“Não se mexa!”, ordenou ‘Seu’ Waldemar para o filho. João, com a bola encaixada nos braços, e sem entender nada, olhava surpreso vendo o pai correr para dentro de casa trazendo ‘Dona’ Geralda pelo braço para mostrar aquela cena em um campinho perto da casa da família Leite.
“Meu amor, veja, João será um grande goleiro!”, exclamou, sorrindo e feliz da vida o então policial militar e segurança do gabinete de Juscelino Kubitschek (1902-1976), governador do estado de Minas Gerais.
“Meu pai foi um grande incentivador da minha carreira de jogador de futebol e um conselheiro por toda a minha vida. É uma cena que até hoje costumo lembrar e sempre me emociona”, disse o deputado estadual João Leite (PSDB-MG) e ex-goleiro do Atlético Mineiro aos repórteres Marcos Vinicius Cabral e Fábio Lacerda do Museu da Pelada, ao voltar no tempo e ver a efusiva alegria de seu pai ao lado de sua mãe.
Mas, se o menino João Leite saiu da Vila Oeste, subúrbio de Belo Horizonte, e com muito esforço, trabalho e fé em Jesus Cristo, tornou-se o jogador que vestiu 684 vezes a camisa do Atlético Mineiro, derrotas e vitórias tornaram-se o pêndulo de uma carreira inesquecível para os atleticanos. Embora, tenha jogado as luvas para a aposentadoria, aos 29 anos, João Leite, provavelmente, será insuperável no que diz respeito a envergar a camisa alvinegra das Alterosas. Seu primeiro título foi aos 21 anos. E daí para frente, cansou de dar volta olímpica no Mineirão.
Segurança, frieza, tranquilidade e uma elasticidade incomum, o camisa 1 atleticano tinha virtudes inesgotáveis embaixo do travessão e atitudes admiráveis fora delas. Adorava surpreender o mundo espiritual e venceu o diabo algumas vezes quando proibido pela Confederação Brasileira de Desportos (CBD) de usar a frase ‘Cristo Salva’ na camisa, passou a distribuir Bíblias antes dos jogos do Atlético Mineiro. Como fez quando defendeu a seleção brasileira, ao distribuir dois exemplares do livro mais lido do mundo para os colegas Harald Schumacher, goleiro alemão e Rodolfo Rodríguez, arqueiro uruguaio. Se os converteu, ninguém sabe, mas a semente fora plantada pelas mãos que tantas vezes defendeu e evitou gols e mais gols de atacantes endiabrados.
“Eles poderiam proibir Jesus na minha camisa, mas jamais seria proibido em ter Jesus em meu coração”, afirmou nesta entrevista o pregador da palavra do Senhor da Primeira Igreja Batista de Belo Horizonte.
João Leite – fã de Chapinha, goleiro do Alvorada do Vila Oeste, de Gilmar, bicampeão nas Copas do Mundo de 58 e 62, a quem sempre ouvia pelo rádio realizando defesas nos jogos, de Mazurkiewicz, Mussula, Careca, Zolini, Renato, este campeão do primeiro título do Atlético Mineiro do Campeonato Brasileiro em 1971 e Ortiz, que foi a grande influência na carreira – chega para ser o 43º personagem do Vozes da Bola.
Afinal de contas, dezembro é o mês do nascimento do menino Jesus de Nazaré, e o mês em que o Clube Atlético Mineiro quebrou um jejum de 50 anos e se tornou campeão novamente do Brasil. Desta vez, em dose dupla, pois o Vozes da Bola crava o título da Copa do Brasil para o Atlético Mineiro.
Por Marcos Vinicius Cabral
Edição: Fabio Lacerda
Segundo mais velho entre cinco irmãos, e filho de ‘Seu’ Waldemar, um guarda civil aposentado e já falecido, e de ‘Dona’ Geralda, uma doméstica, você vem de uma família bem simples da Vila Oeste, periferia de Belo Horizonte. Quais as lembranças que você tem da sua infância?
