por Leandro Costa
Vinte e um de junho de 1989, o Botafogo entra em campo para a segunda partida das finais do Campeonato Carioca contra o Flamengo.
Nas mãos de Ricardo Cruz, a segurança de não ser vazado.
Na tranquilidade de Josimar, a certeza de boas jogadas.
Na raça de Gottardo, a vontade de dar fim à agonia.
Na classe de Mauro Galvão, a tranquilidade de um craque de Seleção.
Na regularidade de Marquinhos, a confiança em uma boa marcação.
Na categoria de Carlos Alberto, a saída de jogo com qualidade.
Na força de Luisinho, a paixão do torcedor em campo.
Na alma de Vitor, a garantia de muita entrega.
Nos dribles de Maurício, a mística da camisa 7.
No oportunismo de Paulinho Criciúma, a chance do gol.
Na habilidade de Gustavo, a força do ataque.
No comando de Espinosa, a estratégia da vitória.
Em casa, na geral, nas cadeiras ou nas arquibancadas, a esperança de toda uma torcida que há vinte e um anos não via seu time ser campeão.
Os corações alvinegros disparam Brasil afora. Jogo duro, pegado, o adversário chega mais perto do gol. Gustavo sai contundido no final do primeiro tempo. Mazolinha entra em seu lugar com um ímpeto de incendiar a partida.
No intervalo, Maurício, com 40 graus de febre, pede para sair. O comandante Espinosa convence o ponta a continuar no jogo dizendo que havia sonhado que o Glorioso venceria com um gol dele. Anos mais tarde Espinosa revelou que não sonhou mas que não poderia perder Maurício naquele jogo. Realmente seria impensável o Botafogo sem o seu camisa 7 no jogo mais importante do clube em 21 anos.
Começa o segundo tempo e logo aos 12 minutos, Mazolinha, aquele mesmo que havia entrado no final do primeiro tempo, cruza para Maurício, o sete, que apesar da febre não saiu no intervalo, escorar a bola para o fundo das redes do adversário.
Quando finalmente o árbitro encerra a partida, chega ao fim um jejum de 21 anos sem títulos. Vibra a criança, chora o homem, ri a mulher, se abraçam os jogadores, se liberta uma geração que não sabia o que era ser campeão. Comemora a torcida, por vinte e um dias, vinte um meses, vinte e um anos, ou trinta, como fazemos agora. Comemora porque não há nada mais Botafogo do que renascer. E se o clube tem três datas especiais para comemorar seu aniversário (dia da fundação do Regatas, dia da fundação do Football e dia da fusão dos dois clubes) por que não comemorarmos para sempre o dia do fim do jejum? Parabéns, Botafogo!! Ah, obrigado pelo presente de aniversário para o menino que acabara de completar nove anos na véspera da decisão. Inesquecível e incomparável a qualquer brinquedo da época ou de qualquer época. Coisas da bola, coisas do Botafogo.