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Israel Cayo Campos

DOIS ANOS DE UMA TRAGÉDIA

por Israel Cayo Campos


Dia 28 de novembro completamos dois anos do voo 2933 da LaMia que se acidentou na região de “El Gordo” na Colômbia, e que acabou por ceifar a vida e os sonhos de 71 dos 74 passageiros. Dentre esses estava a delegação da Associação Chapecoense de Futebol, a nossa querida “Chape”, que se preparava para o maior desafio de sua curta, porém vencedora, existência. Uma final de um torneio Sul-americano contra o atual campeão da Libertadores da América, o também verde e branco Atlético Nacional.

Uma tragédia esportiva brasileira que parou o mundo que eu me recorde, só em 1994. Quando em apenas 13 dias perdemos o Craque Dener, que poderia ter sido um gênio da bola se não fosse o triste acidente de carro no dia 18 de abril, e Ayrton Senna, maior esportista brasileiro em atividade, ídolo máximo com status de herói nacional, que acabou perdendo sua vida na fatídica Curva Tamburello em Ímola na Itália no dia 01 de maio do referido ano. Mas mesmo esses dias negros não se comparam ao que aconteceu naquela noite de 2016.

Não me cabe elencar culpados pelo ocorrido, mas quero homenagear todos que perdemos naquele fatídico voo. Pessoas que tinham uma vida toda pela frente. Pais de família! Seres humanos que não só comoveram o país, como o mundo todo. Se tratando do aspecto esportivo, essa foi e rezo para que seja eternamente, a maior tragédia ocorrida no país.

Ananias, meio campo da Chapecoense. Quem não se lembra da piada “Ananias Parque”? Por ele ter sido o autor dos dois primeiros gols da Arena do Palmeiras? Arthur Maia, de quem eu particularmente recordo atuando com a camisa do América de Natal (minha cidade), onde teve uma grande passagem, inclusive eliminando o Fluminense da Unimed em 2014 em pleno Maracanã pela Copa do Brasil com um expressivo 5 a 2 aplicados.


Bruno Rangel, um jogador rápido e goleador que tinha feito a maior parte de sua carreira no mundo árabe. Aílton Canela, um garoto que ganhava sua primeira chance em um clube de Série A. Cleber Santana. De um time formado com jogadores desconhecidos da grande mídia, era talvez o de mais “nome”. Entre Santos, São Paulo e Flamengo, também tinha passado algumas temporadas no Atlético de Madrid da Espanha.

Dener, que ainda tentava se firmar no futebol após passagem pelo Grêmio. Danilo, o goleirão que contribuiu demais para a vaga na final daquele torneio com defesas milagrosas em todas as partidas. Inclusive contra o tradicional San Lorenzo da Argentina nas semifinais. Ele já possuía 31 anos. Mas só naquele momento ele alcançava o auge e o reconhecimento por anos de trabalho duro em clubes menores. Filipe Machado e Sergio Manoel: Como gostaria de ter visto mais vocês em campo para tecer memórias importantes sobre suas promissoras carreiras.

Matheus Biteco. Formado no Grêmio, já havia visto alguns de seus jogos pela Seleção Brasileira sub-17 e sub-20. Junto com o irmão Guilherme, eram tidos como grandes promessas do futebol brasileiro, aos 21 anos não deu pra saber! Gimenez e Lucas Gomes. Dois jogadores formados no celeiro de craques do interior paulista, também estavam no auge de suas carreiras.

Kempes. O goleador do time no ano, com sua cabeleira cheia de estilo. Já tinha algumas passagens por outros clubes como o América de Minas Gerais. O volante Gil, o garoto Thiaguinho, e o volante Josimar, que teve passagem pelo Palmeiras.


O zagueiro Thiego, mais um formado pelo Grêmio, e que teve sua melhor fase no rival Figueirense. Marcelo, o jovem zagueiro que vinha se destacando na Sul-Americana. E Mateus Caramelo, formado no São Paulo, e que estava recuperando seu bom futebol exatamente na equipe da Arena Condá.

Além dos jogadores a comissão técnica: Caio Jr. Que antes de ser um técnico de respeito fora um atacante de destaque principalmente no Paraná Clube, na época que o mesmo estava na melhor fase de sua história. Com muitos títulos no mundo árabe, um Campeonato Baiano pelo Vitória e boas passagens por clubes como Palmeiras e Botafogo, o título da Sul-Americana seria o divisor de águas na carreira do técnico dentro do futebol brasileiro. Além de Caio, foram o auxiliar técnico Duca, o médico Márcio Koury, e o preparador físico Anderson Paixão, filho do famoso preparador da Seleção Brasileira Paulo Paixão. Todos deixando família e a sensação de que profissionalmente estavam a viver o melhor momento de suas vidas.

Além dos jogadores e da comissão técnica, os membros da imprensa que foram cobrir aquela final. Pessoas as quais estava acostumado a ver em minha casa até mais que os jogadores da Chape, pois estavam todos os dias a apresentarem seu trabalho para nós telespectadores.

É o caso de Deva Pascovicci, narrador da Fox Sports que começou na extinta TV Manchete (Na TV), e que ficara bastante reconhecido principalmente do pessoal de fora do sudeste brasileiro pela emocionante narração naquela semifinal contra o San Lorenzo, onde o “Espirito de Condá” esteve presente. Com ele partiram também o câmera Rodrigo Santana e o coordenador de externa Júnior Lilácio, este último descrito por seu companheiro de emissora Oswaldo Paschoal como tão dedicado e competente, que até subir em árvores para por um sinal de qualidade para os assinantes do canal ele fazia sem reclamar.


