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Libertadores

A PRIMEIRA PARTE DO TANGO FOI TOCADA

por Paulo Escobar


O que dizer de um Boca x River mesmo num jogo normal de um campeonato qualquer? Não são jogos fáceis e sempre disputados, difícil me lembrar de um superclássico frio e sem emoções e confusões. Desde muito cedo, no final dos anos 80, me lembro de jogos eletrizantes entre Boca e River.

Final dos 80, nos anos 90 e 2000 para frente, vi o River do Príncipe Francecoli, de Ramón Dias na lateral de campo comandando, do matador Salas, do Diabo Monserrat, do boneco Gallardo (hoje técnico), do burrito Ortega e de tantos outros fazerem jogos contra o Boca de Maradona, Caniggia, Roman, do chicho Serna, do carnaval Palermo, Marcico, o manteca Martinez, do mítico técnico Caballito Bianchi,el Patrón Bermudez e tantos outros.

E numa decisão para fechar os ida e volta em finais, pois ano que vem começa aquela imitação europeizada de final única estragando um pouco mais a nossa Liberta, o que vimos neste domingo foi sem dúvidas a final prometida. Que jogo de futebol! Ao vermos a chatice dos clássicos do Brasileirão um dia antes, os deuses do futebol nos presentearam com este puta jogo.


E como um bom tango, teve drama, teve amores, teve agonia e teve a dança da torcida do Boca na Bombonera lotada como sempre, pulsando mais uma vez o mítico estádio do bairro Xeneize.

Entre tantas histórias, teve a da segurança mudando o dia do jogo para sábado, depois a chuva que nos deixou mais agoniados esperando mais um dia, a rodada de domingo na Argentina cancelada e a história do joga ou não joga. Polícia Federal revistando o vestiário do River, Gallardo suspenso não podia nem pisar na Bombonera e assistiu ao jogo em Nuñes, campo do River.

Mas finalmente chegamos ao domingo e podemos dizer que vimos um baita jogo, do começo ao fim, com fortes emoções e pegado como devem ser os Boca x River. O goleiro Rossi, do Boca, fechando o gol em lances claros do River, um Boca meio nervoso no começo, mas que depois se solta e em duas pancadas de Ábila em cima do goleiro Armani do River, na primeira dá rebote e no rebote Ábila abre o placar para fazer a Bombonera quase vir abaixo.

Mas não durou muito, não. Lucas Pratto estava lá para empatar menos de um minuto depois num chute cruzado, e não podemos dizer para calar a Bombonera, pois ali se canta perdendo ou ganhando. A partir dali, vimos um jogo ainda mais quente, e perto do fim do primeiro tempo tínhamos mais uma emoção: o gol de cabeça de Benedetto de frente pra doze que cai comemorando em cima do alambrado e assim se foram aos vestiários.


Segundo tempo começa com o River correndo atrás do gol e, numa bola parada alçada na área, Izquierdoz faz contra, para desespero da mesma doze atrás do gol que não deixa de cantar.

No banco, Guillermo Schelotto, que jogou muita bola também naquele meio campo com Riquelme, chama o Apache Tevez que entra para colocar mais temperos nesse jogo e numa jogada de mestre deixa Benedetto na cara do gol, mas Armani fecha e faz, talvez, a defesa do jogo impedindo o 3×2. O mesmo Tevez que ao fim do jogo vai lá na saída do campo dar ânimo a Izquierdoz lembrando que ainda a tango a ser dançado.

Numa semana em que a Argentina parou e, gostem ou não os mais pachecos, o Brasil e o resto da América Latina também, não deixaram nada a desejar aos clássicos europeus ou de qualquer canto do mundo. Vimos um jogo de futebol, assistimos emocionados e aposto que muitos torcendo pra um ou pra outro. Me arrisco a dizer que neste ano, independente do clássico em qualquer lugar do mundo, talvez este sim foi o do fim do mundo como disseram os argentinos.


