uma estrela solitária na frente – a estrela de Túlio.

Túlio era irreverente. Não uma irreverência prepotente, marrenta, soberba. Mas sim uma irreverência ingênua, brincalhona, divertida. Não era tudo ou nada, mas “Túlio ou nada”. Não estava tudo bem, mas “Túlio bem”. O jogador cearense Silas, recém-chegado ao clube – de pernas tortas, bigode e orelhas de abano – não era o Silas, recebeu de Túlio o mítico apelido de Gavanildo: pernas tortas de Garrincha, bigode de Valdir e orelhas de Iranildo.

Assim era o bem-humorado Túlio.

Mas, para além do bom humor, existia um artilheiro nato: o que se posicionava na área de forma inteligente; o que via a bola chegar e definia o lance com extrema rapidez; o que tinha incrível frieza na hora de concluir em gol; o que, quando o lance exigia, ainda driblava o zagueiro, para o gol se tornar mais escancarado; o compenetrado até enviar a bola às redes… para só depois disso aderir a uma grande brincadeira.

Brincou demais. 

E a torcida, extasiada, repetia: “Túlio Maravilha, nós gostamos de você! Túlio Maravilha, faz mais um para a gente ver!”

Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há mais de 40 anos e é autor de vários livros sobre o calendário do futebol brasileiro.

LEANDRO, O CÚMULO DO FUTEBOL ARTE

por Luis Filipe Chateaubriand 


Este texto homenageia o Leandro do Flamengo e da Seleção Brasileira, um dos maiores jogadores de todos os tempos, não só no Brasil, mas no mundo.  

Jogador de técnica absurda, era daqueles que aparava uma bola no ar levantando a perna para o alto, interceptando a bola com o pé no alto, fazendo a bola grudar no pé, descendo a perna até o chão com a bola grudada no pé. 

Naturalmente canhoto, sabia jogar de tal forma com o pé direito que muito julgavam que fosse destro. 

E vice versa.

Consagrado na lateral direita, devido a contusões foi jogar na zaga. Conseguiu o que parecia impossível, jogar ainda mais como zagueiro do que como lateral. 

Aliás, polivalente que era, jogava em diversas posições, seja de defesa, seja de ataque. 

Ao defender, era um Aldair ou um Baresi. Ao criar, era um Carpegiani ou um Modric. Ao atacar, era um Bebeto ou um Littbarski. 

O cara jogava tanto, mas tanto, mas tanto, que a história a seguir é verdadeira. 

No segundo jogo da final do Campeonato Brasileiro de 1982, em Porto Alegre, o Grêmio estava pressionando o Flamengo. 

Leandro pedia ao goleiro Raul para sair jogando com ele, mas Raul insistia em dar chutões para a frente. 

Leandro encheu tanto a paciência de Raul para este sair jogando com ele que Raul de uma bola toda “quadrada” ao Peixe Frito. 

O ponta gremista Odair veio em cima de Leandro e deu carrinho para tomar a bola.

Leandro, tranquilamente, deu um lençol em Odair, saiu jogando e, quando passou a bola, virou-se para Raul e disse: “Velho, eu jogo pra caral…”. 

Jogava mesmo. Fato!

Por essas e outras, este escriba afirma que Leandro é o jogador de defesa mais completo que viu em atividade, muito embora no meio e no ataque também “tirasse uma onda” responsa.

Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há mais de 40 anos e é autor da obra “O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro”. Email: luisfilipechateaubriand@gmail.com.

QUANDO A PREGUIÇA E A ACOMODAÇÃO FALAM MAIS ALTO

por Luis Filipe Chateaubriand


Ao longo dos anos 1990 e primeira metade dos anos 2000, Vanderlei Luxemburgo era o melhor técnico de futebol no Brasil, disparado!

Inteligente, estudioso, ousado, taticamente atualizado e ótimo gestor de grupo, era campeão por onde passava, fazendo que os times que dirigia produzissem muito além do que se poderia imaginar.

Contudo, em 2005 se transferiu ao Real Madrid. 

A estadia em terras espanholas não foi feliz, nosso prodígio levou “baile tático” lá fora, provando que era excelente ao nível Brasil, mas aquém do ideal em nível global.

Ora de voltar e se reciclar, certo? Errado.

Voltar, voltou. Se reciclar… ficou devendo.