Ainda da Fox, três das figuras que mais senti a perda no meu dia a dia… Victorino Chermont, o Vitu… Repórter e comentarista acompanhava seu trabalho desde que o mesmo ainda era o “repórter carioca” da TV Bandeirantes, em seguida passando pelo grupo Globo e depois sendo o repórter América da Fox Sports, acompanhando todos os times brasileiros nos torneios disputados no continente. Sobre ele uma passagem muito comovente do colega Fábio Sormani. Que em uma conversa pessoal com Vitu ouvira (ou leu) do mesmo que se ele fosse antes, queria que um garçom que sempre o servia muito bem carregasse o caixão. Emocionado, Sormani fez o pedido ao mesmo que se estivesse vendo o programa, fosse ao enterro do mesmo prestar essa homenagem. Se o garçom em questão foi, não sabemos, mas que as tiradas inteligentes do rubro negro Victorino fazem falta… Há como fazem…

Paulo JulioClement. Lembro-me de acompanhá-lo via Facebook em seus comentários. O conheci enquanto jornalista com ele já na Fox. Mas o torcedor do Fluminense era bom em tudo que fazia. De edição ou como comentarista. 

Mario Sergio Pontes de Paiva. Admito, até ele trabalhar na Fox o achava um treinador (já peguei essa fase dele) muito arrogante! Como comentarista também tinha coisas que me desagradavam muito. Mas ao ir trabalhar no Fox Sports Rádio, que hoje é líder de audiência dos programas esportivos (e não estou fazendo jabá, rs), comecei a ver outro lado daquele Mario, que fora um craque de bola, campeão do mundo pelo Grêmio, campeão várias vezes pelo Internacional, pela máquina tricolor de meados dos anos 1970 do Fluminense, e até campeão com o meu São Paulo. Um lado humano, engraçado, sincero, mas sem perder a doçura. Como disse o ex-colega de clube Leão (o ex-goleiro), O Mario Sergio estava passando pela fase mais doce e serena da vida dele.


Dono de um amor por apostas em cavalos e um vício de limpar seus próprios óculos, Mario era garantia de meus risos certos quando participava do programa. E mesmo sendo campeão nos dois grandes do Rio Grande, me acabava de rir com as provocações que fazia ao Grêmio e também ao Internacional… “Tudo no Inter se pergunta lá no Posto Ypiranga antes de se tomar uma decisão dizia ele”, em referência ao ex-presidente colorado Fernando Carvalho. Mas tão grande era o amor pelo clube, que o mesmo fez uma aposta impossível de publicar aqui com o apresentador Benjamin Back se o Internacional aquele ano fosse rebaixado… O Inter acabou sendo rebaixado, mas Mario malandro que sempre foi, se despediu desse mundo antes para não precisar pagar a aposta! Infelizmente Mario Sergio…

Além deles, ressalto outros jornalistas que não conhecia, mas que com certeza tinham um grande futuro em sua profissão: Os repórteres Guilherme Marques e Giovane Klein, o câmera Ari Junior, o produtor Guilherme Laars todos da Rede Globo. O repórter André Podiacki do Diário Catarinense. O cinegrafista Djalma Araújo da RBS, o repórter Renan Carlos da Rádio Oeste Capital, LaionEspíndula, setorista da Chapecoense para o Globo Esporte, Gelson Galiotto narrador da Rádio SuperCondá, Ivan Carlos e Edson Luiz, ambos da mesma rádio! Fernando Schardong e Douglas Dornelles da Rádio Chapecó e JacirBiavatti da Rádio Vanguarda FM.

Além deles, também devemos citar o piloto Miguel Quiroga, RomelVacaflores (assistente de voo), Ovar Goytia, Arias Alex e Gustavo Lugo. Mesmo passado dois anos, alguns menos outros mais, mas todos deixam saudades, principalmente aos respectivos familiares.

Vale ressaltar em toda essa tragédia o lado humano. O apoio do povo colombiano nas buscas e nos cuidados com os corpos. O fato do Atlético Nacional abrir mão de qualquer vaidade e ceder o título daquele torneio a Chapecoense, as comoções pelo mundo todo de jogadores da mais alto garbo aos seus colegas de profissão, o sentimento único de que antes de nacionalismos somos seres humanos, brasileiros e colombianos nunca se gostaram tanto e que seja assim para sempre! Que não se precise outra tragédia para nos unir. Até eu que estava bravo com o Atlético Nacional por ter tirado o meu São Paulo das semifinais da Libertadores, se tenho um time internacional para quem torço incondicionalmente hoje, esse time é o Atlético Nacional de Medellin.

Vale ressaltar também o velório da Chapecoense. A força da mãe do goleiro Danilo ao abraçar um repórter que não aguentava a perca de seus colegas de profissão. Dona LLaides Padilha é a prova clara de que o filho batalhador e vencedor não foi por acaso. O grande capitão do Barcelona Charles Puyol, que fez questão de participar do cortejo, Ao Barcelona que fez um amistoso com a Chape com o objetivo de ajudar no reerguimento do clube (Que na minha torcida pessoal não cairá a segunda divisão esse ano!), E até a Galvão Bueno, o tão criticado Galvão Bueno… Que consegue nos passar emoção de um título mundial no futebol. Assim como transmitir uma tragédia inesquecível como essa da maneira mais humana e verdadeira possível.


