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luis filipe chateaubriand

A BATALHA DAS BATALHAS NO DEFENSORES DEL CHACO

por Luis Filipe Chateaubriand


Em 1985, Telê Santana havia voltado à Seleção Brasileira, depois de efêmeras passagens pelo Escrete Canarinho de Carlos Alberto Parreira, Edu Coimbra e Evaristo de Macedo. Adepto do futebol arte que era, tratou de escalar formações com jogadores técnicos.

Nas Eliminatórias para a Copa do Mundo, a Seleção havia vencido a Bolívia por 2 x 0 nos domínios adversários, em Santa Cruz de la Sierra. Agora, jogaria com o Paraguai em Assumpção, e um bom resultado deixaria encaminhada a classificação para a Copa do Mundo de 1986.

O Brasil formou assim: Carlos; Leandro, Oscar, Edinho e Júnior; Toninho Cerezo, Sócrates e Zico; Renato Gaúcho (Alemão), Casagrande e Éder.

Jogo extremamente disputado e nervoso, com um primeiro tempo tenso. Mas o Brasil sairia na frente: Renato Gaúcho dominou a bola pelo lado direito do campo, correu com ela por essa mesma faixa e cruzou alto para Casagrande, na pequena área e de cabeça, estufar as redes.

Brasil 1 x 0.

Veio o segundo tempo, e a pressão guarani foi inevitável. Mas a Seleção sairia dela com um gol antológico de Zico, o maior jogador brasileiro que este escriba viu em ação.

Leandro tinha a bola no lado direito da intermediária de ataque. Vendo Zico ao centro e um pouco adiantado em relação a si, fez o passe em trajetória diagonal.

A bola chegou em Zico quando este se encontrava bem no centro da intermediária ofensiva, mas, devido ao gramado irregular, não se apresentou ao craque em sua frente, mas um pouco atrás de seu corpo.

Zico não se fez de rogado: já que a bola chegou por de trás do corpo dele, com um leve toque de seu calcanhar direito, puxou-a para a sua frente.

A bola subiu um pouco, passou pelo lado direito do corpo de Zico, e se apresentou majestosa a sua frente.

Quando todos imaginavam que Zico iria ajeitar a bola novamente, para executar o passe ou um improvável chute, o Galinho de Quintino surpreendeu a todos…

Que ajeitar a bola que nada! Tal qual ela, a bola, descaiu e chegou em sua frente, ele já emendou de primeira para gol, sem que a deixasse tocar no solo antes que chutasse.

Desferida com precisão enorme, a bola seguiu o seu caminho, baixa mas não rasante, bateu no chão já na pequena área, e entrou bem no canto esquerdo do goleiro local, surpreso com a audácia de Zico. Um golaço!

Brasil 2 x 0.

Depois da obra prima do maior craque brasileiro pós Pelé, os paraguaios estavam batidos e abatidos, e o Brasil tinha ótimas possibilidades de ir à Copa do Mundo. Em novo jogo com o Paraguai, em um Maracanã lotado, com o signatário deste texto presente, a classificação foi confirmada. Mas esta é uma outra estória.

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!   

GONÇALVES E UMA DAS MAIORES ATUAÇÕES DE TODOS OS TEMPOS

por Luis Filipe Chateaubriand


Em 1997, durante a Taça Guanabara, o time reserva do Botafogo despachou o time titular do Flamengo e, assim, habilitou o Vasco da Gama para disputar consigo a final do certame.

Botafogo x Vasco da Gama, final da Taça Guanabara de 1997, com vantagem do empate para o alvinegro de General Severiano.

Eu estava lá, vascaíno de quatro costados, nas arquibancadas do Maracanã. 

Jogo começa, Vasco ataca, Gonçalves rebate.

Vasco alça bolas na área, Gonçalves cabeceia.

Vasco penetra pelo meio, Gonçalves dá o bote.

Vasco vem tabelando, Gonçalves sai jogando.

Vasco tenta o chute, Gonçalves bloqueia.

Gonçalves é absoluto, onipresente, desdobrado, altivo, impressionante!

Não bastasse ser o imperador da defesa, ainda vai ao ataque, levando perigo à defesa cruz maltina.

E, assim, ao final do jogo, o Botafogo contra ataca, e acha o gol, para sacramentar o título.

Imagina de quem?

Sim!

Dele!

Gonçalves!

Que foi de uma área à outra, recebeu o cruzamento, e testou forte, da entrada da grande área, no alto, a bola bateu no travessão e quicou dentro do gol!

Que atuação de gala!

Final de jogo, 1 x 0 para o Botafogo, título da Taça Guanabara garantido, 12 jogos, 12 vitórias, nenhum empate, nenhuma derrota.