Desde que voltou da experiência europeia, Luxemburgo preferiu se acomodar, ao invés de evoluir. 

Preguiçosamente, começou a dirigir seus times de forma burocrática e pouco inventiva.

Que desperdício de talento!

Agora mesmo, no Vasco da Gama, vem fazendo um trabalho medíocre: se sabe motivar o grupo, sabendo tirar de jogadores limitados o seu melhor, não se vê nenhuma inovação tática, nenhuma ousadia maior, nenhum lampejo de jogo pensado, como outrora acontecia em seus trabalhos.

De alguém que se destacava por brilhantes trabalhos táticos, ver-se como simples motivador de grupo, é pouco demais. 

O Luxemburgo desta década é parda eminência do Luxemburgo de 15 anos atrás.

Pior de tudo, tornou-se corporativista: para defender o conjunto dos técnicos brasileiros, a imensa maioria deles sofríveis, começou a atacar Jorge Sampaoli. A dizer besteiras como o que Sampaoli faz no Santos não é nada demais, que o time santista é ofensivo porque está no DNA do clube e, sacrossanta de todas as cretinices que se fala em nosso futebol, nada de essencial mudou no esporte nos últimos tempos.

Pombas, pofexô, respeite sua própria inteligência: o futebol mudou, sim, e Vossa Excelência sabe muito bem disso! 

Só não quer admitir porque não se atualizou e, assim, não acompanhou as mudanças.

Nada define melhor a situação do que as tradicionais adjetivações de Mauro Cezar Pereira: pífio, patético e ridículo!

Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há 40 anos e é autor da obra “O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro”. Email: luisfilipechateaubriand@gmail.com.

AI, JESUS

por Luis Filipe Chateaubriand


Com a desenvoltura espetacular que o Flamengo vem tendo no segundo semestre de 2019 – virtual campeão brasileiro e provável campeão da Taça Libertadores da América – a pergunta que não quer calar é: seria o seu técnico, o português Jorge Jesus, um técnico de ponta ao nível mundial?

A resposta é não.

Antes do Flamengo, Jorge Jesus foi muito vitorioso, campeão diversas vezes, em Portugal, seu país de origem. Este escriba vive há muitos anos no Brasil, mas nasceu em Portugal. Adora as terras e as gentes lusas, tem uma sensação de pertencimento forte a respeito. 

A despeito disso, o futebol português é, ao nível interno, relativamente fraco. Apenas três clubes são acostumados a ganhar títulos, de expressão local. Assim, ser campeão por Sporting e Benfica não é das tarefas mais difíceis.

Antes do Flamengo, Jorge Jesus não treinou nenhum clube de expressão ao nível mundial, fora de Portugal. Não há Real Madrid, Manchester United, Bayern de Munique, Liverpool, Barcelona, Juventus, etc, para contar a história.

Portanto, Jorge Jesus não está no nível dos técnicos de ponta ao nível mundial, como Ancelotti, Klopp, Guardiola, Mourinho (este mais pelo passado que pelo presente), Pochettino, Zidane ou Sampaoli (este, o único deste nível a atuar no Brasil).

Mas, se o português não é técnico de ponta ao nível mundial, como explicar o seu sucesso no futebol brasileiro?

Porque, independentemente, de ser mediano (o que eu acredito) ou bom (o que muitos acreditam), tem duas virtudes que são admiráveis: é extremamente trabalhador, envolvido com o que faz, comprometido com os grupos que dirige e com os resultados que almeja; gosta de ver seus times atuarem de forma ofensiva, impondo-se ao adversário, propondo o jogo, ocupando os espaços para atacar.

Como se sabe, os técnicos brasileiros são, fora pouquíssimas exceções, defensivistas, retranqueiros, adeptos do futebol covarde, jogam de uma forma padrão sem variações táticas, não têm planos de jogo alternativos (por jogo e durante os jogos), não sabem instruir jogadores para serem multifuncionais. 

O atraso dos locais faz do forasteiro, muito mais competente que eles e contando com excelente elenco, se destacar. 

Em resumo: sem querer desmerecer meu patrício português, que tem virtudes, a expressão “em terra de cego, quem tem um olho é rei” nunca foi tão verdadeira! 

Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há 40 anos e é autor da obra “O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro”. Email: luisfilipechateaubriand@gmail.com.