Mas como milagres acontecem! Até mesmo em um momento tão triste como esse, podemos tirar boas notícias! Nesse caso além da já citada união dos povos e até de torcidas rivais que vivem a se digladiarem, também tivemos sobreviventes: Alan Ruschel, que voltou a jogar futebol, e continua a atuar pela Chape. O goleiro reserva Jackson Follman, que perdeu a perna no acidente mas que hoje é comentarista e que afirmou a pouco tempo ter feito dois anos que nasceu de novo. O zagueiro Neto, o último a ser salvo entre as ferragens, mas que se recuperou e voltou ao futebol e o narrador da Rádio Oeste Capital FM Rafael Henzel, que narrou o “jogo da amizade” entre Brasil e Colômbia ao lado de Galvão Bueno. Lançou um livro contando sua experiência e voltou a suas atividades de narração pela mesma rádio. Afinal, a vida continua…

Além deles sobreviveram a comissária de bordo Ximena Suárez que hoje atua como modelo e o mecânico Erwin Tumiri, de quem pouco se tem informações. Que todos a partir daquele dia possam ter vidas felizes e em paz! Enquanto aqueles que se foram, a pergunta eterna do ser humano para eles já fora respondida. Entretanto, todos eles nunca serão esquecidos, e nunca sairão não só dos corações dos torcedores da Chapecoense, como de todos nós que amamos futebol! Afinal, todos nós somos efêmeros no tempo e no espaço, mas o que deixamos de legado aqui é eterno. E o desses meninos/homens, ficará guardado enquanto existir esse esporte tão apaixonante.     

FUTURO SOMBRIO

por Israel Cayo Campos


Sinceramente, eu imagino daqui a quatro anos exatos…

Novamente a imprensa lotada de ex jogadores fazendo um bico e aproveitando para usar do corporativismo pra defender as infantilidades dos novos “craques” brasileiros com síndrome de Peter Pan.

E novamente o povo empolgado (esse ano nem tanto!), com uma Seleção que vai arrebentar nas eliminatórias contra seleções de nível muito mais baixo.

Inclusive, xingando com essa nova profissâo virtual (hater), qualquer um, seja da mídia ou não, que esteja a criticar a equipe do técnico/pastor Tite, que como disse Lugano, e todos os haters que caíram de pau nele esse ano, não passa de um encantador de serpentes!

Neymar com 30 anos ainda será nossa grande esperança! Com a blindagem dos “parças” e ainda visto como “menino Ney”, novamente será cotado como craque do torneio, principalmente pela midia e torcida brasileira!


E novamente nossa soberba de achar que somos os melhores, e que qualquer um que não seja daquele seleto grupo de campeões mundiais mais de uma vez (até excluindo o Uruguai), não tem capacidade de nos desafiar, fará chegarmos de amistoso em amistoso, com futebol burocrático e sem vibração como favoritos ao tão sonhado hexa…

Talvez até um novo título olímpico que ninguém mais liga no futebol ainda corrobore para essa falsa ideia de supremacia… E aí novamente passamos de fase em um grupo fraco rumo às oitavas de final…

Com mais uma geração de jogadores que nem em seus clubes europeus são titulares, continuamos achando que somos favoritos! Passamos até as quartas de final. Festa do Olodum caso Galvão ainda seja o narrador da principal emissora do país… E enquanto vencemos, somos os melhores, e ai daqueles jornalistas, ou conhecedores de futebol que ousem criticar as vitórias suadas e mal jogadas da amarelinha.

Novamente chegaremos a uma quarta de final ou semifinal como favoritos! O menino Ney enfim vai ganhar o prêmio de melhor do mundo após anos de frustrações e “injustiças”. Até porque ele superou Pelé em número de gols com a camisa da Seleção. Pouco importa que mais de 70% desses tentos sejam em amistosos caça níquel e jogos de eliminatórias da baba do boi… O Hexa virá e novamente. Calem a boca os abutres que só sabem falar mal de nosso jogo enfadonho, robotizado ao estilo europeu antigo, e de vitórias com o placar mínimo… Vitória é vitória, não é?


Aí pegamos uma seleção europeia de peso… Nos últimos 16 anos só não apanhamos para a Itália, Inglaterra e Espanha… Perdemos o jogo! Volta a realidade, novamente o país do futebol vira mero coadjuvante da festa europeia!

Os jogadores não dão satisfação alguma, vão se esconder em suas mansões na Europa e talvez no continente asiático. E todos que diziam para calarmos a boca, como fora nas últimas quatro Copas do Mundo, também começarão a xingar jogadores, comissão técnica, a televisão transmissora e até a CBF, que ouvi de algum Pé de Uva ser o Brasil que deu certo…

E assim como foi com o Uruguai com o passar das décadas do século passado, vamos nos apequenando diante dos gigantes europeus… Quando percebermos, já vai ser tarde demais! Já serão novos 24 anos sem o gostinho de ser o melhor do mundo. E esses 24 podem se tornar 28, 32, 36, 40…


Nesse ínterim, vamos tentar recuperar nosso futebol moleque. O mesmo que nos tornou pentacampeão do mundo! Mas ao primeiro insucesso, novamente vamos “fechar a casinha” e voltar a jogar o futebol de resultados em amistosos.

Esquecemos o nosso jeito de jogar futebol. Vamos nos prender a “zoar” os argentinos por termos mais Copas do Mundo que eles! Embora não seremos mais o maior vencedor do torneio…

Mas aí quem vai se importar? O esporte mais amado do Brasileiro será algum jogo online inventado por uma transnacional americana. O nosso futebol aos poucos vai morrendo a cada perda de identificação e ao mesmo tempo de criticidade que deixamos de ter com nossa Seleção.


Aqueles que repudiam os que repudiam esse futebol sem protagonismo que apresentamos atualmente não sabem o mal que fazem ao futebol. Aliás. Sempre descobrem, quando somos eliminados de uma Copa sem jogar absolutamente nada! Uma pena…

Espero que essa projeção tão nefasta para o futuro da Seleção Brasileira e do futebol brasileiro que faço esteja totalmente errada! Mas ela se baseia naquilo que vejo no presente, nos últimos 16 anos ao menos! Só que ao contrário de quando passamos 24 anos sem ganhar da primeira vez, ninguém é bobo de afirmar que nesse meio tempo ainda praticamos o melhor futebol do mundo. Ao menos em períodos que antecedem as Copas do Mundo!