Dia 24 deste mês de novembro teremos a volta e eu torcendo pra um dos dois, sofrendo como sofri, esperando que o céu se tinja de azul e ouro, mas sabendo que o River jogou muito e que nenhum dos dois entregará facilmente essa Liberta. Sabemos que este empate levará os dois times a procurar o jogo e ir pra cima, e sabemos que nestes clássicos, assim como no de hoje, vai rolar de tudo, e esperamos pra emoção nossa que role de tudo mesmo.

A primeira parte do tango foi tocada depois de uma longa espera neste domingo, e até dia 24 esperaremos a segunda parte do tango a ser tocado em Nuñes. E até lá a ansiedade e a emoção nos fará imaginar mil possibilidades.

Até depois do dia 24 para falarmos mais disto que é mais que um clássico. Até…

ALMA LAVADA

Por Marcelo Mendez


Felizes são os meninos que têm a chance de trocar umas ideias com seus ídolos. Plenos, são afortunados que estabelecem uma proximidade com aqueles que tantas alegrias lhes deram. Assim é minha parada com César Sampaio. Grande César…

Com a camisa 5 do meu Palmeiras, César Sampaio beirou as raias da imortalidade em campo. Enquanto jogou pelo Palmeiras em sua fase áurea nos anos 90, Sampaio jamais olhou para ver a cor da grama. Cabeça erguida, pose imperial de uma realeza que dispensa a frescura das coroas para ser imortal de chuteiras pretas. Era César Sampaio o capitão do time o qual contaremos a história aqui hoje. O chamei para contar comigo e o meu capitão topou a prosa. Para uma noite fria de março, em que eu estava na arquibancada e ele em campo, escorremos aqui, odes e sonhos. Nosso Palestra entraria em campo para um jogo importante da Libertadores da América de 1994.

Aconteceria ali uma das maiores partidas dos 103 anos de história Sociedade Esportiva Palmeiras e, sem saber, César Sampaio me daria uma das maiores alegrias da minha vida…

09 de Março de 1994, Palmeiras x Boca Juniors – a noite de lavar a alma verde…

– Sabíamos bem do Boca, lógico que não como hoje, onde temos milhares de informações e uma equipe só trabalhando para isso. Mas o Palmeiras sabia como o Boca jogava… – César Sampaio, Capitão do Palmeiras em 1994


A coisa na verdade começou algumas horas antes daquela noite mágica de março…

Durante o dia, encontrei tempo de ouvir um programa de esportes no saudoso rádio AM, a Rádio Globo do grande Osmar Santos e um dos comentaristas chamava atenção: “Olha, veja bem; O Boca é um time matreiro e é treinado pelo Menotti. Isso é sempre perigoso” César Luis Menotti… De pivete me lembro daquele homem magro, elegantíssimo, impecavelmente bem vestido à beira dos campos argentinos durante a Copa do Mundo de 1978. Munido de seu cigarro sem filtro, o Flaco comandava suas boas equipes.

Seus times sempre eram leves, sem nada de brucutus, meio campo sempre com jogadores leves, habilidosos e um gosto intrínseco pelo bom futebol. Não sabia muito daquele time do Boca, mas do jogo que eu vi um empate com o Velez Sársfield no mesmo grupo em 1×1 não me seduziu muito.

Vi que tinha lé um ótimo goleiro, Navarro Montoya, um bom jogador de nome Carranza, um outro cheio de perna de nome Mancuso (Esse a gente viria a conhecer bem um ano depois…), um atacante ciscador de nome Martinez, mas nada de mais. Nada que justificasse a marra com que o Boca havia chegado em São Paulo.

Parecia a corte imperial da Rainha Vitoria do século XIX.

Rapaz, mas que frescurada da porra!

Passeando pelo hall do Hotel Transamérica, os jogadores argentinos se achavam uns Mick Jagger’s e olhavam o mundo todo com um nariz empinado a lá Mary Poppins. Muito que a contra gosto, do alto de sua grandeza, Menotti topou dar uma entrevista para TV Bandeirantes e caprichou no portunhol selvagem para dizer que o Boca jogaria pra cima do Palmeiras pra ganhar o jogo e que futebol era muito simples:


– Mi equipo joga assim… Yo Toco e me Voy! – pois é, o famoso toco e vou.

