Escolha uma Página
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Goleiro

O CAPITÃO DO BANGU

por Sergio Pugliese


A vida de Ubirajara sempre foi pautada pela disciplina. Cresceu nos campos da Vila Militar e ali, disputando incontáveis campeonatos, aprendeu a conviver com o rigor das regras. Talvez inspirado por esses ares tenha optado pela carreira de goleiro para defender o território dos inimigos. Na grande área, sempre deu as cartas e logo cedo foi descoberto pelo Bangu. De cara, bicampeão juvenil, em 52 e 53, mas a grande mágoa, a que até hoje estraçalha seu peito, fica por conta de Feola tê-lo cortado da seleção brasileira às vésperas da Copa de 66. Nem Pelé entendeu e como consolação o presenteou com um agasalho de treino autografado. Mas apesar da tristeza, 66 foi um ano de glória com a conquista do título de campeão carioca do Bangu sobre o poderoso Flamengo. No dia do aniversário de 81 anos de Ubirajara, recordamos uma visita da equipe do A Pelada Como Ela É ao goleiro acostumado a superar obstáculos, sacudir a poeira e dar a volta por cima.

– Tive momentos de glória, mas briguei por isso – contou Ubirajara Motta, em seu apartamento na Tijuca.

No Bangu realmente viveu momentos de celebridade. Viajou o mundo inteiro disputando amistosos, torneios e jogos-exibição. Orgulha-se de ter jogado no time de Moça Bonita ao lado de, entre outros, Ademir da Guia. Mas, em 71, esbarrou novamente com a decepção. Era o goleiro do Botafogo e bastava o empate com o Fluminense para o alvinegro comemorar o título. Aos 43 minutos, uma bola alçada na área e o desequilíbrio após empurrão do lateral Marco Antônio. O árbitro Marçal Filho não marcou falta e Lula, oportunista, cravou o gol da vitória tricolor. Até hoje PC Caju considera essa uma das grandes injustiças do futebol. Ubirajara ficou arrasado, mas seguiu em frente e no ano seguinte levantou o troféu da Taça Guanabara pelo Flamengo, do zagueiro Reyes, craque que inspirou o músico Robinson de Sá a batizar o filhão e fotógrafo de nossa equipe Reyes de Sá Viana do Castelo.

– Mas você tem mais pinta de jogador de basquete – acertou na mosca, Ubirajara, formado em administração e bacharel em Direito. 


(Foto: Arquivo)

O goleiro Ubirajara divertiu-se relembrando a escalação do Mengão campeão: ele, Moises, Fred, Reyes, Liminha, Rodrigues Neto, Rogério, Zé Mário, Doval, Caio e PC Caju. Timaço! Mas recordação boa mesmo foi a do confronto de 66, quando o Flamengo era o adversário do Bangu. Um jogo inesquecível! Aos 24 minutos, Ocimar marcou de falta e logo em seguida Aladim guardou o seu. A torcida do Flamengo exigia a reação, mas nada dava certo. Jaime e Itamar estavam completamente envolvidos por Aladim e Cabralzinho, e no início do primeiro tempo Paulo Borges fez o terceiro. Aí surgiu Almir Pernambuquinho, o anti-herói da decisão. Sua missão era tumultuar, forçar a expulsão do maior número de jogadores e impedir a volta olímpica do rival. Conseguiu. Foram expulsos, Ubirajara, Luís Alberto, Ari Clemente e Ladeira, pelo Bangu, e Valdomiro, Itamar, Paulo Henrique, Almir e Silva, do Flamengo.

– Parecia uma guerra! – comparou Ubirajara.


(Foto: Arquivo)

Naquele momento, em plena pancadaria generalizada, lembrou-se do pai militar e do ensinamento básico das Forças Armadas, “quando necessário será aplicado o uso da força no sentido de ser atingido o objetivo desejado”. Por isso, Ubirajara não se intimidou com a fúria desenfreada do kamikaze Almir Pernambuquinho e partiu para o confronto. Foi a primeira vez que se viu numa batalha campal, cercado de inimigos, mas a missão foi cumprida com louvor, afinal ele não podia decepcionar o tenente Dick, seu comandante e estrategista no timaço do Regimento Escola de Cavalaria (REC). Ali, como arqueiro, ganhou tudo!


