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MARKETING – DA IDEIA AO PRODUTO

por Idel Halfen


Do surgimento de uma ideia ao lançamento de um produto existe um árduo e complexo caminho a ser percorrido, desse percurso fazem parte: a conceituação, os estudos de viabilidade econômica, as análises de mercado e a verificação dos aspectos legais, isso sem falar nas particularidades relacionadas às áreas de produção, logística, financeira, comercialização e marketing. 

Para ilustrar o que se pretende abordar nesse artigo recorreremos ao case relativo ao lançamento dos uniformes elaborados pela Umbro para os times brasileiros por ela supridos. A citada coleção tem o nome de  “Projeto Nations” e utiliza como inspiração alguns dos países que participarão da Copa do Mundo de 2018.

Antes de prosseguirmos é preciso ressaltar que a escolha do tema que servirá como inspiração para os uniformes dos clubes não é uma tarefa simples quando feita de maneira criteriosa, isso porque ela costuma se basear em algum fato marcante da história dessas instituições, o que por si só já confere uma maior complexidade, tamanho o cardápio de opções. Além disso, há a preocupação em se diferenciar dos modelos mais recentes e de coincidências de gosto duvidoso.


Nesse ponto é preciso reconhecer que a iniciativa da Umbro se mostrou bastante criativa, ainda que no passado alguns clubes brasileiros já tenham “tentado” ter seu terceiro uniforme com motivos que remetessem à própria seleção brasileira. 

Outra estratégia que vem sendo adotada com boa frequência no mercado também se fez presente na campanha. Refiro-me aqui ao storytelling, narração de uma história para se fortalecer o conceito e o posicionamento dos produtos. Vide http://halfen-mktsport.blogspot.com.br/2015/10/o-storytelling-chegou-ao-esporte.html 

Por se tratar de uma questão de ordem subjetiva, não será feito aqui nenhum juízo de valor sobre os “elos” que serviram como enredos para a narrativa da associação entre os clubes e os respectivos países cujos símbolos e cores adornam os uniformes. 

Ainda como parte do processo de análise de viabilidade do projeto há uma questão que é de fundamental importância: as expectativas de vendas. Nesse quesito torna-se importante considerar que em ano de Copa do Mundo a camisa da seleção brasileira passa a ser mais desejada, aliado a isso é preciso reconhecer que o nível de renda atual não permite uma grande elasticidade de demanda por parte expressiva da população. Dessa forma é possível supor que algum – ou alguns – dos três uniformes anuais rotineiramente lançados pelos clubes seja preterido em favor da camisa da seleção. Entre os fatores que deverão pesar nessa escolha estão: o momento do time, o período do lançamento e até mesmo o aspecto estético.


Por último, vale discutir um tópico que talvez seja o mais sensível nesse caso: o eventual entrevero judicial que pode surgir com as marcas de material esportivo que são as fornecedoras das seleções “homenageadas” na campanha da Umbro, afinal de contas, é bem plausível que as camisas oficiais desses países sejam de alguma forma impactadas com a coleção. Problema que pode inclusive respingar nos clubes, visto que esses auferirão royalties com as vendas desses produtos.

A conclusão principal que se deve tirar dessas reflexões é que no âmbito do marketing qualquer ideia inovadora precisa ser muito bem trabalhada até que se transforme em um case de sucesso.

 

 

O PATROCÍNIO MASTER

por Idel Halfen


Quando se fala sobre as receitas dos clubes de futebol, as relativas ao patrocinador máster são habitualmente as mais lembradas, fato que pode ser explicado em função da maior exposição, a qual propicia uma suposta maior tangibilidade a essa propriedade. No entanto, vale esclarecer que no Brasil o montante desses recursos tem pouca significância quando comparado com o obtido através da comercialização dos direitos de transmissão ou mesmo com as folhas salariais. Já em outros países, essa fonte costuma muitas vezes ser a mais importante.

Além da diferença entre a participação das receitas de patrocínio sobre o total do faturamento recorrente, é também possível perceber outras particularidades nesse tipo de relação, algumas dessas influenciadas pelos órgãos de regulamentação locais.

