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luis filipe chateaubriand

TAFFAREL, O “ALEMÃO” VOADOR

por Luis Filipe Chateaubriand 


Cláudio Taffarel é um dos goleiros brasileiros mais impressionantes que este escriba viu em ação. Brasileiro com jeito de alemão, era verdadeira muralha a ser transposta pelos atacantes que o enfrentavam. 

Tinha uma noção de posicionamento no gol extremamente acurada, sabia que bom goleiro não é aquele que a toda hora faz pontes acrobáticas, mas sim o que, bem colocado, tem facilitado seu caminho em direção à bola. 

Jogador de voleibol na juventude, tinha um tempo de bola excepcional, o que fazia com que sua saída de gol em bolas altas – notória deficiência de goleiros brasileiros – fosse excelente. 

Dono de uma frieza e de uma concentração fartos, tornou-se especialista em defender cobranças de pênaltis. Aliás, esta habilidade impressionante do guarda redes ajudou a Seleção Brasileira a ganhar uma Copa do Mundo, a chegar à final em outra e a chegar em final de Jogos Olímpicos. 

O signatário deste texto teve a oportunidade de ver, in loco, Taffarel fazer uma defesa das mais inacreditáveis de todos os tempos. 

Maracanã, 1990, jogo de despedida de Zico, entre o Flamengo de 1981 e os Amigos do Zico. 

Tita, craque de bola, recebe esta no meio da grande área, e fica cara a cara com Taffarel. Desfere um chute violentíssimo, uma “bomba”. 

Taffarel, na maior calma do mundo, estende os dois braços, encaixa a bola entre as duas mãos e sai jogando. 

Impressionante! 

Por essas e outras, é que sempre se saberá: sai que é tua, Taffarel!

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!

FOI UM LADRILHEIRO QUE PASSOU EM MINHA VIDA

por Luis Filipe Chateaubriand


Em 1981, Flamengo e Vasco da Gama decidiam o Campeonato Carioca daquele ano. 

De um lado, o melhor time do mundo, que se consagraria campeão do planeta dias depois. Do outro, um bom time, raçudo, valente, com uma torcida apaixonada.

O rubro-negro tinha feito uma campanha muito melhor ao longo do certame. Com isso, o cruz maltino precisava ganhar o primeiro jogo, se não ganhasse o rival seria campeão, em ganhando o primeiro jogo precisava ganhar o segundo jogo, em não ganhando o rival seria campeão, e em ganhando o primeiro e o segundo jogo ainda precisava ganhar o terceiro jogo.

Como se vê, a vantagem do Urubu era gigantesca, o Bacalhau, inferior tecnicamente, dependia de um quase milagre para ser campeão.

Veio o primeiro jogo. Impactados pelo falecimento do ex comandante, o brilhante técnico Cláudio Coutinho, os flamenguistas foram presa fácil para o Gigante da Colina: 2 x 0 para o Vasco da Gama, dois gols de Roberto Dinamite.

Veio o segundo jogo. Em meio a um dilúvio digno de Arca de Noé, e um campo completamente encharcado, o 0 x 0 prevalecia no placar, já aos 43 minutos do segundo tempo. A torcida vermelha e preta gritava “é campeão”, quando uma bola sobra na área, estaciona em uma poça de água, para Roberto Dinamite – sempre Roberto Dinamite – chutar rasteiro para o fundo do gol: 1 x 0 Vasco da Gama, novamente com Bob Dinamite sendo o redentor.

Veio o terceiro jogo. Melhores em campo, os jogadores do “mais querido” logo abrem 2 x 0 na metade do primeiro tempo, gols de Adílio e Nunes. 

O título parece decidido.

Entretanto, aos 39 minutos do segundo tempo, o limitado centroavante reserva Ticão diminui.

O jogo está 2 x 1.

O menos dotado tecnicamente time vascaíno, então, se incendeia e vai em busca de um empate que poderia forçar a prorrogação. 

Domina o jogo, não contra um adversário qualquer, mas sim contra o melhor time do mundo!

Mas eis que, como diria o Poetinha Vinícius de Moraes, “de repente, não mais que de repente”, um ladrilheiro desgraçado (desculpem, acho que sabem que este escriba é vascaíno…) invade o campo, para esfriar o time da Cruz de Malta.