O sujeito veio sei lá de que bimboca da Argentina, enfrentar o campeão Paulista e Brasileiro, como se esse fosse um time de várzea do Desafio ao Galo, era o que eu pensava. Tinha logo que começar o jogo pra gente ganhar deles, pensava eu na arquibancada do velho Palestra. E começou. Naquela noite o Palmeiras veio para campo com desfalques consideráveis. Não jogaria Fred Rincón, machucado.

Não teria Edmundo, envolto em uma de suas suspensões. Sendo assim, o meio-campo seria formado por Amaral, Cesar Sampaio, Mazinho e Zinho. Na frente, Edílson e Evair. Era um timaço. A zaga tinha Sérgio, Cláudio, Antônio Carlos, Cléber e Roberto Carlos. Não era possível que esse time fosse ter trabalho pra vencer o Boca. Não teve… O Palmeiras levou 15 minutos para marcar o primeiro gol com Cléber, empurrando para as redes após um bate rebate na área.

A partir daí, o Boca com o seu tal de “Toco e vou” não via a cor da bola. Pouco passava do meio de campo, não criava nada e quando o primeiro tempo terminou em 1×0, poderia até comemorar. Afinal de contas, tinha lá no banco o homi, o tal do Menotti, de certo que criaria uma solução mágica. Tá, criou sim…

A Linha Burra…


– Nosso time era muito leve e muito veloz. Contávamos com ótimos jogadores, todos muito inteligentes e então, quando olhamos para o campo e percebemos que o Boca tentaria subir a marcação, imediatamente já sabíamos o que fazer. Surgiu muito espaço em campo e daí, ficou muito bom para jogarmos! – lembra César Sampaio.

Tinha nos bolsos uns comprimidos de algum barato sintético aí, mas o dia não era para o surto. Não… A hora era pra ficar consciente do que rolava. Fiquei no intervalo a pensar em coisas da vida e no Brasil do Plano Real, a única coisa que eu queria naquela noite era meu time ganhando o jogo. Ia me enveredar por essas elucubrações quando os times voltaram e o jogo recomeçou. Ávido em saber qual a solução mágica do Menotti, fiquei de cara quando vi seu time em campo no segundo tempo.

– Cara… Ele vai fazer linha de impedimento? – puxou conversa comigo um companheiro verde a meu lado na arquibancada. Pois é…

Contra o melhor time do Brasil, Menotti e suas milongas, decidiu que adiantaria sua linha defensiva pra tentar diminuir o campo do Palmeiras. Uma benção para um time que tinha jogadores inteligentíssimos como Zinho, Cesar Sampaio, Evair e ele, o dono da noite:

Mazinho.


– Foi um dos grandes parceiros de meio-campo que tive. Um cara correto, dedicado, altamente técnico, trabalhava bem com as duas pernas, onde caía ele resolvia. Bom passe, inteligente, naquela noite ele deixou de ser coadjuvante. Mazinho protagonizou, brilhou!

César Sampaio tem muita razão.

Os garotos da geração Playstation não fazem ideia do quanto que esse camisa 8 jogou de bola na vida. Mazinho é muito mais do que apenas o pai do Thiago Alcântara do Bayern e do Rafinha do Barça. Antigo lateral-direito, quando veio para o meio-campo, Mazinho passou a ser um dos melhores meias que já passaram pelos campos nossos aqui.

Inteligente, habilidoso, passe preciso, altamente técnico, foi um grande. Na época, estava cotado para ir à Copa que aconteceria meses depois e Parreira, o técnico de então, estudava a possibilidade de sua convocação. No dia do jogo contra o Boca, na ausência de Rincón, Luxemburgo decidiu colocá-lo como meia, um pouco mais à frente.