(Foto: Reyes de Sá Viana do Castelo)

No Maracanã, não foi diferente e quando o árbitro Aírton Vieira de Moraes, entre “mortos e feridos”, encerrou a partida Bangu 3 x 0 Flamengo, os 140 mil torcedores reconheceram a valentia do esquadrão vermelho e branco. O técnico Alfredo Gonzales gritou “recolher!” e a tropa atendeu prontamente. Liderados pelo capitão Ubirajara, os guerreiros Fidélis, Mário Tito, Luís Alberto, Ari Clemente, Jaime, Ocimar, Paulo Borges, Ladeira, Cabralzinho e Aladim, correram para fora da arena, sumiram no túnel do maior estádio do mundo e entraram para a história.

 

VELUDO QUERIA UM FILHO CENTROAVANTE. NÃO DEU TEMPO

por André Felipe de Lima


O bairro da Saúde, na zona portuária do Rio, presencia hoje merecida revitalização. Foi lá, nos tempos em que foi reduto da boemia e da malandragem carioca, em que nasceu no dia 7 de agosto de 1930 o cidadão Caetano Silva, que anos depois ficaria conhecido como Veludo, apelido que recebeu em 1947 do escritor e imortal da Academia Brasileira das Letras Otávio Faria. Foi com o mesmo apelido que se consagrou no futebol brasileiro, especialmente no Fluminense. Foi, sem dúvidas, mesmo sendo a “sombra” do magistral Castilho, um dos melhores goleiros da história do Tricolor. Tanto é verdade que o seu talento, mesmo sendo reserva de Castilho, garantiu-o na seleção brasileira que embarcou para a Suíça, sede da Copa do Mundo de 1954. “Não ganhei nada com o futebol, apenas injúrias”, lamentava-se no final da carreira. A amargura teve começo, meio e fim. Era, portanto, justificada por uma vida muito difícil antes mesmo de o futebol entrar em sua vida.

Veludo perdera o pai ainda bem pequeno e teve, ainda adolescente, de trabalhar na estiva para sustentar a mãe, dona Joana, e os irmãos Jerônimo, Paulo Roberto, Neusa e Júlia. Ora carregava sacos mais pesados que o próprio corpo, ora era o goleiro titular do Harmonia, time de peladeiros da Saúde. Na final do campeonato de peladas do bairro, contra o Atilia, um camarada conhecido como “Espanhol” insistiu para que Veludo fosse com ele às Laranjeiras para um teste. Veludo foi. Newton Cardoso, que era o técnico dos juvenis, gostou dele. Ficou por lá mesmo.

Orgulhava-se apenas do filho Anselmo Perdomo Silva. Jamais da carreira. Tinha verdadeira paixão pelo menino. “Quero ser jogador do Flamengo”, dizia o garoto para o pai. “Seja centroavante, meu filho. A posição de goleiro não é mole”, aconselhava sabiamente Veludo.

A vida sorriu marota para o grande goleiro. E isso é verdade. Viveu o céu e o inferno. Negro, sofreu com o preconceito. Superava isso com a bravura nos gramados. Um genuíno herói. Fora dele, era sempre muito mais difícil lidar com os graves e hipócritas desníveis sociais. Jamais soube lidar com esse injusto e imoral desafio, que representa o racismo.

Igualmente grande escritor como Otávio Faria, Luis Fernando Veríssimo esboçou uma digressão sobre o racismo de que fora vítima Veludo: “Cresci ouvindo dizer que o melhor goleiro do Brasil era Veludo. Reserva do Castilho no Fluminense e tão bom que era reserva do Castilho na seleção. Só não era o titular, diziam, porque era negro […] estereótipos racistas sobre agilidade e elasticidade até favoreciam uma tese inversa, a de que o negro mais confiável do que o branco no gol. Mas quando o Barbosa deixou passar aquela bola de Ghiggia, em 50, o preconceito, até então disfarçado, endureceu e virou superstição.”

Veludo sofreu talvez até mais que Barbosa com racismo tupiniquim. Mergulhou em profunda depressão no começo dos anos de 1960. Decidiu abandonar tudo em 1963, quando jogava no Renascença, de Belo Horizonte. Didi e João Saldanha chegaram a convidá-lo para treinar no Botafogo. Mas era tarde demais. Veludo fora engolido pela atormentada alma.

O amado filho jamais teve tempo de responder ao pai em que posição decidira efetivamente jogar. Veludo, vítima da diabetes, acentuada por conta do alcoolismo, não resistiu. Castilho, de quem foi grande amigo, presidia a Fundação Garantia do Atleta Profissional (Fugap). Ajudou-o com internações e o acompanhou até o fim, em outubro de 1970.

Partira Veludo para o andar de cima. Mas deixou uma história singular. Foi um ídolo, e como todos os grandes, merecidamente amado e injustamente odiado. Um gigante do futebol e uma personagem singular que nem mesmo o mais trágico dos poetas ousaria entortar a prosódia ao decantá-lo em prosa e verso. Veludo tem história.