Irritadíssimos, alguns jogadores vascaínos caçam o ladrilheiro em campo. O zagueiro Ivan tenta lhe acertar um pontapé. O lateral esquerdo Gilberto Coroa lhe dá um murro no rosto.

(Close para os dias atuais: Gilberto Coroa é amigo de uma amiga, rubro negra por sinal; diz que a invasão do ladrilheiro foi uma tremenda falta de ética e que o murro que deu no cara foi merecido).

Mas o ladrilheiro conseguiu seu objetivo: esfriou a turma da faixa diagonal e, assim, o Flamengo manteve o resultado e se sagrou campeão.

Com isso, o ladrilheiro, que ainda recebeu a camisa que Zico usou no jogo de presente, entrou para o folclore do futebol carioca, ou melhor, do futebol brasileiro.

E este signatário, então um menino de 11 anos, queria fazer com o ladrilheiro o que Gilberto Coroa fez, mesmo depois do título decidido… 

Arroubos infantis, dos quais damos risadas saudosos, de um tempo romântico do futebol brasileiro!

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!

SELEÇÃO BRASILEIRA DOS SONHOS

Luis Filipe Chateaubriand


Acompanho futebol desde 1978. Se, nesses mais de 40 anos, pudesse escalar a Seleção Brasileira de meus sonhos, esta formaria com: Leão; Jorginho, Leandro, Aldair e Junior; Falcão, Sócrates, Zico e Ronaldinho Gaúcho; Reinaldo e Romário.

Leão era o goleiro imponente e preciso. Agilidade incrível, reflexos apuradíssimos, visão acurada, liderança ímpar, era difícil de ser vazado.

Jorginho tinha grande vigor no apoio, mas também defendia com intensidade. Fazia ótimos cruzamentos e sabia se apresentar para tabelas.

Leandro poderia jogar em qualquer posição, mas especialmente como zagueiro central era fabuloso. Excelente antecipação, antevidência dos movimentos adversários, técnica para sair jogando.

Aldair conciliava uma técnica apuradíssima com grande vigor físico. Excelente na bola alta, também tinha um chute potente. Sabia aparecer na hora certa como “elemento surpresa” no apoio.

Junior sabia dominar a lateral esquerda, mesmo sendo de origem lateral direito, como poucos. Apoiava o ataque com vigor, fazendo de sua excelente forma física um trunfo. Sua técnica também se sobressaía em passes e lançamentos.

Falcão era a classe em forma de jogador de futebol. Domínio de bola fabuloso aliado a inteligência privilegiada, armava, atacava e defendia, sempre fazendo tudo com extrema perfeição e com a simplicidade que só os privilegiados possuem.


Sócrates era o pensador da bola. Concebia os lances antes que a esfera chegasse. De frente ou de costas, fornecia passes açucarados aos companheiros e decidia com proceder o desenlace das jogadas com uma frieza impressionante.

Zico se destacava tanto fazendo gols – dos mais variados tipos que se possa imaginar – como criando chances de gols para os companheiros – dos mais diversos tipos que se possa imaginar, também. Conhecimento perfeito do campo de jogo, coordenação motora privilegiada, repertório de jogadas diversificado, foi o maior jogador brasileiro que vi em ação.

Ronaldinho Gaúcho era a habilidade em forma de jogador de futebol. Domínio de bola perfeito, fazia coisas inacreditáveis com a redonda. Enquanto teve vontade de exercer a carreira na plenitude, foi de deixar os apreciadores do futebol boquiabertos.

Reinaldo era um êxtase de se ver para quem apreciava futebol. Toque de bola refinadíssimo, era uma vocação para o gol como quase nunca se viu. Seus gols eram de uma beleza fora do comum, particularmente os por cobertura. Era um atacante que se movimentava de tal forma que deixava os marcadores atônitos, e estes tiveram sorte de que seus joelhos lhe tenham abreviado a carreira.

Romário era o gol em forma de homem. Aliando uma habilidade incrível com um posicionamento na área impressionante, nunca houve alguém mais vocacionado para o gol do que ele. O apelido que ganhou de “gênio da grande área” não tinha nada de exagerado.

