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Jornalismo

NOVA IMPRENSA ESPORTIVA

por Mateus Ribeiro


A Imprensa Esportiva precisa mudar o quanto antes. Todos nós gostamos de falar e ouvir sobre futebol. Todos nós gostamos de discutir os lances do final de semana na mesa do bar, na hora do café . Todos nós gostamos de assistir os debates futebolísticos, de ler o caderno de esportes dos jornais. Bom, ao menos no passado assistir ou ler qualquer coisa relacionada ao futebol era algo construtivo e prazeroso. Hoje em dia, acompanhar o futebol jogado já e uma tarefa das mais difíceis, principalmente pela baixa qualidade dos jogadores, que além de judiar da bola se comportam feito estrelas do rock e se acham a salvação do futebol. Como se não bastasse, a imprensa esportiva virou um circo. Mas não aquele circo que faz rir, que diverte. Virou um circo dos horrores. Comentaristas sem a mínima graça tentando fazer palhaçada, comentarista que inventa boatos, comentaristas de arbitragem, o modelo dos programas, tudo isso virou a cereja do bolo amargo e indigesto que o futebol se tornou.

Os problemas são gritantes. E sabe o pior? Que o modelo engraçadinho de se falar sobre esporte está virando moda. Óbvio que existe público para isso. E esse público só aumenta. O que muitos comunicadores esquecem é que eles formam opinião. E estão ajudando a criar uma geração com opiniões vazias, e na maioria das vezes rasas, plastificadas e sem o mínimo de embasamento. Chega a ser triste saber que já tivemos Tostão falando sobre futebol na hora do almoço, e hoje vemos um show de piadas sem graça para preencher horário.

Dito isso, podemos falar sobre os comentaristas de arbitragem. Partindo do princípio de que muitos lances são interpretativos, é realmente necessária a opinião soberana de alguém? Quando então notamos que essa opinião foi emitida por um árbitro que durante sua carreira acumulou péssimas atuações, tudo fica pior. Apenas para finalizar, a ideia de transformar em alguém fundamental em uma transmissão uma pessoa que precisa analisar um vt para emitir uma opinião está longe de ser uma boa ideia. Afinal, qualquer ser humano que enxergue e saiba o mínimo das regras do futebol pode opinar.

Outro grande problema que assassina a cada dia mais nossa outrora interessante imprensa esportiva é o fato dos baluartes do microfone decidirem quem é craque e quem não é. Eu não sei qual é o critério que usam para blindar alguns e arrebentar com outros. Tampouco sei qual a razão que inventam um craque por dia, mesmo que esse craque jogue uma partida bem e passe o restante do campeonato sumido. Mas numa dessa conseguiram enfiar na cabeça de grande parte dos torcedores que dois caras com nome de ave são craques. Os maiores exemplos disso são dois jogadores com uma boa técnica. Nada além disso. Mas basta um passe ou um gol em meio a um jejum gigantesco e pronto. Temos o novo Maradona. Nasceu o novo Roberto Baggio. Menos pessoal, bem menos. Não precisamos de falsas promessas. Queremos apenas nos informar. O futuro pé nebuloso. Não existe possibilidade concreta de melhora.

Enquanto isso, continuamos a utilizar a opção de mudar de canal, acessar outro site, ou trocar de jornal. Por enquanto temos essa saída. Mas se as coisas não mudarem, poderemos não ter mais saída. Ou teremos: deixar de acompanhar a imprensa esportiva.

O DEFENSOR DE 50

O jornalismo perdeu ontem um grande mito. Considerado por muitos como o maior repórter da televisão brasileira, Geneton Moraes Neto tinha um estilo peculiar de contar as histórias e foi responsável por entrevistas memoráveis, que só ele era capaz de fazer. Aplicado, frio e sereno, se aprofundava nos assuntos e não dava brechas para os entrevistados.

Sua história no jornalismo, pelo incrível que pareça, começou aos 13 anos, revelando que o sucesso na profissão não foi por acaso. Naquela idade, Geneton publicou o primeiro artigo no Jornal de Pernambuco, região onde nasceu. Daí em diante, o êxito foi questão de tempo.

Tendo passado por importantes veículos de comunicação, ganhou destaque na TV Globo, onde revelou os bastidores da ditadura militar, entrevistou dois militares que bombardearam Hiroshima e Nagasaki, presidentes, líderes religiosos astronautas, entre outras figuras simbólicas.

Apesar de nunca ter sido repórter esportivo, Geneton era apaixonado por futebol e fanático pelo Sport, do Recife. Pela curiosidade sobre a partida que entrou para a história como a mais dramática e mais inesperada derrota sofrida pelos brasileiros em Copa do Mundo, escreveu o livro “Dossiê 50”, onde conta histórias exclusivas dos injustiçados jogadores que perderam a Copa de 50, no Brasil. 