As melhores. Era um tempo em que podíamos ficar na rua jogando bola o dia inteiro e tínhamos na Vila Oeste, subúrbio de Belo Horizonte, muitos campos de futebol, onde os amadores jogavam. Meu pai era um deles, e quando chegava em casa, ficava me treinando, pois chutava bolas para eu defender. Foi daí que surgiu a paixão pela posição de goleiro e mesmo com uma infância difícil, meu pai era policial militar, ganhava pouco, mas nunca nos faltou nada. Deus nos abençoou muito e conseguimos vencer!
Como foi trocar, aos 15 anos, as aulas no Colégio Dom Silvério pelos treinos nas escolinhas de futebol do Atlético Mineiro e não ter sido aproveitado?
Foi minha primeira incursão tentando jogar no Atlético Mineiro, meu clube de coração. No entanto, não fui bem-sucedido. Insistente, voltaria anos mais tarde para ser aprovado e fazer parte dos juvenis do clube. O Atlético era uma fábrica produtiva de bons goleiros. Nesta época, eu vestia a camisa do Alvorada da Vila Oeste, time que meu pai, primos e tios jogavam. Muito jovem, à época, ficava todo feliz quando meu pai me treinava para que eu pudesse aperfeiçoar os fundamentos na posição. O mais legal de tudo era quando eu chegava em casa e contava com uma riqueza de detalhes impressionante para a minha mãe (risos).
O futebol sempre esteve presente na sua vida e foi jogando no Alvorada da Vila Oeste, time da família, em um campinho de várzea que Waldemar, seu pai, observou a forma como você ‘encaixava’ as bolas. Conte a história de previsão do seu pai que afirmava que você seria um goleiro de muita qualidade. Conte esta história.
Meu pai foi ponta de lança do Alvorada da Vila Oeste, era policial no tempo da guarda civil, e segurança do governador Juscelino Kubitschek, que viria a se tornar presidente da República. Quando chegava do Palácio da Liberdade, onde realizava a guarda do governador, ele vinha com aquela farda azul bonita, retirava do corpo, guardava com extremo cuidado, colocava um calção, e mesmo cansado, ia me treinar em um campinho perto de casa. Ele chutava e eu ficava defendendo. Um dos chutes foi difícil para defender e eu encaixei a bola. Meu pai se surpreendeu porque esperava que eu fosse dar rebote ou ‘bater roupa’. Lembro como se fosse hoje! Quando eu caí com a bola no chão, ele me olhava perplexo e em seguida ordenou: “Não se mexa!”, e saiu correndo para dentro de casa trazendo minha mãe pelo braço e com muito entusiasmo mostrou aquela cena. Eu permaneci ali, olhando os dois sem entender nada com a bola encaixada e ele falou de forma profética apontando para mim: “João será um grande goleiro!”. Foi uma cena emblemática e memorável. Sempre me emociono ao lembrar deste momento.
Como foi sua chegada ao profissional como goleiro do Galo, aos 21 anos, em 1976?
Subi para ser o quarto goleiro da equipe profissional. Ou seja, eu era a última opção. Era muito jovem, mas não me restava outra coisa a fazer que não fosse treinar. E treinei. E treinei muito duro. De repente, o Atlético contrata o argentino Ortiz que vinha de uma escola respeitadíssima nos anos de 1970. Com ele, confesso que aprendi e me ajudou muito. Quando ele foi emprestado para o Comercial de Ribeirão Preto, eu assumi a titularidade. Para se ter uma ideia, desse time, nove jogadores eram da base do clube, e isso foi bom, porque eu já conhecia os jogadores treinados pelo Barbatana, nosso treinador da base, e depois pelo Telê Santana da equipe principal.
Ainda em 1976, você assumiu a camisa 1 substituindo o argentino Miguel Ángel Ortiz, machucado, e se tornou um dos destaques do time que acabou sendo vice-campeão Brasileiro invicto. Quais as recordações que você tem daquele time e o que você acha que faltou para o título?