Gonçalves foi o nome do jogo, uma atuação memorável, inesquecível!

Saio do estádio e volto para casa dividido.

Triste porque meu clube perdeu.

Mas feliz porque presenciei uma das maiores atuações individuais da história do futebol!    

Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há mais 40 anos e é autor da obra “O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro”. Email: luisfilipechateaubriand@gmail.com.

JOGO NÃO RECOMENDADO PARA CARDÍACOS

por Luis Filipe Chateaubriand


Em 1980, Flamengo e Atlético Mineiro decidiam o título nacional, no Maracanã. O empate bastava para o Galo Mineiro ser campeão, o Urubu precisava da vitória para conseguir o título.

O Flamengo jogou com: Raul; Toninho, Manguito, Marinho e Junior; Andrade, Carpegiani  (Adílio) e Zico; Tita, Nunes e Júlio Cesar. O Atlético Mineiro jogou com: João Leite; Orlando (Silvestre), Osmar Guarnelli, Luisinho (Geraldo) e Jorge Valença; Chicão, Toninho Cerezo e Palhinha; Pedrinho Gaúcho, Reinaldo e Éder.

Jogo nervosíssimo, o Atlético perde duas chances logo no início da partida. Mas, ainda antes dos dez minutos de jogo, o Flamengo abre o placar quando, depois de saída de jogo desastrada de Osmar Guarnelli, Zico recebe a bola na altura do meio de campo e mete lançamento precioso para Nunes que, ainda fora da área, toca na saída de João Leite.

Flamengo 1 x 0.

A alegria rubro negra duraria muito pouco, pois, um minuto depois, Reinaldo recebe a bola no bico esquerdo da grande área, chuta, a bola desvia em Manguito e vai morrer no fundo do gol, no lado direito de Raul.

Igualdade em 1 x 1.

E a partida segue, as chances se sucedendo lado a lado, mas com o Galo Mineiro sendo mais perigoso, especialmente Reinaldo, que inferniza a defesa carioca.

Já ao final do primeiro tempo, Junior chuta de fora da área, a bola bate em Zico, que, de virada, chuta no alto, indefensável para João Leite.


Flamengo 2 x 1.

O segundo tempo começa com pressão atleticana, em busca do gol do empate.

Reinaldo se machuca e, como o Galo não pode mais fazer substituições, fica em campo apenas fazendo número.

Ainda assim, mesmo machucado, escora cruzamento pela esquerda de Éder, para, por volta da metade do segundo tempo, heroicamente empatar o jogo novamente.

Nova igualdade, em 2 x 2.

O jogo fica cada vez mais dramático. O “Mais Querido” vai atrás do gol que lhe garante o título, fornecendo generosos espaços para o contra ataque atleticano.

Em uma dessas situações, Palhinha sai de frente para o gol com Raul, mas, erradamente, o árbitro marca impedimento. Na sequência, Reinaldo atrapalha a cobrança do impedimento e, para alívio da nação rubro negra, é expulso de campo.

O jogo caminha para o fim, quando Osmar Guarnelli, novamente, resolve sair jogando. Erra o passe e, antes que consiga voltar, Junior lança Nunes em profundidade. Nunes, com Silvestre o marcando à direita e a linha de fundo à esquerda, consegue enganar Silvestre e, em lance típico de Garrincha, passa entre ele e a linha de fundo e, chegando à  frente de João Leite, completamente sem ângulo, toca por cima do goleiro mineiro –  um gol que, para muitos, contraria as leis da física.

Flamengo 3 x 2.

O Atlético Mineiro não se entregou, foi para cima do Urubu e, no último minuto de jogo, quase empata.

Mas deu Flamengo, em seu primeiro título nacional.

O jogo foi tão dramático que, à época, bateu o recorde de atendimentos médicos em um jogo de futebol no Maracanã.

A massa rubro negra penou com Reinaldo e companhia, mas, ao fim da estória, pode sorrir aliviada.

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada.

FALCÃO E O JOGO DO ANO EM 1979

por Luis Filipe Chateaubriand 


Era a semi final do Campeonato Brasileiro de 1979, Palmeiras x Internacional no Morumbi. 

O Palmeiras jogou com: Gilmar; Rosemiro, Beto Fuscão, Pollozi e Pedrinho; Pires, Mococca e Jorge Mendonça; Jorginho, Carlos Alberto Seixas e Baroninho. 

O Internacional foi de: Benitez; João Carlos, Mauro Pastor, Mauro Galvão e Cláudio Mineiro; Batista, Falcão e Jair; Valdomiro, Bira (Adílson) e Mário Sérgio. 