Seria nosso 10 e então caberia a ele armar o que viria pela frente e assim o fez lindamente…

Posicionando-se um pouco mais atrás, Mazinho observou que o Boca pouco atacava. Dessa forma, começa a encher os laterais Claudio e Roberto Carlos de bola. A todo instante, vindo de trás, os dois estouravam dentro da área do Boca. Foi dessa forma que roubou a bola de Mac Allister para lançar Evair na esquerda. O 9 esperou a passagem de Roberto Carlos e com um toque de calcanhar e de encanto o serviu para um golaço! Era o 2×0.

O Baile de Bola…

– Na verdade, o Boca veio a São Paulo para não perder. O empate jogando aqui para eles estaria ótimo e estavam na deles, fechadinhos e tudo mais. Com a desvantagem, eles desarmaram a marcação do meio-campo (Saiu Da Silva) e colocaram um atacante (Acosta). Aí, como se diz na gíria do futebol, foi um chocolate!

Mal tive tempo de comemorar e Edílson fez o terceiro. Em situação normal, eu estaria radiante mas sei lá, foi estranho. Queria mais…

É tácito em nossa formação de Sudaca os caminhos da paixão inexorável pelo que amamos. No caso, amamos o futebol e naquele 09 de março, como que por uma conjuração cósmica entre time, torcida e universo, ficou decidido que no Parque Antártica o Palmeiras não ia parar de jogar. Não se contentaria apenas com os três pontos, não cessaria um milímetro que fosse na luta pelo encanto. Era dia de lavar a alma, era a noite de passar com um caminhão em cima do Boca Juniors.

No nosso berro incansável, na nossa sede de poesia o Palmeiras seguiu. Mazinho, o craque daquela noite seguiu botando o Boca na roda. Em jogada épica, driblou a zaga toda da linha burra de Menotti e sofreu o pênalti para Evair fazer o quarto. Pouco depois, no rebote de sua tentativa por gol de cobertura em Navarro Montoya, veio o 5×0 e o sexto de Jean Carlo, foi o êxtase. Como o mais belo dos olimpos, nós fizemos de nosso Palestra uma catedral. Era um 6×0, uma seiszada inapelável e implacável em cima da empáfia do Boca e da classe de Flaco Menotti.

Depois disso, quase esqueci do gol de pênalti do Boca, marcado por Martinez, dane-se.

Era 6×1! O placar lavou minha alma bêbada e me redimiu do torto que eu era.

Foi meu nirvana na Pompéia. Não, não vencemos aquela Libertadores. Passamos a primeira fase, ficamos nas oitavas contra o ótimo time do São Paulo e pouco me importa isso. Sou Sudaca, um rapaz latino americano que tem compromisso com a poesia e não com as “vitórias”.

Se bem que naquela noite, no Parque Antártica, venci.

O VAR ABAIXO DA CINTURA CRUZEIRENSE; GOLPE BAIXO

por Marcelo Mendez


“A história passada está de pernas para cima porque a realidade anda de cabeça para baixo.” – Eduardo Galeano

Foram Grandes os homens que através de suas poesias, de suas fúrias, de seus corações aos pulos, tentaram explicar a América Latina.

Nossa história, do lado de cá do hemisfério, é feita de tantas idiossincrasias quanto pressupõe o verso, ou a blue note de um jazz improvável. A razão balança ao som de sambas, candombes, tangos, cumbias e outros sons, batidas e pulsações.

Temos por aqui nosso jeito de entender tudo isso. Nossa paradoxal aventura de sentir as coisas da vida. Creio que isso tem a ver com nossa insistência com a Copa Libertadores da América. A Copa sul americana de futebol vai para muito além de futebol.

Com o inicio em 1960, a Libertadores viveu seu apogeu no continente justamente no auge das Ditaduras do Continente nos anos 70. O extremo nacionalismo desses regimes totalitários fez da Copa uma espécie de guerra por afirmação, por uma pretensa soberania continental e nela passou a se pressupor que tudo podia.


Podia criar um inferno para os times visitantes, como o Santos fez com o Peñarol em 1962, como o Independiente fez com esse mesmo Santos em 1964, como o Estudiantes fez com o Palmeiras em 1968, como a Conmebol fez com o Colo Colo nas três partidas contra o Independiente, no maior roubo da história da competição.