É claro que outros poderiam entrar no time, como os geniais Rivaldo, Careca, Ronaldo Fenômeno, Bebeto, etc. Mas vamos convir que este é um timaço. Ou não?

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!

A CLASSE DO MEIO DE CAMPO TRICOLOR

por Luis Filipe Chateaubriand


Wanderley Alves de Oliveira, o Deley, era a classe em forma de jogador de futebol. Engenheiro e arquiteto do jogo do Fluminense, sabia fazer o adversário “passar um dobrado” em suas mãos, ou melhor, em seus pés.

O plano era simples, mas genial: ao dar campo ao adversário, o tricolor fazia com que este se sentisse como a dominar o jogo. No entanto, esse domínio era apenas aparente, falso, pois o sistema defensivo era sólido.

Ao se sentir a dominar o jogo, o adversário atacava de forma sôfrega. E se descuidava na defesa. Era a hora de Deley entrar em ação, com lançamentos perfeitos para seus colegas Assis, Washington, Tato, Romerito, Branco, Aldo e companhia, em meio a uma defesa oponente desarrumada, desorientada, perturbada.

Era fatal!

Dizem que Sun Tzu, um general e filósofo chinês que teria vivido cerca de 2500 anos antes de Cristo, teria deixado escritos que nominavam as estratégias para vencer as guerras – que foram denominados “A Arte da Guerra”.

Deley parecia ter os ensinamentos de “A Arte da Guerra”, adaptados para o futebol, gravados em sua memória. Era o general, o artífice, o engenheiro e arquiteto da vitória.

Uma vez, assistindo a um documentário sobre o mítico Fla x Flu de 1983, aquele que o Assis fez o gol no último minuto, assisti ao Deley falar: 

– Quando eu vi o Assis, aquela gazela, correndo pela direita, eu sabia que tinha que colocar a bola para ele entre o Junior e o Mozer, para que ele pudesse fazer o gol.

O documentário, então, mostra o lance: Deley coloca a bola, em um lançamento de uns 50 metros, exatamente entre Junior e Mozer; Assis recebe limpa e toca por baixo, na saída de Raul.

Na primeira metade dos anos 1980, a torcida tricolor não tinha dúvidas: falou em general do time, falou em Deley!

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!

E TELÊ SANTANA ERRA DE NOVO

por Luis Filipe Chateaubriand 


Leão; Josimar, Leandro, Edinho e Branco; Alemão, Júnior e Silas; Renato, Careca e Muller. 

Timaço, não é mesmo? Podia ter sido a Seleção Brasileira titular na Copa do Mundo de 1986. 

Zico, que não tinha condições de jogar o tempo inteiro porque teve o joelho arrebentado por um açougueiro no ano anterior, poderia ser usado no segundo tempo dos jogos.

Mas Telê Santana, o que tinha o mérito de apreciar o futebol bem jogado, mas tinha o demérito da excessiva teimosia, escalou o time errado, assim como fez em 1982. 

Em 1986, ao contrário de 1982, convocou Leão, o melhor goleiro do Brasil, disparado! Mas o deixou na reserva. Grande desperdício! 

Teimosamente, quis escalar Leandro de lateral direito, quando, sabidamente, este não tinha mais condições físicas de atuar na posição, deveria ser zagueiro central. Este foi um dos principais motivos do craque ter desistido de ir à Copa. 

Poderia ter aproveitado a base ofensiva do São Paulo, disparado o melhor time do país de então, botando Silas, Muller e Careca para atuarem juntos, mas preteriu Silas, para escalar Elzo, um volante brucutu, extremamente limitado. 

Por fim, sequer levou Renato à Copa, exatamente em uma época em que o gaúcho estava “voando”, em excelente fase. Em compensação, deixou Sócrates – gênio, mas em péssimas condições físicas – se arrastar entre os titulares.

De quebra, o arrasador ataque vascaíno, composto por Mauricinho, Roberto Dinamite e Romário, não teve um mínimo representante na Copa do México.

Ah, Telê: sua obsessão pelo futebol arte era admirável! Mas por que você era tão teimoso?