Ou o Brasil e os brasileiros baixam a bola e começam a ter a humildade de tentar recuperar seu estilo de jogo, sem ficar copiando o futebol europeu, ou vamos nos acostumar a observar outras seleções nos deixando para trás por usarem aquilo que elas têm de melhor!


Enquanto nos enganamos pensando a cada quatro anos sermos os melhores e só perdermos por puro azar. O pachequismo exacerbado irá nos afundando num buraco sem fundo.

Mas parece que o hiato de títulos de 1970 a 1994 não ensinou nada aos brasileiros (o que não é surpresa alguma dado ao desinteresse do brasileiro por história), só que dessa vez o hiato além de mais longo pode significar algo bem pio: que será tarde demais para o nosso futebol.

O BONDE DE 200 CONTOS

por Israel Cayo Campos


200 contos de réis…Convertendo para valores atuais aproximados teríamos em torno de 200 mil reais. Um salário considerado baixo para contratações de clubes de grande porte atualmente. Mas em 1942 era uma verdadeira fortuna! A maior contratação da América do Sul até aquele ano. Assim chegava na estação do Brás em São Paulo, recepcionado nos ombros por mais de dez mil paulistanos, o maior jogador da história do futebol brasileiro até então. Leônidas da Silva.

Voltando um pouco no tempo, chegamos a um período em que ser jogador de futebol ainda era algo malvisto pela sociedade. Nessa cronologia, um jovem garoto negro, morador do bairro de São Cristóvão, enquanto ajudava seu padrasto nos afazeres de um bar, sonhava em reinar nos gramados do Rio de Janeiro.

Como todo garoto pobre, jogava suas peladas nas já inexistentes praias de uma cidade que se transformou por completo. Com o tempo, o garoto virou funcionário de uma fábrica de vidraças intitulada “Light”. Mas o verdadeiro sonho daquele rapaz de gênio forte estava longe do proletariado fabril. Leônidas logo deixaria o futebol com os companheiros de fábrica para atuar no São Cristóvão em 1929, e logo em seguida defender o Clube Sírio Libanês.

Desse período quase não existem informações da passagem daquele que viria a ser conhecido como “Diamante Negro”, a não ser que após o encerramento das atividades futebolísticas do Sírio, o então técnico do clube Gentil Cardoso foi contratado pelo Bonsucesso Futebol Clube e com ele levou Leônidas para atuar no time da região Leopoldina carioca. O futebol ainda era amador, mas ali, começava a aparecer no cenário mundial a figura de um gênio da bola.


No Bonsucesso, ao lado de seu maior parceiro de ataque, Gradin, Leônidas marcou 55 gols em 51 em jogos. Uma média de gols superior a um por partida! Mas o mesmo talento que tinha para balançar as redes, possuía para arranjar encrencas. Sendo até antes de Heleno de Freitas, considerado um craque problema! Sofrendo com acusações de roubos de joias e até de galinhas, além de suas supostas exigências “artísticas” para entrar em campo.

O ônus valia a pena! E jogando pelo modesto clube ainda em 1932, Leônidas já era convocado para defender a Seleção Brasileira contra a atual campeã do mundo, a seleção uruguaia! Em pleno Estádio Centenário em Montevidéu pela Copa Rio Branco. O resultado seria de pura euforia para os brasileiros! Uma vitória na casa do adversário por 2 a 1. Com os dois tentos brasileiros marcados por Leônidas da Silva, um ao estilo que lhe ficou marcado: De bicicleta!

A atuação brilhante diante da melhor seleção do mundo, associada a problemas financeiros vividos pelo futebol brasileiro decorrentes da grande crise mundial de 1929 e a briga entre cartolas cariocas para profissionalizar ou não o futebol, fizeram com que Leônidas fosse defender o Peñarol de Montevidéu em 1934. Onde teve uma rápida passagem marcada por lesões no joelho, que no mesmo ano o fizeram regressar ao Brasil para defender o Vasco da Gama.

A passagem pelo clube da colina também fora breve, se resumindo apenas a um campeonato carioca conquistado pelo time cruz-maltino novamente com Leônidas como protagonista. Logo ele rescindiu o contrato com o clube para defender a Seleção Brasileira na Copa do Mundo da Itália de 1934.

Tal atitude não poupou sua reputação ao ser chamado de mercenário pelos vascaínos, pois aceitou da extinta CBD um salário bem maior do que recebia no clube para defender a Seleção. Vale salientar que nesse período, a briga entre dirigentes impedia que jogadores profissionais defendessem a Seleção Brasileira.

No mundial, disputado de maneira eliminatória, a Seleção teve sua pior apresentação na história das Copas. Uma derrota por 3 a 1 para os espanhóis do goleiro Zamora, e a eliminação precoce do torneio! Porém para Leônidas não fora tão mal. Marcou o gol de honra brasileiro, criou boas jogadas, e nos demais amistosos feitos pela Seleção Brasileira na Europa para não “perder a viagem”, marcou 13 gols em 11 jogos!

Terminada a participação pelo Brasil, o contrato com a CBD previa que Leônidas deveria se integrar ao Botafogo. Porém, segundo o jornalista Roberto Assaf, a passagem do craque por General Severiano fora bastante conturbada. Mesmo campeão carioca de 1935, a não aceitação de jogadores negros vestindo camisa do clube fez com que ele logo buscasse sair do time da “Estrela Solitária”.