E todos esses crimes do apito se perpetuaram por décadas até que chegou o advento do jogo ao vivo, televisão mostrando tudo e as coisas mudaram de vez. Todavia, eis que para espanto geral, em pleno 2018, fatos passados da antiga Libertadores voltam a assombrar os times Brasileiros.

Nada explica o que foi feito contra o Cruzeiro ontem na Bombonera.

O lance era claro: Dedé dividiu a bola normalmente com o goleiro Andrada e o choque forte do lance foi algo normal que acontece em um jogo de futebol. Então, munido pela síndrome de pequenos poderes, ou da sanha de justificar o uso do VAR, uma ferramenta cara, o sujeito responsável pelo recurso eletrônico chama árbitro Éber Aquino, o apitador da coisa. Ele consulta então o VAR, olha pra telinha do computador com olhos de rapina, assiste ao lance inúmeras vezes e decide: Dedé, expulso.

O árbitro errou no VAR! Com toda a tecnologia, recursos, sem nenhuma pressão, ele pode olhar o lance e então, errou! A questão que fica é, até quando? Será possível vencer uma Libertadores no campo de jogo, ou viveremos uma espécie de remake, voltando para o ano de sei lá, 1972?

A resposta poderá vir mais a noite, quando o Palmeiras enfrentará o Colo Colo no Chile. Fiquemos atentos, caros. Ou senão, voltem a transmitir os jogos em preto e branco:

Sejam honestos e assumam os seus retrocessos, Cartolas.

JOGOS INESQUECÍVEIS

por Mateus Ribeiro


São Paulo x Corinthians (Semifinal do Campeonato Brasileiro 1999).

Clássicos são emocionantes na maioria das vezes. Se o clássico em questão valer algo grande, a tendência é que a emoção alcance níveis estratosféricos. E foi isso que aconteceu no dia 28 de novembro de 1999.

São Paulo e Corinthians se enfrentaram pela primeira partida da semifinal do Campeonato Brasileiro de 1999. De um lado, um São Paulo que vinha de uma década fantástica, com títulos nacionais, continentais e mundiais. Do outro, o Corinthians, que naqueles dias, vivia a melhor fase de sua história. Como se isso não bastasse, grandes nomes do futebol como França, Marcelinho, Rogério Ceni, Rincón, Ricardinho, Raí, Edílson, Jorginho, Dida e muitos outros estavam em campo. Não se poderia esperar algo diferente de um grande jogo.

A partida foi um lá e cá sem fim, do primeiro ao último minuto. Os treinadores deram uma bica na tal da cautela, e ambos os times atacavam sem medo de ser feliz.

O Corinthians saiu na frente, com gol do zagueiro Nenê. Alguns minutos depois, Raí, acostumado a ser carrasco do Corinthians, acertou um chute que nem dois Didas seriam capazes de defender. Eu, que já havia ficado muito chateado pelo tanto que Raí judiou do meu time do coração (acho que já deu pra perceber que torço para o Corinthians) em 1991 e 1998, senti um filme passando pela minha cabeça. Estava prevendo o pior.


Para a minha sorte, dois minutos depois, Ricardinho aproveitou um lançamento e colocou o Corinthians na frente de novo. Meu coração estava um pouco mais aliviado, e eu conseguia respirar. Até que Edmílson tratou de empatar a partida, e jogar um banho de água fria na torcida do Corinthians. O frenético e insano primeiro tempo terminou empatado em dois gols, e com muitas alternativas para ambos os lados. Eu tinha certeza que o segundo tempo seria uma loucura. E realmente foi.

Logo no início, Edílson deixou Wilson na saudade, e caiu dentro da área. Pênalti para o Corinthians. Na batida, o jogador que eu mais amei odiar na minha vida inteira: Marcelinho. Bola de um lado, goleiro do outro, e o Corinthians estava novamente em vantagem.