Por isso, entre 1986 e 1987, fez uma expedição atrás dos onze protagonistas daquela tragédia esportiva no Maracanã. Além de entrevista com Alcides Ghiggia, o autor do gol da vitória do Uruguai naquela ocasião. Posteriormente, o livro virou o documentário “Dossiê 50: comício a favor dos náufragos”, que pode ser assistido no vídeo desta matéria.

Além disso, foi responsável também por uma entrevista inédita com PC Caju, padrinho do Museu da Pelada, na qual o ex-jogador revelou que vendeu a medalha do Tri para comprar cocaína.

Sua inquietude diante dos fatos e o foco na apuração eram duas das suas principais virtudes. Durante os mais de 40 anos em que exerceu a profissão com louvor, o jornalista publicou oito livros de entrevistas e reportagens. Costumava dizer que aproveitava sua habilidade durante os papos para transformar as entrevistas em documentos históricos.

Em postagens nas redes sociais, Michel Temer e Caetano Veloso foram algumas das personalidades que lamentaram a morte de Geneton. Enquanto o presidente em exercício destacou o fato de suas reportagens lançarem luz sobre a história do país, o músico ressaltou a lealdade do jornalista, lembrando uma entrevista em que deu brecha para uma interpretação maldosa, mas Geneton não polemizou.

O AVESSO DA VIDA


Há exatos 13 anos, o jornalismo perdia um craque que fez história no Jornal O Dia. Durante quase quatro décadas, Léo Montenegro escreveu crônicas, diárias, sensacionais e divertidas, abordando o cotidiano do Rio de Janeiro, assinada “Avesso da Vida”. A habilidade em escrever era tanta, que Ziraldo chegou a compará-lo com ninguém menos do que Nelson Rodrigues.

Com uma linguagem simples, as histórias se passavam em botecos, trens e, claro, no Maracanã. O futebol era uma de suas paixões: “O craque”, “O goleiro enganado”, “O tal do espírito olímpico” e “O pênalti” foram algumas das muitas colunas hilárias abordando futebol que produziu.

Com o intuito de resgatar a história de Montenegro, considerado um dos quatro melhores cronistas do Rio, o sobrinho Marcelo Ramos, com a ajuda de Lidia Montenegro, viúva do saudoso jornalista, digitalizou grande parte do acervo para transformá-lo em livro. Vale destacar que a obra terá o prefácio escrito por Ziraldo e contará com textos inéditos de Montenegro. Já diagramado, o livro só depende de uma editora para ser publicado.

Recentemente, Marcelo selecionou algumas histórias para o Museu da Pelada. Léo Montenegro merece muito mais do que essa singela homenagem!

Valeu, Léo!!

Confira uma das, aproximadamente, 12 mil crônicas que Montenegro escreveu:

IMPASSE ANTES DO FUTEBOL

Clenérgio inventou a pelada e foi logo sugerindo:

– Vai ser entre casados e solteiros! Portanto, 11 casados pra cá e 11 solteiros pra lá!

Apresentaram-se 10 casados e 12 solteiros, o que complicou a cabeça do Clenérgio:

– A conta não bate! Falta um casado!

– Que tal a gente convidar Seu Ramalhagem? Ele é viúvo! – um gordinho sugeriu.

Clenérgio não topou:

– Não dá, ele tá doente.

Um magricela solteiro:

– Deixem comigo! Eu jogo!

Clenérgio espanou geral:

– Não pode! Pra jogar no time dos casados, só com certidão!

O magricela argumentou:

– Eu trago quando me casar!

Um careca respondeu:

– Vai demorar! O jogo já vai atrasar porque eu, como divorciado, serei o juiz e pedirei um minuto de silêncio pela passagem do avô, há 20 anos!

Clenérgio concordou:

– Viu? Vai demorar muito.

Um baixinho casado:

– Os solteiros não arrumam mulher e atrasam o jogo!

O magricela insistiu:

– Mulher não é problema! Eu quero jogar no time de casados pra me sentir casado!

Clenérgio, impaciente:

– Ai, meus colarinhos!

O careca, com pena, sugeriu:

– Vamos deixar! Ele quer saber qual a sensação de ser casado!

A concessão foi dada, e o magricela bateu um bolão. Depois do jogo, foi ao Clenérgio:

– Adorei ser casado! Você pode emprestas sua senhora pra eu saber mesmo como é ser casado?

Levou uma piaba e foi parar no hospital, onde teve que dizer seu estado civil ao atendente:

– Fui casado durante 90 minutos. Agora, tô solteiro de novo!