Após ter esperado seis meses para que seu passe se encerrasse com o Botafogo, Leônidas fora defender o Flamengo. Nos dois primeiros anos apesar de muitos gols pelo rubro-negro, duas percas de títulos para o Fluminense. Mas a falta de glórias não parecia atingir Leônidas. Em um concurso promovido por uma empresa de cigarros, Leônidas fora eleito o jogador mais popular do Brasil com o dobro de votos dos dois jogadores que vieram após ele na disputa.

Novamente segundo Assaf, Leônidas ao final dos anos 1930 era um dos três homens mais conhecidos do país, ao lado do cantor Orlando Silva e de Getúlio Vargas! Tal popularidade reverteu-se em torcedores para o time que defendia, o Flamengo, sendo Leônidas o primeiro jogador a contribuir para a formação da maior torcida do Brasil. Se o Clube de Regatas Flamengo se orgulha de ser a maior torcida do país, com toda certeza Leônidas é um dos jogadores que mais contribuiu para isso!

Chegava o ano de 1938, as brigas entre os dirigentes e as diferentes ligas cariocas foram deixadas para trás, e enfim, a Seleção Brasileira poderia disputar uma Copa do Mundo com sua força máxima. Obviamente, Leônidas estava convocado para o mundial da França.

No primeiro jogo contra a Polônia, uma vitória memorável por 6 a 5, com direito a três gols de Leônidas! Um deles, segundo narração própria, com o pé descalço! Escondido (ou disfarçado) pela lama do gramado de Strasbourg. Nas quartas de final, marcou o gol de empate contra a Tchecoslováquia, que obrigou o Brasil a uma nova partida contra a seleção do leste europeu, já que naquela época não havia disputa de pênaltis em jogos eliminatórios.

Dois dias depois, no jogo desempate, marcou mais uma vez na vitória por 2 a 1 sobre os tchecos. O Brasil pela primeira vez em sua história chegava a uma semifinal de Copa do Mundo. Contra a temível atual campeã mundial Itália.

  Para esse jogo uma história até hoje pouco explicada. Leônidas fora sacado da partida contra os italianos. Alguns alegam que o próprio inventou uma contusão para evitar enfrentar o time de Vitório Pozzo, outros dizem que devido aos dois jogos contra a Tchecoslováquia em dois dias ele fora poupado para uma provável final já assoberbada pelo técnico brasileiro Ademar Pimenta. Seja qual foi o caso, Leônidas não jogou e o Brasil perdeu por 2 a 1. Restava a disputa de terceiro lugar contra a Suécia!


 Nesse jogo, Leônidas já “recuperado’ marcava mais dois gols na goleada por 4 a 2 contra os escandinavos. O Brasil chegava a terceira posição do mundial (melhor colocação do Brasil até então) e Leônidas com 7 tentos em quatro jogos se tornava o artilheiro do torneio! Do mundial da França também veio um dos apelidos que o seguiu durante a carreira. Leônidas era o “Homem de Borracha”! Devido a sua elasticidade, velocidade e jogadas plásticas. Dentre elas a Bicicleta!

Leônidas nesse mundial saia com o título de melhor jogador do torneio. Consequentemente melhor jogador do mundo daquele ano se pudéssemos trazer para os prêmios atuais. Sem pessoas como ele a desbravar os continentes, muito provavelmente não existiriam tantos outros brasileiros a conquistarem o mundo nas décadas seguintes!

A partir de tamanha popularidade, o jogador que já era apelidado de Diamante Negro, virou símbolo midiático nacional. Se hoje todos os grandes jogadores do futebol brasileiro usam de seu prestígio no marketing de produtos e em comerciais, devem a abertura dessas portas a Leônidas.

Usando de seu nome ou de seus apelidos, várias marcas de diferentes produtos foram lançadas no mercado. De cigarros a chocolates, ter seu produto associado a figura do artilheiro e craque maior da Copa do Mundo de 1938 era sucesso em vendas garantido. No final dos anos 1930, Leônidas virava o primeiro jogador “popstar” do Brasil!

Devido a sua alta popularidade, a mídia da época voltava-se para noticiar tudo que fosse relacionado a Leônidas. Também se tornara lucrativa a indústria de notícias “pejorativas” sobre o craque. E a cada fracasso do Flamengo, Leônidas era colocado pela mídia como principal responsável pela fase do clube. Tal perseguição só veio a diminuir quando voltando de uma apendicite conseguiu o tão sonhado título carioca pelo time em 1939 (Seu único título importante pelo Flamengo), tirando o clube de um jejum de campeonatos cariocas que vinha desde 1927.


Entretanto, após a tão esperada conquista, o joelho voltou a prejudica-lo, o obrigando a fazer cirurgias que lhe retiraram a forma física ideal, atraindo novamente as “fofocas” da mídia. Curiosamente ou não, uma fraude comprovada sobre seu alistamento militar, o ajudou a sair do foco por algum tempo. Ao falsificar seu certificado de reservista, recebeu uma pena de oito meses de detenção no Batalhão de Infantaria Regimento Sampaio no Rio de Janeiro, podendo assim se recuperar fisicamente para voltar ao futebol.

Após voltar ao clube rubro-negro, a relação com os dirigentes não era mais a mesma. Melancolicamente, Leônidas deixava o Flamengo com destino ao São Paulo Futebol Clube. Mesmo em baixa, foi vendido por uma quantia alta para os padrões da época: 200 Contos de Réis, a maior transação da América do Sul até aquele período! O “Diamante Negro” seguia rumo ao futebol paulista em 1942, aos 29 anos de vida. 

Em São Paulo, o “Homem de Borracha” recuperava seu prestígio já desgastado no Rio de Janeiro. Recebido por mais de dez mil paulistanos em sua chegada a cidade, também quebrou o recorde de público do estádio do Pacaembu até os dias atuais, com mais de setenta mil espectadores na sua estreia contra o Corinthians, em um jogo que terminou empatado em 3 a 3, onde Leônidas teve atuação discreta.