Alguns minutos depois, pênalti para o São Paulo. De um lado, um dos maiores jogadores da história do São Paulo. Do outro, um goleiro gigantesco, que estava pegando até pensamento em 1999. O Resultado? Nas palavras de Cléber Machado, “…Dida, o rei dos pênaltis, pega mais um…”.

Naquelas alturas, eu já estava quase tendo uma parada cardíaca. Teve bola na trave, bola tirada em cima da linha, e tudo mais que os deuses do futebol poderiam preparar para fazer meu coração parar.


Até que quando o jogo estava se aproximando do fim, mais uma surpresa. Desagradável, é lógico. Mais um pênalti para o São Paulo. Eu já achava que aquilo fosse perseguição. Meu coração, desde sempre, nunca foi de aguentar fortes emoções. Tanto que no segundo pênalti, fiquei de costa para a tevê, sabe se lá o motivo, com meu chinelo na mão. E o chinelo foi um personagem importante, já que o monstruoso Dida defendeu o pênalti do gigante Raí mais uma vez, e eu arremessei meu calçado na árvore de Natal, e destruí o adorno que enfeitava a sala da minha casa.

Antes do apito final, Maurício (que substituiu Dida) ainda fez uma grande defesa, garantindo a vantagem para o jogo de volta.

Um jogo emocionante, que consagrou Dida, e de certa forma, foi uma espécie de vingança minha contra Raí, que em muitas oportunidades me fez chorar. Vale ressaltar que o craque são paulino é o rival que eu mais admirei durante minha vida.

A vitória me deixou feliz, é claro. Porém, além dos três pontos e da vantagem para o jogo da volta, quase uma década depois, o que me deixa feliz (e triste) é ver que naqueles dias as torcidas dividiam o estádio, os times se enfrentavam em pé de igualdade, e os craques ainda passeavam pelos gramados.

Um dos dias mais emocionantes e insanos da minha vida. Agradeço aos grandes jogadores que me fazem lembrar daquele domingo como se fosse ontem. Agradeço também, você que leu até aqui, e dividiu essas lembranças comigo.

Um abraço, e até a próxima!

 

 

 

LIBERTADORES 20 ANOS – A FESTA

entrevista: Alexandre Perdigão | texto: Matheus Rocha | vídeo: Herbert Cabral |                edição: Daniel Planel

A AGC – Associação Grandes Cruzeirenses fez mais uma grande festa para relembrar seus ídolos, em dezembro de 2017. Desta vez, os homenageados foram os bicampeões da Libertadores de 1997. Como não poderia ser diferente, o Museu da Pelada fez marcação cerrada e esteve por lá.

Foi uma festa no Espaço Meet / Porcão, em Belo Horizonte. Estiveram presentes grandes jogadores daquele time. O evento teve a lembrança de jogo-a-jogo com um documentário feito pela Memória Celeste, com causos e tudo mais.

O Cruzeiro expôs as duas taças Libertadores (1976 e 1997) e ainda a recém-conquistada Copa do Brasil 2017.

O ponto alto da festa foi uma surpresa que não era esperada nem pela AGC. No meio da festa, sem confirmar, apareceu Dida. Não por menos, foi ovacionado no meio da festa. Por volta dos 30 minutos do segundo tempo da final, fez duas defesas incríveis, ainda quando não havia gol no placar. Como disse o Galvão Bueno na transmissão daquele jogo, no momento da defesa: “Se o título vier, metade dele já tem dono, é do goleiro Dida!”. E todo cruzeirense sabe disso.

Daquele time que jogou a final, além do goleiro Dida, também marcaram presença os laterais Vitor e Nonato e o zagueiro Gélson, além dos meio-campistas Fabinho e Elivélton e o atacante Marcelo Ramos. Ainda do elenco, também receberam homenagens os meio-campistas Reginaldo, Léo, Tico e Donizete Amorim e o atacante Da Silva.

O Cruzeiro venceu a Libertadores de 1997 em 13 de agosto daquele ano e o Museu da Pelada lembrou com a data com essa crônica (https://www.museudapelada.com/resenha/um-canhoto-decidindo-de-direita).

 Confira o vídeo da festa!