Entre as distinções mais percebidas estão: a concentração de ramos de atividades, a concentração de patrocinadores e as suas respectivas nacionalidades.

Serviu como base para a análise aqui relatada, uma amostra constituída pelos  campeonatos nacionais de nove países: Brasil, EUA (MLS), México, Inglaterra, Espanha, Alemanha, Itália, França e Portugal na última temporada – 2017 para os campeonatos que se iniciam e terminam no mesmo ano e 2017–18 para os que têm a competição iniciando no meio do ano.
 

Na Inglaterra, na Alemanha e na França encontramos um patrocinador para cada time. Essa situação quase se repetiu na MLS, não fosse o Bank of Montreal ter patrocinado  o Toronto FC e o Montreal Impact, e na Itália em função da Roma estar sem patrocínio máster. 


Na contra mão dessa pulverização vimos o Brasil com o maior índice de concentração, visto que um mesmo banco patrocinou 70% das equipes.

Quando voltamos nossa análise para os ramos de atividades dos patrocinadores, constatamos que o setor financeiro é o mais presente, estando em 23% das equipes que compuseram a amostra. No Brasil esse percentual atingiu 85%, valendo salientar que nenhuma equipe francesa ou italiana possui empresa desse segmento como patrocinadora. Outra concentração digna de destaque se dá na Premier League, pois nove das vinte equipes envergam como máster algum site de apostas.

No que tange à nacionalidade das patrocinadoras, vemos que o Brasil é o único país em que 100% delas têm sua matriz localizada na própria nação. O país que mais se aproxima desse índice é o México com 86,7% e o mais distante é a Inglaterra com 35%, o que se explica pelo fato de os sites de apostas geralmente se localizarem em paraísos fiscais.

Excetuando a Caixa, presente apenas no Brasil, a empresa que mais aparece como patrocinadora máster é a companhia aérea Emirates que está no Real Madrid, Paris St. Germain, Milan, Arsenal, Benfica e Hamburgo.


Focando especificamente o Brasil, nos deparamos com um cenário completamente diferente do que se vê nas principais ligas do mundo, tanto pelos pontos observados acima como também por não ter entre as marcas patrocinadoras nenhuma empresa dos ramos de aviação, telecomunicações ou montadora de automóveis, setores que movimentam elevadas cifras. 

As causas para essa situação estão provavelmente ligadas à baixa maturidade da indústria esportiva nacional, o que abrange tanto o lado dos clubes e confederações como o dos potencias patrocinadores 

Não podemos ainda deixar de considerar como influenciadores desse panorama a conjuntura econômica e os aspectos ligados à educação da população.

BANDIDOS COM CAMISA

por Idel Halfen

Quando algum jogo apresenta uma baixa presença de público as discussões sobre as causas giram em torno do preço dos ingressos, do calendário, do horário, da crise econômica, do mau momento do time, da concorrência de outras atividades, da transmissão pela TV, etc. Todas essas razões, sem dúvida, contribuem para o afastamento do público.

De forma proposital não adicionei a violência à relação de causas citadas, e não o fiz por entender ser essa uma variável que envolve muito mais do que ajustes mercadológicos, econômicos ou técnicos. Envolve uma forte política voltada à educação, elaboração de leis severas e um poder judiciário competente que puna com o máximo de rigor àqueles que covardemente se utilizam da violência para depredar patrimônios e saquear ambulantes que tentam subsistir vendendo produtos para os que ali estão para se divertir.

Os incidentes ocorridos no jogo final da Copa Sul-Americana de 2017 deixaram evidente o processo de degradação da sociedade e as índoles perversas dos marginais.

Isso mesmo, não passam de marginais, e para esses nem vou entrar no mérito de explicar que suas ações afastam público, patrocinadores e interesse da mídia. Idiotas que são não iriam entender, mas para os leitores vale desenvolver o assunto dentro dessas três linhas de receitas citadas acima.