DIA DE SÃO MARCOS

por Rafytuz Santos


Dizem que onde o goleiro pisa, não nasce grama… Quem inventou esse ditado futebolístico, nunca viu São Marcos!!

Feliz da grama por contemplar as pegadas campeãs do herói palestrino! E quando o Marcão pisa em qualquer gramado, é capaz de nascer as mais variadas flores e gramas! Ou alguém duvida da capacidade milagrosa do goleiro do Penta???

O lendário ícone da Libertadores de 2000, com suas magistrais mãos, classificando a equipe do Palestra, com raça e suor alviverde, o suor que escorreu em sua testa e nas de mais de 10 milhões de fanáticos palmeirenses naquele dia 6 de Junho de 2000.

O Morumbi virou Vaticano, e os saudosos Libertadores da América canonizavam ali um novo santo do futebol! O santo ídolo alviverde, o santo campeão mundial em 2002, o santo que negou a tentação das cifras europeias, para continuar jogando no Palmeiras, pela Série B… Veneráveis defesas, santas declarações. Os gramados do futebol beatificam o santo São Marcos, santo padroeiro das defesas impossíveis!!!!! 

300 VEZES CÁSSIO

por Mateus Ribeiro


Trezentos. Um número representativo. Tão representativo quanto Cássio na história do Sport Club Corinthians Paulista.

Trezentos. Um número enorme. Gigantesco. Tal qual Cássio. Tanto na sua altura, quanto em sua relevância.

Trezentos. Esse é o número de jogos que o Gigante completou ontem pelo Alvinegro de Parque São Jorge na vitória contra o Atlético-MG. E nós, que torcemos pelo Corinthians, só podemos agradecer e relembrar os bons momentos (que foram inúmeros, por sinal).

Cássio foi contratado no final de 2011, e no ano seguinte, era o terceiro goleiro, atrás dos medonhos Júlio César e Danilo Fernandes. Jogou algumas partidas, mas ainda não havia conquistado a titularidade. Após o titular Júlio falhar de maneira tenebrosa e contribuir para uma vexatória eliminação no Campeonato Paulista, Tite resolveu escolher Cássio para a meta Corintiana.

O primeiro jogo foi uma belíssima de uma fogueira: oitavas de final da Libertadores, fora de casa, contra o Emelec. Cássio fechou o gol. Começou a escrever sua história. História que todos conhecemos…


Passado o sufoco da primeira partida, veio a classificação para as oitavas, e já nas quartas, contra o Vasco da Gama, Cássio viveu um dos maiores momentos de sua carreira: após Alessandro cometer mais uma de suas presepadas, Diego Souza teve mais da metade do campo para escolher como faria o gol que classificaria o Vasco da Gama para as semifinais. Só não contava com Cássio em seu caminho.

Além de salvar a vida de milhões de torcedores espalhados pelo Planeta, Cássio ajudou o Corinthians a se classificar para as semifinais do torneio continental. No primeiro duelo contra o então atual campeão Santos, tão importante quanto o gol de Emerson Sheik foram as defesas do arqueiro, que ali, já havia conquistado um lugar no coração de todos os torcedores. Nunca na minha vida ouvi tanto o mesmo nome. Cada defesa difícil era um alívio e um grito diferente.

O resultado foi uma classificação inédita para a final da Libertadores, após um empate no Pacaembu. E o título, conquistado de maneira incontestável, contra o time mais temido da América do Sul nos últimos vinte anos.


Além do título, a torcida tinha algo mais para comemorar: o surgimento de um ídolo. Ídolo que aumentou sua lista de milagres na conquista do Mundial 2012 contra o Chelsea. Cássio se agigantou, fez defesas absolutamente memoráveis e garantiu mais uma taça para a galeria corintiana.

O restante da historia todo mundo sabe: títulos e mais títulos, todos com as mãos salvadoras de Cássio garantindo a máxima segurança.

E após cinco anos fechando a meta, eis que ontem foi o dia do jogo número 300. Uma marca representativa, ainda mais em uma época onde um jogador mal consegue fazer 50 partidas por qualquer clube brasileiro.

Assim como todo ser humano, Cássio falhou. Foi para o banco. Se recuperou. E hoje é um dos pilares do Corinthians.

Escreveu seu nome ao lado de grandes personalidades do calibre de Rivellino, Marcelinho Carioca, Ronaldo Giovanelli, Tupãzinho, Neto, Basílio, Gylmar dos Santos Neves, Zé Maria, Wladimir, e tantos outros monstros gigantescos que fizeram de tudo pelo Sport Club Corinthians Paulista.

