por Marco Antonio Rocha
Estávamos já nos preparando para ir embora do lançamento quando vi de longe o Kaiser. Contei rapidamente a história dele – ao menos parte dela – pro Teteu e pra Mari.
– Vamos lá!! – exclamou o moleque, entusiasmado com a possibilidade de conhecer o maior e mais doce trambiqueiro da história do futebol mundial, uma espécie de CR7 em matéria de picaretagem – ou K171.
– Kaiser, esses aqui são meu filho e minha mulher. Eu estava contando pra eles sua história…
O ídolo se levanta de imediato, parece maior do que é. E me dá um abraço de amigos que não se viam há séculos.
– Tem uma caneta aí? Vou te dar meu autógrafo…
E tome de caçar uma, artigo raro hoje em dia.
– Aqui, consegui! – disse a Mari, ainda incrédula com aquela cena non sense.
– Já dei entrevista pro Museu da Pelada. Abre o livro do Pugliese aí.
Obedeci, já animado com a iminência de ter no livro o autógrafo de uma espécie de Viúva Porcina da bola, a que foi sem nunca ter dado um chute.
Mas até na vida real as novelas têm desdobramentos pouco ortodoxos. Kaiser pega o livro e ordena ao primo:
– Escreve aí… “Ao amigo Marco, um abraço”.
Me senti um zagueiro driblado, bunda no chão e bola na rede:
– Peraí, Kaiser. Você também não dá autógrafo?!?!
– Não, não. Autógrafo eu dou. É que eu operei uma vista e não faço a dedicatória. Só assino.
Não era preciso mais que isso. Àquela altura, o escanteio havia virado gol olímpico. Teria como presente um autógrafo a duas mãos… E uma delas seria do Kaiser! Já estávamos íntimos a ponto de, em poucos minutos, fazer uma graça.
– Olha, eu sou vascaíno, o moleque também. Você não jogou lá, né? – emendei, reforçando a negativa da pergunta.
– Hahaha é verdade! Nem no Flamengo, no Botafogo, no Fluminense… Mas fui campeão algumas vezes! E você, joga bola? – rolou pro meu filho.
– Eu jogo basquete, no mês que vem vou fazer um teste no sub-13 do Fluminense.
– Quem vai te receber lá?
Ali percebi o quanto de malandragem uma pergunta tão curta pode carregar… Uma malandragem sem interesse, quase infantil.
– Se você não passar, liga pra mim!
Aqui é preciso registrar: enquanto a turma catava uma caneta, Kaiser me deu seu número de celular. Já éramos amigos, nada mais justo. No fim, com o moleque apadrinhado pelo homem que enganou um punhado de clubes mundo afora, nos despedimos anunciando que naquela noite mesmo assistiríamos a seu documentário.
– Me manda um zap dizendo o que achou! – gritou ele, enquanto sumíamos entre garçons e fãs do Museu que lotavam a pizzaria.
Na volta para casa, tranquilizei Teteu, nervoso com a peneira:
– Com esse aí do teu lado, daqui a pouco você estará jogando basquete pelo Barcelona…