Em relação à não ida ao estádio, a explicação é óbvia: ninguém quer estar numa zona de risco, porém há algo ainda pior, que é o fato de que ao se afastar as famílias se afasta as crianças, o que inibe a renovação da torcida e de fãs da modalidade.

Sobre patrocínio, a história nos mostra algumas situações de empresas que preferiram ficar fora do futebol após verem suas marcas serem expostas não apenas nos editorias esportivos, mas também nas páginas policiais com elementos sendo presos ou brigando de forma covarde. É importante lembrar que a decisão de um patrocínio, por mais evidências de retorno que possam existir, é discutida e questionada frequentemente pelos demais membros do board de uma corporação, sendo que qualquer incidente negativo fortalece a ala que é contra a iniciativa.

Quanto às receitas advindas da mídia é importante entender que essas se formam através do que as emissoras arrecadam com as vendas dos patrocínios das transmissões aos anunciantes, os quais, além de audiência querem ver suas marcas associadas a algo bom. 

Pode até ser que a audiência não sofra muito impacto em um primeiro momento, ainda que a concorrência com outras formas de entretenimento esteja crescendo, porém, com o processo de formação de novos torcedores sendo prejudicado, conforme escrito anteriormente, é de se esperar que no futuro a queda na audiência ocorra. Além disso, a possibilidade de despertar o interesse e transmitir os jogos para o mercado externo, o que aumentaria a audiência, também se torna improvável.


Tal quadro pode levar naturalmente a um menor interesse dos anunciantes por esse tipo de entretenimento, o que afetaria sobremaneira os clubes de futebol.

Diante dessas reflexões, creio que o título do artigo se enquadre perfeitamente aos marginais que causam o mal ao esporte.

TORCER SEM DISTORCER

por Idel Halfen


A frase que dá título ao artigo pode até parecer utópica para os que adicionam ao ato de torcer uma componente perigosíssima: a paixão, a qual é capaz de contaminar julgamentos e interpretações sobre fatos relacionados aos alvos de suas predileções. E pouca diferença irá fazer se o autor do julgamento tem conhecimento suficiente para opinar a respeito, até porque não se trata de uma opinião isenta e sim da defesa de sua convicção, instituição ou partido.

No futebol, um técnico passará a ser burro no momento em que a escalação e/ou substituição que ele fizer não coincidir com a do sujeito “inteligente” que não conhece os bastidores e jamais teve experiência na profissão, mas se porta como tal.  


Esse tipo de prepotência não fica restrito aos aspectos ligados ao desempenho esportivo, afinal, segundo dizem, todo brasileiro é um técnico. Aliás, a coisa evoluiu de tal forma que agora todo brasileiro é também gestor, independentemente do que tenha estudado ou até que nem tenha estudado.

O que antes parecia limitado ao futebol parece ter extrapolado para diversos segmentos, inclusive para a política em todas as suas manifestações.

Decisões judiciais passaram a ser contestadas por qualquer um, pouco importando se os “contestadores” têm ciência sobre os códigos penais, dos autos dos processos, ou se nem sabem o que isso significa. Se a decisão coincide com o que “torce”, o juiz é honesto, caso contrário, trata-se de um venal.

Não se descarta a possibilidade de a falta de honestidade se fazer presente em julgamentos, assim como não podem ser desprezados os graus de isenção de um juiz ou mesmo sua capacidade. Porém, apelar para esses como instrumento de argumentação não me parece razoável.

Outro argumento bastante evocado é o do uso “bom senso”. Para quem o usa, seria interessante perguntar se eles já viram alguém admitir que não tem “bom senso”, ou se consideram o “bom senso” um monopólio deles ou dos que pensam iguais a eles.


Nesse contexto, é bastante provável encontrar pessoas que defendam agressões verbais a um ministro do Supremo Tribunal Federal quando esse está em seu momento de lazer, mas que condene uma senadora que insufle a população contra a decisão de um juiz, ou vice-versa.
Isso sem falar no caso de um  senador que ao se ver contrariado incita a população para ações de violência, mas se sente ultrajado quando a violência é contra ele. 