Do fundo do coração, desejo que nosso gigante continue encarnando o espírito de nosso manto. Que continue fechando o gol. Que continue sendo um torcedor que defende o clube com unhas e dentes.

Obrigado, Cássio!

E VAI, CORINTHIANS!!!

FILLOL, O ESCOLHIDO DO ‘DEUS’ MARADONA

por André Felipe de Lima


Quando o assunto é estritamente futebol, a palavra de Maradona é quase uma oração. Pelo menos para os argentinos, que o levam tão a sério a ponto de fundarem uma “igreja” para o craque. E se o camarada é “santo” para eles, respeitemos. Não se questiona a “fé” alheia. Uma vez perguntaram ao Maradona sobre o que achava dos goleiros. Isso, creio, por volta de 2000. Virada do milênio, todo o mundo com o pé atrás… sei lá. Maradona dirigiu-se ao repórter e devolveu a pergunta: “E você, quer ser goleiro?”. O cara sempre os desprezou. Mas há uma exceção para Maradona: Ubaldo Matildo Fillol, que completa hoje 67 anos. “O único goleiro normal”, referia-se o “deus” Maradona ao Fillol. Coberto de inquestionável e “sacrossanta” razão. Fillol é, pelo menos aos meus olhos (pela TV ou livros) o melhor goleiro que os argentinos produziram. Foi espetacular. O Flamengo teve a honra de tê-lo no time.

Chegou à Gávea em novembro de 1983. Não conquistou nenhum título expressivo com o Flamengo. Apenas uma Taça Guanabara (primeiro turno do Campeonato Carioca) e uma Taça Rio (segundo turno). Mas isso foi apenas um detalhe. Estreou em janeiro de 1984, contra o Palmeiras. Fechou o gol e garantiu a magra vitória de uma a zero. Mas era uma época sem Zico, sem Júnior. O Flamengo, embora ostentasse um bom time sem as feras citadas, não era mais o Mengão “papa-tudo” do comecinho da década de 1980. O time da hora era o Fluminense, de Assis, Washington, Romerito e Cia., craques que perturbaram (e muito!) o Fillol nos Fla-Flus.


Mesmo permanecendo apenas um ano no Flamengo, a torcida o idolatrava. Ocorreu com Fillol um fenômeno mais ou menos parecido com o de outro argentino, Oscar Basso, mas só que no Botafogo. Basso disputou pouco menos de 20 jogos pelo alvinegro, em 1951, porém o suficiente para ser considerado um dos mais brilhantes zagueiros da história do clube. Muitas décadas depois, Fillol, para muitos rubro-negros, é um dos melhores arqueiros que já pisaram na Gávea.

Mas quando falamos do grande arqueiro, vem imediatamente à nossa mente a Copa do Mundo de 1978. Nela, Fillol foi soberano. Estupendo. Recordo as grandes atuações naquela Copa. Tanto quanto os craques Kempes, Luque, Ardilles ou Passarella, foi Fillol, para mim, o melhor dentre os argentinos naquela campanha.


Quem descobriu Fillol foi outro grande ídolo do futebol argentino, o mago Renato Cesarini, que também entrou para a história do futebol italiano pelas impecáveis atuações com a Juventus de Turim. Como jogador, Cesarini foi excepcional. Um dos melhores nas décadas de 1920 e 30. O mesmo sucesso obteve como treinador, principalmente do River Plate. Em 1964, quando regressou à Argentina, Cesarini resolveu, certo dia, parar em um restaurante de San Miguel del Monte, um pouquinho mais distante da cidade de Buenos Aires. Mirou com incômoda fixação um rapaz, com presumíveis 14 anos de idade e mãos enormes, que trabalhava ali como garçom. Olhou paras as mãos do menino… olhou, olhou… e emendou para o garoto: “Serás, ‘chico’, um grande arqueiro!”. Tudo começou ali, com o vaticínio de Cesarini, que entendia um pouco e muito mais de futebol.


Fillol, que rivaliza com Amadeo Carrizo no posto de maior goleiro da história do River Plate, defendeu 26 penais pelo escrete argentino. Somente o exótico Gatti, ídolo do rival Boca Juniors, fez o mesmo. Mas os dados estatísticos são imprecisos. Há registros de que Fillol jamais foi superado por quem quer que seja embaixo das traves da seleção argentina. Concordo com o empirismo, e às favas as estatísticas! Fillol, o “El Pato”, foi genial. O maioral!