por Marcos Vinicius Cabral
Junior foi um dos melhores laterais-esquerdos que o futebol brasileiro se orgulha em ter produzido.
E também um meio-campo talentoso, que comandava o setor com tal precisão na cadência de jogo que lhe valeu o apelido de Maestro anos depois.
Chamado Capacete, no início de carreira, não por ser um cabeçudo no quadrado mágico esverdeado, mas sim porque ostentava o cabelo estilo black power – movimento que evidenciava a cultura, a resistência negra numa sociedade predominantemente racista e um dos principais símbolos deste movimento cultural que começou a ganhar destaque nos anos 1960 e 1970.
Mas Leovegildo Lins Gama Junior, paraibano arretado que tirava onda nas peladas do futebol de areia na Praia de Copacabana.
Foi ali, que com um senhor bigode que ostentou até nos últimos suspiros como atleta profissional, forjou um preparo físico invejável aliado à técnica refinada abrilhantada no Flamengo, na Seleção Brasileira, no Torino e Pescara, estes dois da Itália e novamente no Flamengo, quando atendeu pedido do filho Rodrigo e decidiu voltar, em 1989.
Junior, este mesmo que a sorte não sorriu com a camisa da Seleção Brasileira, foi campeão de tudo: Libertadores, Mundial, Copa do Brasil, Cariocas e Brasileiros, sendo que em 1992 – considerado pelo próprio com a cereja do bolo – aos 38 anos, correu, deu passes milimétricos, cobrou faltas com precisão e foi, até quando quis ser, um verdadeiro comandante em campo. No meio de garotos, se tornou o Vovô Garoto.
Junior pode estufar o peito e dizer sem medo de ser desmentido, que conheceu poucos médicos nos clubes por onde esteve, já que a longevidade do tradicional camisa 5 nos gramados se deveu à forma física perfeita.
Mas Junior começou a mostrar potencial cedo, ainda um juvenil, quando entrou no time titular do Flamengo nos jogos finais do Campeonato Carioca de 1972.
Com a camisa 4 às costas – antes de imortalizar a 5 – marcou um gol do meio de campo contra o América, na decisão do terceiro turno em 74 e voltou a marcar no mesmo América pelo primeiro jogo do triangular final que tinha também o Vasco.
Dessa forma, terminou o ano como campeão carioca e dono da posição – ele era, sim, lateral-direito.
Mas os deuses rubro-negros ajeitaram as coisas e em um troca-troca entre Flamengo e Fluminense em 1975, e com a vinda de Toninho das Laranjeiras para a Gávea, passou para a lateral-esquerda.
À beira de campo pela esquerda, se consagrou com atuações de gala pelo Flamengo, como no Campeonato Brasileiro de 1981, que ratificaram a sua presença frequente na Seleção Brasileira.
Mas nem tudo foi flores para Junior. Ter sido preterido pelo amigo Cláudio Coutinho, que preferiu levar para a Copa do Mundo da Argentina, em 1978, Rodrigues Neto e Edinho, improvisado na posição, foi um duro golpe.
Mas Junior não se abalou. Suou sangue no rosto áspero, deu a volta por cima, botou no bolso todos os concorrentes que buscavam assumir a titularidade da camisa 6 da Seleção Brasileira e foi uma peça importante da engrenagem de uma máquina de jogar bola que era o time de Telê Santana em 1982.
Tão marcante que até hoje, passados 40 anos da Copa da Espanha, a Seleção Brasileira não é esquecida, mesmo com o injusto 5° lugar.
Junior, Capacete, Maestro ou Vovô, tanto faz.
Independente do apelido, Leovegildo foi monstro e, se Nilton Santos é a Enciclopédia do Futebol, o lendário camisa 5 rubro-negro foi um bom livro de autoajuda para quem quer se tornar atleta profissional, seja na lateral-direita, lateral-esquerda ou no meio-campo.