Para que não pairem dúvidas, acho todos os fatos condenáveis. Os que aceitam esse tipo de postura apelam para o discurso da democracia como justificativa, o que não faz o menor sentido, pois democracia não dá o direito a ofender e perturbar a ordem de quem quer que  seja.  

Parecem esquecer que a busca pela justiça feita com as próprias mãos e/ou pelo próprio arbítrio abre um precedente perigosíssimo, além do que, vale lembrar que os corruptos agora julgados e condenados tiveram esse mesmo raciocínio ao quererem arbitrar suas remunerações tendo as propinas como complemento de seus salários.

GESTÃO DE CONFLITOS

por Idel Halfen


O mercado esportivo, principalmente nos países mais maduros, tem apresentado um crescimento extremamente relevante, fato que leva à busca incessante por oportunidades de negócios, entre as quais se incluem as possibilidades para a exposição da marca.

Apesar de não considerar a exposição como o único, tampouco o maior, benefício para uma marca que investe no esporte, não podemos ignorar que a grande maioria das empresas ainda busca esse tipo de contrapartida como indicador de retorno, fato que tem levado a uma busca incessante pela criação de novas propriedades.

É certo que muitas dessas “novas plataformas” fogem totalmente do contexto, mas isso, no meu modo de ver, nem é o mais grave, até porque a frequência de aparições faz com que as pessoas acabem se acostumando. O que considero mais preocupante são as situações que implicam em desagradáveis conflitos de interesses, sem que tenha havido previamente um estudo que ajudasse a regulamentares esses crescentes casos.


No futebol é absolutamente normal ver o Cristiano Ronaldo –  patrocinado pela Nike – usar sem maiores consequências os uniformes do Real Madrid que tem o patrocínio da Adidas, ainda que calce a chuteira da marca norte-americana, visto o item ser de livre escolha por interferir na performance. O inverso acontece com o Messi, patrocinado pela Adidas, mas que utiliza os uniformes do Barcelona que é suprido pela Nike.

Na contramão desse mar relativamente sereno no futebol, vemos na NBA um cenário mais beligerante, onde alguns jogadores tentam ocultar a logo da atual patrocinadora da liga – a Nike – que aparece nas peças e outros como o ala-armador Klay Thompson do Golden State Warriors que em todas as coletivas de imprensa retira da mesa a garrafa de Gatorade que “adorna” o móvel. As inúmeras retiradas do produto renderam uma alta popularidade ao ato. 

Essa atitude tem sua motivação o fato de o jogador possuir o patrocínio de um concorrente da Gatorade, o Body Armor, que já foi tema do blog – http://halfen-mktsport.blogspot.com.br/2014/09/bodyarmor-de-frente-com-os-gigantes.html.

Analisando especificamente esse caso, somos tentados a concluir que a obrigação de se ostentar uma garrafa de isotônico sobre uma mesa de entrevista pós-jogo foge do contexto do evento, mesmo porque o atleta nem aparece consumindo o produto.

Tal iniciativa me parece ser mais um daqueles casos que para se forçar a exibição do patrocinador são “criadas” propriedades que pouco agregam à marca, visto a dificuldade de serem ativadas, e criam constrangimentos aos atletas que com elas não possuem vínculos.


Nesse caso, no entanto, a frequência com que vem se repetindo pode estar sendo interessante para todos, exceto a NBA que fica exposta a uma situação desagradável. A BodyArmor tem seu nome divulgado, mesmo sem ter o produto exibido, a Gatorade, por sua vez, passou a ser percebida por muitos que nem reparavam a existência da garrafa na mesa de entrevistas, enquanto que o jogador chama a atenção da indústria para a necessidade da imposição de limites e respeito à imagem dos atletas nos contratos de patrocínios.

Por mais que possa parecer simples, a elaboração de um contrato dessa natureza requer o conhecimento de todas as propriedades envolvidas e possíveis de serem negociadas entre as partes, sob o risco dos conflitos chegarem num patamar que inviabilize o crescimento do setor.