por Serginho 5Bocas
Houve um tempo, por volta dos séculos XV e XVI em que os espanhóis eram os donos do mundo, dividindo a supremacia com os portugueses, na época das grandes navegações, da expansão marítima que iniciou o período conhecido como Revolução Comercial, Cristovão Colombo foi um dos maiores ícones desta fase de glórias.
Alguns séculos se passaram e a geopolítica mundial sofreu algumas reviravoltas, Inglaterra e depois os Estados Unidos, substituíram os portugueses e os espanhóis no cenário econômico mundial, mas em um setor especifico da atividade humana, os espanhóis voltaram a dominar, pelo menos por um curto período de tempo, no futebol.
Hoje não vou falar de um, mas de dois craques da seleção da Espanha (um jogou e o outro ainda joga) e de uma escola criada para tornar perene o bom trato a dona bola, sai a “fúria” e entra em seu lugar “La roja”, ou seja, sai a raça e a vontade e entra o toque, a técnica e a posse de bola.
A Espanha se notabilizou no futebol mundial, durante muitos anos, pelo “quase”, ou como gostamos de sacanear os torcedores adversários, com a famosa frase jocosa: “Nadou, nadou e morreu na praia”, e como morria.
Só que de depois de muitos anos de “quase”, uma nova geração de jogadores mudou esta imagem ruim. Xavi e Iniesta foram os pilares desta mudança, muito bem acompanhados pelos ótimos coadjuvantes: Fabregas, Casillas, Xabi Alonso, Puyol, Busquets, Torres e Piquet.
Xavi é mais técnico e era o motor da engrenagem, era nele que a bola era gasta, que fazia a roda girar, provavelmente é o jogador que mais deu toques na bola em uma partida em todos os tempos, e como o cara gosta de carimbá-la. A bola procura Xavi e ele agradece, sempre econômico e inteligente, se movimenta o tempo todo para estar disponível e manipulá-la. Reza a lenda que Xavi ficava meses sem errar um passe. Exageros à parte, tinha esta grande virtude como sua marca neste jogo.
Iniesta era e ainda é o mais habilidoso, sabe driblar, fintar e cruzar, não como jogavam os espanhóis que conhecíamos, mas com velocidade de raciocínio e excelente colocação. Faz poucos gols para um meia que mais se parece com um atacante, mas faz os gols quando o time mais precisa, é aquele tipo de jogador que procura jogo, não se esconde quando o tempo esquenta. A final da Copa do Mundo de 2010 provou a teoria. Quando o jogo contra a Holanda parecia que ia para a prorrogação, ele apareceu e bateu com força e categoria a bola do jogo, não foi obra do acaso, foi fruto de quem sabe e não tem medo de errar.
A Espanha implantou uma forma de jogar que já conhecíamos, mas que por muito tempo e até bem poucos anos, raramente se copiava, pois não é fácil imitar o que eles melhoraram. Jogam o tempo todo marcando forte, pressionando o erro do adversário até recuperarem a bola, e quando tem a bola em sua posse, gostam de ficar com ela. Podem perder partidas mas não admitem perder a posse da bola. Começou com Luis Aragonés e se perpetuou com Vicente del Bosque.
Para esta engrenagem funcionar desta forma “azeitada”, era necessário uma geração especial e ela veio. Começando com uma safra que foi campeã mundial sub-20 e alguns anos depois, sendo abastecida com a chegada de outros talentos, esta turma ganhou na elite mundial duas Eurocopas e uma Copa do Mundo.
Parece que esse balé já teve seus dias contados, pois pelo visto não está havendo a renovação de talentos para que ocorra a manutenção da escola de jogo. Como torcedor torço para essa história ter tido um fim, mas o perigo é se essa mentalidade já estiver disseminada em todas as categorias. Ai vamos ter que melhorar muito o que estamos jogando pra ganhar dos caras.
A bola esteve com a Espanha, sob a batuta de Xavi e Iniesta, e olha que os caras nem tinham um centroavante matador. Ai se tivessem….não sei aonde poderiam ter chagado