por André Luiz Pereira Nunes
Em 16 de março de 1986, a Seleção Brasileira, dirigida por Telê Santana, foi derrotada pela Hungria por 3 a 0 em amistoso realizado em Budapeste. O confronto era preparatório para a Copa do Mundo. Lajos Détari, Kalman Kovacs e Marton Esterhazy marcaram os gols da vitória. A partir daí, passei a conhecer e acompanhar a carreira do destaque dessa partida: Lajos Détári, o último craque húngaro, o maestro que conduziria seu país ao último mundial.
A escola magiar sempre se notabilizou pela ofensividade. Esse princípio norteou os craques vice-campeões de 1954: Ferenc Puskas, Sándor Kocsis e Nándor Hidegkuti. É certo que as gerações posteriores não obteriam o mesmo sucesso. Porém, apesar de uma trajetória pontuada por altos e baixos, o meia-atacante Lajos Détari teria algum êxito durante a década de 90, período considerado o apogeu do Campeonato Italiano.
A sua estréia como atleta profissional aconteceu no tradicional Honvéd, o mesmo em que Puskas e Kocsis foram ídolos. Entre 1980 e 87, o talentoso camisa 10 seria três vezes artilheiro do campeonato, levando a sua equipe a três títulos nacionais. A reputação como grande atleta já ultrapassava os limites da Cortina de Ferro a despeito da falta de informações, visto que a nação vivia sob um regime fechado. Consequentemente, logo ganharia espaço na seleção à qual estrearia em 1984, dois anos antes da fatídica partida contra o Brasil.
Comentava-se que os magiares seriam potenciais surpresas para a Copa do México. Afinal de contas haviam vencido impiedosamente a Seleção Brasileira que vinha extremamente mal armada por Telê Santana. Porém, as expectativas não foram assim consumadas. Ainda que não atuando mal, o meia-atacante foi incapaz de evitar o vexame de cair na primeira fase. Goleados impiedosamente pela União Soviética (0 a 6) e França (0 a 3), os húngaros só conseguiriam derrotar, por 2 a 0, o fraco e inexpressivo Canadá, cujo elenco era composto por atletas amadores, e que estreava no torneio. Détari marcaria o segundo gol, o último da Nação do Leste Europeu na competição mais importante do mundo.
Em 1987, teria a sua primeira experiência em um time do exterior. O Eintracht Frankfurt montava um grande plantel e decidiu investir no ofensivo meia. E ele não decepcionou. Além de figura central, foi o autor do gol de falta contra o Bochum que concedeu aos rubro-negros o título da Copa da Alemanha, a penúlltima taça conquistada pelo clube. A última foi em 2017/18. Não demoraria um ano para o Olympiacos, da Grécia, pagar 6 milhões de libras para contar com o seu talento.
Recebido com júbilo no aeroporto de Atenas, teria durante dois anos ótimas atuações, mas devido a um escândalo de corrupção envolvendo o dono da agremiação, George Koskotas, acabaria novamente negociado em 1990. Por cerca de 5 bilhões de liras, assinou com o Bologna, que retornara, em 1988, à Série A do Campeonato Italiano após sete anos de ausência. A equipe emiliana contava que Détari seria a grande atração. Os coadjuvantes eram Antonio Cabrini, Roberto Tricella e Massimo Bonini, além do atacante suíço de ascendência turca Kubilay Türkyilmaz.
No entanto, nada ocorreria da maneira planejada, pois o húngaro passaria boa parte da temporada afastado por conta de problemas físicos. Chegou mesmo a ficar fora de jogo por quatro meses devido a uma grave lesão no joelho. Enquanto esteve em campo foi determinante, sobretudo durante a campanha na Copa UEFA. O Bologna acabaria eliminado apenas nas quartas de final pelo Sporting de Lisboa.
A sua ausência, porém, seria fundamental para que a equipe, lanterna da competição, fosse rebaixada ao fim da temporada. O craque jogaria somente 16 partidas, assinalando 5 gols, ainda que vice-artilheiro do time. Na disputa da Série B, jogou 27 partidas e marcou 9 gols. O Bologna terminaria na décima-terceira posição, se salvando por um ponto da zona de descenso. A crise era tão grande que após a sua saída, em 1992, ocorreria inevitavelmente a queda para a terceira divisão.
O atleta, todavia, voltaria à primeira divisão, dessa vez pelo Ancona, o qual conseguira o inédito acesso à Serie A, na temporada 1992-93. Finalmente, em plena forma física, assumiria a camisa 10, atuando em 34 partidas e marcando 10 gols. Seu primeiro turno foi pontuado por atuações acima da média. O meia protagonizaria um repertório de golaços, dribles desconcertantes e belíssimos arremates de fora da área. Porém, após a virada do ano, o seu nível técnico caiu vertiginosamente e, consequentemente, a equipe terminaria rebaixada.
Após mais um revés, Détári, então com 30 anos, voltaria, por empréstimo, a seu país para uma curta passagem pelo Ferencváros. Em novembro de 1993, receberia uma proposta do Genoa e acabaria vendido pelo Ancona à equipe lígure. Novamente não engrenaria, assinalando apenas um gol em oito partidas. Depois de amargar a reserva, assinaria no final da temporada com o Neuchâtel Xamax, da Suíça. Nos Alpes, teria o grande último momento da carreira. Contudo, apesar de considerado um dos melhores jogadores da competição, não se sagrou campeão e ainda teve atritos com o treinador. A essa altura, já aposentado da seleção húngara, pela qual marcara 13 gols em 61 partidas, passou a não estar mais em evidência e, após um ano longe dos gramados, transitaria pela segunda divisão da Áustria e por times menores da Hungria.
Em 2000, decidiria finalmente pendurar as chuteiras. Logo após retirar-se, tentaria a carreira de treinador. Porém, em 12 anos de atividade, a sua carreira não teria continuidade e tampouco conquistas, ainda que tenha transitado por diferentes países como Romênia, Vietnã, Grécia e Hungria. Chegaria até a dirigir alguns dos grandes times do país, como Honvéd, Haladás e Ferencváros, mas sem qualquer destaque.