A má atuação de sua estreia atraiu as críticas dessa vez da imprensa paulista. Os sábios jornalistas diziam que o tricolor havia gasto uma fortuna de 200 Contos em um Bonde. Jogador velho na gíria da época. Mas logo os críticos de plantão iriam perceber que o Bonde de 200 Contos valia cada centavo investido.

No mês seguinte a sua estreia, o “Diamante Negro” enfrentou o Palestra Itália. Mesmo com a derrota São Paulina por 2 a 1, Leônidas foi o destaque da partida marcando um gol espetacular de bicicleta. Das cabines de rádio o famoso narrador José Geraldo de Almeida gritava: “O bonde, o bonde de 200 contos fez um gol de bicicleta!!!”. A torcida ia a loucura! Mas era só o começo!

Sobre o lance de bicicleta que o caracterizou em toda sua carreira, com toda humildade o mesmo dizia não ser o inventor. No máximo o popularizador do lance. Se de fato essa jogada também chamada de “Chilena” nos países do cone sul não foi de sua criação, quem o fez com mais capacidade, frequência e beleza plástica foi Leônidas da Silva.

Poderíamos hoje mudar o nome do lance para “Diamante Negro” ou “Leônidas”, ou dar o prêmio “Leônidas da Silva” para o mais belo gol de bicicleta do ano… São apenas conjecturas, mas creio que em um período em que o rádio ainda era o principal veículo de comunicação do planeta, ter a projeção que Leônidas conseguiu não é algo pueril no tempo.

Voltando ao São Paulo, o clube da capital só tinha 13 anos de vida e apenas um título paulista em 1931 (Estou me referindo o São Paulo Futebol Clube, e não aos seus predecessores!). Em comparação a seus rivais mais velhos, clubes fundados ainda nas primeiras décadas do Século XX, como o Corinthians e o Palestra Itália, o tricolor ainda era considerado um time pequeno. Até 1943, O Palestra (atual Palmeiras) já possuía nove títulos estaduais, enquanto o Corinthians já havia conquistado onze canecos! Em uma época em que o Campeonato Paulista era o principal torneio para esses clubes, o São Paulo ainda era um time sem estofo rivalizar com os dois grandes. Era, pois Leônidas da Silva, que já havia erguido o Flamengo, que viera para mudar as estatísticas!

Já com um ano de clube, “a moeda caiu em pé”, para todos que esperavam Palestra ou Corinthians como campeão de 1943, Leônidas garantiu o seu primeiro título paulista com a camisa tricolor. Em 1945 mais um título para o São Paulo com Leônidas marcando 16 gols. Em 1946, o bi invicto, terceiro titulo de Leônidas com a camisa do São Paulo. Em 1948 e 1949 mais um bicampeonato paulista! No total, cinco títulos paulistas em oito anos de clube. Sendo eleito o melhor jogador do campeonato nos cinco campeonatos vitoriosos! No total, foram 140 gols em 212 jogos pelo São Paulo!


Da mesma forma que o Flamengo deve parte de sua popularidade iniciada nos anos 1930 a Leônidas, o São Paulo deve grande parte de sua história ao “Homem de Borracha”. Hoje, duas das três maiores torcidas do país têm algo em comum, foram formadas pela popularidade de um homem que superou o tempo! Nem Pelé no Santos e Garrincha no Botafogo (os dois maiores jogadores de todos os tempos para mim!) conseguiram tal façanha!

Há quem possa alegar que a torcida do Flamengo é fruto da era Zico, e a do São Paulo da era Telê, mas para que essas gerações pudessem surgir, foi necessário que antes viesse Leônidas da Silva.

No caso do São Paulo, uma associação de futebol que sequer chegou ao centenário no dia que escrevo esse texto, a existência de Leônidas foi essencial para que o clube se equiparasse aos mais importantes e antigos do país. Isso sendo possível, graças aos títulos dados por Leônidas ao clube logo nos seus primórdios! O “Bonde de 200 Contos” pagou cada centavo investido e ainda deixou o clube em dívida com o mesmo por toda eternidade!

Em 1950, Leônidas tinha 36 anos. Já não era mais o rápido e elástico atacante que fez sucesso no Rio e em São Paulo, mas ainda era o principal nome do futebol brasileiro no mundo! Infelizmente, desavenças com o temperamental técnico da Seleção Flávio Costa, ainda nos tempos em que o “Diamante Negro” atuava no Rio de Janeiro tiraram suas chances de disputar o Mundial do Brasil. No lugar do Diamante Negro, Flávio Costa preferiu Otávio do Botafogo, e deu no que deu!

No mesmo ano, Leônidas se aposentou dos gramados e a partir daí seguiu para novas profissões. Tentou ser técnico, ator, mas a profissão que de fato ele mais se destacou fora exatamente aquela que antes tanto pegava no seu pé por atitudes fora do campo. A imprensa!

Como comentarista, Leônidas se mostrou um autodidata. Aos poucos foi corrigindo seus próprios erros de língua portuguesa e se adaptando a nova função com uma velocidade assustadora. Virou sucesso nas rádios paulistanas. Ganhou vários prêmios, entre eles sete troféus Roquette Pinto, principal prêmio dado aos profissionais de imprensa do estado de São Paulo.


Seu perfil como comentarista era muito duro e incisivo. Uma de suas maiores polêmicas era a implicância com Pelé, que muitos atribuem a ciúmes desse ter tomado seu trono de maior jogador brasileiro de todos os tempos. Infelizmente, veio a se aposentar em 1974, quando fora diagnosticado com Mal de Alzheimer, doença a qual poucas pessoas conheciam naquele período.

Ao lado da fiel esposa Albertina Pereira dos Santos, que não o abandonou sequer um dia durante os cinquenta anos que estiveram juntos, Leônidas aos poucos ia perdendo sua memória. Definhando numa triste doença ainda sem cura que atinge silenciosamente cerca de 1,2 milhões de idosos atualmente! Em uma das últimas reportagens com ele em vida no Esporte Espetacular da Rede Globo, dona Albertina relata que num raro rompante de recuperação de memória, o craque gritou para ela: “EU SOU LEÔNIDAS DA SILVA”!

A essa senhora que mais parece um anjo, todos os amantes do futebol e principalmente São Paulinos e flamenguistas devem toda gratidão. Pois ela cuidou até o fim de uma das maiores preciosidades que um clube de futebol possui. Maior até que seus títulos! Um ídolo atemporal! A dona Albertina, hoje com 89 anos, dedico essa singela homenagem como forma de agradecimento por tudo que ela fez a história desse país tão sem memória.


Leônidas nos deixou no dia 24 de janeiro de 2004 aos 90 anos devido a complicações decorrentes do Mal de Alzheimer (Após conviver com a doença por cerca de 30 anos!). O agradecimento ao documentário “Leônidas da Silva, o homem que venceu o tempo”, exibido pela TV Cultura em 2004 no programa semanal “Grandes Momentos do Esporte”, de onde vieram a maioria das fontes para a construção desse texto. E deixo um questionamento o qual não sei ou não posso responder… No futebol de hoje, quantos “Contos” valeria o “Bonde Leônidas”?

BARBOSA, O INJUSTIÇADO

por Israel Cayo Campos


Hoje a minha humilde homenagem é para Moacir Barbosa do Nascimento. O goleiro Barbosa da Seleção brasileira e do Vasco da Gama. Seis vezes campeão carioca pelo time de São Januário (1945, 1947, 1949, 1950, 1952 e 1958), campeão do Campeonato Sul-Americano de clubes em 1948 com o “Expresso da vitória” do Vasco da Gama, que dominou o futebol carioca nos anos 1940 e início dos anos 1950.

Pela seleção brasileira, Barbosa também foi campeão Sul-Americano de seleções pelo Brasil em 1949, um título que o Brasil só conquistaria novamente quarenta anos depois, em 1989 com o início da geração Bebeto e Romário. Além dos títulos da Copa Roca em 1945 e duas Copas Rio Branco em 1947 e 1950.

No entanto, Barbosa ficou eternamente marcado pela falha que teria cometido no quadrangular final do mundial de 1950. Quando o jogo final contra os uruguaios estava empatado em 1 a 1 (resultado que daria o primeiro título mundial para os brasileiros em pleno Maracanã), Barbosa acabou aceitando um chute cruzado do atacante Alcides Ghiggia na mesma trave esquerda em que estava posicionado.

O gol selou o bicampeonato mundial uruguaio naquilo que ficou conhecido até hoje como o “Maracanazo”. E como uma terrível maldição, também selou o destino de Barbosa, que após aquela fatídica tarde de 16 de julho foi estigmatizado como o único culpado pela derrota brasileira.


Mesmo tendo sido o melhor goleiro daquele campeonato mundial, o fatídico lance o estigmatizou profundamente. Como ele mesmo explicara depois, Ghiggia iria cruzar a bola para Schiaffino, da mesma maneira que havia ocorrido o gol de empate uruguaio minutos antes, e ao perceber a jogada repetida, Barbosa deu um pequeno passo para a direita, o que ele não contava é que o cruzamento virasse um chute (proposital ou por pura sorte não se sabe!) e a bola tenha entrado exatamente no pequeno espaço entre ele e a trave.

Apesar de ter continuado sua carreira após o Mundial do Brasil, Barbosa teve poucas chances na seleção, e passou a sofrer hostilidades principalmente dos torcedores rivais do Vasco da Gama. O fato de ser negro contribuiu para crenças racistas de que um afrodescendente no gol traria azar ao Brasil.

Não à toa, só depois de 56 anos, outro goleiro negro defendeu a meta brasileira em uma Copa do Mundo, Dida, já em 2006. Nesse hiato de tempo, nenhum goleiro negro jogara uma Copa do Mundo pela seleção brasileira como titular!

Barbosa encerrou sua carreira no pequeno Campo Grande do Rio de Janeiro em 1962, e em seguida passou a trabalhar na Suderj como funcionário do Maracanã. E mesmo o Brasil a àquela altura já sendo bicampeão mundial de futebol, o estigma de Barbosa continuou a persegui-lo. Uma vez relatou com muito pesar, apesar da fala humilde que possuía, que dentro de um mercado, ouvia uma mãe dizer para o filho enquanto lhe apontava o dedo: “Aquele homem ali fez o Brasil chorar”.

Próximo a Copa do Mundo de 1994, outro caso muito triste lhe ocorreu. ele fora proibido de entrar na Granja Comary, onde estava a Seleção Brasileira que conquistaria nos Estados Unidos o tetracampeonato mundial meses depois.

Tais acusações deixavam Barbosa muito triste, e embora existisse o orgulho de uma carreira tão vitoriosa, o rancor injusto do povo brasileiro fez com que ele se isolasse cada vez mais. Já próximo de morrer, vivia com uma pequena pensão e a ajuda do então presidente do Vasco Eurico Miranda na pequena cidade paulista de Praia Grande, onde decidiu viver para se distanciar das perseguições.


Apesar de ser lembrado apenas por um lance na sua brilhante história como goleiro, o senhor Barbosa não guardava mágoa nem rancor do povo brasileiro. Costumava brincar que era o único condenado do país a superar a pena máxima de 30 anos, pois continuava a pagar pelo erro na final de 1950, quase 50 anos depois.

No dia 07 de abril de 2000, aos 79 anos de idade, e prestes a completar 50 anos do lance que marcara sua vida, Barbosa faleceu sem nunca ter recebido o verdadeiro reconhecimento. O justo aplauso a aquele que foi um dos maiores goleiros brasileiros de todos os tempos.

Mesmo morto, Barbosa ainda era lembrado muitas vezes de maneira negativa como o responsável pela derrota na Copa do Mundo de 1950. Tal lembrança continuou forte até o ano de 2014, quando o Brasil sediaria novamente uma Copa do Mundo. Após a vergonhosa derrota brasileira por 7 a 1 em pleno estádio do Mineirão para a Seleção Alemã. Lembro de ter postado em minhas redes sociais que estava feliz ao ver aquele vexame pelo que fizeram ao Barbosa, e que até que enfim ele poderia descansar em paz! Mesmo sabendo que Barbosa jamais aprovaria o que ele sofreu a outros jogadores, pois era um homem de alma muito pura, senti que de alguma forma a justiça divina estava sendo feita!

Depois de um vexame protagonizado por jogadores milionários como o ocorrido em Minas Gerais, ninguém mais pode falar de um vencedor como Moacir Barbosa, que enfim, pode ser lembrado não por uma fração de segundos, mas pela sua carreira gloriosa. Barbosa estava livre de sua injusta sentença!


Sobre o lance que gerou o segundo gol uruguaio, vale salientar que a falha de Barbosa é muito citada por pessoas que sequer viram o lance! Que basearam suas opiniões em livros e revistas ufanistas e tendenciosas da época!

O marcador de Ghiggia, o lateral esquerdo Bigode, não teve uma boa apresentação naquele jogo final. Após levar uns “tapas” do capitão da seleção uruguaia Obdúlio Varela se desencontrou em campo, e os dois gols uruguaios saíram em jogadas na zona de marcação dele. Se de fato ocorreu uma falha, ela foi coletiva, e não apenas de Barbosa!

Após 1950, a Seleção Brasileira conquistou cinco campeonatos mundiais. Se tornando a maior vencedora do torneio até os dias atuais! E mesmo assim há quem não leve o “Maracanazo” como aprendizado. Para essas pessoas intolerantes, o vice é o primeiro dos últimos! Uma pena! Mas a história é o que fica para as gerações seguintes, e ela absolveu Barbosa, de maneira tardia é bem verdade, mas como diz o velho jargão, antes tarde do que nunca!

 

PRODUTO POPULAR

por Israel Cayo Campos


O Caju está certo. O futebol é um produto popular. Que a cada dia mais elitizado vai se tornando artigo de uma pequena classe que mais virou cliente que torcedora apaixonada. 

Esse papo de que rendas enormes sustentam os clubes ou impedem que nossos craques saiam daqui é pura balela. Pois mesmo times que lucram com essa situação, caso de Palmeiras e Corinthians, situados em uma zona do país economicamente melhor do que o Rio de Janeiro, ocorre frequentemente a venda de seus jogadores mais promissores (no caso do Corinthians até pela necessidade de outras dívidas) para mercados “poderosos” como o Egito por exemplo (kkk)! 

Quem sustenta os clubes e suas dividas são a televisão e suas cotas, patrocinadores aos mil nas camisas, dos de material esportivo aos de suvaco e bunda, programas de isenção de impostos como o Profut, programas de sócio-torcedores (muitos desses sócios ajudam seus clubes mesmo morando longe do estado de origem dos mesmos, denotando apenas seu desejo em ajudar) e a venda de jovens promessas! 

Claro que grandes receitas não podem ser desprezadas, mas essas também são conseguidas com planos muito mais baratos! Só saber um pouco de economia! E em outras ocasiões o Flamengo soube fazer isso, lotando o estádio a preços bem menos salgados!


Por sinal, esses clubes hoje criaram os torcedores de aeroportos, que ao não conseguirem entrar no estádio vão atrapalhar o funcionamento normal desses estabelecimentos para apoiar seus jogadores com uma empolgação que muitos torcedores dentro dos estádios não possuem mais! E ainda há quem bata palmas pra esse tipo de segregação velada. 

Por fim, esses clubes quando precisam do torcedor mais pobre, abrem o estádio em vésperas de grandes jogos com o intuito de contagiar seus jogadores! Precisam do seu Zé, que mora lá no fim do mundo, que ainda tem TV de tubo, mas paga ao Premiere para torcer para seu clube amado… 

Então deveriam respeitar economicamente a situação daqueles que de fato sustentam seus times (e ai não é só o Flamengo!), e abrir também as portas para esse publico que ama seu clube nas vitórias e derrotas! Que tinham como único passatempo falar o dia todo no trabalho de futebol, e é claro, dos orgulhos e tristezas que seus clubes lhe dão a cada fim de semana! Pois esses vivem o futebol, não vão só na boa! 


Volta, Geral! Em todos os estádios! Chega de elitização de tudo! O presidente do Flamengo, assim como o de outros clubes podem entender de grana, mas entendem muito pouco do mal que fazem ao futebol (no caso do presidente citado, acho que nem de futebol entende!), criando essa segregação e já notório desinteresse do publico brasileiro por seus times de futebol. 

É só olhar as últimas pesquisas que já vemos que antes de torcedores de Flamengo, Corinthians ou São Paulo, temos uma grande porcentagem de pessoas que sequer se interessam pelo esporte! 

E essa porcentagem de desinteressados só faz aumentar graças a esses preços salgados, onde apenas 1% da população brasileira (com mais de 200 milhões de habitantes) já foi a um estádio de futebol! Para uma nação que carrega e se orgulha da alcunha de viverem no “país do futebol”, é uma lástima que clubes tão grandiosos estejam contribuindo para uma situação dessas ! 

Tô fechado com o Caju nessa!