O Telê saiu e o Barbatana assumiu o comando do Atlético Mineiro. Surgiu a oportunidade de jogar numa equipe formada por amigos. Foi um time impressionante e eu costumo brincar que aquele Atlético Mineiro era para ser multado por excesso de velocidade (risos). Infelizmente, foi um ano difícil para nós, jogadores, porque terminamos o Campeonato Brasileiro daquele ano invictos, com a defesa menos vazada, tendo Reinaldo como artilheiro da competição e fomos derrotados pelo regulamento. Sim, pelo regulamento! Fomos para uma final contra o São Paulo, empatamos no tempo normal, e na prorrogação. Perdemos nas cobranças de pênaltis. No mundo inteiro, desde sempre, os campeonatos são de pontos corridos e aqui no Brasil, historicamente, alguns clubes foram prejudicados e acabaram não sendo premiados e merecedores do título por ter mais pontos e ser mais regular como foi o nosso caso.
Como surgiu o apelido ‘Goleiro de Deus’?
Foi um sonho que Deus colocou em meu coração, quando entreguei minha vida para Jesus ainda jovem, aos 21 anos. Senti que era um chamado de Deus em minha vida e dava bíblias aos meus companheiros para que eles pudessem conhecer um pouco da palavra do Senhor. Não satisfeito, coloquei na minha camisa a frase “Cristo Salva”, copiando os dizeres que o ex-piloto Alex Dias Ribeiro também colocava no carro dele de Fórmula I. Neste período, a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) proibiu a frase na camisa em que eu utilizava nos jogos. Lembro até hoje da entrevista que dei para a imprensa em que um dos repórteres me perguntou: “João Leite, o que você vai fazer já que proibiram Jesus na sua camisa? Eu respondi: “Eles podem proibir Jesus na minha camisa, mas jamais seria proibido de ter Jesus em meu coração!”. Então, comecei a distribuir bíblias dentro de campo para os meus adversários.
Sabemos que ao lado de Baltazar, o ‘Artilheiro de Deus’, você é considerado o criador do grupo dos Atletas de Cristo. Como se deu sua conversão e como surgiu a ideia de criar o grupo religioso no futebol?
Em 1979, eu conheci o Baltazar, ‘Artilheiro de Deus’, numa viagem que o Atlético Mineiro fez ao Rio Grande do Sul. Ele me ligou e marcamos um encontro, e nesta ocasião, ele falou do amor por Deus. Em seguida, conheci Eliana Aleixo, capitã da seleção brasileira de voleibol na Olimpíada de Moscou, em 1980, e que se transformou no amor da minha vida. Foi com ela, com o Baltazar e com outros atletas que demos início ao ‘Atletas de Cristo’ que permanece até hoje e está em 70 países. Para ter uma ideia do que estou falando, Portugal, é hoje, o país com mais seguidores de Jesus. E para honra e glória de Deus, o ‘Atletas de Cristo’ é um movimento que começou lá atrás e continua cada vez mais sendo expandido pelo mundo todo.
É verdade que você foi o primeiro evangélico a entregar uma Bíblia Sagrada ao goleiro adversário, antes do início dos jogos, e outras duas para os reservas? E que você parou com a iniciativa quando o massagista do Cruzeiro jogou um dos exemplares na cabeça de um bandeirinha que teria marcado impedimento inexistente durante um clássico entre o Galo e a Raposa, em 1978, no Mineirão?