Jogo extremamente equilibrado, as chances iam se sucedendo lado a lado. 

Tínhamos o duelo entre o estrategista Ênio Andrade e o estilista Telê Santana, colocando frente a frente os dois melhores times do país de então. 

Por volta de 35 minutos do primeiro tempo, depois de uma bola rebatida pela defesa colorada, Baroninho chuta de longe, rasteiro e por baixo de Benitez, para abrir o placar. 

Palmeiras 1 x 0. 

No final do primeiro tempo, Mário Sérgio cruza da esquerda, para linda e espetacular bicicleta de Falcão, que passa rente ao travessão. 

O segundo tempo se inicia como a mesma tônica do primeiro, chances de lado a lado. 

Já por volta dos cinco minutos da segunda etapa, o príncipe Jair chuta de longe para, em falha do goleiro Gilmar, empatar o jogo. 

Tem-se 1 x 1 no placar. 

A igualdade não dura muito, pois por volta de dez minutos do segundo tempo, Jorge Mendonça recebe a bola na entrada da área de costas, mata no peito girando o corpo e conclui para o barbante – um golaço! 

Palmeiras 2 x 1. 

O Internacional segue, obstinadamente, em busca do empate. E, por volta de 20 minutos da etapa final, um cruzamento da direita encontra a cabeça de Falcão, que sobe mais que o bem mais alto Beto Fuscão, e dali vai para as redes. 

Nova igualdade, 2 x 2. 

Cerca de cinco minutos depois, por volta de 25 minutos da etapa final, Falcão aproveita uma rebatida de Beto Fuscão para emendar um sem pulo sensacional, em gol antológico!

 Internacional 3 x 2. 

Continuam se sucedendo as oportunidades lado a lado, em jogo memorável, mas o placar não se altera mais. 

Ênio Andrade vence o duelo, vitória gaúcha em plena São Paulo. 

Em um jogo de tantos craques, sobressaiu aquele que fez gol improvável de cabeça, gol incrível de sem pulo, quase gol de bicicleta que seria inesquecível e comandou o time em campo: Paulo Roberto Falcão, o futuro Rei de Roma, a classe em forma de jogador de futebol!

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada.    

O DIA EM QUE SÃO PAULO SE VOLTOU CONTRA ROBERTO DINAMITE

por Luis Filipe Chateaubriand


Uma das maiores injustiças que já vi no futebol aconteceu em 03 de Março de 1982. Tive o desprazer de ver Roberto Dinamite, o meu maior ídolo na infância, copiosamente vaiado, em um jogo da Seleção Brasileira.

Brasil e Tchecoslováquia jogaram naquele dia, em São Paulo. O Brasil formou com: Valdir Peres; Perivaldo, Oscar, Luisinho e Júnior; Toninho Cerezo (Renato Pé Murcho), Sócrates e Zico; Jairzinho (Paulo Isidoro), Roberto Dinamite e Mário Sérgio (Éder). Era a despedida do “Furacão” Jairzinho da Seleção Brasileira.

Na época, estava certo que um dos centroavantes que iriam à Copa do Mundo de 1982, na Espanha, era Careca (que acabou se contundindo e não foi à Copa). Uma vez que Telê Santana descartou, incompreensivelmente, o craque Reinaldo, a outra vaga de centroavante para a Copa era disputada por Serginho Chulapa e Roberto Dinamite.

Quem jogaria, naquela ocasião, era Serginho. Mas o atacante são paulino se machucou, e Roberto foi para o jogo. O craque vascaíno saiu jogando em São Paulo, terra de Serginho, em jogo no Morumbi, estádio do São Paulo, clube de Serginho.

O deplorável bairrismo que assola o nosso futebol, então, aconteceu.

Roberto Dinamite não podia pegar na bola, que era impiedosamente vaiado. Os gritos de “Fora Roberto” ecoavam por todo o estádio. Luciano do Valle, que desde um bom tempo fazia lobbie para que Serginho fosse à Copa, criticava Roberto de todos os jeitos e de todas as formas durante a transmissão.

Roberto jogou bem? Não. Inclusive, perdeu um gol feito, daqueles que raramente perdia. Mas o time todo jogou mal – tanto que não vencemos o jogo, este ficou empatado em 1 x 1.

Inclusive, o gol da Seleção, de Zico, surgiu depois de uma cabeçada de Roberto que bateu no travessão.

Depois disso, Roberto não teve mais chances na Seleção – foi ser convocado novamente quando Careca foi cortado da Copa, mas não jogou. O maior artilheiro do país na época ficou no banco, enquanto Serginho ia perdendo gol atrás de gol no Mundial.

Valeu, torcida paulista…

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada