por Júlio César Baldini
Eu poderia iniciar essa discussão sendo clubista, dizendo que o campeão de 1987 seria o Sport, pois meu time seria beneficiado com um título a menos do Flamengo na disputa dos maiores campeões nacionais, ou dizer que o Flamengo seria campeão genuíno, pois meu clube participou da Copa União e foi um dos idealizadores do certame a parte do que a CBF dissesse.
Mas meu objetivo é sair um pouco da discussão clubista e enfatizar o porquê que ambos os clubes são campeões daquele ano e que o demérito é da CBF e não de qualquer clube envolvido.
Para isso, vamos lembrar um pouco do cenário daquele momento.
A CBF, por influência do governo, então militarizado (sem querer entrar na pauta política que cada dia é mais chata), aceitou usar o futebol para amenizar sua má reputação e imagem, e passou a acrescentar clubes de diversas partes do país sem o menor critério técnico. Isso tornou o campeonato dispendioso e deficitário, e passou a prejudicar agremiações e a própria CBF, pois o inchaço causou um rombo enorme nas finanças da confederação, que desde a década de 70 vinha tendo que arcar com essa atuação governista no seu campeonato.
Até que um dia a vida cobrou o preço. Em 1986 a CBF definiu que pro ano de 1987, o torneio teria uma redução de participantes para 24 clubes, e posteriormente com algumas manobras de bastidores, 28 clubes, que seriam definidos na segunda fase do campeonato de 1986, e não por garantia de grandeza da agremiação.
No entanto, em 1987, o presidente da CBF, Octávio Pinto Guimarães, anunciou que a CBF estava incapacitada de realizar o certame. De modo que ou os clubes arcavam com as despesas, ou ficariam sem atividade nacional aquele ano.
Devido a instabilidade da confederação e com conivência inicial da CBF, os principais clubes do Brasil criaram o Clube dos 13, encabeçado por Carlos Miguel Aidar, Márcio Braga, Nelson Campos e Fábio Koff, mas todos os 13 maiores clubes do país na ocasião foram considerados membros co-fundadores. Criaram o torneio não se embasando em critérios técnicos, mas sim em grandeza de torcida e de conquistas. Desse modo além dos 13 clubes originais, convidaram Santa Cruz, Goiás e Coritiba para participar do campeonato. Porém a CBF começou a questionar o porquê de não haver 32 equipes e sim apenas 16 equipes.
Era tomado o primeiro passo para a libertação do futebol nacional das garras da CBF e possivelmente a criação de uma “Premier League Brasileira”, ao passo que começava ali a primeira contenda com a CBF.
E os patrocinadores viram com bons olhos essa formação da liga de 16 clubes grandes. Através de diretores do Flamengo e do São Paulo que buscaram recursos, empresas como a Varig, Coca-Cola, Editora Abril e TV Globo, que abraçaram a ideia, e o dinheiro do patrocínio dessas empresas cobriam as despesas e geravam lucros aos clubes.
O ESTOPIM
Quando alguns clubes, como Portuguesa, América do Rio de Janeiro, Guarani, Athletico, Ceará, Náutico, Atlético Goianiense, Internacional de Limeira, dentre outros, que tiveram classificação melhor que alguns clubes do campeonato formado pelo Clube dos 13, viram que não estariam no torneio “elitizado”, começaram a pressionar a CBF para confrontar esse torneio.
A partir disso, a CBF passou a criar então seu torneio e tentar por dois meses um acordo com o Clube dos 13 para que os torneios se cruzassem. Módulo Verde (Copa União do C13) e Módulo Amarelo (Campeonato Brasileiro da CBF). Até que Eurico Miranda entrou em cena, e resolveu decidir assinar o regulamento junto a CBF.
Tudo isso ocorreu antes do torneio começar. O que dá certa razão a CBF em declarar o Sport campeão brasileiro, após o Clube dos 13 voltar atrás e decidir não participar do cruzamento de módulos.
CONCLUSÃO
As duas partes têm sua razão em se proclamar campeões. E vou explicar o motivo.
A CBF tinha como costume fazer represálias, ameaças e falar com os clubes com tom altivo, coisa que faz até hoje. A chance do futebol brasileiro e do C13 virar as costas para a CBF era aquela. Pois tinha os maiores clubes brasileiros do seu lado, cotas de TV, patrocinadores, boa vontade de suas torcidas, enfim, finalmente os clubes se tornavam independentes.
Quem começou a querer destruir esse ideal era exatamente quem tinha tudo a perder, a CBF. Começou a palpitar em cima da Copa União, quis ter influência em um torneio o qual ela não tinha o menor direto de opinar. E por fim, milagrosamente passou a se tornar capaz de criar seu próprio campeonato. Irônico né?
Por outro lado, no aspecto técnico, é impossível chamar alguns clubes que ficaram de fora da Copa União do C13 de “times de segunda divisão”. No momento não eram. Vinham bem e tinham ido bem no campeonato de 1986, casos de América, Portuguesa, Inter de Limeira, entre outros.
Resumindo: tínhamos por um lado a oportunidade de fazer um campeonato independente, com as maiores forças nacionais de um lado, e do outro vários times não convidados, que ali eram até melhores do que alguns que foram selecionados para o campeonato de primeira grandeza do C13.
O único vilão dessa história foi a CBF e seus passos tortuosos como sempre. Primeiro por inchar um torneio, motivada por aspectos políticos. Segundo por tentar influenciar membros do C13 a voltar atrás e aceitar imposições da CBF, como Eurico Miranda. Terceiro por se isentar e se inocentar nessa história e querer com atitudes baixas desmerecer a conquista do Flamengo, embora tenha também razão em considerar o Sport campeão nacional, pois ele também não teve culpa.
Você leitor, concordando ou discordando, saiba que existem brechas para considerar qualquer um dos clubes o campeão legítimo de 1987. O que não podemos é isentar a CBF pela obscuridade em suas ações. Flamengo não tem culpa, Sport também não. E são sim, ambos legítimos campeões!
E você, o que pensa?