Verdade. Fui um dos primeiros a entregar Bíblias para adversário. Fiz isso, inclusive, na Argélia, onde o Islã é a religião predominante. Teve uma vez em que eu pedi aos jogadores do Atlético Mineiro, mesmo não sendo seguidores de Jesus, para distribuírem bíblias para o adversário em uma partida na Romênia. Tudo isso foi importante, não para engrandecer o João Leite, mas sim o senhor Jesus, digno de toda honra e adoração, entende? O mais legal disso tudo é saber que alguns daqueles jogadores que eu dei uma bíblia como presente, hoje, estão servindo a Deus, como é o caso do Ivan, ex-jogador do Cruzeiro, que recebeu uma bíblia, em 1984, e veio falar comigo após eu ter pregado em uma igreja na cidade de Formiga, interior de Minas Gerais, onde havia sido batizado. Há dois anos, fiz uma live, e o Luiz Antônio Toledo, ex-goleiro do Cruzeiro e do São José do Rio Preto, mostrava a Bíblia que eu dei a ele há anos. Recentemente, ele partiu, mas estava na presença do Pai e isso nos conforta saber. Sobre este episódio foi interessante o que aconteceu naquele dia. Eu dei uma Bíblia para um jogador do Cruzeiro e vi que ele entregou para o massagista e este levou consigo para o túnel e colocou no banco de reservas. Na frente deste túnel havia o bandeirinha e vi quando ele assinalou impedimento no gol do centroavante Roberto Cézar, se não me engano. Um dirigente do Cruzeiro, chateado com a anulação do gol, jogou um objeto que acertou em cheio na cabeça dele. Era a Bíblia. No intervalo, alguns repórteres começaram a catar as folhas que ficaram espalhadas pelo gramado. Mas tudo ficou bem e depois de alguns dias, dei a este mesmo jogador outra Bíblia., já que o massagista arremessou na cabeça do bandeirinha.
Você chegou a ser convocado algumas vezes por Telê Santana, então, comandante da seleção brasileira. No Mundialito do Uruguai, de 1979 para 1980, você foi o goleiro titular naquela competição em que o Brasil foi vice-campeão ao perder a final para o Uruguai. Podemos dizer que foi seu melhor momento com a camisa amarela?
O primeiro treinador a me convocar foi o Cláudio Coutinho, em 1979. Depois, o Telê Santana assumiu e me deu a oportunidade de substituir o Carlos que se contundiu no empate por um gol contra a Argentina. Em seguida, permaneci nos jogos no Mundialito na vitória contra a Alemanha por 4 a 1, e na derrota para o Uruguai por 2 a 1 na final. Esse foi o meu melhor momento com a camisa da seleção, mas acho que fui infeliz na preparação para as Eliminatórias da Copa do Mundo de 1982 em que ficamos 30 dias na Colômbia e eu fraturei a mão. Posteriormente, acabei sendo cortado e não voltei mais a jogar pela seleção do meu país. Mas acho que os três goleiros que o Telê escolheu foram boas, pois o Waldir Peres, Carlos e Paulo Sérgio viviam grande momento em seus clubes.
Na década de 1980, você perdeu as contas de quantas vezes o Atlético-MG foi prejudicado pela arbitragem?
É verdade. Confesso, que apesar dos recursos que a tecnologia nos permite, até hoje, eu não consigo rever alguns jogos em que fomos prejudicados pela arbitragem. As semifinais do Brasileiro de 1980, o jogo contra o Flamengo em que tivemos cinco jogadores expulsos na Libertadores de 1981 com José Roberto Wright sendo o juiz daquele confronto. A partida contra o Coritiba em que a bola entrou e o gol acabou sendo anulado em pleno Mineirão, nas semifinais do Brasileiro, em 85, foram algumas das injustiças cometidas contra o Atlético Mineiro.
Se você foi bem no Mundialito, e já era treinado pelo Telê Santana, a sua não ida à Copa da Espanha, podemos dizer, foi a maior frustração na carreira?
Pois é, fui bem no Mundialito, mas não fui tão bem assim em um jogo contra a Colômbia que era preparativo para a Copa do Mundo… Minha performance não foi a almejada e o Waldir Peres acabou sendo titular, que era muito bom goleiro, diga-se de passagem. E houve também o episódio da fratura da minha mão e acabei sendo cortado. Mas o interessante é que fui em uma partida contra a Venezuela, reserva do Waldir Peres, mesmo com a mão quebrada (risos). Quando terminou o jogo, o Marola, então, goleiro do Santos, foi chamado para o meu lugar. Mas o Brasil foi bem representado na Copa da Espanha e foi um pecado que aquele timaço não tivesse uma sorte melhor em gramados espanhóis. Maior frustração não foi não ter ido à Copa do Mundo, mas sim a derrota na final do Campeonato Brasileiro de 1977, que fora decidido em 5 de março de 1978 contra o São Paulo. Nossa equipe era invicta, o Reinaldo era o artilheiro da competição, nossa defesa a menos vazada, dez pontos à frente do nosso adversário, e mesmo com tantos atributos, ficamos pelo caminho. Então, ser vice-campeão, foi a minha maior frustração em toda carreira.
É verdade que você foi expulso uma única vez em toda sua carreira na vitória por 2 a 1 contra o Araguari-MG, ao tentar evitar uma agressão ao lateral Alves e, sem querer, acertou um soco em um diretor do clube adversário?
Em toda a minha carreira fui expulso apenas uma vez, exatamente, nesta partida entre Atlético Mineiro e Araguari, em que tentei proteger o nosso lateral-direito Alves de ser agredido. Foi assim, o Alves fez uma falta dura no ponta-esquerda adversário, e na inocência, ficou de costas para o banco do Araguari. Coisas de futebol! Os jogadores e todos os membros da comissão técnica invadiram o campo para agredi-lo. Sendo que um diretor foi o primeiro a tentar bater no Alves e quando vi, corri ficando no meio deles, tentando evitar a agressão gratuita. Eu o contive com o peito e ele tentando acertar o Alves que se escondia atrás de mim, e o árbitro mineiro, Avilmar Gaspar dos Reis, enérgico e muito bom juiz, entendeu que eu não deveria me envolver naquela confusão e me deu cartão vermelho. Até hoje, passado tanto tempo, discordo daquela expulsão, e se eu não fizesse o que fiz, o Alves seria agredido por aquele diretor do time adversário.
Você esteve em campo em um dos jogos mais polêmicos da história do futebol mundial que foi o confronto entre Atlético-MG e Flamengo no dia 21 de agosto de 1981, no estádio Serra Dourada, pela Copa Libertadores. O que você tem a dizer sobre aquele jogo e sobre a arbitragem de José Roberto Wright?
Aquele jogo realizado no Serra Dourada deixou uma tristeza muito grande, não apenas em nós, jogadores, mas principalmente, na nossa torcida. Aquilo foi marcante, pois tratava-se de um jogo extra que decidiria o Grupo 3 da Libertadores de 1981. O que me impressionou foi a Confederação Sul-Americana ter escalado um árbitro carioca para o jogo tendo árbitros bolivianos, argentinos, peruanos, paraguaios, uruguaios, chilenos, gaúchos, paulistas, baianos, sergipanos à disposição. Enfim, uma péssima escolha! Para se ter uma ideia do que estou falando, o avião que partiu do Rio de Janeiro para a cidade de Goiânia, trouxe a delegação do Flamengo e o Wright, até então, árbitro da Federação Catarinense. Sentimo-nos muito prejudicados, e se você rever o jogo, vai notar, lamentavelmente, um Wright visivelmente alterado dentro de campo. Foi uma tristeza enorme para o futebol brasileiro o que aconteceu naquele 21 de agosto de 1981.
Na Copa União de 1987, o Flamengo novamente cruzou o caminho do Atlético Mineiro e a equipe comandada por Zico saiu vitoriosa em um grande jogo por 3 a 2. Quais as suas recordações daquela partida?
Com Telê Santana no comando da equipe atleticana, chegamos bem-preparados para conquistar a Copa União de 1987. Nossa time era muito qualificado e com valores individuais muito bons. Naquele confronto contra o Flamengo, na semifinal, estávamos invictos até então, e nosso destino foi decidido em dois jogos muito difíceis. Fomos muito bem na derrota por 1 a 0 no Maracanã, e no jogo de volta, no Mineirão, com 30 minutos de jogo, o Paulo Roberto, nosso lateral, foi expulso. Mas nada a reclamar daquele jogo, já que sabíamos que o Flamengo tinha uma grande equipe com excelentes jogadores. Mas volto a afirmar que, mais uma vez, o regulamento do Campeonato Brasileiro não premiava as equipes mais regulares como era a nossa que ficou pelo meio do caminho.
Quem foi o goleiro que foi sua fonte de inspiração no futebol?
Foram vários! Desde o Chapinha, goleiro do Alvorada do Vila Oeste, que acompanhei desde a infância, passando pelo Gilmar, goleiro bicampeão nas Copas do Mundo de 58 e 62, quando ouvia no rádio as defesas que ele praticava nos jogos, o Mazurkiewicz, Mussula, Careca, Zolini, e Renato, campeão em 1971 do Campeonato Brasileiro. Mas o Ortiz, esse foi especial, e uma grande influência na minha carreira, pois era de uma escola respeitável. Ele passou ser minha grande influência, sem dúvida!
Como o goleiro João Leite se sente sendo o recordista de títulos mineiros e o jogador que mais vestiu a camisa do Atlético em 684 oportunidades: venceu 11 vezes o campeonato estadual, além de participar da conquista da Copa Conmebol de 1992?
Muitas pessoas falam que, hoje, o futebol, é melhor, que o jogador ganha muito mais dinheiro e cada vez mais cedo faz sua independência financeira. Mas eu não troco nada do que vivi no futebol. Vestir a camisa 1 do time do meu coração, conquistar os títulos, fazer jogos inesquecíveis e entrar para história do Atlético Mineiro, é um orgulho e uma honra muito grande.
Você defendeu o Vitória de Guimarães, de Portugal, o Guarani e o América-MG. Como foram essas passagens em sua carreira?
Não posso dizer que a minha passagem por Portugal foi boa, pois naquela época, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a Federação de Portuguesa de Futebol (FPF) haviam rompido relações e brigado em virtude da não liberação do Valdo, atleta do Benfica para disputar as Olimpíadas de Seul, em 1988. Nisso, a CBF, em represália, não permitia a minha transferência para o Vitória de Guimarães. E quando ocorreu, em virtude de uma séria lesão, acabei atuando pouco no clube português, onde havia o excelente Neno – in memoriam. Na volta ao Brasil, no Guarani, apesar do belo time, não posso considerar uma boa passagem também, já que fui reserva do bom goleiro Sérgio Neri. E no América Mineiro, o Procópio com o Heleno, preparador físico, me convidaram e aceitei o desafio. Foi especial essa minha passagem no clube em que teve uma geração fantástica comigo, Palinha, Ronaldo Luiz, Gutemberg, Euller e outros bons jogadores contratados a pedido do Procópio como Éverton e Jatobá. Mas foi legal também a conversão dos meninos, já que 17 atletas se renderam a Cristo e muitos são amigos e se tornaram grandes pregadores da palavra.
Seu falecido pai previu que você seria um grande goleiro. E agora, o que você prevê para o seu filho, o goleiro Helton Leite, que joga na Europa, no Benfica?
Essa previsão do meu pai me deixou muito emocionado e agora com meu filho Helton Leite, a emoção é a mesma. Helton, meu filho, é um grande goleiro. Recentemente, o Benfica o comprou do Boavista, e ele me ligou e falou: “Papai, o número da minha camisa vai ser 77, em homenagem ao meu avô, que morreu com 77 anos!”. Bonita homenagem!
Como você vê este título de campeão brasileiro do Atlético Mineiro?
Muita alegria. Foi criada uma expectativa muito forte em Minas Gerais, e em todo o Brasil com esta conquista do Galo, né? Foi um título muito merecido e buscado há anos em várias finais de Campeonatos Brasileiros disputadas e sempre batendo na trave. Para mim, como ex-jogador deste imenso clube e que estive em muitas outras tantas decisões, é uma alegria imensurável, não só para mim, mas para a torcida do nosso querido Atlético Mineiro.
Como tem enfrentado o isolamento social por causa do coronavírus?
Tenho cuidado não só da minha saúde, mas da minha família em geral, já que tenho filhos e quatro netinhos. Todos presentes na igreja e estamos assistindo aos cultos de maneira remota. Tomei as duas doses da vacina. Levamos a sério o cuidado, e apenas o Helton, lá em Portugal, teve Covid-19, já que minhas filhas – uma inclusive mora no Canadá com marido e filhas – não tiveram. Curioso, foi que o Helton, antes de um jogo, testou negativo e depois positivo. Mas ele superou bem e venceu a doença.
Como você definiria João Leite em uma única palavra?
Um homem medroso, e ao mesmo tempo, forte por estar na presença do Senhor Jesus.